domingo, 6 de janeiro de 2008

Um encontro Escaldante à Chuva (Parte I)


O desagradável tempo que estive com Nälden, Aiuki, Aokai, Auni e o meu Padrasto foi compensado com o romântico e fantástico primeiro encontro com o Pedro numa simpática e barata gelataria que funcionava também como café na Cidade dos Deuses, longe da arrepiante família von Tifon, da sangrenta e imoral Guerra Civil e....Longe dos TPC’s e do Liceu do Palácio das Reuniões. Ele contou-me que não era daqueles meninos bonzinhos dos Bruxos. Eu ri-me muito e expliquei-lhe que os Bruxos não sãnenhuns santos. Depois, disse-lhe sinceramente se podia confiar nele e se ele pudesse confiar em mim. Olhámos um no outro, mesmo dentro dos nossos olhos durante uns bons dez minutos, eu perguntei-lhe o que é que via em mim e nos meus olho.
Ele respondeu muito preocupado, com um ar receoso:
- Vejo uma miúda com problemas, esses olhos desiludidos e lacrimejantes... Quando é que é que vão parar de chorar?
- E tu....Eu vejo um rapaz que passou por muito, mas que junto com uma companheira digna do seu coração puro de herói, pode fazer com que esta terraa volte a ser uma terra de bem.
Ao me ver com aquele lindo vestido e toda maquilhada, o Pedro, com um velho fato de treino verde-escuro e jeans mais do que remendadas a calçar uns tennis que teriam tido melhores dias e um cabelo despenteado, ele suspirou com um sorriso e pena do seu mau-aspecto.
Ao sorver mais um pouco do seu nutcracker (o seu batido preferido: nozes com baunilha e polvilhada de framboesa ralada), sorriu, e que sorriso tão colorido quanto um arco-íris depois da tempestade.
- Olha-me para esta merda, Jessica. – Disse ele num tom anedótico. – Estes tennis já foram de primeira qualidade. Até se diz que o capitão dos Tigres da Cyborg Town os ousou...Pelo menos foi o que o meu tio disse.
Eu aborrecida, comi com requinte a colher o meu Sri-Lanka (maracujá, leite de coco e chili ralado), com um olhar desaprovador.
- Por amor de Deus! – Comentei num tom frio. – Não vamos falar de futebol outra vez, pois não, Pedrocas
[1]?
Ele respondeu-me com a mesma moeda, um pouco chateado, fitou-me nos olhos com um ar de compreensão, como se ele soubesse o que eu sofro!
Pousando o batido na mesa, ele pôs o braço por cima dos meus ombros, uma sensação tão boa passou por todo o meu corpo.
Uma sensação quente e afectiva....
- Eu sei, Jessi
[2]. – Disse num tom pensativo. – Mas... É só que não consigo aguentar esse teu karma mau todo!
Ao puxar-me para o seu lado, ele sorriu francamente, e....Algo de mágico começou, os nossos corações começaram a bater muito depressa, e, com um brilho terno naqueles lindos olhos verdes-castanhos, juntou as mãos com as minhas.
Quando sorri também, ele obteu o sinal verde, e disse num tom tão doce e meigo quanto o gelado sua língua:
- Jessica, eu gosto de ti. Tens razão em dizer-me que eu algumas vezes sou mal-educado, rude e que o meu tio não ganha nada como professor. Também devo ter razão quando digo que és uma bruxa convencida, mas nada disso importa. Porque...
- Porquê, Pedrocas? – Perguntei sensualmente e com amor a aproximar os meus lábios dos dele.
Subitamente, ele respondeu meio tomado de sobressalto:
- Porque eu amo-te!
Dito isto, os seus lábios, braços e corpo lançou-se sobre mim como um torpedo cor-de-laranja, e, quando me tocou nos meus, aquele estranho e maravilhoso prazer começou aos poucos a dominar o meu coração e o meu dever. Em breve, não pensava em mais nada a não ser nele....
Agarrei-me nos seus ombros fortes qual pantera negra a capturar por fim sua presa, e, rapidamente, apercebi-me que algo mais mágico do que o lugar onde víviamos estava a acontecer nos nossos corpos.
Os nossos loucos e precipitados corpos ansiavam por estar entrelaçados um no outro, a acariciar e a beijarem-se um ao outro num paraíso feito para dois. Duas lágrimas escapavam-me dos olhos enquanto o beijava, e eu sabia o porquê.
Quem era eu para o estar a beijar...? Os meus lábios são mentirosos e desagradáveis com a minha própria família. A minha família....Eu devo-lhes tanto, e nem sequer penso nisso. Que estará por dentro desta casca de beleza e ilusão...? Seja o que for, não é merecedor daqueles lábios tão puros e sorridentes.
Aqueles maravilhosos momentos nunca mais acabavam, e, enquanto passeávamos num jardim colorido de novas emoções, mais cedo do que esperávamos, estávamos a beber simbolicamente os batidos um do outro. Segundo a tradição atlante, beber a bebida da pessoa amada significa que em breve o seu amor vencerá e extinguirá poderosas Forças do Mal!
Não sei se conseguiremos, mas, o que eu tenho a certeza que os meus lábios eram muito poderosos, para estarmos assim tão agarradinhos. Acho que a sensação que senti naqueles lindos minutos foram remorsos e prazer: um chocolate muito amargo.
Com os batidos, ao menos, conseguimos arrefecer o calor que estava nos nossos corpos, e, depois de termos saboreado a última gota daqueles gelados tão deliciosos, ele ainda humedecendo os lábios, extasiado – deve ter sido o 1º meiríssimo beijo da vida dele, felizmente para mim, não! – quase ofegante, sorriu um pouco aparvalhado e comentou:
- UAU! Para uma bruxa cínica, estás a tornar-te uma menina bastante emocional, sabias amor? – Exclamou ele feliz.
Suspirei, e, quase no típico instinto misterioso da Família von Tifon, respondi, com um cliché que foi de mestre num olhar sinistro:
- Ainda não me conheces o suficiente, Pedrocas... Agora, quanto a esse assunto acerca daquilo que eu te falei no táxi...
Como imaginei, o Pedro sabia muito acerca do Testamento de Neptuno, e contou-me umas coisas muito interessantes.
Por exemplo, disse que este livro com capa de ouro contém certos documentos, documentos que poderiam fazer dum demónio o Senhor de toda a Atlântida!
«Percebes o que eu estou a dizer, Jessi?!» Confessou ele num tom quase com os olhos cheios de ganância. «Esta papelada toda foi redigida em 1900 pelo próprio Neptuno, quando a Europa começara a ficar infestada por males terríveis. Segundo a lenda, aquele que o encontrar e assinar o seu verdadeiro nome na primeira página, será o Rei ou Rainha por direito a toda a Atlântida. Acabaria a SPV; a Serpente de Fogo; a guerra; o sistema de classes....Tudo isso acabaria, graças a uma data de folhas velhas com pó e outras porcarias. Um sonho tornado realidade, hã Jessica? Jessica?»
Mas era em vão acordar-me dos meus sonhos ambiciosos de roubar um pouco da fortuna da herança conseguida graças a esse livrinho insignificante, levar o Pedro comigo e fugir juntamente com ele para uma ilha privada e ficarmos ali para o resto das nossas vidas a fazer doce e verdadeiro amor....!
Isto é, claro, o meu lado mau a imaginar coisas, o meu lado mais perverso e obscuro a imaginar que eu posso manipular tudo e todos. Sabes, aquele lado arrogante e malvado que faz com que as pessoas fiquem com medo de mim. Acho que herdei essa característica arrepiante do meu padrasto. Até me assusto com os meus sujos e negros pensamentos.
E, obviamente, eu, com aquele sorriso mesquinho e nada de confiança e aquelas distracções, o rapaz gritou:
- JESSICA! Terra chama JESSICA!
- Sim?
Mais uma das minhas divagações perdidas no fio à meada, e, depois de me ter acordado, ele, desconfiado, disse, ao pagar a nossa conta:
- Meu.... Para a próxima acho que é melhor irmos a uma pizzaria. – Comentou um pouco preocupado. – Estes batidos devem ter qualquer coisa para tu ficares pedrada de todo!
E pronto, foi o nosso primeiro encontro escaldante e fresquinho ao mesmo tempo....eh, eh, eh. Estou tão contente! Como é que correu o resto do encontro?
Bom, isso deixo ao teu critério, porque...eh, eh, eh...Nós ainda fomos ao cinema, e depois voltei para casa. Mas não foi nada de vulto, apenas uns beijinhos ali, outros acolá...tu sabes...Pronto. Foi assim esse encontro...Ai...
Ao me deixar na chuva, este deu-me um anel de presente, como se fosse pedir-me em casamento. Quem me dera que assim fosse!
Olhando para mim, e mostrando um anel de aço com inscrições estranhas – pareciam mais paus, v’s e x’s do que letras – disse para mim com um ar sério:
- Já que insistes tanto em ir a essa festa de ricaços com a mania que são bons, então, nunca te separes dele.
Com o seu olhar sempre fixo nos dois objectos semelhantes, continuou a falar, qual homem prestes a dizer um discurso importante ao seu povo.
«Não é um anel qualquer, vai-te afastar das influências negativas ou dum destino terrível. Pelo menos foi o meu tio que mo disse. Foi ele próprio que fez estes amuletos contra a magia negra do Mal. Se alguma vez algum canalha dum bruxo tentar picar-te, eu ficarei a saber...»
Dito isto, desapareceu entre as gotas de chuva que agora formavam um painel invisível, seperando-me do meu amor e da sua grande coragem...Deixando-me em cargo das feras!
[1] Nome carinhoso pelo qual eu trato o Pedro
[2] Nome carinhoso pelo qual o Pedro me trata