quinta-feira, 12 de abril de 2007

19-09-05 - A Família Von Tifon inteira e em carne e osso!

Ora muito bom dia, amiga!
Para começar, querida amiga, acho que também eu estou a ser vigiada por um bruxo, mas ele que puxe o brilho à bolinha de cristal, porque com certeza que deve ter coisas mais interessantes para fazer do que ter-me debaixo de olho. E cada vez mais estou convencida que a maior parte dos Bruxos são Alemães, ou Cyborgs, não que os Portugueses sejam fracos e tenham os seus crimes de magia negra, mas é que realmente, só os Terroristas, e os senhores da Europa poderosos são os que têm energia suficiente para fazer tais maldições. Então os Americanos…
Não, não sou xenófoba nem feminista, mas…Não, os Alemães não são sempre os culpados, além disso, qualquer feiticeiro pode se tornar em Bruxo num instante.
Realmente é um caso digno de discussão, e talvez já o tenha dito ao Primo Horus e ao Tio Set. Nós, von Tifon, adoramos discutir acerca de política, e todos os almoços e jantares são derradeiros debates para descobrir quais dos governos da Dimensão Mágica estão piores. O Palácio das Reuniões é uma excepção à parte, na qual nenhum feiticeiro branco e fada ou deus e deusa está de acordo com o que diz, faz leis estapafúrdias, e quando o PR melhorou nem uma resma ou pequena dízima de décimas de Euros, toda a gente comenta «Estamos a ter progressos, continuai, meus caros deputados.»
É óbvio que isto não resolve nada, e tudo termina com a mesma rotina de sexta-feira com o tio Set a chegar do PR esgotado, sem forças nenhumas e a perguntar se tivemos um bom descanso. Por falar em família e tios, tenho a sensação que em breve, irei ver mais uns membros da minha adorada comunidade, os Von Tifon. Já me mostraram umas fotografias do Tio Águia Negra, da irmã do Tio Águia Negra, ou seja da Mamã – ou Kathy, como a Tsuna lhe chama – do Tio-avô Conde von Tifon, da Tia-avó Nefrufi do Primo Horus, do Tio Set, da Tia Ísis, da Tia Shanti, do Tio Abab, dos primos Chan e Fran, do Papá Thommy – O nosso pai; bem é uma família numerosa, a contar com o rival, cujo nome é proibido mencionar aqui em casa, e que ainda não conhecemos, mas imagina se a Mamã e o Papá estivessem vivos? E se toda a família chegasse no Natal?
Isso seria espectacular, o Château von Tifon estaria pleno de risos, cor e alegria, e esqueceríamos que estamos em tempo de guerra.
Agora falarei do Primo Willhem Couto e o Hans Couto, os irmãos mais velhos da família, o primo Willhem chegou ontem, juntamente com o primo Hans. São dois irmãos muito engraçados. O mais velhote fala um Português abominável, foi general na Grande Guerra, e o noviço tem dezanove, é mais burro que uma porta e nem acredito que aqueles dois são nossos parentes. O ex. general é um bruxo muito experiente, a sua pala colocada num rosto rígido quadrado de homem de quarenta e oito anos e barba loura “à bávaro” faria lembrar o próprio Kaiser, se não fosse a sua roupa à paisana de marca e o seu braço direito saudável. É alto que nem uma torre, e se não fosse alemão diria que este teria um problema na coluna que o fez crescer até uns espantosos metro e noventa centímetros. No entanto, as suas mãos de guerreiro e combatente, acreditando sempre em Deus não enganam ninguém: é boa pessoa, e não o pode negá-lo. Tem uns quilos a mais, mas isso não importa quando na verdade tem aspecto de lobo e é manso como um cachorro. Os olhos azuis esverdeados grandes e verdadeiros recordam um negociante portuense de vinhos honesto, como tal adora sempre um bom jogo de futebol para ver na televisão. Não parece nada um bruxo, não senhor, é muito simpático e está sempre de bom humor, escovando com os dedos um pouco gordos e calorosos o seu bigode farfalhudo e de palha, onde por cima se esconde um nariz pequeno rosado e inquilino, apontando para o optimismo.
Hans por outro lado é magricela, regra geral, um metro e setenta e oito, o cabelo espetado dourado escuro lembra um monte de espigas podres, mas prontas para serem colhidas, uma boca pequena, no entanto engraçada, olhos azuis um pouco escuros sem fundo, sem uma única ideia na cabeça, e abençoado com umas perturbantes e horríveis borbulhas com pústulas nas quais este tem de por um creme amarelo esquisito que cheira tão mal quanto a lixeira da Cidade Perdida, a sua cabeça meio oval demonstra cá uma inteligência deveras impressionante, com um QI de zero vírgula um e apesar de já me ter apresentado como Jessica, ele contínua a insistir que o meu nome é Ressica. As mãos largas, no entanto com algum volume indicam que a sua tolice não é por maldade.
O nariz largo e fino como um pelicano é bastante cómico, mas nunca me rio da família, a não ser que o episódio seja mesmo ridículo e merecedor de uma gargalhada. Conclusão, não sabe nem um único feitiço e é preciso ensiná-lo o quanto antes o que é ser um von Tifon, segundo a opinião do seu irmão mais velho.
Para além destes parentes tão coloridos e bondosos, vieram mais três personagens que me indicaram que de facto, os Alemães não são assim tão maus: Fritz Schneider, Skánvasse Weibellberg e Otto Nälden. Os dois primeiros são os inseparáveis companheiros do Primo Couto, o terceiro ouvi dizer que é um pouco maricas e é recém promovido a adido do ex. general, mas, tirando isso, ainda não o vi, nem ao seu rosto.

Na aula de Mitologia, comecei a falar com o Pedro, na verdade, foi ele que me interpelou, com curiosidade e atirando um papelzinho para o meu decote, acto que detesto que ele o faça, parece que tira prazer disso, e, vindo que estava atenta às suas palavras, esboçou um sorriso amarelo com os seus dentes todos.
- Então, como é que foi ontem o Jantar de Abertura do Ano Lectivo? – Perguntou o Pedro.
- O quê? – Perguntei eu confusa.
- Tu sabes Jessica, aquela coisa que todas as famílias de seres mágicos fazem quando é a abertura universal do Ano Escolar, e é o Chefe de Família quem discursa…A minha foi horrível! Tu imaginas 4 horas de discurso do meu tio?! O stôr Tezcatlipoca a discursar?
- Chiu! Não queres que o stôr descubra que estamos a conversar, pois não? – Disse eu com a voz baixinha. – De qualquer modo, o meu também foi uma seca. Tu sabes o Seth? Aquele tipo que tu derrotaste? Ele é aquele tio de que te falei tantas vezes. Tu podes ficar assustado com esta afirmação, mas digo-te: nada pode ser mais assustador que aquilo que te vou contar; claro, é assustador para miúdos, mas se não quiseres ouvir a história…
- Quero! Quero! – Disse o Pedro com voz também baixinha.
- Estávamos prontas para o jantar (é claro que toda a gente quis manter segredo acerca de ser especial), quando alguém tocou à campainha. «Vai atender, Tsuna. Eu e o Udjat estamos muito ocupados na cozinha.» Disse a Spectinha; a Tsuna viu na câmara de vigilância os Fuinhas e disse «Desculpe, mas não está aqui ninguém da MFC.». O Chacal Amarelo, espantado disse «Já se esqueceram do Jantar de Abertura do Ano Lectivo?»
Quando a Spectinha viu o que se estava a passar gritou «TU NÃO SABES GUARDAR UM SEGREDO, CHACAL AMARELO?» as Dark Cats, ao entrarem com uns sacos de compras, com os cabelos todos loiros alisados e com lentes de contacto azuis (poção de miúda ocidental, foi o que elas tomaram para ficarem assim, já que são tailandesas) disseram «Tu não conheces o Edd Chacal Amarelo, pois não Spectinha? Ele é um completo esquecido!»; eu curiosa, perguntei «Isso são as vossas coisas?» a Mantha respondeu «Não! A nossa bagagem está naquelas carrinhas.» Eu olhei e eram duas carrinhas grandes, uma para cada uma das Dark Cats, depois vi a limusina da Serpente de Fogo, mais bonita (convencida) do que nos jornais!
- Vocês as três no meio disso tudo?! – Perguntou o Pedro espantado.
- E ainda há mais! – Estava a divertir-me tanto a fazer as vozes daquelas 4 convencidas durante o intervalo! – A Serpente de Fogo gritou «ONDE É QUE ESTÁ O PAVÃO?», rapidamente a Spectinha perguntou «Não está contigo?» «Deve estar com o Coutinho.» Disse a Serpente de Fogo.
Eu não percebi o que elas estavam a dizer, e perguntei: «Quem é o Coutinho?» «É o nosso primo, e é a pessoa mais chata da família, foi um general nazi durante a 2ª Guerra Mundial. Era suposto ser surpresa ele estar connosco durante o jantar, mas como há pessoas que não sabem o que é um segredo.» Respondeu o Horus a apontar para o Chacal Amarelo.
«A S.F. trata dos negócios da S.P.V. A polícia que prende os membros do Movimento das Forças Cyborgs ou M.F.C. para abreviar. S.P.V. é a abreviatura de Serpente de Fogo Polícia de Vigilância.» Disse a Spectinha a armar-se em sábia.
- Nessa altura, o Seth aparece e diz: «ONDE É QUE ESTÁ O PAVÃO?» Disse o Pedro a gozar com a situação.
- Não propriamente, o Primo Coutinho tinha aterrado na forma animagus: um falcão.
O Goldteeth já irritado perguntou: «Onde é que está o pavão?»
Depois do Goldteeth ter acabado a pergunta, eu e as manas vimos dois falcões a pegarem num cadáver de pavão, quando aterraram, as patas pretas tornaram-se em botas, os estranhos olhos azuis em…Bem, olhos azuis. As cabeças achatadas em capacetes e o corpo em uniforme dos landsers[1]. Os dois soldados eram muito diferentes: o magricela era alto que nem uma torre e era esperto, o gordo era burro que nem um porta! O mais magricela disse a armar-se, num sotaque alemão: «Não foi fácil, mein general, mas consegui! Capturrei o pavão.» O Primo Coutinho no seu alemão aportuguesado disse: «Não tirraste as penas do pavão, idiota!» Pelo que o magricela respondeu: «Talvez o Herr possa tirra-lhas, mas, mais imporrtante, mein general…» «DESPACHA-TE!» Gritou o Coutinho.
O magricela tirou de dentro das asas do pavão morto um frasquinho de molho e disse: «Deixe-me oferrecerr-lhe…Isto não sai…Onde é que está?» Ele estava com dificuldades em retirar o frasco da asa, quando finalmente retirou o frasco disse: «O molho de natas, ta-dá!» Depois o Seth cumprimentou o Primo Coutinho e a Serpente de Fogo: «Sobrinho, como está a Alemanha? Serpente de Fogo, há quanto tempo, a Atlântida tem uma polícia secreta?» «Vai boa.» Responderam a S.F. e o Primo Coutinho.
- E vocês? – Perguntou o Pedro.
- O Primo Coutinho olhou para nós e disse: «Estas trrês? São as novas emprregadas?» O Horus respondeu: «Não, são aquelas miúdas que te contei ao telefone.» O Coutinho disse «Ah, daquela vez em que gastaste imensos euros na chamada daqui até Berlim.» Eu mal-humorada respondi: «Nós só estamos aqui porque o Horus pediu.» A Spectinha assustada disse: «Tem cuidado, o homem é um general nazi.» O Coutinho tentou acalmá-la e disse: «Não faz mal, eu logo vi que erra o estúpido patrriotismo inglês a falarr porr ela, então, quando é que se cozinha o pavão?» «Quando o idiota do magricela do seu cúmplice der o pavão e o molho à cozinheira.» Respondeu a Spectinha; o Coutinho mandou o magricela Fritz ir à cozinha para se fazer o pavão.
- Enquanto o jantar estava a ser pronto, o que é vocês estavam a fazer? – O Pedro está cada vez a gostar da história, porque já é a última aula do dia e ainda ele não se cansou de me ouvir.
- Nós estivemos nos nossos quartos no 2º andar da mansão, a Solaris estava a ouvir o “welcome to the candy shop”, eu estava a conversar com o Edd e com a Tsuna.
Quando o Droopy foi chamar-nos, a Tsuna tinha percebido que devia mudar, mas por mais concelhos que uma pessoa desse, nada se comparava a ter de comer o pavão com natas azedas ou ter de ouvir as histórias de guerra que o primo contava como «Deviam terr visto aqueles trrês, “Ai! von Tifon salve-se quem puderr! Eu, Digas vou prrotegerr-vos rapazes. Firrme soldados! Soldados?” E foi aí que eu apanhei o cangurru, o Fritz e o Skánvasse capturrarram o pavão e o perru, mas eu…»
- Canguru?
- Sim, canguru deve ser uma alcunha australiana militar, além disso, há muitas pessoas que se chamam Diogo por aí.
- Bem, a campainha está a tocar, tenho de ir. Adeus. – Disse o Pedro.
- Adeus. – Disse eu acenando com a mão.
Será que o Primo Coutinho tinha alguma coisa a haver com o rapto do Digas?
Talvez se eu perguntar ao Edd. Chacal Amarelo…
Não! Não deve ser nem provável.
Mas, como hoje estava mesmo curiosa, tentei procurar uma razão porque é que o Horus não me dizia o nome do homem. Tenho de encontrar a minha e a origem das minhas manas, sinto no dever como irmã mais velha, e também como daquela que toma conta dos miúdos enquanto os adultos vão à festa. Serei assim tão responsável como penso…?
Bem, pelo menos julgo, porque geralmente, nunca ouço sermões, a não ser do primo. Parece que o senhor alemão é um pouco perspicaz, e não deixa que nenhuma mancha de pó fique por limpar, se é que me percebes…E chamamos-lhe Primo Coutinho porque o verdadeiro nome dele é Willhem Couto von Tifon
E no lanche, ao chegar a casa, disse-lhe olá, pedi à cozinha a comida, e muito satisfeita, sentei-me no meu lugar. Vendo que Horus estava ao meu lado, decidi fazer-lhe a pergunta, e com um ar de curiosa, aproximei-me dele.
- Horus. – Comecei. – O rival do meu pai era assim tão mau?
Bizarramente, ele desatou a rir às gargalhadas durante pelo menos dez minutos, passado esse período de tempo, esboçou um olhar mais sério e assustado.
Num tom baixo, aproximou-se de mim mais um pouco e respondeu em segredo:
- Jessica, o rival do teu pai era um…Um…
Tentava falar, mas da boca não saía nem uma única palavra.
As suas mãos morenas começaram a suar imenso, e depois o som do seu coração batia cada vez mais depressa, arfando finalmente, mais pálido do que se tivesse visto um fantasma.
Estranhada com o comportamento de Horus, levantei-me e pondo-lhe o braço sobre o ombro de guerreiro, lancei-lhe um ar interrogativo.
- Horus…Estás doente? O que é que se passa? – Perguntei com um olhar vazio.
Ele respirou bem fundo, e abraçando-me, como se quisesse me proteger de algo ou alguém, respondeu já mais recuperado com um “Ah” de alívio.
- Foram tempos negros para a Atlântida, tempos negros. – Disse, com uma voz muito mais séria do que quando estava a tentar responder à minha pergunta. – No dia igualmente negro de 7 de Março de 1927, a Serpente de Fogo prometeu ao “Papá Neptuno” que, se a filha preferida, a Serpente Arco-íris não voltaria, a mais nova se faria regente. E assim foi, ora bem, nessa altura, chegou o rival do teu pai à Atlântida.
O rival do teu pai era um homem malvado e frio, muito poderoso, para ele o teu pai era uma mera pedra nas suas botas que facilmente removeria. Nessa altura, a Serpente de Fogo deixou-se ser seduzida pelo rival e este convenceu-a a sabotarem a família von Tifon para que ambos reinassem a Atlântida com crueldade e punho de ferro. Mas Katrine era muito corajosa e não deixou que Serpente de fogo e o rival levassem os seus planos à avante.
«Juntamente com os seus amigos Cyborgs da pastelaria em que trabalhava para ganhar dinheiro – Embora ela fosse uma von Tifon, renunciou ao dinheiro e à nacionalidade, Katrine tinha imensa vergonha de ser alemã – criaturas amigáveis da Fronteira, e outros bravo feiticeiros que sabiam bem o que faziam, estes formaram em segredo uma organização secreta, que operava nas sombras. O Movimento das Forças Cyborgs, ou a actual Resistência Atlante.»
A tremer, ele abraçou-me com mais força, e não conseguiu mais falar, como se alguma nuvem de escuridão quisesse silenciá-lo.
A sua voz parecia muito fraca, e não conseguia proferir mais uma palavra, como se algo na garganta estava a proibir-lhe duramente de dizer nem uma letra acerca daquele assunto. Estava cada vez com mais curiosidade para saber como é que a minha mãe tinha morrido, e quem era o homem que quase tinha sido seu pai.
Agarrada por ele, e muito satisfeita por ter aquele pequeno prazer, de estar ali com Horus, nos seus braços, sorri com uns olhos inocentes.
- O que aconteceu ao rival…? - Perguntei muito feliz.
Ele continuou a falar, embora tivesse dificuldade, e com um tom fraco e rouco disse como se quisesse apressar a conversa:
- Alguns feiticeiros e a maior parte dos mortais dizem que foi morto por estilhaços de uma granada enquanto andava num carro…Disparate! Não, cá entre nós, Jessica, acho que ainda está vivo, muito fraco para continuar o seu reino de terror, mas vivo. E isto foi há sessenta anos, aproximadamente. Desfeito aos pedaços, com aqueles lábios grossos a mexerem-se continuamente, num sono profundo, num Inferno qualquer, uma pequena visão do próprio Satanás quando for derrotado, apenas à espera do momento certo para disfarçar aquele corpo horroroso e metê-lo como um homem refinado, bonito, pronto para ter a tua alma. A tua, a da tua amiga Sara, a da Serpente de Fogo e a de qualquer mulher que o tivesse arruinado…
Descrente com essa história de horror, tive a ousadia de me rir, e levantada, já com a minha sede de prazer morta, sorri para ele, sem sequer ter acreditado nem uma única palavra.
- Porquê a minha alma…? Como raio ele me poderá dominar…?
Ele deu-me a mão, e num tom sério e dramático, lançou-me um ar furtivo.
- Tu és a primeira filha dele, ele quer dominar-te a ti primeiro, além disso, és muito parecida com a Katrine. – Respondeu ele. – Tu, Jessica, és a alma que ele mais deseja e mais ama na sua maneira, quanto como é que ele vai te ter…É um completo mistério, ninguém soube como a Katrine foi morta, nem ninguém sabe onde o seu corpo está.

Ao acabarmos a conversa, apercebi-me que Horus não estava para brincadeiras, e eu tinha mera impressão, que, quem quer que fosse esse “padrasto malvado”, deveria ter feito uma coisa mesmo má à família para eles o expulsarem e fazerem com que ele fosse esquecido, pois nem o Primo Coutinho – o mais corajoso e valente cavalheiro alemão de cá do Château von Tifon – se atreve a argumentar o assunto ao jantar. Já tentei fazê-lo duas vezes, mas nenhuma sem êxito.
O assunto é tão delicado para os alemães de cá quanto a Segunda Guerra, e aposto que o nosso padrasto desconhecido deve ter feito coisas mesmo piores nesse terrível evento.
Mas então o Primo Coutinho, não desconfia dele?
Pronto, aprovado por unanimidade que jamais voltarei a tocar nessa coisa, até é mesmo mau dizer a letra “H” cá em casa, pois ela se refere a coisas alemãs tão infernais segundo o Primo, que nenhum de nós o trata por “Willhem”. A nossa família deve ter um passado muito pitoresco, ai deve, deve..!
Talvez não possa falar com os meus parentes, mas consigo investigar por mim mesma.

Por falar em mistérios, a Sara foi abordada mais uma vez pelo tal “bruxo negro”.
Não estou a gostar daquele homem, é tão estúpido, faz-me lembrar tanto as histórias que o Horus me conta acerca do nosso padrasto. Aparecem do nada e fogem da mesma forma que surgiram: subitamente e com uma frase ameaçadora!
Se voltar a vislumbrar aquele desgraçado piolhento a tocar na minha amiga, dou cá uma sova ao palerma que ele até vê estrelas!

Estávamos a sair da cafetaria, depois de termos acabado o almoço, o grupo do costume, eu, a Sara, a Junnifer, a Nadezda, a Paty, o Pedro quando ouvimos um toque de telemóvel parecido com a música do Dartacão, só podia ser o da nossa amiga princesa, só ela é que tem um toque tão foleiro mas com a vontade de se rir à farta.
Atendeu pegando no telemóvel vermelho, com um sorriso muito convidativo.
- Sim?
Mal ia dizer quem era, quando subitamente uma voz distorcida pelo telemóvel e por mais outra coisa – não sabia que raio era – logo a fez perder o sorriso e o ar todo alegre.
Uma voz aterradora, em alemão cumprimento-a, num tom provocador e satisfeito, que se ouvia pelo menos alguns metros.

-Guten Tag, Prinzessin Sarah![2] Certamente deve estar um dia maravilhoso e romântico aí no Palácio das Reuniões, não concorda? – Exclamou a voz do bruxo muito convencido.
Isto fez com que os olhos da nossa amiga ficassem cheios de lágrimas.
Coitada, aquele tarado assassino não tem mais nada do que fazer senão fazer a vida negra à pobre da miúda?
Ela bateu com o pé no asfalto coberto de folhas de Outono, fazendo com que estas se elevassem até ao céu azul, estava mesmo irritada com aquela surpresa desagradável.
- O que é que o senhor quer de mim, seu desgraçado horroroso? – Perguntou ela com uma coragem admirável, a soluçar.
Por sua vez, este mandou um feitiço, que fez com que a mão dela ardesse naquelas chamas negras de novo.
- Pelos vistos, a menina não está feliz por ver que sou eu quem fez a chamada. Não, não meu amor. – Riu-se ele num tom escorregadio e suave. – Não lhe quero fazer mal, Princesa. E com certeza deve estar bem acompanhada, portanto, falaremos quando a menina estiver menos ocupada para aproveitar uma tarde a solo para…
A Sara olhou para as unhas suspirando chateada e empurrando o longo cabelo para o lado, parece que os seus olhos não brilhavam tanto quando estávamos a sair da cafetaria.
- Bruxo cobarde e malvado! – Comentou ela batendo impacientemente. – Quer que esteja sozinha para que me apanhe, sem eu ter ninguém em quem socorrer! Mas não se preocupe, agora nunca estou so…Hallo? Hallo? Estou, bruxo carniceiro duma figa?
Subitamente, o horrível feiticeiro tinha desligado na cara à nossa amiga, como foi tão palerma e com lata o suficiente para ligar-lhe e depois desligar-lhe da mesma forma mal educada…? Eu começo a detestá-lo, a ele e aos seus mistérios e mentiras!
Nem me aparece escrever mais, por isso, porque não te alicias com o resto das minhas aventuras, na próxima semana conto-te mais…


[1]Nome que se dava aos soldados alemães [2] Bom dia, Princesa Sara!