sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Interrogatório (Parte II)


Foi aí que o tenente não pôde aguentar tantos insultos numa só noite. Aproximou-se de mim e olhou-me de alto a baixo como se eu fosse uma tola cabra nua da revista semi-pornográfica do News Zone. Depois, pegou intencionalmente no frasco verde-esmeralda que eu trazia na minha coxa através de uma pulseira para as pernas, ficou com uma expressão de choque, pesou-a na mão, e, lançando-me um olhar de desprezo, atirou-a bruscamente contra a parede. Estilhaçou-se com o som de um jogo de talheres caindo por uma escada abaixo e o ar encheu-se subitamente de um odor feminino intenso e forte que deu a volta à cabeça dos dois ajudantes encapuçados.
Sorri maliciosamente e adivinhando as dúvidas dos três homens curiosos, respondi suavemente num tom provocador:
- A minha área é Magia Negra e Línguas, na qual o hipnotismo é essencial para um teste, aquela poção era o meu trabalho de casa e lamento imenso o facto de em breve se arrependerem disto. Também vão-me colher os ingredientes principais. Como já demonstrei, nem faço ideia do que se passa aqui, como também vocês estão a falhar em pontos cruciais, o meu sincero e tolo amiguinho não é perigoso.
O Tenente Gerhard endireitou a blusa de cabedal preta depois do esforço e limpou a cara, um pouco irritado. Inalando com um ar desconfiado a substância doce para os seus olhos, quase que adormecia ali, mas logo acordou com um pouco de medo, meio sobressaltado.
Estava com medo de mim, podia senti-lo nos seus olhos, e, embora fingisse, não poderia resistir aos meus lábios enganadores.
- Ouça lá, eu não me deixo hipnotizar facilmente. – Rosnou ele. – E tem razão numa coisa, o cyborg não é perigoso, mas você, Miss Jessica, é muito perigosa!
Aceitando isso como um elogio, ri-me dos quão estúpidos que aqueles três eram. Não os ia vencer pela força, mas sim com a minha inteligência.
E a diferença de sexos seria a sua perdição. Aliás, ao ter partido aquele aparentemente inócuo frasquinho, tinha assinado não só a sua, mas como também a sentença de morte dos outros.
Soprei um beijo sensual e altamente tóxico quanto à tentação para os três campangas da polícia secreta.
- Oh, sim, diz-me o quão perigosa eu sou! – Indaguei num suspiro erótico. – Ò tenentezinho, serás assim tão valente e sem coração como aparentas ou por dentro das vestes de bruxo implacável há uma florzinha de estufa mariquinhas pé-de-salsa como o teu irmão gémeo?
O estalo do chicote negro do segundo homem fez-se ouvir, interrompendo a minha tentativa de seduzir o tenente.
- Basta de disparates. – Disse ele aproximando-se de mim com o chicote ainda quente, preparado para me dar uma grande sova. – Diga-nos de uma vez por todas que colabora com a Resistência e poderá ir-se embora!
- Então? Não temos o dia todo, Frau Jessica! – Concluiu o outro pegando numa pena, pronto para me fazer cócegas. – É mentira ou não que estiveste com aquele cyborg à procura de sarilhos?
- Talvez seja mentira, talvez seja verdade. Porém, se quiseres, podes perguntar ao cadáver do cyborg, isto é se ainda não o tiveres matado. – Respondi num tom enigmático a rir-me. – E se me queres fazer rir, nem é preciso a pena, basta tu mais os teus amiguinhos da SPV.
Vendo que eu era (e sou!) uma bruxa que metia respeito, o Tenente Gerhard, sacou da sua pistola de fogo, apontando-a para mim, apenas para meter medo, mas não resultou.
Embora ele estivesse a apreciar o momento, lançou-me um olhar de zangado.
- Miss Magnetite é sem sombra de dúvida uma pessoa influente na mente de alguém, asseguro-lhe que em toda a minha vida nunca encontrei alguém assim tão corajoso e frio, a não ser o meu superior, o General B. – Disse ele admirado. – É tão cínica como o Otto contou-me por telemóvel…Porque será?
Vendo que podia confiar nele, comecei a contar-lhe mais à vontade pelo menos os pormenores que não interessavam. Falei-lhe que era de facto neta de Thomas Magnetite, e que ao morrer, deixou-me ao cuidado do gentil e piedoso Duque Von Tifon.
Quanto a Pedro, apenas lhe disse que era só um “amigo” que eu utilizava para ganhar informações acerca dos “imundos” e para encontrar o Testamento de Neptuno para conquistar a Paz e encontrar o meu Padrasto. Com o meu poder de persuasão, consigo tudo o que quero, e parecia que ele estava com um fraquinho por mim, lá tentei convencê-lo a libertar o meu amigo.
Quando se trata dos amigos, ainda por cima amigos interessantes, eu faço tudo, mas mesmo tudo, e não digas que eu não tenho escrúpulos, porque eu utilizo os meus poderes de sensualidade apenas para o Bem dos outros.
Numa voz de bebé, fazendo beicinho, com os olhos azuis mais queridos do mundo, perguntei suspirantemente:
- Eu faço tudo que esteja ao meu alcance para ganhar as minhas bem merecidas férias vitalícias com o meu amorzinho cyborg, e se não acreditas, tenentezinho, é porque não sabes com quem estás a lidar! Tudo!
O interrogador engoliu em seco, um pouco a medo de eu me libertar.
- Bela prima que o Sr Duque foi arranjar...! A língua bifurcada é de família, ou tu és apenas uma filha dum humano sem aquele poder? – Perguntou cheio de medo.