terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Os dois "guarda-costas"...


Quanto ao anel.... Estava eu a ver o relógiozito na minha confortável caminha. Afundei-me mais na cama, sorrindo satisfeita sobre a minha almofada lilás. Ainda eram quatro e quarenta, faltavam mais duas horas para eu acordar.
De repente, aquele anel precioso cujo tinha sido dado pelo Pedrocas no dia anterior brilhou intensamente primeiro dum tom alaranjado, decorando o meu quarto dum bizarro cor-de-rosa melado. De seguida, ouvi gritos de duas vozes estridentes em Alemão:
- SCHNELL! Sai imediatamente da cama antes que te parrtamos essa carrantona, Jessica!
- Hã? – Resmunguei, completamente ainda a dormir. – Quem é?
Mal tive tempo de vestir um roupão transparente – eu prefiro dormir nua, só com umas cuequinhas e um soutien nocturno discreto – quando quatro mãos fortes e cheias de cicatrizes pegaram em mim como se eu fosse um saco de batatas e arrastaram-me à bruta para fora da cama.
Depois, em cinco minutos, enquanto que duas mãos gordurosas seguravam firmemente com uns braços nada saudáveis e pálidos, quase em tom amarelo; levei um “duche” de água gelada que percorreu as minhas formas esguias e elegantes de rapariga adolescente enquanto o que me segurava se ria cruelmente.
Nesta altura, o anel no meu anelar esquerdo estava a vibrar dolorosamente em tonalidades de fogo escaldante. Um vapor terrível atingiu repentinamente em resposta à água nos olhos dos meus opositores, que quase ficavam cegos pela magia branca e cintilante, duma luz equivalente à do sol, a magia protectora do anel. Aquilo resultava. Graças a Deus que os tais adversários alemães identificaram-se mesmo a tempo de não ficarem com uma cegueira e serem ofuscados pela luz do anel.
Largaram-me no chão e puseram defensivamente as suas mãos a cobrir os seus rostos magros e rosados, vermelhos, quase como se tivessem apanhado um escaldão.
- Jessica, desliga lá a porra dessa porcaria e vem connosco até ao andar das conversas, sim? – Disse o mais escanzelado e num tom de desespero.
O anafado, que estava com o outro, entregou-me gentilmente um roupão e uns chinelos, sem olharem para a beleza incandescente do meu corpo de deusa.
- Veste-te, tens um encontrro. – Disse ele friamente.
Primeiro, chamaram-me ao gabinete dele no “andar das conversas”. Um eufemismo estúpido que o Sr. Duque Willhem Couto Von Tifon utiliza para designar as masmorras do Château. Primeiro, descemos uma série de escadas de mármore, rodeados por corrimões de ferro da enorme escadaria que dá acesso a todos os andares do Château. A seguir, passámos pelas cozinhas no rés-do-chão. A esta hora, ninguém estava a pés nos refinados pisos de azulejos brancos, e não se via vivalma por aquelas zonas da casa.
A cozinha, situada por detrás da escadaria, é uma sala rectangular com novecentos metros de comprimento, seis de altura e vinte de largura, com apenas uma entrada, e vários utensílios de gastronomia em várias prateleiras à direita (panelas; tachos; especiarias, etc.) e mais outras prateleiras com talheres; pratos; travessas…Enfim, o mais variado e rico serviço de porcelana Von Tifon estava ali. No meio em frente e detrás, havia vários fogões, frigoríficos, máquinas de lavar a loiça, bancas...Nesta sala não haviam janelas, pelo que era um pouco abafado. O escanzelado de uniforme preto da SPV (tal como o seu anafado companheiro) pôs de propósito no máximo com as suas mãos de ladrão profissional de jóias a roda principal que dava calor e gás ao segundo fogão a contar da esquerda. Depois, dependendo dos súbitos cliques e barulhos que se ouviam de tempos em tempos por debaixo dos nossos pés, girava com cautela as rodelas do gás, sem se notar uma única labareda azul natural. Lentamente, os outros fogões que rodeavam o segundo eram engolidos pela terra com mecanismos quase enfeitiçados, activados através de antigas palavras e encantamentos alemães que o gordo pronunciava em voz baixa e quase murmurada. Dentro de trinta minutos, onde estava o fogão do meio, apareceu duas tochas onde ardiam luzidiamente dois fogos-fátuos, e, quanto aos restantes fogões desaparecidos, havia dois caminhos que terminavam em escadas em caracol. O magro agarrou-me, com a tocha na mão direita e a esquerda a segurar o meu braço. Enquanto que o cabeçudo gordo tomou o caminho da direita, enquanto o magricela e eu o da esquerda.