quinta-feira, 19 de abril de 2007

21-09-2005- A visita inesperada


De tanto pensar acerca desta nova vida que convida a descobri-la, e ao meu passado, vi que ainda haviam muitos segredos dos quais não tinha a chave para a porta do seu conhecimento.
Um deles era o passado de Sara, mas julgo que já deverás ter-te familiarizado com tal acontecimento, e sinto-me no dever como irmã mais velha das manas de ser a primeira a descobrir o porquê de tanto mistério. Sabes, algumas me pergunto se para ti isto não será uma espécie de paranóia minha, mas como dizia o nosso avô, o Conde von Tifon, para a minha mãe: «Olha lá, miúda, tu não vais ceder à escuridão das influências ou o que te dizem! Tens de lutar por aquilo que sonhas, e não ligues ao palerma do rival do teu amor, pode ser alemão, mas não tem os parafusos bem no sítio.» Bom, por essa é que eu não esperava. Foi isso que o Tio Set me disse ontem, e pelos vistos, o nosso padrasto era alemão, e, coincidência das coincidências, o bruxo da Sara também é teutão!
[1] Mas eu cá não acho que não existem coincidências, e só um cego é que não via os factos mais do que óbvios acerca deste assunto. É claro que nem todos os Alemães são maus, e tenho a impressão que te o direi mais vezes do que julgo.
E nem todos os fascistas da SPV são assim tão cruéis, e posso ver isso no irmão mais novo do Goldtheeth, o Chacal Amarelo. O Chacal Amarelo, este grande agente bondoso e que não tem uma única pinga de malvadez, e diz sempre ao seu mano mais velho, a mesma história «Olha la mamma! O que ela disseria di questo disparate!? Tu és piú brutti e gatilli!» - Os irmãos da SPV são italo-americanos, que vieram para a Atlântida, e, se não me engano, ouvi-los é o melhor prazer do mundo!
Voltando ao Chacal Amarelo, hoje tentei falar com ele no intervalo enquanto pendurava na escola uns preparativos para recebermos os Alemães – Sabes, vamos receber uma faculdade alemã, sim! Como é que eles têm espaço para tanta gente?! É isto que me agrada no PR e em Portugal, tem sempre um espaço para mais um! – a pendurar uma bandeira alemã perto da atlante e da portuguesa, quando um homem alto, coberto com roupas escuras, e usando um chapéu fora de moda entrou pelas portas transparentes do Palácio das Reuniões. Toda a gente começou a desconfiar dele, mas o que mais me espantou foi a Sara ter dado corda aos ténis e ter-se posto a milhas, com uma desculpa esfarrapada e um pouco mais pálida do que o costume.
Seria o bruxo do qual ela tinha um pavor terrível…?Este olhou presumidamente para a bandeira, e mostrando uns ares de indignação, pregou uma rasteira ao Chacal e riu-se.
- Ò pacóvio, por que razão a minha amada bandeira está pregada à tua imunda parede de cera idiota? – Perguntou o bruxo arrogantemente.
O Chacal Amarelo virou-se para o bruxo e lançou-lhe um olhar de desprezo.

- Para sua informação, desnaturado, questa parede é ella tutti cortiça lusittanna, da mellore espécie! – Comentou ele chateado pelo bruxo o insultar. – E é melhor retirar o que disse, senão ainda irá arrepender de suas…Lai il e tedesco?!

Começou a rir-se às gargalhadas, segurando no tronco moreno marcado por cicatrizes da Guerra Civil, e olhando muito os olhos castanhos escuros, limpou as lágrimas de tanto rir.
- Se lai e alemão, então io soi Il Santo Giovanni, que La Dona Maria tenha-o em descanso! – Disse o Chacal Amarelo sorrindo.

O bruxo convencido, arrumou a capa a esvoaçar na tarde de trovões, e soltou um audivel “Ah!” de indignação e vaidade.
- Estes pacóvios italianos não respeitam ninguém! – Comentou ele numa voz que não consegui distinguir se era homem ou mulher, na verdade, a sua voz estava distorcida.
Que estranho…
Dizendo isto, o bruxo foi-se embora, juntamente com a tempestade, que começou a acalmar logo que ele saiu e fechou as portas transparentes.
Que tipo mal-encarado, eu não queria cruzar-me com ele nas ruas de Cyborg Town, não senhor, parecia perigoso, será este o aspecto que os verdadeiros bruxos negros têm…?
Se todos são assim, então acho que ser dos maus já não é assim tão boa ideia!
Seria aquele o bruxo o tarado que anda a perseguir a pobre da minha colega Sara dia e noite, é que se fosse, então o Chacal Amarelo poderia ter estado em graves sarilhos!
Bom, a coisa mais importante é que aquele tipo não viu a minha amiga, portanto, até agora estava tudo bem.



[1] germano



do Al. gehr ou wehrman, homem de guerra
adj. e s. m.,
referente aos Germanos, à Alemanha;
alemão;
s. m.,
(no pl. ) povos que habitavam entre o Reno, o Danúbio, o Vístula e o mar.