terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Chave do Túmulo da "Besta"


O Dia das Bruxas é uma noite mágica, disso, ninguém tem dúvida, mas o que eu não sabia, é que seria assim tão reveladora para o meu passado…!
Um humano que queira ser bruxo morre três vezes: na vida mortal, na vida moral, e na vida espiritual, só assim, é que se poderá aceder à pior prisão: o Castelo Negro.

A "Pura Princesa Swerdinada Arco-ìris de Fogo" também tem defeitos.


Podia muito bem ser verdade como podia ser mentira, mas o que a Serpente de Fogo estava a fazer na sala não era ficção: gritava de agonia, tentando fingir que não tinha exactamente gritado com um dos servos dum dos seus amantes mais perigosos, e, durante um quarto de hora, aquela peixaria continuou, com ela a andar constantemente à roda, como se tratasse de um pião gigante, para por fim parar meditar nos seus erros.
Estava mesmo em sarilhos não achas? Os seus olhos encheram-se rapidamente de lágrimas, e, pegando irada num vaso de porcelana, atirou-o contra a estátua do seu pai, o grande deus Neptuno.
- Odeio-te, PAPÁ! – Berrou numa voz aguda irritada. – ODEIO-TE, PAPÁ! POR CAUSA DA TUA ESTÚPIDA PREFERÊNCIA PELA MINHA TONTA IRMÃ, ESTOU AQUI A MORRER!
Subitamente, uma voz feminina indagou nas sombras do salão vazio a rir-se:
- Olha só quem está com a mostarda a subir ao nariz? Mete-me dó, Vossa Majestade!
Ela virou-se nervosamente para mim, fixou-me com olhar terrível durante uns momentos, depois soltou uma risada aguda convencida digna de uma bruxa.
Saberia ela o sofrimento e curiosidade porque eu passava…? Tinha lido os meus pensamentos…? Talvez sim.
Que estaria ela a preparar com os seus caldeirões…? Tirou habilmente da sua minúscula mala de pele de cascavel verdadeira verde-escura uma fita métrica, e começou a medir a minha cintura como se quisesse saber se eu era gordinha. A fita longa de cores quentes em vez de centímetros tinha como unidade de medida pequenos caracteres atlantes que correspondiam ao destino de cada pessoa. Já tinha ouvido falar daquelas coisas chamadas “adivinha-métricas” numa conversa com a Sara, mas nunca pensei que existisse mesmo, afinal são tão caros que só para os destinos mais inúteis é preciso desembolsar cem euros!
A Serpente de Fogo percebe mesmo desta coisa da magia negra. Ao tirar notas das medidas exactas, e do meu negro destino – a minha cintura apontava para um estranho losango com duas rosas.
Depois, esboçou um sorriso misterioso, e começou a mexer continuamente, sem razão nenhuma, com um brilho estranho nos olhos azuis claros (já te disse que ela pode mudar a cor das suas íris, umas vezes para verde, outras para azul, outra para negro, e outras para vermelho de sangue!), na sua mala. O aspecto piramidal da pequena carteira do tamanho inacreditável de uma maçã deixava-nos a pensar como é que poderia ser possível guardar tanta coisa num sítio tão pequeno.
- Olhos de sal perturbados não ficam bem a uma bruxa bonita como a nossa querida e bela Jessica Von Tifon. – Comentou ela a atirar batons, gloses, estojos de maquilhagem, frascos de perfume de todos os tamanhos e formas. – Muito menos a uma duquesa da Bellanária. Por isso é que adivinhei que ias passar a noite da Magia Negra no Castelo Negro, além disso, tenho o dom de falar com os mortos.
Só ficou satisfeita até encontrar por fim num compartimento secreto da carteira verde-escura, uma chave do tamanho de uma semente de mostarda: uma horrível serpente azul indigo estava enrolada no seus adornamentos, devorando a sua própria cauda de escamas ásperas e secas, e o
aspecto da chave de prata com ouro era horrivelmente sinistro, com uma rosa de marfim incrustada no meio.
O pequeno objecto prateado brilhava na palma da mão escorregadia e hidratada da mulher qual um pequeno diamante raro.
Isto começava a ficar interessante…Os meus olhos viraram a sua atenção para a pequena maravilha.
Com a sua longa unha de bruxa do indicador, ela apontou para o raro utensílio. Parecia reluzir a sua luz vermelha de uma forma tão atractiva como diabólica.
Agora é que eu estava a somar as parcelas, aquela estúpida e o bruxo que andava sempre atrás de mim eram meros fantoches nos fios de outra pessoa mais inteligente.
Uma pessoa que tivesse neurónios suficientes para saber que a filha da filha mais velha da mulher do grande Duque Von Tifon teria uma certa influência e conseguiria para seu próprio proveito certos documentos importantes. Enganar um homem assim seria mais difícil do que eu pensava. Seria o meu padrasto o autor daquela palhaçada toda…?