terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Chorão dos Castigos

Poema dedicado à Princesa Anjali Sarvahdinada de Rwebertan Samiel Di Euncätzio. Esta trovi, traduzida do Bellante Arcaico só para vocês, é conhecida como "Chorão dos Castigos"...é um post-mortem, um poema que só foi encontrado e publicado depois da morte do temível Assassino do Amor. Traduzido primeiro do Chinês para o Japonês em 1323, e depois para o Bellante Arcaico do Norte (uma língua morta muito semelhante em fonética e em grafia ao Japonês da altura), o poema é um favorito dos feiticeiros quando cantam ou num tom triste, ou num tom mais alegre, o seu amor às mulheres.

Para compreendermos o poema na sua totalidade: na primeira quintilha (nunca quatro, porque na tradição oriental, quatro era um número de mau-agouro, demonstrando o carácter supersticioso de feiticeiro de Samiel, cinco, tal como o pentagrama) nessa altura, folhas secas - Outono - era um sinónimo para uma mulher de meia-idade, que é exactamente o que o Assassino do Amor se assemelhava quando atingira os mil anos de idade. É uma referência ao Taoísmo e ao princípio feminino e masculino (yin-yang) a influenciar as quatro estações e a passagem da estação - envelhecer.

Na segunda quintilha, desta vez, o Mestre Samiel faz referência ao calendário lunar Bellante. Após o décimo oitavo mês do calendário lunar Bellante, apagavam-se as grandes lareiras que aqueciam as cidades bellantes num período de abstinência conhecido como Nenontemi - cinco dias de azar. Uma ironia ao comparar o número do azar Japonês com o número do azar Bellante - cinco. Mas é também uma metáfora para dizer que o ódio de Samiel pelo Império Bellante pode ser apagado na escuridão dos cinco dias azarentos. Ele está à espera que a Princesa tenha coragem para vir despedir-se dele depois do último mês como ele está prestes a morrer.

A quarta quintilha é um refrão, como se Samiel estivesse à espera que outros pusessem em forma musical o seu poema. O chorão na mitologia Bellante é símbolo de amor proíbido, e Samiel diz que sente-se castigado pelo Amor mas que este tem um doce aroma de paixão - o fruto da paixão - e a sexo.

Na quinta quintilha, o sujeito poético perde todas as estribeiras - como o povo diz - e confessa o desejo que sente pela pessoa amada. Na Bellanária, há uma espécie única de trevos de cor preta e que se assemelham a cabelos anelados. Mas no último verso da quintilha, ele desculpa-se num tom formal a pedir humildemente qualquer coisa....talvez seja só um beijo como diz a terceira quintilha...Ou talvez seja mais alguma coisa, ou seja, o corpo nu da princesa, uma coisa absolutamente escandalosa em pleno século catorze, não só para os Bellantes, como para os Chineses e Japoneses! Não admira que na versão Chinesa traduzida para o público e na versão Japonesa, esteja apenas - "seda pura do teu vestido" (túnica oriental) em vez de "a seda pura do vosso natural vestido" (como a princesa veio ao mundo).

Na sexta quintilha, o Assassino do Amor fala em sangue impuro - sangue que pode não ser Bellante, ou pode não ser humano (um demónio). Ele confessa que nem com a magia dele ele poderá purificar-se. Isto é uma óbvia referência à tradição hindu dos Rhakasas - demónios com olhos vermelhos. Mas Samiel diz que esses olhos azuis (azuis é uma metáfora para mortos, melancólicos, tristes) choram por ela.
Ele sofre tanto que, ao continuar para a sétima quintilha, pensa enforcar-se com a sua própria dor.

A oitava quintilha é uma repetição da quarta... E assim termina o sofrimento de Samiel com o castigo eterno...


Oh, linda princesa,
Não vedes que as folhas deste velho rosto,
Estão a secar? Se ao menos eu pudesse cumprir
A promessa,
De nunca mais vos ferir...

Se eu morrer,
Se o meu ódio se extinguir,
Como a chama do último mês,
A desaparecer de vez,
Até mim podereis vós vir?

Um beijo,
É só isso que vos peço!
Perdoai este bruxo malfazejo,
Perdoai, senão nunca mais cesso,
De chamar pelo vosso doce nome!

Porque será,
Porque será que terei de estar sempre preso,
Ao macabro chorão com perfume a maracujá?
Porque será que sempre que vos vejo,
Penso que saí de mais uma patifaria ileso?


Nos meus braços quero prender-vos,
Quero sentir a seda pura do vosso natural vestido,
Não haverá um momento em que não deixe
De me perder nos amorosos e macios trevos,
Dos vossos cabelos, acetai, minha senhora, este humilde pedido!


Este sangue impuro,
Que corre apenas por vós,
Nem com Magia Proíbida eu curo,
Estes olhos azuis rasgados, gelados,
Não vedes que o sangue que deitam já forma nós?


Nós horríveis de dor,
Que me estrangulam, apenas por amor,
Se alguma vez um inocente homem matei,
Foi apenas porque vos amo tanto,
E saiba que por vos, tudo ao Império eu perdoarei!


Porque será,
Porque será que terei de estar para sempre preso,
Ao macabro chorão com perfume a maracujá,
Porque será que sempre que vos vejo,
Penso que saí de mais uma patifaria ileso?