segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Um bruxo do Norte (Parte I)

As orelhas de um bruxo são espetadas, parecidas com as de um morcego, mas que não se notam nada nos chapéus que usam. O Tenente com Luvas Púrpura tinha um pouco do seu cabelo louro, penteado para trás, com brilhantina, que mais parecia uma tocha, e uns olhos verdes, como se fossem os de um réptil, que brilhavam intensamente, com um sorriso fácil por detrás dos dentes incisivos escondidos por detrás do céu da boca. E no entanto, conseguia-os esconder tão bem que qualquer miúda, se o visse passar sem uniforme, o tomaria por um rapaz modelo ou pelo um membro de uma famosa boysband, dado a sua linda cara. Mas atenção; aqueles que estiverem a lerem estas cartas! Uma bruxa elegante e simpática ou um feiticeiro sedutor e carinhoso é muito pior que um fantasma ou que o monstro debaixo da vossa cama. Um feiticeiro malvado ou uma bruxa aparenta ser uma pessoa ou um ser humano normal, com hábitos normais, aos nossos. Alguns até são políticos…!

Visto do interior do pátio, o castelo parecia mais pequeno, com cinco alas unidas por cinco torres, posicionadas numa distância quase mística, fazendo, de cima, provavelmente, o desenho do pentágono, uma figura geométrica relacionada com a magia. Na ponta mais a Sul, a torre mais acastelada e larga, com uma arquitectura semelhante a um minarete, ostentava a bandeira da classe dos Bruxos.

O tenente regressou e, para minha surpresa, fez-me a continência, batendo os calcanhares. Suspeitei que isso tinha mais a ver com o que o meu Padrasto ou o assessor lhe tinham dito do que a minha personalidade autoritária.

- Menina Jessica. – Disse ele respeitosamente, na sua voz aguda com um sotaque que parecia ter sido herança de um bisavô demónio (os Bruxos geralmente têm uma voz muito aguda, quase estridente, diga-se por passagem), dando-me um beijo solene nas costas da minha mão esquerda, fazendo uma enorme mesura para se ajoelhar dignamente. – O seu padrasto está a acabar de jantar e pede-lhe que aguarde no átrio que fica na torre oeste. Siga-me, por favor. O cabo tomará conta dos seus haveres pessoais como a carteira.

- Muito obrigada, tenente. – Respondi eu, num tom sarcástico. – Mas primeiro, tenho que tirar alguns documentos importantes que deixei na carteira.

Depois de retocar o batom, pôr o anel favorito da minha mãe e perfumar-me com o “Poison – Snake”, uma fragrância muito forte e provocante da qual o meu Padrasto gostava muito por causa de ser o perfume que a Katharina usava normalmente (e que, só por curiosidade, ainda está no topo das fragrâncias preferidas das Bruxas), segui o tenente através do pátio empedrado em direcção à ala oeste. Algures, no nosso lado esquerdo, ouvia-se o som de homens a cantar, com risos traiçoeiros e voluptuosos de raparigas dos dezasseis até aos dezanove anos.

- Parece ser uma grande festa. – Disse eu friamente. A minha escolta murmurou algo em ucraniano sem muito entusiasmo. Qualquer tipo de festa é melhor do que ficar de guarda à noite, em Outubro. Passámos por uma pesada porta de carvalho e entrámos no grande hall.

Todos os grandes castelos de bruxos deviam seguir este estilo gótico, agitado com um pouco das salas asiáticas, chinesas e hindus, com uma mistura de cores impressionantes.

Todos os guerreiros de Tsesustan deviam viver e pavonear-se num lugar destes, todos os mandões da Magia Negra, seguidores do terrível Samiel, deviam rodear-se assim de numerosos emblemas, espelhos duma impiedosa tirania. Para além dos imponentes tapetes, quadros insípidos de vários notáveis da Magia Negra, os quais provocavam uma sensação diabólica que estávamos a ser vigiados, havia um número suficiente de sabres, adagas, armaduras, germânicas, russas, hindus, nipónicas e chinesas, machados, tridentes, estrelas de cinco pontas e outras demais armas asiáticas, eslavas e nórdicas nas paredes para travar uma guerra com o Rei da Tailândia, e todo o exército siamês.

domingo, 1 de novembro de 2009

Um Castelo Democrático (depois explico)

Subitamente, dei de caras com um homem baixo a tirar-me uma rápida fotografia, desculpando-se num Inglês com sotaque hindu que era apenas para a segurança do sítio. Depois, ao avançar cada vez mais na humidade de betão do solo instável da ponte, no primeiro quarto da ponte, deparei-me com mais um guarda, desta vestido com um uniforme da SPV (um, e, pelas insígnias no colarinho, devia ser um cabo. Falou comigo num Inglês meio arrevesado, pelo facto dele ser coreano e não perceber lá muito bem a língua.

Depois de examinar com o maior dos cuidados a minha tatuagem no braço dos Von Tifon e o meu Bilhete de Identidade à luz da lanterna, autorizou-me a passar pela porta dos piões bruxos, que fazia um incrível desvio à esquerda, onde repeti mais uma vez a mesma história e apresentei os papéis, desta vez, perante um jovem tenente ucraniano de luvas púrpura de veludo que parecia comandar os homens da guarda.

Só há uma forma de lidar eficazmente com estes homenzinhos arrogantes de uniforme que pensam terem sido presenteados com uma altura impressionante de dois metros, olhos flamejantes estranhos ou penetrantes e narizes afincados e finos e orelhas espetadas, e essa forma é mostrarmo-nos mais arrogantes e convencidas que eles.

Portanto, pensei no homem que tinha beijado nessa noite e encarei o tenente com um olhar frio e desdenhoso, capaz de esmagar um príncipe do mais puro-sangue.

- Sou a Menina Jessica Von Tifon, bruxa de primeira classe. – Vociferei. – Eu sei muito bem que você, um duende pequenito sem salário que chegue para alimentar a sua familiazinha miserável, tem de ter estes procedimentos. Mas não se preocupe, meu querido. Não vou ocupar nenhum piquito do seu tempo. O que eu queria de si era se o meu querido homenzinho sem valor nenhum para pagar o verniz que uso é que marque uma audiência com o meu Padrasto. Por favor, informe-o imediatamente da minha presença. Verá que ele me espera e que considerou necessário, a seus modos digamos entre nós os dois, fornecer-me a chave para entrar no castelo durante a realização das festividades do Dia da Magia Negra. – Entreguei-lhe a chave com um ar muito vaidoso, e vi como a arrogância do tenente rendia homenagem à minha. Estava a ser mesmo má.

Por alguns minutos, pensei que estava ser controlada ou pela malvada da minha mãe, ou pelo meu Padrasto, porque o vocabulário muito fino e o sarcasmo de inferioridade não faziam parte da minha conduta normal. Se calhar era uma combinação dos dois.

- Só mais uma coisinha: desejo salientar a delicadeza da minha tarefa, tenente. – Disse eu, baixando a voz. – É essencial que, nesta fase, apenas o meu Padrasto ou o seu assessor sejam informados da minha presença magnifíca, aqui, no Castelo Negro. É muito possível que espiões da Resistência dos Cyborgs Imundos se tenham já infiltrado nas instalações. Compreendeu, amor?

O tenente com luvas púrpura acenou brevemente com a cabeça e voltou a entrar no pequeno escritório de porteiro para fazer um telefonema, enquanto eu limava as unhas, sorrindo vaidosamente, com as luzes do pátio empedrado, aberto ao frio do céu nocturno. Deixa-me contar porque é que ele usava luvas, porque a maior parte dos feiticeiros malvados e das bruxas têm unhas tão compridas como alfinetes e orelhas arrebitadas, muito sensíveis e apuradas, como se fossem radares de qualquer coisa de bom, e não penses que é para as adorar, mas sim para as destruir!... Não há maior prazer para uma bruxa ou para um feiticeiro malvado que fazer murchar uma flor, ou que enganar uma pessoa, ou raptar as crianças.

domingo, 4 de outubro de 2009

O Vale da Morte - o exílio da Europa...

Desculpem lá por me ter atrasado a enviar as cartas à Tifongirl. Esta democracia já não é o que era dantes. Eu sei, ela é a minha enviada nas histórias que eu escrevo, mas também, podia não ser assim tão respondona!

Enfim. Tive de assinar uma autorização - ou confirmação, ou lá o que aquilo é - a jurar pelos meus poderes de bruxa que jamais difamaria o nome de Sua Majestade, o Rei "Kzenah" (diminuitivo do dialecto eslavo bellante para Kasimir) Ivanovitch Malaghetyiev - é um nome muito estranho, eu sei! Mesmo assim, temos de respeitá-lo, porque, com o Rei dos Bruxos, ninguém brinca em serviço! É que eu não devia ter utilizado a forma familiar abellantizada de "Kzenah Malagheti", e, pelos vistos, isso enfureceu muito Sua Excelência. O que eu devia ter utilizado era "O Nosso Pai, o nosso Camarada, o Senhor Kasimir Ivanovitch Malaghetyiev". Sabia lá eu isso. Graças a Deus, Sua Majestade é um porreiraço, e raramente se zanga!

Portanto, tal como toda a gente esperava - e peço, uma vez mais, muitas desculpas por ter demorado em questões secundárias sobre a parte secundária da minha história - aqui vai a continuação da tão esperada aventura da Jessica Von Tifon no Castelo Negro:

Lembrei-me das palavras encorajadoras da Serpente de Fogo nos seus delírios enquanto fumava haxixe «...Enquanto mulher, e enquanto bruxa, a valentia nunca me falhou, muito menos a minha beleza, portanto, ao entrares na antiga morada do nosso querido e amado Rei dos Bruxos, lembra-te das tuas qualidades e feitiços mais poderosos e repete para ti mesma esta frase “os meus peitos nunca vacilam perante nenhum perigo!”....»
Afinal eram patéticas, essas palavras, mesmo assim, era preciso tentar qualquer coisa naquela altura. Respirei bem fundo, levantei-me de imediato e avancei em passadas rápidas e nervosas qual leoa determinada em direcção ao lago.
Mal eu sabia o que me iria impedir! Subitamente, uma figura tétrica e branca surgiu no meio do lago, pairando fantasmagoricamente sobre as águas, enchendo-o de sangue, e a mim, enchendo-me de satânico horror, deixando-me de joelhos, murmurando “Deus nos livre!”
Cabelos flamejantes desgrenhados a voar contra o vento e olhos azuis quais dois fogos-fátuos, envolta em roupas brancas rasgadas, a sangrar na garganta com uma marca de uns lábios pecadores, com cornos pretos a se erguer da cabeça pálida como a cal, tal seria a fantasma da violada e pobre da minha mãe Katharine Von Tifon...?!
Todos os meus cabelos ficaram em pé mal viram aquela visão terrível, a sua voz tenebrosa, porém, lindíssima de se ouvir, murmurou com carinho:
- Minha querida filha, volta para trás, por amor de tudo o que amas nessa tua despreocupada vida, volta para trás...! Ou será tarde demais....tarde demais...
A minha boca conseguiu apenas pronunciar com dificuldade, da quão aterrorizada estava com aquele infernal acontecimento:
- Tarde demais para quê ?
Porém, logo a imagem se desvaneceu com um fumo cinzento e espesso qual uma canja de galinha de cinco litros, seguida por um ribombar de um trovão assustador e uma gargalhada de um homem familiar.
Os meus olhos arregalaram-se e as minhas pernas apressaram-se a dirigir-se para a saída daquele sítio horrível e melancólico. Pensei se não podia utilizar a minha vassoura, ou talvez a minha fiel sombra, mas isso seria em vão: a sombra não teria qualquer poder num lugar onde nem sequer há luz sobrenatural, e a vassoura estava inutilizada devido ao gelo que faz no Vale da Cabeça da Morte. Agora, só as minhas pernas me valeriam para sair imediatamente dali. Infelizmente, no sítio onde a trilha para a saída do vale e dos Alpes das Sereias estava estranhamente bloqueada por pinheiros altos e abundantes. Donde eles teriam saído? Pus a mão forçosamente na cara, nada contente por aquele “acidente”. Ora que essa! Porque razão as coisas têm de ser tão complicadas de se fazer?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Rüdiger Von Tifon - O louco ou o génio?





O Senhor do Espelho Fumegante, Tezcatlipoca; Rwebertan Samiel Di Euncätzio, o Assassino do Amor; Sua Excelência, o Duque Rüdiger Heliodoro Feliciano Von Tifon, "O Louco"; Sua Senoria, o Duque Adrian Friedrich Von Tifon, "O Tigre Azul"; o Capitão-Mor Eddward Goldtheeth..., Reinhard Heydrich, Nicolau Maquiavelli, Vladimir III, Heinrich Himmler, Napoleão I, Ivan IV, o rei Português D. Pedro I....




Se olharmos bem para a história..( e também para a história real, baseada em factos reais), ela está impregnada de feiticeiros poderosos e humanos maquiavélicos e verdadeiramente cruéis. E são de todas nacionalidades, de todos os feitios, tamanhos e de todas as idades. Mas o bruxo e homem mais poderoso de todos, aquele que se sucede ao que foi o anterior senhor do Castelo Negro pode muito bem ser o pior de todos. Não estou a falar de qualquer bruxo, mas sim do Rei dos Bruxos, o Kzenah Ivanovitch Malagheti! Durante quase duzentos e cinquenta e três anos, ele lidou com bruxos ou homens incrivelmente maldosos e sem escrupulos nenhuns. «Porém, aquele com quem melhor lidei e fiquei como amigo daquele encantador cavalheiro foi, sem dúvida alguma, o Duque Rüdiger...! No dia em que ele morreu de verdadeira loucura, eu perdi um valioso amigo, pai e mestre.»




A verdade é que se Kzenah Ivanovitch Malagheti, de origem moscovita, se não tivesse ido para a carreira da Magia Negra, ainda teríamos Rüdiger, "O Louco", a governar, mas sim em toda a comunidade dos bruxos - ainda bem que o meu trisavô já morreu nos inicios do século dezanove, não acham? - com 431 anos em cima! Eu acho que, nos retratos, é muito parecido com o neto, o terrivel Friedrich Von Tifon. Até me atrevo a dizer que o meu avô era uma fotocópia autêntica do meu trisavô! Quando os dois sorriam para os retratos - algo raro em homens do calibre e distinção deles - os sorrisos são iguaizinhos. Estes dois bruxos experientes - o Malagheti e o meu trisavô Rüdiger - lutaram "verbalmente e diplomaticamente" pelo poder da Magia Negra durante mais de cem anos. O mais engraçado é que as disputas deles não eram nem com conspirações ou intrigas, mas sim sobre as melhores leis ou castigos crúeis e "fascinantes" que poderiam aplicar aos seus escravos e servos. Havia sempre, entre ambos um respeito mútuo e uma inegável admiração, mesmo quando estavam embrenhados numa importantíssima discussão intelectual. A verdade é que a maior parte de códigos e leis que influenciam, hoje, diariamente, os Bruxos, são ideias inventadas pelo Rei dos Bruxos, e depois visadas para o plano prático pelo meu trisavô. Nenhum deles se parecia um daqueles "lobos maus" dos contos de fadas, ambos tinham sido educados num meio completamente aristocrático e pacifico, mas ambos sabiam os riscos que a Magia Negra pode causar...! A verdade é que toda a gente tinha medo deles - e ainda há pessoas que têm medo do Malagheti, eu, Jessica Von Tifon, tenho muito medo dele - não por causa de serem crúeis ou de gritarem muito. Nunca ouvi o Rei dos Bruxos gritar, e tampouco ouvi boatos que o "O Louco" fizesse o mesmo. «...O indígena bruxo, vendo uma originalidade tão forte como a Duque Rüdiger von Tifon, não podia explicá-la pela doidice...!»




Homem renascentista, o predecessor de Kzenah Ivanovitch Malagheti espantou meio mundo com a sua finura quase feminina, um excelente bom gosto vienense, acabado de saír das cortes finas na Europa, ele ocupou o Castelo Negro e o Château von Tifon desde 1615 até à data de 1758, quando quis nomeou como sucessor, o "Czar da Justiça" Malagheti. Na comunidade da magia negra, sempre se deu bem com todos os bruxos da sua época, excluindo a Senhora Murakami. A autoritária e severa japonesa, que não podia ouvir um não como resposta, achava completamente indecorosas as paixonetas que Rüdiger tinha sobre ela, e, como nora e mulher, sempre disse que merecia ser respeitada, uma vez que um dos filhos dele tinha casado com ela!




Mas depois havia um lado um pouco despótico nele: governava com um punho de ferro, impondo a lei a todas as classes, desde os mais pobres até à mais alta nobreza da sociedade bellante. Ele era um homem que nunca perdia a calma, mesmo quando a maior parte dos outros bruxos já estavam ou a fugir a sete pés, ou a desembainhar das suas espadas ou a sacar das pistolas. Gostava sempre de analisar cada situação ao pormenor, e detestava ao ponto de proibir no ducado, o famoso sistema de superioridade absoluta que os Deuses exigiam de todas as outras classes. Ele tinha poder para lidar de forma justa de ambos os lados, não era nem bom, nem mau.


Da primeira vez que eu perguntei se o Rei dos Bruxos tinha mesmo o coração terrivelmente emperdenido, Hans von Tifon respondeu-me com um sorriso muito triste, recordando-se do dia em que tiveram de enterrar a Senhora Murakami von Tifon e o filho juntos, na distante ilha de Hokkaido, em 1980.


«Sim, terrivelmente emperdenido...» Ele tinha conhecido três possiveis candidatos a Rei dos Bruxos, dois dos quais eram da família dele, a bisavó dele e o tio-avô. Tive até a sensação quando lhe falei disso, que Hans estava a limpar uma lágrima no canto do olho. Não percebi o que ele que estava a querer dizer com aquela frase. Nunca tinha visto Hans a chorar. Normalmente comporta-se como um verdadeiro bruxo, sempre com o nariz metido nas nuvens - ou talvez nos livros! Quase que nunca fala com ninguém... Nunca o vi também com nenhuma rapariga atrelada a ele. Mas esse facto pouco fez para alterar a sensação de que tinha acontecido algo de grave durante os anos da guerra e nos anos 30. Algo muito mais grave para além do estado da Alemanha e da Segunda Guerra Mundial. Ele tinha acabado de chegar do Castelo Negro...!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Só umas pequenas informações... (ficha psicológica de algumas personagens)

Olá!..... E finalmente, chegámos ao começo das aulas...na próxima quinta-feira, dia 17 de Setembro, vou entrar oficialmente no ano lectivo.

como alguns de vós já devem ter visto no ^Grito da Verdade^, tenho andado um pouco ansiosa por causa disso.

É natural, sim. Mas só de pensar que pode ser o último ano que vou estar num sítio a trabalhar como uma adolescente, até me dá uma coisa!

Não só por causa disso, mas também por que não sei como é que vão ser os horários deste ano. Em vista disso, gostava de esclarecer umas dúvidas sobre as minhas histórias:


Eu sei que o Dia da Magia Negra está a ser muito longo para a Jessica, mas eu ainda quero apresentar o Rei dos Bruxos a ela. A princípio, em 2007, ele não era uma personagem assim tão importante, mas com agora com o desenrolar da história da Sara, é sempre bom ter um mediador entre a Jessica e o Padrasto, que, no dia das bruxas, está um pouco fraco para aparecer "diante dos nossos olhos". Acredito firmemente que vão gostar dele, pois apesar de ser uma personagem secundária, tem a sua própria piada. Para o Kzenah Ivanovitch Malagheti, baseei-me muito numa personificação da própria Rússia: um homem de aparência de quarenta anos deveras excêntrico, muitíssimo simpático, mas que tem a crueldade e a inocência de uma criança. Hipócrita, gosta de de jogar com um pau de dois bicos, embora finja muito bem ter um bom coração, é quase tão mau quanto o primeiro Rei dos Bruxos, o Assassino do Amor. Embora adore a cultura bellante e passe a maior parte do tempo a excrutiná-la, ele não acredita nas tradições e questões conservadoras que essa mesma cultura determina. Para este personagem, não existem classes, nem bruxos, nem deuses, nem cyborgs. Antes de determinar a sentença de um prisioneiro, já anda com um dossier inteiro sobre o mesmo, passa a maior parte do tempo do interrogatório a falar-lhe numa forma muito informal, e com um sorriso sempre encantador de cavalheiro. Amigo da poesia e da arte e tudo que seja intelectual, é quase sempre inacreditável que tenha tantas filhas de uma só mulher! Ele é do tipo de homem que podia chamar ao seu pior inimigo do "meu amigo"! Alguém tinha mesmo de tratar do Castelo Negro!


A Sara é também uma personagem importante, não só por ser a única amiga verdadeira da Jessica, como também revelar, mais cedo ou mais tarde, um pouco do passado e da história antiga da Bellanária. Ela é o protótipo da bellante que quer preservar a cultura e regras e códigos e maneiras de viver de acordo com os antigos. É muito bonita, o que a leva a vários problemas com os bruxos. No entanto, é curiosa, e não deixa de tentar saber mais sobre os homens. Os seus valores são correctos e ingénuos, e nunca deixa de fazer aquilo que acha mais correcto, não só no dever, como também pelo coração e pela honra, três valores fundamentais na antiga civilazação bellante. Tem a etnia de uma típica mulher bellante: morena, com cabelo negro como o almíscar, ela faz sempre lembrar a Jessica muitas das princesas bellantes de há milénios atrás, motivo pelo qual talvez toda a gente que a conhece lhe chame de "Princesa Sara". Fica muito triste ao compreender a natureza ambivalente dos ^Humanos^ e acredita sempre no lado bom das pessoas, nunca deixando de lado o seu bom humor e bom ouvido para a música, que é um dos seus passatempos favoritos, e pelo qual é mais louvada e talentosa.

Como os Deuses desempenham um papel importante no mundo mágico, não os vou retirar da história...principalmente Tezcatlipoca, que representa as tradições e costumes antigos da Bellanária. Espelho Fumegante, o antigo deus azteca que tem as suas próprias opiniões sobre como os modernos políticos humanos manejam a glória dos tempos passados em que os bellantes eram uma raça orgulhosamente nacionalista, dizendo pertencer ao sangue dos Aztecas. Tezcatlipoca, em tempos um deus de índole bélica e impiedosa, é agora um deus satírico e céptico, que passa o tempo na "pior miséria", que é o que ele chama da sua pastelaria e café onde o seu sobrinho, Pedro, o ajuda. Sente-se completamente humilhado por ser forçado a trabalhar no disfarce de um mero cyborg, mas acha que não há outro remédio senão aquele, pois desdenha os tempos em que era cruel para com os Humanos, e decide antes ser compassivo para com eles.
No entanto, isso não o impede de tentar ensinar ao seu sobrinho adoptivo - Pedro, "...um produto deficiente e irresponsável da sociedade ocidental moderna branca..."!- os antigos valores bellantes, o que dá origem a muitas discussões entre o jovem adolescente e o velho deus, muitas delas de cariz de choque entre a cultura ocidental e a cultura bellante ancestral.
Porém, apesar de todos os defeitos que tenha, Tezcatlipoca tem no fundo uma boa alma, e deseja - apesar de todas as asneiras e crimes que cometeu no passado - que o seu país (a Bellanária) e a sua família passem o pesadelo que é viver sobre os dominios da Serpente de Fogo. Sempre preocupado com todos os jovens da história - a Jessica, o Capitão-Mor Goldtheeth, o Pedro e a Sara - ele é uma espécie de pai para os quatro, e faz com que pelo menos, todos aprendam com os seus erros e nunca sigam o caminho do Mal, embora nunca consigam que o oiçam.

domingo, 23 de agosto de 2009

Os Magos também sabem usar a Internet (Parte II)






Os homens bellantes, apesar de serem muito severos e distantes, adoram oferecer tudo aquilo de bom àqueles que mais amam...Eles têm de demonstrar que são guerreiros, que até o próprio Bellante é influenciado por isso: o pronome pessoal "Ele" do singular e no plural é completamente diferente, provavelmente herança do Alemão - em que a terceira pessoal do singular é para o homem "er", para a mulher "sie", o que é um pouco chato, pois o sexo influencia toda a gramática alemã - ou do Nahuatl, em que as mulheres se dirigiam de forma completamente diferente para tratar um homem com quem não eram casadas. "Vjeaez", em Bellante, traduzido, significa Gramática, e vem da palavra "Vjwe", que vem da terceira pessoa para o mais respeitoso, que significa o "Meu Senhor Possuidor"! E ninguém lá fora quer aprender uma língua que a origem da palavra gramática advém da relação por cima masculina!

As mulheres são o precisamente o contrário: educadas, generosas, são elas que se ocupam de fazer sonhar aqueles que visitam as ilhas bellantes. Ontem, eu vi um filme muito engraçado, mas também muito parvo. A tradução em Português de Portugal chama-se "O ABC da Sedução" e mostra bem "A Guerra dos Sexos" pode ser perigosa e desastrosa. Na Bellanária, raramente acontece isso. E porquê? Porque ainda há certos deuses e bruxos conservadores que acham que devem trazer a mulher pela trela! Também não digo que há certas bruxas e deusas muito estúpidas - se o "Senhor Tezcatlipoca" me ouvisse!; é uma expressão moderna que se usa para expressar na Bellanária para dizer "perdão" quando se diz um impropério - mas sinceramente!






Mago da Música…
Podes dar-me uma prova que és de confiança?
Já ouvi falar em certos raptores tarados que utlizam a net para seu próprio benefício …Olha que já tive muitas más-experiência por ter confiado em estranhos.


Assinado: Princesa

Dois minutos depois, surgiu uma mensagem à reposta da minha amiga:

Princesa…

Tens a minha palavra em como sou um rapaz honesto e decente.
Eu perdoo a tua sensatez, Princesa, afinal, só nos conhecemos há dois minutos. Gostaria de poder trocar mais umas palavras contigo, no entanto, sou um rapaz com muitos ofícios, e tenho mesmo de ir.

Mas, para não ficares com saudades minhas, mando-te uma rosa e um poema.
Amanhã à tarde dizes-me se gostaste ou não.


J P.S: É do Assassino do Amor, mas finge que sou eu que escrevi só para ti! Vês, também sou romântico! LoL

Dorme bem, querida princesinha.



dorme bem, querida princesinha,



A mamã foi-se embora,



Mas o Tio vai ficar,



Para dar a amora,



Do amor dos sábios,



Aos teus doces lábios!



sábado, 8 de agosto de 2009

Os Magos também sabem usar a Internet (Parte I)


Subitamente, quando ia desistir e beber três copos de chocolate quente para adormecer completamente, a Sara ouviu uma campainha vinda do seu computador. Uma resposta ao seu pedido que tinha posto no MSN a ver se conseguia conhecer alguém.
Um brilho de esperança e alegria acendeu o rosto pálido da jovem rapariga, e, muito feliz, agora com lágrimas de rejúbilo nos olhos, clicou com força na opção “abrir”, e surgiu perante os seus olhos uma mensagem que dizia:

Querida Princesa da Música, serva da Senhora Shamanarta, Aquela que é a criança e filha de Saraswati…a que se banha nos rios Shmanhir e Bênção...

Logo que te vi, fiquei cativado com a tua bondade e luz que emanas diante de tudo e todos.
Há semanas que ando a seguir-te, e por fim descobri o teu Email – é assim que se escreve, não é? Perdoa a minha falta de jeito em tecnologia.

Gostarias de ser minha amiga?

J P.S: tenho um bom sentido de humor.

Assinado: Mago da Música


Ao ver que tinha um admirador online, a Sara entusiasmou-se. Lembrou-se então, daquela famosa história que a Avó Murakami tinha-lhe contado sobre uma deusa semelhante a Saraswati, talvez uma possivel vida passada: uma deusa sábia, que tinha sido encantada pelas palavras doces, suaves e carinhosas de um implacável e maldoso rei dragão que tiranizava uma aldeia vizinha da sua ilha. A deusa equivalente a Shamanarta, a japonesa Benzaiten, a principio, ficou enojada e começou a odiá-lo, mas depois, misericordiosa como era, apaixonou-se pelo dragão, que tão enamorado estava dela, lhe prometeu emendar-se e deixar os caminhos do mal.
Recordou-se então da sua própria história...Também lhe tinha acontecido aquilo...um monstro a apaixonar-se por uma linda e divina princesa não era novidade na Bellanária. Os Bellantes adoravam essas histórias de amores proibidos. Um dos grandes exemplos eram os romances e desventuras do Assassino do Amor com fadas, princesas, e até mesmo parentas afastadas.
Só que Sara estava farta de histórias de amores impossiveis. Queria um amor verdadeiro, um em que ela pudesse acreditar....No entanto, ali estava aquele misterioso Mago da Música, a dizer aqueles docinhos de nada...O seu coração, mais uma vez, derreteu-se, e, com um sorriso, releu uma vez mais, as palavras eloquentes do tal admirador...Pelo menos tinha sentido de humor, isso era uma boa coisa. O último "admirador secreto" que ela conhecera, era um nazi, e ainda por cima, tinha-a raptado para a casa dele, na Alemanha. Só três dias depois é que conseguiu ser salva! Mas, porque é que estava a lembrar-se daquelas coisas? Aquilo fora ´há mais de cinquenta anos, agora estava no século vinte e um, não tinha razões nenhumas para ter medo de fantasmas de nazis já mortos! Com um sorriso, ela começou a teclar...

terça-feira, 28 de julho de 2009

O Sonho, o Amor de uma Heroína (Parte III)

As lágrimas passavam-lhe futilmente pela cara, e, limpando-as inocentemente qual pomba branca sincera e tímida; escondeu a cabeça sobre o cabelo preto lindo, pois não queria que mais ninguém a visse, a ela e à sua desgraça.
Será que nunca mais ia ter um homem certo, um príncipe encantado…?!
Ela é boa demais para uma terra amaldiçoada e má como esta, não há nenhum homem que se possa comparar com ela. Nenhum, e era isso mesmo o que ela sentia.
Por vezes, até penso se ela não é um anjo que perdeu as asas ao caír por força do Diabo, invejoso da beleza pura da princesa da luz.
Seria aquela uma filha de Deus, vinda do Céu, para melhorar aquela terra.
Olha que não estou a cometer blasfémia, e a todos ela dá pena, se calhar só o Euncätzio, o Tsesustan e o meu Padrasto não têm pena dela. Só de pensar que aquela frágil flor-de-estufa está sozinha e perdida no mundo. Perdoa-me a expressão, mas é isso mesmo que ela é!
Ao leres este livro, reparaste logo que Sara é uma das personagens mais sentimentais da minha história real, e é verdade, o problema é que há poucas pessoas hoje em dia que ligam ao interior, mas sim ao exterior. É por isso que muitas vezes, ela é julgada pelo seu exterior, e não pelo interior. Arranja sarilhos só por ser bonita e muitas das fadas que ainda existem também apanham por isso. Ela estava farta de ser tratada como uma obra-prima, uma pintura fantástica perdida de um antigo mestre que todos os homens quisessem posssuir. Para ela, já bastava aquele sofrimento por que estava a passar, e passou durante longos minutos a chorar.
O seu espírito bom não aguentava mais, e não poderia viver com aquele peso sobre as costas, que a apertava cada vez mais. Apesar de já ter queixado, há mais de trinta anos - desde os tempos de 1948 em que o PR (o Palácio das Reuniões) declarou que a Princesa Swerdinada Arco-íris Di Neptunvs fora coroada com todos os louros e pomposidade como Imperatriz do Império Constituticional Divino do Arquipélago das Ilhas da Bellanária! Um título demasiado palavreado para a nossa querida "Serpente de Fogo". A Sara já estava cá muito antes da misteriosa morte do "Papá" da Serpente de Fogo (o rei Neptuno), no dia fastidioso de 13 de Abril de 1939, pouco antes da Itália invadir a Albânia. Durante e depois da guerra, o Palácio das Reuniões assumiu o cargo de todos os poderes das ilhas de Shunrasen, Jelnarar e da Bellanária "Livre" - chamada assim por causa da ocupação nazi de 1940, no inicio de Janeiro, da região norte, desde os Alpes das Sereias até à Cidade Perdida, com os Nazis a ocuparem quase dois terços da grande ilha da Bellanária, chamando essa parte de Protectorado Von Tifon (foram tão simpáticos que até deram o nome da minha família!) - que tinha as suas fronteiras bem desenhadas, um terço da ilha da Fronteira era usada para os campos de concentração nazis, a Floresta de Cristal estava dividida em duas, uma, próspera e bela, verde, e outra, fraca e devastada pelas bombas dos Aliados.
Ainda se lembravam, nessas alturas, como o Comandante e Senhor Tezcatlipoca e a Princesa Swerdinada mantinham uma relação neutral entre o Eixo e os Aliados. Enquanto que, em Londres, o deus azteca, na Segunda Grande Guerra, conversava intimamente com o Churchill para discutir estratégias de serviços secretos, a nossa querida Serpente de Fogo equilibrava a balança, tendo conversas muito privadas com o Führer e Companhia das SS.

Enquanto que a minha mãe trabalhava para a Gestapo nazi, a minha tia Charlotte escrevia para um pasquim comunista para entregar nos países ocupados. A minha avó "Alice Von Tifon" tinha sido nomeada por Joseph Goebbels como a sua representante na Bellanária ocupada. Digamos apenas que foram uns tempos muito conturbados para a Sara, com guerras para cá, guerras para lá, negociações para aqui, negociações para lá...Ela deve ter trabalhado muito, pois já não se lembra muito desses tempos. Depois dos atentados a vários funcionários do Palácio das Reuniões, em 1946, no pós-guerra, o PR começou a ficar assustado e decidiu nomear Tezcatlipoca ( o chefe dos Serviços Secretos da Bellanária nessa altura) e os seus alunos para governarem a antiga Bellanária "Von Tifon". Mas, em 1947, o grande Deus da Guerra e das Trevas e da Magia Negra, estava farto de aturar os partidos mais esquerdistas no Palácio das Reuniões, que tinham intenções claras de assassinar os "fascistas" (a minha família) como exemplo para as "vitimas bellantes que tinham levado uma lavagem ao cérebro pelos Nazis". Obviamente contrário ás opiniões dos comunistas, o deus azteca (de antigas crenças mexicanas) quis logo apresentar a sua demissão como deus representante do seu panteão mitológico com o seguinte discurso «... Se querem um país todo vermelho, não contem comigo! Adeus...até ao meu regresso!...»

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Sonho, o Amor de uma Heroína (parte II)


Uma vela faz


Um trio em fogo,


Apenas estou,


Aqui, só...




Sem qualquer


Companhia,


Nada resta,


Estou perdida,


Em cinzas,


o meu corpo,


Se desfaz...



Um sonho...


Algo vaga entre


As ondas espumosas


Que queimam o coração...


Enquanto penso,


Uma garrida explosão


Surge no horizonte,


Antigi a Iluminação,


Através da minha alma,


Paguei o preço


Para a salvação...!



"Purificação no Purgatório" de Yui Murakami Von Tifon de 1946 (a minha bisavó que casou com o pai do pai da minha mãe; nascida na ilha de Hokkaido, em 1584, casou-se, feliz, muito nova, com dezasseis anos, com o Duque Michael-Jörg Christoph Von Tifon de vinte e três anos, duque da cidade perdida, "um homem encantador e um guerreiro honrado", nas palavras da própria Senhora Murakami ), dedicada ao primeiro aniversário do desastre de Hiroshima e Nagasaki. Na época da guerra, a "Princesa Sara" adoptou muitos nomes. Talvez este poema, encontrado na secretária da pequena fada Sara e todo empoeirado, fosse uma forma de Sara honrar a alma de uma pessoa que lhe era muito querida. Felizmente, Murakami Yui Von Tifon morreu anos antes da guerra, no Inverno de 1937, justamente no dia do Ano Novo ocidental. Uma mulher honesta e muito patriótica (em relação ao país a acolheu nos braços, há trezentos anos atrás, ou seja, o Império das Ilhas Bellantes) sempre teve remorsos de que, um dia, viessem a manchar o nome da sua família e acusá-la de traidora. Mas nunca os Bellantes tiveram razões para a incriminar. Era uma das bruxas mais poderosas e austeras de toda a Bellanária, no entanto, educava os camponeses e todas as crianças com um carinho e amor maternal impressionantes. O Rei dos Bruxos russo, o Kzenah Ivanovitch Malagheti descreveu-a no funeral da senhora, como uma «...das mulheres mais deslumbrantes e maravilhosas que eu alguma vez conheci...tinha sempre um estilo muito próprio, original, combinando o estilo exótico e tradicional japonês do quimono com muitas roupas, desenhadas por ela mesma...gostava de ser aquilo que ela aparentava para os outros; uma mulher poderosa, severa, fria, distante, sonhadora....Mas calma, serena, simpática e muito, mas muito bonita, ao mesmo tempo...Senhora Murakami, deusa em ser humano com poderes mágicos encarnada, estareis para sempre nos corações do povo bellante ...!»




De entre todas as bruxas, a Murakami Yui Von Tifon ganhou o respeito e o amor dos bellantes, fosse de que classe fosse. A princípio, foi muito doloroso. Os bellantes puros, aqueles que tinham gerações e gerações de familía no século dezasseis, aceitaram muito bem a vinda de uma mulher japonesa para a comunidade bruxos nobres da Bellanária. Mas, estamos a esquecer, que, para ser aceite, era preciso enfrentar a Comunidade dos Bruxos da Bellanária. A maior parte desses bruxos eram europeus, e não viam com bons olhos a pequena "Yuichen", uma rapariguinha fraca e indefesa, timida, e sonhadora, a juntar-se no enleio das túnicas ritual com o grande Duque. Era simplesmente impossivel. Por isso, durante um século, "Die Samuraistochter" (a filha do samurai, um título desonroso que a lembrava do terrivel passado no Japão, a razão pela qual fora forçada a fugir do país; o pai, um samurai possuido por um maldoso demónio, desonrara a família e a colocara a filha numa situação dificil e complicada) sofreu várias conspirações maquiavélicos, intrigas e até atentados contra a sua pessoa. No entanto, conseguira tudo sozinha, inspirando misericórdia e compaixão nos corações do povo bellante, que via nesta pequena aprendiza de bruxa uma heroína, ao enfrentar a classe mais malvada de todas: os próprios Bruxos.


Ao "pagar o preço" pela salvação e pelo amor de Michael-Jörg, que, apesar de nunca estar sempre ao seu lado, ela conquistou todas as classes, mudando definitivamente, para uma dama misteriosa, severa, impiedosa, cruel, mas sedutora. No seu centésimo décimo sexto aniversário, recebeu o título honroso de "Shrilan". Shrilan, em Bellante Arcaico, significa, "Senhora Minha", um título que era só, até então, aplicado às deusas. Dois anos depois, conseguiu, por fim, ter a honra de "copular" e dormir na mesma cama que o seu senhor, um acto que ela descreveu no seu diário como "a mais recompensadora de todas as experiências e desafios que tive desde que Aqui cheguei..."


Passadas algumas décadas, a Senhora Murakami teve algumas contracções, e uma luta final começou a desenrolar-se, um desafio épico, que toda a mulher tem de enfrentar - a primeira gravidez! Desta vez, Sua Excelência, o Duque Michael-Jörg Christoph demonstrou-se disponível para ajudar a sua mulher. E, apesar de tentar fazer os possiveis para que a senhora ficasse confortável durante os nove meses, a luta não era com ele. Para Murakami, aquele não foi um parto feliz... «...Sinto que vou morrer...parece que estou a lutar contra mil demónios e espiritos maléficos ao mesmo tempo...Se for um rapaz, hei-de o chamar Oni Ma Flevshgan (Filho demoníaco saído do Inferno) Estou aqui a dizer palavras de rir, para me animar...A gargalhada e o sorriso são o melhor remédio para afastar o mau agoiro...Ou pelo menos foi o que a minha mãe e as minhas tias tinham dito há séculos atrás...»


Para o seu desagrado e desgosto, foi o pai Michael-Jörg que lhe deu o nome de Friedrich Adrian (uma combinação das linguas germânicas com o Latim, que ficou assim o menino com o nome benévolo de "Governante Pacifico de Hadria"). Engraçada ironia do destino como o querido "Governante Pacifico" ficou conhecido como um dos duques e bruxos mais loucos e malvados de toda a Dinastia von Tifon. Friedrich Adrian (o meu avô), Karl Adolf (valente guerreiro com coração de lobo, ou seja, o meu tio-avô, oficial das SS, que depois da guerra nunca mais se soube dele), Maximilian Onophrius, Lucília Jasmim, Lorelei Elsa, e Cäcilie Michiko foram as crianças da Senhora Murakami. A "Gloriosa Geração de Cerejinha", como a Senhora Murakami gostava de chamar. Infelizmente, foi do Duque Friedrich Adrian e da sua esposa, Sra. Dona Duquesa Abir, a filha do antigo rei persa, que saíram Charlotte (a minha tia), Katharina (a minha mãe), e, por fim o filho mais velho e varão, o Duque Ludwig Von Tifon, um aventureiro por natureza, que deixou dois filhos (Hans, e Willhem Couto, mais conhecido como "Primo Coutinho") e uma esposa para a dinastia Dinastia Von Tifon... De uma forma ou de outra, a Senhora Murakami sempre permanecerá para sempre como uma das personalidades mais misteriosas, ásperas, amargas e sensuais das Ilhas Imperiais da Bellanária!...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Sonho, o Amor de uma Heroína (Parte I)


Entretanto, no calmo Palácio das Reuniões, reinava um silêncio divino apenas perturbado pelo som de uma harpa, a Sereia da Meia Noite assegurava-se com o seu mágico instrumento que todos, quer alunos, políticos, e professores, tivessem um sono descansado. Por cima do disco lunar prateado, no topo do largo edifício de três andares, estava empoleirada uma linda criatura com cauda de peixe verde-clara que brilhava juntamente com a lua clara e de aspecto relaxante. O seu cabelo louro solto esvoaçava e despenteava-se com facilidade, mas com a ajuda de um gentil e pequeno espírito do ar, um minúsculo serezinho de cinco centímetros de altura este logo se tornava brilhante e atraente. Aí, com os seus dedos delicados, dedilhava suavemente as cordas, esboçando um sorriso, demonstrando que ali apenas reinava o equilíbrio e a paz interior. Aquilo é um lugar de Magia Branca. Ódio, guerra e vingança são palavras que não se ouvem frequentemente por aquelas parades sagradas que cujos fortes alicerces tinham sido fundados há mais de trinta e cinco mil anos.
Todo o lindo palácio em forma de círculo, formado por cristais raros encontrados nas zonas mais remotas da Atlântida já estava a dormir desde as nove e meia, e nenhum dos seus melhores alunos tinha ido para a “bárbara celebração do Mal”, como lhe chamara o grande patrono do Palácio das Reuniões, o famoso e sábio homem que governa neste castelo dourado, se atrevera a ir para a festa.
Havia, porém uma menina que passava a noite a surfar na net através do seu computador, acomodada num amplo quarto, iluminado com a fraca luz de uma pequena lâmpada. O seu cabelo preto abundante e despenteado atrapalhava a sua missão de encontrar alguma coisa de útil na Internet. Enquanto isso, tentava manter-se acordada ao beber qual alma penada sem qualquer vida bebendo uma garrafa de Coca-Cola.
Os seus olhos azuis cansados mostravam muito bem quem era: quem mais senão a querida e distraída Sara a procurar o seu verdadeiro amor.
Pobrezinha, tinha descobrido que aquele bruxo mais jovem do grupo de rufias gigantes não tinha ido à festa e fora-se embora mais cedo.
Aquela pequena princesa dá dó. Com a minha visão, consegui ver mais ou menos o que estava ela a fazer.
Não haveria ninguém suficiente bom ou gentil para ela…? É óbvio, num país infestado de malvados, não é de se admirar, mas a coitadinha já sofrera demasiado. já estava habituado a tudo aquilo.
As lágrimas passavam-lhe futilmente pela cara, e, limpando-as inocentemente qual pomba branca sincera e tímida; escondeu a cabeça sobre o cabelo preto lindo, pois não queria que mais ninguém a visse, a ela e à sua desgraça.
Será que nunca mais ia ter um homem certo, um príncipe encantado…?!
Ela é boa demais para uma terra amaldiçoada e má como esta, não há nenhum homem que se possa comparar com ela. Nenhum, e era isso mesmo o que ela sentia.
Por vezes, até penso se ela não é um anjo que perdeu as asas ao caír por força do Diabo, invejoso da beleza pura da princesa da luz.
Seria aquela uma filha de Deus, vinda do Céu, para melhorar aquela terra.
Olha que não estou a cometer blasfémia, e a todos ela dá pena, se calhar só a Serpente de Fogo, o Tsesustan e o meu Padrasto não têm pena dela. Só de pensar que aquela frágil flor-de-estufa está sozinha e perdida no mundo. Perdoa-me a expressão, mas é isso mesmo que ela é!
Ao leres este livro, reparaste logo que Sara é uma das personagens mais sentimentais da minha história real, e é verdade, o problema é que há poucas pessoas hoje em dia que ligam ao interior, mas sim ao exterior. É por isso que muitas vezes, ela é julgada pelo seu exterior, e não pelo interior. Arranja sarilhos só por ser bonita e muitas das fadas que ainda existem também apanham por isso. Ela estava farta de ser tratada como uma obra-prima falsa, uma pintura fantástica perdida de um antigo mestre larápio e aldrabão que todos os homens quisessem posssuir. Para ela, já bastava aquele sofrimento por que estava a passar, e passou durante longos minutos a compor músicas extremamente belas para os Deuses.

Ela é uma Fada da Luz, uma Kinnary, uma fada com asas de cisne e pernas tão bonitas e frágeis quanto as de uma corça jovem e pequenita, cuja principal função é servir os Deuses. Elas e os Kinnara - os fadas masculinos - são os principais criados e servos dos Deuses e eram muito influentes em tempos idos, aquando a Serpente de Fogo ainda não estava no poder. Agora, por causa da sua beleza, as Kinnary e os Kinnara (tal como as outras espécies de Fadas) foram forçados a exilarem-se das cidades ou de outros locais mais populosos, para evitarem serem capturados pela SPV, a polícia secreta da Serpente de Fogo. Sabes como aquela víbora é quando outra mulher ainda mais bonita "ofusca a sua beleza". Fica logo invejosa. Mas a Sara também não gosta nada de viver fugida dos capangas daquela bruxa. O pior é que ela não pode fazer nada.
Actualmente, com um pouco de paz e de alegria espiritual, a antiga "amiga" dos Von Tifon e embaixadora diplomática dos Deuses no estrangeiro, apesar de já ter 82 anos, continuava tão bonita como se tivesse vinte aninhos. É uma fada pobre - com a maior parte dos seus bens, tanto monetários como títulos honrosos, foram consficados no "9 de Julho de 1978", quando as Fadas passaram a ser consideradas "impuras" e indignas de viver nos "mesmos espaços" que os superiores "bruxos e feiticeiros". No entanto (embora ela nunca quisesse e já tentara fugir dali para viver com o seu próprio esforço como cantora de cabaret ou de algum club duvidoso em Cyborg Town), o Palácio das Reuniões concedeu-lhe refúgio, comida e dormida, por ser, ainda considerada, por muitos deuses incorruptíveis, uma «...uma heroína que sempre fez o seu melhor pelo seu país...» Sim, ela enfrentou muitas vezes os Nazis, e teve de enfrentar, sozinha, algumas batalhas, completamente sozinha, mesmo depois da guerra...!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Uma da manhã – Hora das Bruxas, Bruxos e Demónios

«...Coisas estranhas acontecem no reino mais escuro das cinco classes definidas por Sua Alteza, a Rainha de Fogo...!»

Citação do Capitão-Mor Eddward Goldtheeth

Nem a Lua nem as estrelas habitavam o Vale da Cabeça da Morte, apenas existia o céu negro envolto em relâmpagos que rasgavam de vez em quando a abóbada celeste e cá em baixo no topo de uma pedra podia-se vislumbrar os picos cobertos de neve dos Alpes das Sereias que ficavam exactamente a três mil metros de altitude.
O musgo fosforescente e as luzes trémulas dos pirilampos – exceptuando os trovões, ressoando ao longe – eram as únicas fontes de luz por aqueles lados, e por mais bizarro que parecesse, não se avistava árvore alguma nem a único raio de cinquenta km.
Arbustos rasteiros e silvas ameaçadoras qual grupo de venenosos escorpiões a rodear o lago era a única flora que existia naquele lugar tão sinistro e funesto. No topo de um grande rochedo em forma triangular, circundado pelo lago de trinta metros diâmetro, conseguia-se ver-se uma inscrição antiga, originária da civilização da , pelo menos de há dez mil anos atrás, uma suástica com lados em espiral, com uma frase em atlante-arcaico que dizia:
"....Àquele que bater no meu palácio, desejo felicidades e boa sorte, pois será com dificuldade que regressará com vida. Os vivos e os que não forem criminosos jamais deverão trespassar esta porta, portanto, respirai bem fundo, nobre e valente feiticeiro, estais prestes a entrar no Reino dos Demónios...!"
Aquelas palavras soaram constantemente nos meus assustados ouvidos até que compreendi por fim que aquela viagem não seria tomada de ânimo leve. Porém como já disse inúmeras vezes, a coragem é coisa que não me falta. Lembrei-me do significado da palavra suástica em sânscrito “felicidade”. Ou talvez “Mal Eterno”?
Bom, estava sozinha e a inventar trocadilhos?! Seria a atmosfera tão triste e fria daquele sítio que me despertava o meu cruel sentido de humor....?
Ri-me dos meus próprios pensamentos, pondo o vestido vermelho que Serpente de Fogo me dera especialmente para aquela ocasião, e respirei bem fundo – o mais fundo que é possível a dois mil metros acima do nível do mar – e esboçando um sorriso que não passou acima de cinco segundos pelos lábios pintados de prata que brilhavam naquela escuridão. Em tempos idos, aquela rocha no meio da água fora o primeiro degrau na entrada para o magnífico e luxuoso castelo do Rei dos Bruxos, o primeiro e verdadeiro Assassino do Amor, Rwebertan Samiel Di Euncätzio. Mas agora, este castelo dum número de quartos infinitos é usado como prisão eterna para todos aqueles que desrespeitassem as leis da magia, e é definido com terror no coração como a ilha da Fronteira, a morada de todos os demónios e criaturas diabólicas que, outrora, há milhares de anos, governavam a terra.
Nos anos do venerável Kzenah Malagheti, este lugar tem sempre sido usado como sua morada, e espanto-me porque este castelo tem uma arquitectura e aspecto muito semelhante com a do famoso e grandioso Castelo de Praga. Obviamente, há mais de cinco mil anos que fora demolido por Neptuno, e o próprio Assassino do Amor fora sepultado naquele grande lago. Acredita-se que é para lá que os bruxos malvados são levados quase no fim da sua vida ou quando estão quase a ser mortos por alguém. Já tinha estado em pensões e castelos escoceses menos deprimentes que aquilo. O Pedro já ouviu falar do próprio tio que o Castelo Negro é aonde mil pobres almas de Fadas foram chacinadas, e aonde os demónios preferem atormentar os mortais. Os habitantes da vila próxima de Losjafhden dizem que ainda se conseguem ouvir os passos melancólicos e sinistros do espectro do Assassino do Amor a subir as escadas do terrivel esconderijo! Superstições parvas, é claro...Que eu saiba, nunca acreditei em fantasmas....Quer dizer, não gosto deles!...
Lá estava eu, sentada naquela pedra, naquela insignificante pedra, observando a paisagem morta e seca, e, por uns meros minutos, pensei em desistir e voltar pelo caminho que aquela bruxa me tinha indicado. Engoli em seco, e senti que a minha língua bifurcada estava ressequida, precisava imediatamente de água com outro elemento. Definitivamente isto é um vale muito acolhedor e agradável, isto é para um nazi implacável, ou para o próprio Rei dos Bruxos, é claro. Não me admirava nada de ainda ver o Conde Drácula, ou talvez mesmo o Frankenstein lá nesse tal castelo.
Sabia que deveria manter a calma, senão, não chegaria a lado nenhum, e aquela demanda seria em vão. Não! Sete meses a ser atormentada em sonhos por um cruel padrasto não tinham sido inúteis. O dever e o meu coração diziam que devia encontrá-lo, onde quer que ele estivesse.
Iria avançar, fosse qual fosse o preço de ver o meu padrasto...! Sou uma mulher ou uma galinha? Pois, era uma bruxa, mas mesmo assim, tinha valentia.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

uma noite em Losjafhden (última parte)


O estafado Tezcatlipoca abriu as portas de vidro super fortes e impenetráveis qual guerreiro acabado de chegar de uma longa e dura batalha, com um sorriso na cara, resignado e guardando de uma forma desleixada o seu guarda-chuva perto do espanta-espíritos. Pensava que os problemas tinham acabado. Como estava enganado!
Primeiro, reparou que as luzes estavam acesas e o balcão estava uma lixeira; segundo, de súbito, uma grande bola de pêlo castanha e branca saltou-lhe em cima qual torpedo laranja, com a cauda a abanar e a ladrar vigorosamente.
O pobre cyborg ficou com a cara toda molhada daquele líquido viscoso, e tentou limpar-se sem êxito, ao ver que o cão estava determinado em deixá-lo em pior estado do que tinha quando entrou em casa.
Levantou-se de rompante, e deu algumas festas ao fiel animal de grande porte, com um sorriso de quem perdoa facilmente.
- Pronto, Bravo! Eu também estou feliz por te ver. – Comentou entre dentes. – Sabes onde está o Pedro?
O cómico S. Bernardo começou a correr, balançando-se e subindo as escadas de forma bastante ridícula, sempre a babar-se.
Pedro contou-me nas aulas que Bravo chegara às suas vidas desde que o meu amigo especial tinha dezasseis anos, e nessa altura, o cãozinho era um fofo e não pesava quase nada, mas agora, parecia-se mais com um verdadeiro bucha anafado, e às vezes é um pouco brincalhão. «Qualquer dia, temos de comprar um elevador para a pobre criatura, caso contrário, ainda vai cair nas escadas!» Comenta com os olhos revirados e de forma sarcástica o tio do Pedro.
Adiante, ele seguiu com dificuldade o seu animal doméstico preferido, até ao quarto da porta verde-clara, donde saía música hard-rock a altos berros.
Muito alarmado e com os olhos arregalados que nem dois tomates podres, foi com as sobrancelhas muito carregadas e com um olhar austero que o tio do meu amigo entrou muito irritado no seu quarto, precipitando-se como um canhão para leitor de CD’s.
Para o cansado Tezcatlipoca, já bastava os Bruxos com a nossa «...idiota...» e «...maluca...» mania do Dia das Magias Negras, agora ter de aguentar com as manias madrugadoras do seu único sobrinho.
Olhando para o Pedro, o velho cyborg muito zangado, carregou violentamente no botão para desligar a “música infernal”.
Acabando de fazer isto, baixou-se para o rapaz moreno, alto e de olhos castanhos pequenos que não parava de tocar a guitarra vermelha-escura com grande êxtase e retirou-a de uma forma bruta.
- Por favor! – Exclamou ele em voz alta, mas logo mudou para um tom mais baixo para que não perturbasse a vizinhança. – Enquanto viveres nesta casa, homenzinho, o silêncio à madrugada é de ouro!
Obviamente que o jovem cyborg objectou a opinião do seu encarregado da educação, nós, adolescentes, costumamos ter um espírito livre, e não gostamos quando os “cotas” da nossa família venham “melgar” para o nosso local favorito, ou seja o nosso quarto, é por isso que Pedro também ficou um pouco aborrecido pelo tio vier irromper pelo seu local e ter desligado a música sem ter pedido autorização.
Ele bateu com a mão na perna direita metálica, fazendo uma cara de amuado.
- Oh, mano! – Disse chateado. – Só estava a curtir umas músicas, tio....Também já não se pode ter uns minutos de descanso, é?
Mas o stôr Tezcatlipoca não quis saber nem dos “mano” nem dos “curtir”, e apontou com rigidez para o beliche vermelho desportivo da Ferrari.
- P’ra cama, homenzinho! – Mandou friamente. – Imediatamente. E não te esqueças de lavar os dentes…Queres ficar sem dentes?
Ao pegar na sua escova e no pijama, o rapaz olhou o seu tio um pouco envergonhado.
- Tio, eu já não sou nenhum puto de nove anos! – Respondeu submisso.
Com as mãos nas ancas, Tezcatlipoca arranjou facilmente argumento para aquele comentário insolente e disse:
- Estás com muita sorte por eu não ter-te tirado a guitarra até teres dezoito anos, homenzinho, porque era isso mesmo que eu queria fazer, se não estivesse afogado com tanto trabalho pelas orelhas!
Acabando de vestir o pijama, o insubordinado rapaz, ainda comentou, meio, deprimido, sem saber o que fazer senão obedecer às ordens do seu tio:
- O Dark Sword nunca me teria levado para a cama. Até aposto que o Euncätzio é mais porreiro que o tio.
Mal disse isto, fechou a porta na cara de Tezcatlipoca com desprezo e deitou a língua de fora, sem nenhuma consideração pelo velho e experiente cyborg!
Porém, o tio não ficou zangado, pelo contrário, suspirou com grandes remorsos a pesar-lhe na cabeça, e, olhou lentamente uma última vez para o poster, abanando a cabeça desapontado, nesse momento, houve qualquer coisa no seu olho que soltou-se.
- Se é isso que pensas de mim, meu rapaz, então é porque não conheces de todo a tua família! – Indagou secamente.
Assim triste, foi para o seu quarto trabalhar, sem saber que o seu sobrinho não tinha nenhum afecto pelo pobre coitado.
Na trágica verdade, o Pedro tem andado tão estranho, tal como a maior parte das pessoas simpáticas que se encontram neste mar de corrupção. Estava preocupado comigo, e mesmo que estivesse a usar o anel, o dele continuava a brilhar numa cor completamente vermelha de sangue! Assustado com as histórias que eu lhe contara acerca do meu Padrasto e sobre as minhas intenções de ir visitá-lo ao Castelo Negro, de potenciais perigos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Uma Noite em Losjafhden (Parte I)

Fazer a marmelada com um cyborg é como dormir com uma bomba-relógio, mas Sua Senhoria também não é nenhuma santa. Afinal, ela foi a esposa do Assassino do Amor.
Que obsessão a nossa – as Bruxas – de nos apaixonarmos pelos maus: primeiro o Mestre Samiel; depois o Primo Coutinho; o Nälden e o Major Scüller (no meu caso, claro, nunca conheci ou teve uma relação a sério com o primo ou com aquele louco); e, por fim, o Capitão Goldtheeth pela Solaris.
Agora isto! E depois o primo admira-se que a vida está complicada na Atlântida....!
Bom, quanto ao affair da Madame Serpente de Fogo e do Conde James Dark Sword, o melhor é só imaginares, porque aquilo que eles estavam a fazer era mesmo quente, mais arrebatador e volátil que o próprio Inferno!
Afinal, podemos chamar desta noite, uma noite agridoce....Eh, eh, eh...!

A chuva pingava e deslizava qual enorme exército de formigas por entre os telhados humildes de tijolo do pequeno e perpendicular apartamento da mesma cor da tijoleira, de apenas um andar na bonita Inctaluatalidenistados Rue – ou Rua dos Intelectuais com rampa de aço à moderna para subir ao parque privativo nas traseiras, com vista para as varandas do Castelo das Infantas – caindo precisamente em algumas taças os pingos da bênção repetitiva de Deus, e produzindo energia para toda a casa através de uma engenhosa invenção, cuja chave e forma como funciona seria demasiado complicada para explicar num diário para adolescentes – principalmente para duas como nós! O Castelo das Infantas tinha sido construído nos arredores de Cyborg Town, nos anos 70, em honra do milésimo aniversário da ponte cultural da Bellanária com o oriente, e também no pretexto de remodelar as estreitas e sombrias ruas de Losjafhden, os arredores mais a norte de Cyborg Town.
Seja Verão, seja Inverno, aquele é um bairro muito alegre, pois todos se lembravam da colorida pastelaria do nº 7, lote C do Rés-do-Chão. Era a famosa “Nuvem Doce”, como um sinal facilmente identificável: uma tabuleta que tinha pintado um pirolito em forma de uma engraçada nuvem branca com uma cereja vermelhinha no topo. Primeira porta a contar da esquerda. De manhãzinha, no Verão, consegue-se ver o simpático e cómico Dr. Tezcatlipoca, limpando e preparando a pastelaria amarela para os clientes, andando de um lado para o outro, e assobiando de forma jovial enquanto varre o chão.
Em tempo de aulas, a pastelaria só abre às seis da tarde, abrigando os pequenos magos e fadas, estafados depois dum grande dia. Uma coisa muito boa neste sítio é que não há absolutamente demónios ou bruxos alguns. Antigamente, este era um bairro santuário para demónios e miseráveis e cyborgs, ninguém se podia aproximar, Losjafhden diziam estar amaldiçoada desde a altura em que tinham chegado asiáticos para a ilha, há milénios atrás. Contudo, a Serpente de Fogo decretou que, a partir de 1978, não haveriam mais demónios a habitar esta parte de Cyborg Town, tão antiga, tão ancestral….Se olhássemos para a Losjafhden de há quarenta anos atrás, nem a reconheceríamos, da maneira como está diferente!...
O bem e as canções que se tocam ao vivo na rua são demasiado positivas para que alguma magia negra entre. Mas, a meio da noite, ainda por cima com a chuva, no Outono, a pastelaria pode-se parecer com algo um pouco pobre, mas, ao entrarmos, vemos que o ambiente é outro. As lâmpadas amarelas acesas iluminavam as relaxantes paredes douradas, debaixo do balcão de mármore cinzento, estava um enorme cão castanho a dormir tranquilamente, e a ressonar auditivamente, é um S. Bernardo que tem um sono muito leve. Os mesmos músicos tocam uma melodia mais calmante para todos terem uma boa noite de sonho.
Ao lado direito, há umas escadas de madeira que levam até dois quartos: o da direita tem uma porta verde-clara com um poster da Cyborg Town, como figura principal o próprio Euncätzio com um sorriso hipócrita e forçado, mostrando os seus dentes brancos, com uma bengala de uma águia na mão direita a acenar para as maiores atracções da sua cidade e agarrando a Serpente de Fogo pela cintura, esta usando um lindíssimo vestido de gala vermelho, a concorrer para ver qual é o sorriso mais falso daquele poster hediondo. À parte desta coisa horrível, tudo nesta casa indica para uma sensação de bem-estar enorme. A outra porta no cimo das escadas de madeira é a entrada para o quarto de Tezcatlipoca.
Realmente era um sítio agradável para se estar, um pouco pequeno demais para meu gosto, mas agradável. Pelo que tinha ouvido dizer por parte de alguns antigos miseráveis que viviam antes da mudança em 1978, o velho deus de origem azteca tinha renunciado à sua fortuna, ao seu terrifico poder, ao seu palácio e ilha privada, ao seu vergonhoso harém de dois mil e doze donzelas – para um velho deus com mais de cinco mil anos, ele atém tem um grande sucesso com as mulheres, hã; enfim eu não tenho nada a ver com isso, mas acho que isso são tudo patranhas inventadas pelos velhos amigos machistas da pré-história do Palácio das Reuniões – para vir trabalhar naquela vila pacífica, em 1979, para poder ir viver com Susana Linsra. É óbvio que, quando isto se soube na sociedade bellante, foi um autêntico escândalo. Uma fada a viver com um deus, ainda por cima uma fada que estava noiva?!... Primeiro, culparam a mãe do Pedro por estar a desviar o “Príncipe dos Príncipes” por maus caminhos, segundo, a maior parte das deusas ciumentas que planeavam acabar os seus dias de imortalidade com um dos deuses mais invejados do Palácio das Reuniões decidiram abrir um processo para mandar fechar o Nuvem Doce, e é preciso sublinhar que a maior parte das “Senhoras”, num dos dias do julgamento, falaram como se fossem mulheres da raça dos Demónios!
Para os que não sabem – e devem ser muitos – cada classe aqui na Bellanária tem o seu próprio dialecto, digamos…O seu próprio sotaque. É suposto os Deuses bem honrados falarem o Bellante Arcaico, mas aquilo que os deuses ouviram no julgamento não era nada mais do que uma versão aristocrática de um sotaque mexicano misturado com uns quantos palavrões em Bellante Corrente!... (continua)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O homem da Espada Negra (Parte II)


Mal viu que o seu novo escravo da mente já ia longe de vista, o anti herói preferido de toda a Atlântida esfregou as mãos de contente, com os seus olhos esmeralda a brilhar de satisfação, os seus lábios rasgados pintados de vermelho expressavam bem como agora estava calmo e como tinha prevenido que pelo menos alguém de quem ele tinha uma certa afeição se magoasse.
«Mais um triunfo para os Cyborgs! Uma morte para evitar muitas outras, isso é que é o verdadeiro objectivo da guerra.» Pensou enquanto punha as luvas no queixo bem comportado. Porém, o seu sorriso matreiro logo desapareceu e bateu com a mão na testa, um pouco preocupado. «Ora que esta! Quase que me esquecia completamente. Há horas que eu devia ter ido deitar o meu sobrinho!
Ele tinha desferido um golpe fantástico sobre a SPV, mas agora faltava apenas uma coisinha que ele tinha em mente.
Algo de especial que ele planeava dar a uma pessoa especial há muito tempo....E notava-se nos seus olhos frios que estava a tramar alguma coisa, mas o quê?
Aqueles olhos vazios eram como uma barreira que não deixava passar nada nem um único sentimento. Seria o ódio o seu único sentimento...?
Sim, havia ódio no seu velho coração, ódio por tantas coisas, principalmente pelo seu eterno rival, o meu Padrasto. «Aquele diabo espera para quê? Ainda gostava de saber porque razão só aquela víbora se atreve a aparecer! Mas é típico daquele vilão. Agora....»
Juntou rapidamente os lábios com os dedos, assobiou fortemente, e num ápice, chegou qual cavalo veloz e no espesso nevoeiro, surgiu uma enorme limusina Rolls Royce preta mesmo à sua frente, pronta para seguir viagem para qualquer lugar.
A porta direita de trás abriu-se subitamente e, com uma habilidade para ser discreto, o conde entrou na viatura com muita rapidez e ordenou de rompante:
- Bobino! Leva-me imediatamente para o meu esconderijo.
- Com certeza, Sr. DS. – Acenou o motorista.
Lá desapareceu na bruma da noite aquele “herói”, sem que as minhas loucas visões conseguissem descobrir quem realmente o tal James Dark Sword era. Afinal, todos os heróis têm de ter um alter-ego........
Ao sentar-se, o homem de olhos, meio verdes, meio azuis, reparou numa exótica e bela mulher com uns óculos-de-sol vermelho vivos, vestida apenas com uma mini-saia de cabedal preta e umas invulgares meias de seda roxas que realçavam a cor morena da sua pele lisa e sedosa. Com uns sapatos de salto-alto vermelhos, ficava ainda mais alta do que realmente era e por cima daquela blusa rosa-choque curtíssima, que dava até ao umbigo, e desabotoada até se ver uma grande parte do peito voluptuoso. Sob o cabelo preto e longo e solto como uma cascata de petróleo, escondiam-se dois olhos cor-de-carvão provocadores com sombra escarlate e uns lábios que lhe davam um ar tanto mimado e desesperado.
Sob os ombros relativamente largos e pálidos, pendia num dos lados uma carteirinha de pele de crocodilo amarelo escuro com a qual as unhas vermelhas longas como garras de uma hárpia brincavam impacientemente.
O homem moreno e de forte constituição, igualmente de aspecto latino, explicou-se um bocadinho atrapalhado:
- Ainda tentei avisá-la que o senhor não estava disponível, mas a senhora continuou a insistir que vinha.
Dark Sword anuiu meditativamente com a cabeça, enquanto observava com desdenho a linda prenda que o ajudante lhe fora arranjar.
- Claro... – Disse ele com desprezo. – Se eu precisava de uma cobra cuspideira, pedia-te que fosses ao ZOO da Estação Manuelina.
A Serpente de Fogo pôs deliberadamente a sua mão delicada de unhas de bruxa nas calças de jeans pretas do cyborg com um sorriso sedutor.
- Oh, James...! – Suspirou ela sensualmente. – Não sejas tão modesto! Tu até que és bem giro, sabias?
- Poupe-me, Vossa Senhoria. – Dark Sword tremeu ligeiramente. – O que é que a senhora e o palerma do seu noivo andam a tramar?
Ela, fingiu-se indignada, com a mão magra na boca deliciosa de mulher de espanto.
- James! – Soluçou ela. – Não me digas que depois de tanto tempo ainda continuas o mesmo desconfiado e bonzinho de sempre...Aqueles homenzinhos estavam apenas a levar os meus brincos de diamantes.
O conde continuava a segurar discretamente na sua pistola, com receio que a bruxa tentasse alguma coisa, e olhava de relance para a femme fatale de vez em quando, um pouco incomodado.
Sim, o arqui-inimigo do James Dark Sword é uma mulher, e, pelos vistos, uma mulher muito perigosa e rica.
Nada se parece com uma prostituta do que uma bruxa rica. Ela fixou-o nos olhos e mirou depois o resto do corpo bem feito do Sr. Conde. Era um daqueles olhares que só podiam vir de mulheres demónio ou de estrelas de cinema fenomenalmente ricas e bonitas e que se destinava a fazer o pobre chefe da Resistência a trepar para cima dela como uma trepadeira numa latada.
Ainda por cima, ela trata o Dark Sword nas raras vezes que se encontram pelo primeiro nome e por “tu”.
Ele tem mais medo dela do que do qualquer outro homem.
- Diamantes esses que a senhora comprou do dinheiro roubado ao povo atlante! Eu vi o conteúdo da mala, e não era nenhuma bijutaria da loja dos trezentos! – Ripostou ele repugnado. – Também sei que a senhora tem uns certos negócios para comprar metade da Floresta de Cristal.
- Ai, que espertinho, bebé! – Riu-se ela, descaradamente. – Ai...! Sim, realmente as jóias são o meu único verdadeiro amor, para além do meu pozinho de cheirar...Eh, eh, eh...
Ao realçar vaidosamente os lábios cor-de-vinho com o seu batom, com um sorriso malicioso a bailar-lhe no rosto, acrescentou num tom trocista:
- Agora, meu amorzinho, o problema aqui, é que eu tenho uma data de meninos prontos para te dar cabo de ti. E...Se houver mais um ataque selvático como aqueles aos meus meninos da SPV, podes crer que basta estalar-me os dedos para te ver a esticar o pernil! Oh, oh...Coitadinho do meu querido James....Era uma vez um Condezinho!
Ao dizer estas últimas palavras, ela viu a sua garganta ameaçada por uma afiada adaga de dois gumes, empunhada pelo astuto e rápido James Dark Sword.
- Quem é que está numa posição grave agora, minha senhora? – Perguntou ele sarcasticamente. – Não vai livrar-se tão facilmente de mim! Eu vou descobrir o que é a senhora anda a tentar fazer com o dinheiro dessas jóias, e não vou deixar-me ludibriar assim tão fácil como os outros foram!
De repente, os intentos sensuais da Serpente de Fogo tornaram-se em certeza quando ela, com as mãos ainda livres, pegou suavemente na cabeça do seu raptor, e, com a boca perto dele, sorriu.
- Ai não? – Exclamou. – Sabes duma coisa, James? Eu sempre quis beijar esses lábios de vencedor!
Dito isto, pregou arrogantemente um grande linguado na boca do seu adversário, e, mal tocou os lábios firmes de metal do cyborg, despertou-lhe um desejo, há muito oculto na mente de software e miolos: o desejo carnal.
Os motores e sensores interiores do andróide começaram a trabalhar, e, em segundos, estavam entrelaçados um ao outro como duas aves do paraíso!

domingo, 19 de abril de 2009

O homem da Espada Negra (parte I)


A Lua resplandecia vitoriosa pelo menos na Estação Manuelina, e os candeeiros brilhavam a bonita calçada de pedra por onde dois homens de idades compreendidas entre os vinte e os vinte e cinco anos faziam a sua ronda nocturna, com ares de superioridade, o mais velho andava com uma pistola branca empunhada na luva de cetim da mesma cor, enquanto que o mais novo tinha um chicote negro embainhado no cinto de prata que mostrava duas ondas douradas na fivela, demonstrando – segundo as minhas perspectivas – que era um sargento. As suas passadas largas eram como trovões atordoares aos ouvidos de qualquer um que os ouvisse, e, se por acaso algum demónio, fada ou cyborg decidisse por brincadeira barrar-lhes o caminho, receberia como calorosa saudação duas chicotadas nas costas.
Estavam à procura de uma nova vítima, e os seus olhares confiantes esperavam encontrar desesperadamente alguém para ser deportado para a Fronteira, ou talvez uma boa batalha contra algum cyborg obstinado. Sim, aqueles arrogantes julgavam-se o terror da noite, e estavam definitivamente convencidos que iriam receber uma medalha mesmo antes do fim do mês. Afinal, eles tinham a missão de encontrar um certo “impuro” em particular, e de o levar imediatamente à presença do próprio Rei dos Bruxos em pessoa, pelo menos fora isso que tinham ouvido da boca do seu grande manda-chuva, o indiscreto e vaidoso capitão-mor italiano Edward Goldtheeth, o “grande” líder da SPV.
Mal eles sabiam que iriam ter a batalha das suas vidas, não contra um cyborg, mas com o cyborg dos Cyborgs!
Um vulto sobrenatural escondia-se perante as sombras das ruas estreitas, deslizando suavemente entre as esquinas e ruas que aqueles incompetentes percorriam, e, de súbito, uma pedra rebolou em frente dos dois bruxos incautos.
O do chicote estremeceu um pouco, sacando cuidadosamente da sua arma.
- Terá sido um fantasma, tenente? – Disse ele assustado.
O suposto tenente virou-se para o sargento e olhou-o com diversão, sorrindo.
- Claro que não, os fantasmas não são assim tão estúpidos. – Respondeu a rir-se.
Mas não achou tanta piada quando uma voz eloquente com um leve sotaque inglês soltou uma gargalhada diabólica:
- Sabes, caro rapaz, creio que o teu camarada está certo.
Os agentes sacaram rapidamente das suas armas, e puseram-se em posição de ataque, como que esperando um terrível furacão, apontando furiosamente o seu ameaçador arsenal contra os candeeiros amarelos.
Mas não havia ninguém, teria sido apenas uma mera partida pregada pelos demónios....?
O sargento deitou o chicote ao chão, um pouco frustrado, depois de ter olhado durante dois minutos para um simples nada, enquanto que o tenente estava com a mão bem firme na pistola, quase para premir o gatilho nervosamente, qual animal selvagem com um instinto que lhe dizia que talvez poderiam estar em apuros.
- Só espero que não seja mais um dos teus truques de magia negra que querias mostrar a Sua Excelência! – Rugiu o tenente na sua voz grossa com sotaque árabe. – Caso contrário, terás de te haver comigo, Sargento Govas.
Govas olhou o outro bruxo com os seus olhos castanhos a brilharem num vazio estúpido e ingénuo.
- Juro que não tenho nada a ver com esta....Este feitiço dos infernos! – Respondeu num tom confuso.
Mal o sargento acabou de falar, a terceira voz interrompeu a conversa dum modo trocista: Para tua
- Devias tratar melhor o Sargento Govas, Almenir. É esse o teu verdadeiro nome, ou se calhar enganei-me quando li a tua Ficha Azul?
O queixo fraco do bruxo português caiu de tal forma que tentou logo apanhar o chicote, virando-se para o seu companheiro árabe, muito atónito, com as mãos a suar, agarrando-se a Almenir como se fosse uma menina.
- Ele tem as nossas Fichas Azuis! – Exclamou cobardemente. – O que fazemos agora?
Por outro lado, o tenente soltou uma risada sarcástica, soltando-se valentemente do seu amigo, e olhando para todos os lados de nariz empinado, fingindo ser uma mulher muito convencida, brincando comicamente com a pistola como se ela fosse um estojo de maquilhagem. Ele nunca seria enganado por uma mera ilusão que a sua cansada mente lhe provocava. Talvez fosse apenas o vento, e, afinal, ele tinha sido condecorado com a honrosa Túlipa Rubi de segunda classe por coragem sobre fogo. Não seria um diabrete qualquer que o iria amedrontar.
Riu-se que nem um perdido, e depois, brincou animadamente com o seu novo e pequeno troféu na sua gabardina.
- Claro, e eu sou a Serpente de Fogo! – Disse, rindo numa voz fininha. – Por Ali, António Govas! É impossível ele (seja quem for) ter os nossos documentos, relatórios e fracassos relatados nos ficheiros mais secretos e bem guardados da SPV!
Passados uns dois minutos depois de ele ter proferido aquelas mesmas palavras, uma faca venenosa vinda do nada, qual grande e rápida flecha, passou de raspão pela gravata preta do tenente, vindo acertar no chicote de Govas, provocando um enorme corte na mão do bruxo menor, que, chocado pela faca ter cortado o cabedal, olhava com desgosto para o anelar separado dos outros dedos, a esguichar sangue pelo granito todo da calçada.
Quem quer que fosse, aquela pessoa não estava com meias medidas para acabar com a tirania da SPV sobre os mais fracos!
A voz soltou uma suave risada sádica que arrepiou os dois agentes.
- Tem sorte por não ter sido a sua cabeça, meu caro Sr. Yillem. – Avisou perversamente a voz invisível. – Mais uns centímetros e a sua carreira como supervisor das deportações dos impuros neste bairro acabava literalmente.
O português debruçou-se às botas do seu superior, tremendo como varas verdes e tentando em vão juntar o seu anelar com o resto da mão direita, com os olhos vermelhos com o sangue humano.
- Acho que ele não está a brincar, Tenente Yillem. – Choramingou Govas.
O bruxo árabe, não satisfeito com o que tinha visto, atirou contra o céu estrelado de Outono, e, cepticamente, olhou para o seu subordinado durante cinco minutos.
Passados mais dois minutos, contemplou silenciosamente o céu com um brilho positivo nos seus olhos escuros, viu o seu relógio de pulso e soltou um audível “Ah!”.
- Vês, António? – Exclamou confiante. – Não há qualquer cyborg ou criatura imunda que me consiga assustar. Quem é que se está a rir agora?
Subitamente, ouviu-se uma gargalhada suave e elegante de um homem que gelou os dois corações de ambos, e, numa rajada de Inverno, surgiu diante dos pobres coitados, trazendo escondido no fumo um homem vestido como um bruxo: enormes garras de sangue; chapéu bicudo púrpura, cobrindo por total os olhos esmeralda por debaixo da máscara de porcelana; alto e esbelto como um acrobata experiente; e capa preta de pele de urso com interior forrado de veludo vermelho, com um cinto negro que prendia um florete embainhado em cristais afiadíssimos e a brincar com três adagas nas mãos habilidosas, com um sorriso escarninho e sem expressão na máscara de porcelana.
Os dois abraçaram-se um ao outro, aterrorizado e paralisados como estátuas para o assassino que lhes tinha caído na rifa.
Passados alguns minutos, gritaram, muito assustados, com todos os pulmões:
- O CONDE JAMES DARK SWORD, O TERROR QUE VIGIA CYBORG TOWN!
E desataram a correrem como se tivessem sete pés, tão pálidos quanto duas larvas de bichos-da-seda, utilizando a energia do vento para tentarem voar daquele sítio o mais rápido que pudessem com os seus tridentes. Mas, infelizmente para aqueles dois, a pontaria de Dark Sword com as suas adagas era suficientemente boa.
Ele sorriu, segurando com destreza a capa de forma que tapasse o rosto e só se visse os seus dois olhos a brilhar de tão convencido que era.
- Parece que a minha reputação persegue-me. – Comentou a voz. – Tal e qual como as adagas da justiça que serão cravadas nos peitos da corrupção e da tirania!
Não podia falhar, os seus olhos esmeralda penetrantes concentraram-se mecanicamente no seu alvo com o barulhinho dos seus bits de disco rígido a funcionarem em conjunto com o seu cérebro, um terço de minuto para calcular a direcção, outro terço para a distância, e outro para ser lançado.
O complexo processamento fez o seu frio trabalho, ordenando à mão de metal esquerda para atirar a adaga para acertar exactamente em cheio no calcanhar direito do tenente quebrando um osso vital do pé! Isto deixou-o letalmente ferido e sentindo um ardor como nunca tinha sentido antes, tropeçou numa pedra demasiado rígida para as suas botas aguentarem e caiu estatelado no chão qual um velho cavalo com uma perna partida. Enquanto isso, o seu companheiro já estava a voar no seu tridente, muitos km’s de distância daquele lugar horrível.
O misterioso justiceiro ao chegar ao pé do miserável, observando que o último se esperneava e contorcia de agonia do seu pé direito, soltou uma risada sádica, beijando docemente a sua adaga.
- O pé direito entrou em acção, não foi, meu caro Almenir? – Exclamou num tom sarcástico.
Mas logo mudou para um tom ameaçador e frio quando, ao estalar os dedos, a garganta do coitado começou a fechar-se, como se estivessem a esganá-lo fortemente, pondo-o entre a vida e a morte! O implacável conde levitou-o com a força da sua mente, e sorriu de forma trocista, olhando com aqueles olhos arrepiantes verdes.
- Promete que nunca mais, mas nunca mais, voltas a procurar o “eleito leitor”! – Disse ele em voz alta e de homem. – A partir desta noite, nada de SPV; vais esquecer-te que trabalhas para eles...!
Estranhamente, o oficial da polícia secreta acenou com a cabeça lentamente, muito fraco e indefeso, como um cachorro obediente. Os seus olhos castanhos tomaram uma coloração meio esverdeada, e a sua boca aberta qual um peixe morto, deitava um pouco de baba no chão, a flutuar, parecia que estava no meio dum...transe. Que espécie de nova magia seria aquela...?
- Sim...Nunca mais vou trabalhar para eles... – Respondeu, meio sonolento.
O meio bruxo, meio cyborg repetiu o gesto, desta vez com o dedo direito, e, ao fazê-lo, o agente caiu redondo no chão, sem uma única cicatriz, como se não tivesse acontecido absolutamente nada naquela estranha noite. Já tinha ouvido falar do hipnotismo, pois estava a estudá-lo nessa altura para o liceu no PR, mas nunca pensei que houvessem feiticeiros que conseguissem executar um feitiço de hipnose e manipulação completamente sem a ajuda de um objecto ou arma que contenha energia mágica.
O perverso conde pôs, com a ajuda das suas mãos e da sua magia negra, o SPV hipnotizado a andar, rindo-se com a mão direita a indicar para a Estação Manuelina, sorrindo de uma forma trocista como conseguira livrar-se facilmente daqueles dois empecilhos.
- Lindo menino, agora....Vai comprar imediatamente um bilhete para o próximo avião que sair da Atlântida para o Iraque. – Continuou o conde na sua voz fria. – Quando ouvires a palavra “guerra”, já estarás muito longe da tua querida víbora, e será demasiado tarde para escapares à morte certa no teu país natal!
Almenir obedeceu cegamente às ordens que Dark Sword lhe tinha dado, e, num segundo, já tinha pegado no seu tridente, pregado a fundo no primeiro bico do seu utensílio gigante de cozinha qual uma vassoura, e indo a voar até à Estação Manuelina.

quarta-feira, 4 de março de 2009

encontro com o caminho de dois sentidos...

Ao sair do arranha-céus, reparei que uma figura alta estava pontualmente à minha espera. Oh, como me tinha divertido! Já deviam ser uma da noite. Decerto que o preocupado e coitado do Nälden perguntava-se a si mesmo como raio eu não tinha ido embora com o Primo Coutinho e porque é que ele estava ali, àquelas horas.
Realmente, o Dia das Bruxas tinha sido celebrado com uma grande festa de arromba.
Ainda se viam umas pequenas luzes nos poucos bares que estavam abertos ao redor da enorme e comprida avenida principal.
As luzes das lâmpadas, ténues e enfraquecidas pelo nevoeiro, pousadas de dez em dez metros seguidamente no jardim que separava o caminho do metro do dos carros, plantado com bonitas árvores de cerejeira, iluminavam a bifurcação e o grande palácio do Cavalheiro e da estação de metro, mesmo atrás do Anel da Serpente, que era o edifício por onde eu tinha saído.
De resto, só restava como companhia a escuridão das esquinas e travessas labirínticas e apertadas pelos grandes edifícios negros da velha cidade cosmopolita, com alguns datados do século dezoito, que, certamente, faziam contraste com o gigante moderno governado pela SPV. No canto direito do ringue, havia também o Quartel-General da nova rival da centenária Serpentis Politza Vigitz: os SOS, ou, os Serviços Obscuros de Segurança, como são chamados ironicamente, fundados em ’95 pelo General B. Cá para mim, apreciar a diferença entre a antiga Faculdade de Letras atlante e o Hotel Anel é como distinguir um shot moranguito de aguardente: têm os seus nomes próprios, mas o sabor e a sensação duma enorme ressaca e prováveis vómitos é semelhante.
No entanto, é fácil perceber que, ao conseguir este palácio barroco – a velha faculdade que servia anteriormente para ensinar humanidades, línguas e letras – o General B ficou muito bem servido. Talvez até bem mais servido que o seu novo patrão, o Goldtheeth, que ocupava agora os sete andares abaixo do chão do Anel da Serpente. Não havia dúvidas que o hotel centenário, agora intitulado pelo povinho como Casa SPV, era maior que o Palácio Eleonora (eles aqui têm uma estranha mania de adorar a realeza, não achas?); porém, à semelhança das pizas, o gosto é raramente uma questão de tamanho ou melhor massa.
Lá ao fundo, no caminho à esquerda depois do imponente Teatro Parisiense, havia uma antiga auto-estrada que se dirigia para Sudoeste, para a Cidade dos Deuses. Enquanto que, à direita, se estendem, por vezes, alguns bruxos a caírem de bêbados, a meio da noite.
Essa estrada, sinuosa e rodeada de árvores frondosas – tão altas quanto o próprio arranha-céus que se destacava na avenida pelos seus 600 metros de altura – tem um desvio que dá para o sinistro Vale da Morte, e também para o Castelo Negro.
Aqueles pinheiros bravos emanavam já de si uma certa aura infernal, quanto mais o próprio terreno acidentado a dois quilómetros de distância ao olho nu dum bruxo.
Apenas a Lua Cheia alumiava o céu escuro, coberto por ameaçadoras e tristes nuvens azuis-escuras.
Nälden, com um ar meio receoso, e num estalar de dedos, acendeu às pressas um cigarro para se acalmar. Com a cara pálida e quase fantasmagórica na penumbra, ele fumou o tabaco com uma exaltação paranóica nos gestos.
- Não precisas de ficar assim tão assustado. – Comentei com indiferença, alisando provocatoriamente os caracóis com os meus dedos.
Ele apenas encolheu modestamente os ombros, resignado, mas, por aqueles olhinhos castanhos-claros e, por aqueles maneirismos seus, não deixei de notar um pavor presente nos seus pensamentos.
A simples ideia de irmos ao Castelo Negro deixava-o aterrorizado, e, em toda a sua vida de bruxo, nunca pensara em fazer tal loucura.
Contudo, eu já lhe tinha dito um ror de vezes que, um dia, iria ao Castelo Negro para certificar-me se aquela história do meu Padrasto estar vivo é a dura e cruel realidade, ou se é pura ficção científica.
Uma vez que o seu emprego depende do meu estado de saúde, não teve outra escolha senão esperar por mim ao frio.
E devo-te dizer que, para além disso, Nälden é um grande amigo meu e já passou por outras coisas, e, com um grande amor à vida, é natural que – no seu dia de folga – seja o único bruxo a estar só, na mesma mesa, à mesma hora, no Cavalheiro, a apreciar lentamente o mesmo prato de sempre, com a mesma bebida: arroz de marisco com vinho do Porto misturado com néctar de limão destilado. Tal como já te contei, o Cavalheiro é uma mistura dum restaurante, com um clube nocturno francês e um salão de dança de aproximadamente cinco andares, localizado no número 88 da Avenida Principal. Fundado em 1928 pelo bruxo parisiense Alfredo Chévrier (um indivíduo deveras bizarro, diga-se de passagem, foi preso pela Gestapo por suspeitas de ser homossexual, apesar de ser casado), inicialmente como um salão de baile com jantares e almoços, o Cavalheiro teve um sucesso estrondoso por volta dos inícios dos Anos 30.
Por volta dos anos obscuros da ocupação nazi na Atlântida, o conhecido local nocturno de entretenimento faliu, devido à séria acusação de Chévrier. Actualmente, desde ‘79, este edifício é gerido por uma entidade anónima, que financia e dá carradas e carradas de dinheiro aos empregados, bailarinas e chefes de cozinha que trabalham lá. Embora já não seja o rei dos salões ou clubes ou restaurantes de Cyborg Town, continua a ter um seu toque de requinte e elegância pelos seus brilhantes pratos típicos atlantes, e por ter as mais belas dançarinas atlantes, com o estereótipo exótico moreno, mediterrânico, do qual o General B tanto gosta. Como se isso importasse de qualquer maneira, francamente! O turismo atlante é frequentemente alimentado pelo machismo que continua a imperar na nossa ilha, e o Cavalheiro é um hotspot para todos aqueles pimbalhões mulherengos que vem lá dos USA, da Rússia e dos países do Norte da Europa, que gostam das nossas pobres adolescentes que vêm dos bairros de lata ou do inocente campo da Floresta de Cristal. Sinceramente, sempre gostava de saber quem é o desavergonhado que gere aquele antro de…De…Bom! De uma pouca-vergonha, é o que aquilo é. Com aquelas lambisgóias todas, e o maricas do Nälden lá, toda a santa terça-feira. Mas enfim, o que quer que ele queira provar, dentro do seu minúsculozinho aparelho genital, o certo é que não tem nada a ver connosco, não achas?
Antigamente, a SPV era uma polícia honesta, criada em 1933, pela Princesa Swerdinada com o intuito de proteger não só Sua Alteza, a Rainha, mas como também todos os cidadãos atlantes, dum terrível mal, cujo foi ironicamente a base para a organização dos departamentos da nossa querida instituição de justiça policial: a Irmandade Tigre Azul, a pior organização mafiosa da Atlântida nesses tempos. Pouco se sabe acerca desta associação de assassinos, no entanto, segundo os registos da SPV, os seus objectivos, eram claros: obter riqueza e poder. Durante os Anos 30, a SPV, controlada pelo feiticeiro branco – foi a única e a última vez que um feiticeiro branco assumiu a liderança da polícia secreta – Capitão-Mor Manuel António Cabral, o “Irmãozinho”, e o temível e misterioso Grão-Mestre da Irmandade Tigre Azul, lutaram pela supremacia!
Após cinco anos de lutas sangrentas entre bruxos, cyborgs e feiticeiros brancos, o grão-mestre desapareceu enigmaticamente do tabuleiro de xadrez, e, foi aí que a diplomática princesa declarou paz entre todas as classes. Infelizmente, essa paz não durou durante o tempo que ela gostaria: a Segunda Grande Guerra rebentou no mundo, um mês depois do anúncio do fim da liderança de Irmãozinho para o início do reino do conhecido bruxo atlante, o Marquês Kantiano Di Zifirinathüm. Em Dezembro de 1940, a minha querida mamã deu permissão ao meu honrado padrasto e aos Nazis para que eles marchassem sobre a Avenida Principal. Uma vez duquesa, Katharina Von Tifon afiou as unhas para discutir com a Serpente de Fogo, mas foi em vão! Os Von Tifon estavam sob o domínio da paixão que a minha mãe detinha pelo meu Padrasto, que, à medida que os dias passavam, crescia cada vez mais! Por fim, em 1942, com a morte do “O Poderoso” e o assassinato de Manuel Irmãozinho, quatro corações se despedaçaram, com tanta força e sofrimento como as bombas americanas a caírem em Cyborg Town na quinta-feira de chamas, em 16 de Julho de 1942. Swerdinada e a Mamã partilharam, por esta vez, as lágrimas que choraram foram as mesmas, uma vez que ambas gostavam, não do meu Padrasto – a minha mãe não verteu nem uma gota por aquele paspalho. – Mas sim do nosso Capitão-Mor Irmãozinho. Por mais estranho que pareça, em 1950, a minha querida Mamã assumiu o controlo da SPV, uma vez que já tinha experiência nesse campo.