sexta-feira, 6 de julho de 2007

A ausência do General... e consequências .


Como por magia, quando o relógio bateu as seis badaladas da manhã, toda a casa começou a levantar-se e a dizer bons dias ao Sol, às cortinas beje das grandes janelas em forma de arco que cercavam as portas de mogno vermelho-escuro com cinco metros de altura deixaram passar delicadamente sobre as nossas cabeças os raios de sol, o mesmo se passou em todas as restantes divisões em que uma explosão de cores outonais vivas e quentes resplandeceu ao se terem aberto pela força feminina da terna e bela feiticeira branca “Brisa de Verão”, na qual fazia um dos seus últimos trabalhos. Dentro em breve, a atrevida e jovem “Borboleta outonal” iria tomar o seu lugar, mas a linda senhora de trinta mil anos, um pouco sorridente, com um vestido borrifado com uma divina e estrelada noite de Agosto e até aos joelhos, com um dia fantástico na praia em Julho, levando consigo uma rã dos húmidos pântanos de Maio e uma fraca lamparina de prata das noites dos Demónios de Setembro, cabelo curto branco da espuma das mais altas ondas de surf, rosto fantasmagórico, nariz aquilino comprido parecido com a de um bruxo, e olhos tão azuis como o mar; ainda assim soprava o seu vento encantador, entoando uma melodia alegre e viva, de modo a que todos pudessem aproveitar estes últimos dias tão maravilhosos e cheios de vida.
Espreitava furtivamente pelas janelas de todos os andares, esvoaçando alegremente de um lado para outro, certificando-se se o Assassino do Amor não teria exagerado na dose de escuridão quando tinha passado pela Cidade Perdida, à noite. E cada vez que via as caras meio satisfeitas meio melancólicas do meu primo Horus, de Set, e da Spectinha que tinha adormecido juntamente com alguns demónios na cozinha, que agora começavam a acordar na sua forma humana, e voltavam ao trabalho a bocejar e com as pernas pesadas, deitava um pouco da sua cera da lamparina para acordar os dorminhocos, e ria-se com um sorriso amarelo nos lábios quentes, finos e vermelhos.
Com uma altura de um metro e setenta e cinco – um pouco mais alta do que eu – a dama ficou com um olhar confuso por não ter visto o Primo Coutinho no átrio.
Afinal, é tradição na nossa família o chefe da família, o verdadeiro Duque von Tifon actual receber uma feiticeira branca todos os dias em todas as estações.
As Feiticeiras Brancas são muito importantes já que são elas que mantêm o equilíbrio entre elas; as Fadas; as Cyborgs; as Nobres; as Mulheres Demónios; as Bruxas e; por fim as Deusas. Os Feiticeiros Brancos fazem a mesma coisa entre eles; os Nobres; os Cyborgs; os Demónios e com os Bruxos.
No topo, jamais ninguém pode mandar sobre os deuses masculinos de cada nação, caso contrário seria a anarquia total!
É por esse controlo do equilíbrio do Mal e Bem – Bruxos e Cyborgs – que as outras classes insistem e fazem o seu melhor para que haja paz entre as duas classes mais fortes a seguir aos Deuses e aos Nobres, mas é em vão. Mesmo que a Guerra Civil acabe mais cedo do que pensávamos, haverá sempre terríveis desavenças entre estes dois grupos tão diferentes.
Aí é que entram as Quatro Feiticeiras das Estações. Para assegurarem que as forças das energias de ambos os lados são equivalentes, as feiticeiras brancas visitam todos os dias, uma em cada estação correspondente, o General Couto, Willhem Couto von Tifon, na sua casa, para medirem a energia média do Bruxo Comum, e depois, ao anoitecer, fazem o mesmo com o Conde James Tomé Josué Dark Sword Dy Lis Tenteirinhas
[1] – que é que queres, é o nome completo dele! Tenho lá culpa que a família dele se chame assim!
Não sei se os homens da família do heróico Chefe da Resistência têm as…certas partes com açúcar ou chocolate, mas isso só vai interessar a certas raparigas doidas por ele, não é?
Ora!!... Passemos é à minha história…
Tocando delicadamente na campainha de sino com os dedos longos, com as unhas minuciosamente cortadas, a feiticeira branca esperou impacientemente pela cínica, no entanto fiel empregada Charlene Spectinha, que lhe foi atender, abrindo as portas principais cheia de sono, penteando em vão com as mãos desajeitadas de aranha, e tentando não ouvir os instrumentos dos membros da SPV, bruxas, demónios, cyborgs que desfilavam em direcção à estrada perto do Château a entoar muito assustadoramente o bizarro poema de Euncätzio, o que é mais um aborrecimento para a pobre cabeça da feiticeira branca. Não me admira, cá na Atlântida, não só temos de nos preocupar com a nossa classe, mas também com as outras. É o mal de termos de lidar com esta coisa das classes, quem me dera que todos nós nos déssemo-nos bem e não estivéssemos com estes protocolos de paz frágil nas zonas que ainda não foram abatidas pela guerra, no nosso caso, a Cidade Perdida. Principalmente porque assim conseguiria ver quando e como quisesse um jovem garboso, “bem apessoado” – como diz a Sol – acaso não fará mal deitar-lhe uma olhadela. Baixam-se os olhos sobre o peito, com ares de menina tímida e boazinha, mas levantam-se às escondidas, quando o rapaz não dá por isso. E se os olhares se cruzarem, bom, que desgraça pode vir daí? Apenas se cora um pouquinho…Logo fala-se com o jovem moço, quer ele seja louro, moreno ou ruivo, olhos claros cor do lindo céu de Primavera ou negros como o carvão, bruxo ou cyborg.
Ele suspiraria: linda! Ela murmuraria: querido! E depois seriam amantes para todo o sempre…! Todos felizes, verem a bonita noiva passar, de mão dada com o belo rapaz, assim pela união divina de Nosso Senhor eles tornam-se marido e mulher… Infelizmente, para Spectinha, não havia nem castelos no ar, não havia nem para ela, muito menos para mim ou para as restantes classes. Estaremos destinados a lutar sempre pelo poderio da Dimensão mágica.
Curiosa com as novidades da sua colega feiticeira branca, a Charlene Spectinha, com um sorriso matreiro, foi buscar imediatamente duas chávenas de chá à cozinha, voltando apressada, com os saltos altos a ressoarem indiscretos no chão de mármore, sentando-se logo na primeira cadeira que viu, e puxou de uma forma muito fina outra para a feiticeira do Verão se acomodar. As suas mãos bem arranjadas de unhas longas postiças vermelhas mostravam o quanto falsa esta francesa é. Esboçou um ar de preocupada exagerada e pôs as mãos sobre os braços compridos do cadeirão estofado de padrões naturais e animais.
- Alors? "Quelle est cette face à vous?! " Parlez,não fique acanhada, querida! – Perguntou ela num tom esganiçado e muito convencido a beber com o dedo mindinho esticado a sua chávena de chá. – Sou a governanta do Château von Tifon, as dúvidas que tiver, diga-mas a mim.
Por outro lado, a Brisa olhou-a com indignação, levantada, com as mãos e unhas pequenas pintadas de verniz transparente e brilhante nas ancas bem definidas. Tinha razão para o estar, afinal o nosso primo não estar ali era um problema muito grave para os bruxos residentes da Atlântida.
- Ainda pergunta?! – Exclamou ela zangada. – Onde raio estará o General von Tifon? Se não tiver a localização dele dentro de sete minutos, eu…
Vendo que o caso estava mal parado, a bruxa francesa não teve outro remédio senão forçar a feiticeira branca a ouvir as palavras que a primeira tinha para lhe dizer. Senão, nós, Bruxos, não teríamos permissão para entrar ou saír da Atlântida, e isso seria mesmo um grande sarilho! Vês o que é que pequenas desavenças se transformam em enormes “buracos” dos quais é muito difícil sair? Devia ser assim que a pobre da empregada se estava a sentir: encurralada. Mas, como todas as bruxas, ela era esperta, e com certeza arranjaria maneira de conseguir desenvencilhar-se daquele beco sem saída. Tinha o plano perfeito e esse seria a verdade, mais outra coisa que eu não conseguia descobrir o quê e que via a cena tão cómica ao beber um copo de leite enquanto comia "Clusters" com chocolate no salão de jantar.



[1] Apelido intraduzível