terça-feira, 27 de maio de 2008

A "Festa do General B"... (Parte I)




Todos nós, um grupo particularmente grande que representava a família Von Tifon para a Gala Oficial da Noite da Magia Negra (o nome oficial para o maior baile desta noite tão especial, patrocinada, é claro, pelo nosso estimado e honrado General B, que confessou à imprensa no dia anterior estar bastante entusiasmado com a facilidade que os cidadãos atlantes aderiram à sua genial iniciativa, esperando demonstrar assim ao mundo que nada na Atlântida mudou desde o começo da Guerra Civil) fomos introduzidos a um agente da SPV vestido a rigor com gabardina de cabedal com as runas atlantes azuis a brilharem no braço direito, com chapéu de feltro a cobrir os olhos. Era o Primo Coutinho com o cabelo comicamente espetado, o Hans também de preto, aliás, a maior parte dos homens que se dirigiam para a festa vinham com a cor preta. Até parecia que íamos a um funeral ou a um velório, não a uma festa espectacular e mexida! Mas as três coisas que interessam realmente para mim numa party são: boa comida, cerveja da melhor, e companhia também hot – se é que me entendes! A Sara e a sua irmã gémea tremiam como varas verdes, e a malvada bruxa estava com o braço dado ao primo, enquanto que a Sara estava de braço dado a um rapaz bem parecido, louro, com a idade dela, e que sorria gentilmente para a linda e rara rapariga. Também queria, se não fosse tão santinha já o teria roubado à inocentinha…Eh, eh, eh…Estou só a reinar.
Oh, como faziam um par inspirador, mas ele não parecia ser atlante, tinha um ar estrangeiro: olhos grandes e vivos amarelos-escuros sempre atentos, nariz pequeno e fino dava um ar de confiança e coragem digna de um leão que protege a sua leoa, e cabelo espetado puxado para a esquerda doirado como o precioso metal que os homens tanto ambicionam, rosto redondo, no entanto com uma ponta de desenvoltura, e, media aproximadamente um metro e setenta e cinco de altura. O seu casaco preto de jeans combinava perfeitamente com o seu pendente de fio de couro com uma cruz de templário prateada, e o cabelo tão bem cuidado espreitava numa por detrás de uma boina cor-de-vinho de veludo suave, andando de forma estilosa, nos seus ténis nike com acolchoação confortáveis. Sim senhor, era um rapaz muito atraente, parecia mesmo que atraia todas as miúdas para o seu lado, mas na verdade era um pouco tímido. Se não fosse aquele aparato todo, desconfiaria logo que aquele janota seria o Nälden todo enfarpelado como a lata dum cão.
Enquanto isso, eu ia de um fato lustroso amarelos-escuros – da Mamã Katharina – com gola alta presa por uns fios de couro, mas com um decote super sensual que quase se viam os meus seios, que se ajustava ás curvas completamente, mostrando um corte intencional para se ver a minha perna magra e linda calçada por sapatos de salto alto azuis-escuros, cabelo alisado e pintado de preto com madeixas vermelhas, caindo com generosidade no ombro direito nu, e lábios pintados de marron brilhante. Os meus olhos vítreos podiam se ver como lasers perfurando a mente de qualquer homem que me visse naquele conjunto tão explosivo!
Aquilo era mesmo pedindo para que o bruxo mais perigoso e poderoso daquela cidade me convidasse para abanar o meu rabinho e ancas a dizer “Tenta apanhar-me!”, escondidos no ritmo quase hipnótico da minha maneira elegante de andar.
Posso admitir que nunca usei e nunca mais usarei uma roupa tão linda e cheia de moda como aquela também confesso que ser um pouco ou tanto snobe é um dos meus piores defeitos.
Por isso, era naquela noite ou jamais algum rapaz me iria apanhar naquele estado mais selvagem!
Era verdade, não tinha acompanhante, mas que interessava…? Com certeza que ele iria aparecer, senão…Chauzinho, bruxo idiota de dezanove anos!
Tsuna também estava de arrasar, com um fato asiático chinês vermelho forte, com um corte de ambos os lados da cintura para se ver um pouco das suas pernas pequenas e igualmente bonitas, penteada com ganchos e agulhas douradas verdadeiras com pequenas bolas de jade adornadas com baixo-relevo, fazendo com o seu longo cabelo caísse todo para trás, e que só restassem duas faixas, e uma franja com um ziguezague engraçado preto, uns lábios pequenos e cor-de-rosa realçavam a ideia inocente da minha jovem irmã, afinal ainda quis vir, ao contrário da Solaris que ficou em casa com o tio Seth, eh, eh, eh…Eu sabia que ela não iria perder a oportunidade para conhecer o seu 1º bruxo, eu sabia que o seu lado negro iria aparecer. Não duvidei nem por um segundo que por detrás daquela carinha de anjo chinesa houvesse uma endiabrada que estava pronta para o seu primeiro beijo sensual, com linguado, marmelada e tudo. Pirralha apressada, a Tsuna!
Bom, o aspecto dos outros não interessa, por agora continuemos com a história, é para isso que estou aqui a escrever-te, não é? Depois de termos aguardado durante trinta fastidiosos minutos na rua para os burocratas da SPV confirmarem os nossos convites para a festa, uma mulher-cyborg abriu as portas transparentes e olhou-nos com ar de estar hipnotizada ou controlada por alguém. Obviamente ela não estava ali por se ter voluntariado ou por conseguir ganhar uns cobres. Os bruxos da SPV devem tê-la posto em transe, e a sua respiração ofegante e olhos sem expressão notavam que estava a ser controlada por um superior.
Envergando um fato de banho preto que segurava com uma fita vermelha os seus seios triangulares e bem comportados, a pobre rapariga de cabelos encaracolados cinzentos volumosos que mais parecia uma juba era demasiado superficial calçava sapatinhos de cristal. Numa das coxas nuas e reluzentes de metal, tinha uma sinistra tatuagem: uma estrela negra de cinco pontas fina, que segurava duas iniciais pintadas com uma letra estilizada e apressada, G.B. A assinatura oficial do General B. Contudo, se olhássemos com mais atenção, poderíamos ver que aquela marca não era um defeito de fabrico, mas sim um chip-controlador de cérebros.
Por isso é que fiquei espantada por uma coisa tão maquiavélica e lunática ser permitida numa festa tão fina! O meu sentido de justiça estava oficialmente ofendido. E no entanto, tinha a ligeira impressão que os truques sujos do General B não ficariam por ali...Esta possível e impensável deportação de todos os criminosos para um lugar onde fossem supostamente reabilitados e saíssem de lá como novas pessoas era-me familiar, só não me lembrava de onde!
Aquele sorriso de lábios tão vermelhos e pequena como duas cerejas sugeriam uma boneca de porcelana controlada pelos fios dum titereiro escondido nas sombras que manejava com habilidade e requinte mais quarenta e nove meninas checas tão perfeitas e louras como ela. Tudo era tão bizarro e arrepiante....!
- O Sr. General pede-vos para aguardar mais uns momentos na sala de espera juntamente com os outros convidados. – Disse a voz de criança e quase sem emoção no que dizia. – Por favor, acompanhem-me.
Andámos longos corredores com quadros sombrios que nos pareciam observar com desconfiança até uma sala enorme de espera muito bizarra com papel de parede com baixo-relevo, expostos nas paredes de pedra e mármore bem esculpidos bruxos e bruxas a divertirem-se, a dançar prodigiosamente, fazer acrobacias espantosas com os seus corpos lindos e perfeitos, cuspir fogo e mais outros elementos desconhecidos que não percebi o que eram. Uma sala sem janelas, apenas com duas portas de madeira de mogno onde à direita dessas portas estava instalado um bar com prateleiras mostrando bebidas de todos os tipos, e que por detrás de um balcão iluminado por umas brilhantes luzes vermelhas, azuis e cor-de-laranja, um agente da SPV encarregado de trazer as bebidas agitava com precisão e um freneticidade impressionante um cocktail bem forte com uma taça de cerejas à sua disposição para decorar os copos enormes. Em altifalantes, ouvia-se música de fundo um pouco fora de tom, notava-se que era a afinação da orquestra.
Antes de abrir as duas portas ao de leve apenas por uns meros momentos, a criada de serviço fez uma pequena vénia muito solene e, com um sorriso forçado, indicou para o bar á nossa esquerda.
- Bem vindos ao Anel da Serpente, estimados espectadores. – Disse ela respeitosamente na sua vozinha robótica. – Se desejarem tomar uma bebida ou um aperitivo, sirvam-se à vontade no bar que está à vossa esquerda. O General B deseja um agradável serão para todos vós.
A sala de espera escassamente mobilada, mas com mais trinta pessoas mais a nossa família, era realmente “agradável” e, limando as mãos com o meu canivete suíço multi-usos que mantenho sempre na minha carteira cor-de-rosa em pele, assobiei baixinho, satisfeita. Lá, era tudo fino e elegante, incluindo as carpetes, e começei a pensar se aquilo não era um esquema bem planeado para convencer os mass-media – representados por dois únicos canais e quatro jornalistas – e os atlantes que os grandes bruxos poderosos da Atlântida não eram um monte de bárbaros selvagens e desonestos, como diz a imprensa estrangeira.
Estavam naquela sala toda a “coqueluche” da sociedade atlante: políticos importantes do único partido atlante; industriais importantes; militares; aristocratas; na sua maioria eram bruxos, e, pelos ares de pedante e falsidade, todos eles não inspiravam confiança, tantos os homens, como as mulheres.
Suspirei aborrecida, e sentei-me num confortável sofá verde-mar de couro a beber, sem me fazer rogada, um tentador trago de vinho do Porto com uma estranha coloração cor-de-rosa. Estava nervosa depois de ter visto tanto aparato na Cyborg Town, e também muito desconfiada. Comecei a pensar se teria sido realmente boa ideia ter ido a essa noite de gala. Nunca tinha ido a nenhuma, mas suspeitei que esta seria tão aborrecida e queque como todas as outras que vi em toda a minha vida de ingénua rapariga reservada inglesa. Também perguntei-me a mim mesma porque razão o General B teria se dado ao trabalho de organizar aquela festa tão faustosa e elegante quando tinha coisas mais importantes com que se preocupar. Com ele, as coisas nunca são o que parecem, embora eu não descartasse nem por um momento que a possibilidade de embaraçar a Serpente de Fogo lhe agradaria muito. Para ele, seria a sobremesa que culminaria um óptimo jantar, cujo prato principal consistia no despedimento de Goldtheeth e dos outros conspiradores anti-General B dentro da SPV. Toda a Atlântida sabia que, mais tarde ou mais cedo, aquela víbora que é o chefe do sub-departamento de Segurança arranjaria um pretexto qualquer para eliminar um dos seus inimigos mais novos de estimação.
Segundo alguns agentes da SPV, ele nunca gostara dos seus novos patrões, e, pela maneira como o Chacal Amarelo tratou o meu Padrasto, chegou-me à cabeça o terrível pensamento se o meu Padrasto e o General B seriam a mesma pessoa. Era possível, mas também, sabe-se tão pouco acerca de ambos que era quase impossível.