sábado, 26 de maio de 2007

22-09-05 O Fumo Sinistro

Não sei se hoje consegui poupar o tempo e organizá-lo em estudo para os meus exames e para o meu diário…? Bom, em breve vou descobrir isso em Dezembro.





De manhã, acordei mais cedo do que os outros, pus os chinelos, e desci as escadas meio triste, com aquele dia tão maravilhoso e solarengo, atrás das grandes cortinas do salão de jantar, e vendo a longa sexta-feira que tinha pela frente, pensei se por acaso aquele bruxo ainda estaria cá dentro. Escrevendo num papel o queria para a Spectinha mandar fazer para a cozinha, o meu nariz detectou hortelã-pimenta queimada misturada com tabaco, produzida por um fumo azul-escuro muito suave e fresco, no entanto asfixiante.
Vi que era o estranho bruxo, com uma cigarrilha de metal, pendido nos seus lábios perigosos e enganadores, fumando a uma hora daquelas, quer dizer, pelas seis horas da manhã!
Por amor de Deus, eu nem aguentava tomar o meu pequeno-almoço com aquela fumarada à volta, o tabaco do primo lá se cheira, mas agora aquela porcaria toda que ele deitava para o ar…O obscuro homem continuou a fumar pacientemente o seu tabaco de hortelã-pimenta, enquanto eu olhava discretamente para ele algumas vezes e comia com a colher os já servidos cereais "Clusters" com chocolate e leite.
Bom, porque não perguntar-lhe a razão de atirar para o meu nariz aquela nicotina, monóxido de carbono, e esses gases todos para o meu nariz…? Pensei eu nessa altura, ao comer e mastigar os cereais. Então, sorrindo forçosamente, dirigi-me ao estranho bruxo com um olhar curioso.
- Desculpe, por que raio o senhor tem de fumar essa…Essa…
Olhou para mim com um sorriso presunçoso, e, cuspindo com desdenho as folhas de hortelã queimadas para a minha camisola cor-de-rosa da Steele, levantou-se de nariz empinado, indo em direcção das portas.
- O que é que tem a menina contra eu deva ou não fumar? – perguntou indignado com a cigarrilha na boca. – A maior parte dos bruxos que tive a honra de conhecer fumam, e que eu saiba, nenhum deles morreu de um cancro de pulmão, asma ou outra doença respiratória parecida. Nós, bruxos, somos imunes a esse tipo de coisas, não ficamos a tossir só porque estamos numa sala coberta de monóxido de carbono. Aliás, o seu padrasto conhecía umas boas maneiras para calar uma menina tão malandra e engraçadinha como você…!
Apontou-me a cigarrilha mesmo para o centro dos meus seios, como se os desejasse perversamente, e continuou a falar.
Eu fiquei totalmente envergonhada, não sabia que os bruxos controlavam a sua respiração e conseguiam inalar substâncias tóxicas sem ficarem com graves problemas no organismo. Deve ser por isso que os bruxos têm aqueles narizes aquilinos e compridos como se fossem bicos de aves de rapina.
Estou cada vez a gostar mais de ser uma bruxa, e é claro que as bruxas não têm os narizes à falcão e compridos e afinalados como dizem nos livros e contos de fadas, mas os nossos lindos narizinhos assemelham-se aos narizes perfeitos de modelos, actrizes, bem, somos mais bonitas que os homens da nossa classe, diga-se de passagem.
Somos assim tão diferentes dos homens bruxos: histéricas, um discurso muito convencido, mas nada convincente, atraentes, confiantes, boazinhas, elegantes, verdadeiras damas…Bom, afinal não há assim tanta diferença.
Espantada com isso, deixei que o senhor sabichão falasse o tempo que quisesse. E, abanando a cigarrilha para todo o lado, espalhando o fumo para mim, com um sorriso que não inspirava confiança, continuou a sua história longa:
- Para ser franco, o seu padrasto era realmente um bruxo poderoso. Sabia usar a magia negra como ninguém, inteligente, manipulador, mestre na arte fatal da sedução tanto de mulheres como em inspirar simpatia e gentileza, eloquente, era conhecido na nossa respeitada classe como o derradeiro cavalheiro negro das sombras. Ora, aconteceu que ele foi longe demais há coisa de dois anos atrás, um dos seus subordinados ou servos violou os direitos de uma nobre atlante qualquer, uma flor de beleza latina lindíssima, posso-lhe garantir que toda a Berlim nem tinha visto tal criatura tão formosa e bela como aquela inocente e frágil menina. Então essa jovem baniu-o para o Limbo dos Espelhos, perdeu os poderes, já ninguém deve reconhecê-lo, está feito em pedaços. Mas, pelo menos, dizem que até Dezembro já deve estar cá fora na Atlântida.
O seu padrasto não tarda a encontrar-vos…
Agarrando-o pelo braço, olhei-o com desconfiança, e, com a minha chama muito quente a pesar-lhe no corpo, forçei-lhe os movimentos.
- Espere aí! O senhor é amigo do meu padrasto?
Antes de saír e ir-se embora da casa antes que o sol começasse a despontar no horizonte, ele caminhou lentamente, até que, ao chegar às portas, fitou-me com aqueles olhos frios aterradores, e, subitamente, não me conseguia mover, estava ali presa ao chão feita estátua, e, voltando atrás, tocou no meu queixo ternamente, como se quissesse transmitir algo muito obscuro.
- Digamos apenas que eu sou o porta-voz da desgraça, minha querida. – Disse ele num tom assustador, estalando os dedos, e, assim que o fez, as portas abriram-se de par em par, e, satisfeito, lançou-me um beijo. – Espero que aproveite os dias de liberdade que ainda lhe restam, Menina Jessica.
Dizendo isto, saiu e as portas fecharam abruptamente com o vento do Norte, levando consigo o cheiro da hortelã-pimenta dos cigarros do enigmático bruxo…
Que quereriam aquelas últimas frases dele dizer…? Seja como for, ele não pode chamar “minha querida” a mim! Nunca ninguém me tratou por diminutivos ou nomes carinhosos, por que razão isso mudaria agora…? Não tenho intenções nenhumas de ser chamada por nomes patéticos como “amorzinho” ou “paixão”, como o Pedro me trata, e isso põe-me bastante chateada, porque afinal, um homem não pode ser um homem? Não poderá tratar a sua amada pelo primeiro nome e já basta? Cá para mim acho que ele só está a brincar, mas não devia ver tantas telenovelas brasileiras como “América” ou “O beijo do Vampiro”! São completamente disparatadas, é claro que têm a sua piada e humor, mas quer dizer: essa coisa dos nomes carinhosos põe-me logo a vomitar.
Por falar em aspectos, os cyborgs são tão giros…Se não fossem leprosos, tenho a certeza que os Bruxos os detestariam na mesma. Os nossos anjos negros são cá uns ciumentos e vaidosos que nem te digo! É porque os Cyborgs têm aquele ar latino super mexido e simpático, e não têm cara de maus como a maior parte dos Bruxos, mas pronto, vou dizer-te quais são os melhores lugares que eu costumo frequentar quando não estou a estudar ou nas aulas ou no Château.
Para os Bruxos, é só preciso dar uma volta na vizinhança, na Cidade Perdida vivem muitos bruxos que adoram-me! No Anel da Serpente? Não, esse é o local de caça da bruxa da Serpente de Fogo. Em Cyborg Town, o único restaurante que – talvez ainda – permita bruxos é “O Cavalheiro”. De resto, os feiticeiros brancos atlantes não gostam nada dos Bruxos porque estes espantam a clientela cyborg. E isto tudo começou porque nós, a nossa classe aristocráctica e poderosa não podia ver uma saia de uma princesa da classe dos nobres atlantes e logo começavam com as íris a saírem das órbitas, com língua de fora, dando corda às botas pretas, para tentar sugar a energia mágica da pobrezinha e a dizerem “Nós não somos nenhuns monstros, venha connosco, minha bela criança, venha, siga-nos, o meu carro está à espera…” ou qualquer coisa parecida, e davam doces às suas vítimas mais novas para elas os seguirem até às limusinas pretas lustrosas e enormes. Bom, o que aconteceu é que os Cyborgs, a guarda pessoal dos Nobres, não gostou nada dos Bruxos estarem-se a atirar à força toda às belas mulheres, adolescentes e meninas atlantes, e, a luta pelo poder começou, com o Almirante Euncätzio, o mais jovem, malvado e poderoso bruxo de todos os bruxos do lado – obviamente – dos Bruxos, que afirmavam que tinham sido os Cyborgs e não eles a violarem as pobres raparigas; com o Pasteleiro e Chocolateiro James Dark Sword, a qual os Bruxos tinham retirado o título de conde e de general máximo da Polícia de Inteligência de Cyborgs, ou, vulgarmente chamada de Gapi, diminuitivo de Guarda atlante policial inteligente. Os doces adocicam a vida deste homem sério e misterioso, de oito mil anos, com o aspecto de quarenta anos, olhos verdes esmeralda generosos, corpo robusto, cabelo de fogo espetado, sempre escondido no chapéu a cobrir o rosto já mantido em segredo pela bizarra máscara de porcelana colada à sua pele rosada, com o alto relevo de um florete e de uma rosa atravessando a referida arma. Ao contrário do perverso e ezquizofrénico Almirante Rewbertan Euncätzio, que morreu, morto por um dos seus próprios superiores na terrível Guerra de Poriavostin. Toda a gente, quando o vê, ou pelo menos o seu busto na cara dos euros da Atlântida diz que ele é parecido com o imperador romano Júlio César, bem, só entre nós, ele nas moedas não se parece nada com o Júlio César, valha-me Deus! Como é que as pessoas podem gostar daquele louco! O homem tinha as ideias um pouco mal colocadas na cabecinha! Percebes o que quero dizer? Tinha uma voz muito estranha e apelativa para um jovem de trinta anos, algumas vezes era gentil e simpático para com as crianças, outras era frio e adorava vestir-se de mulher nas suas psicóticas orgias enquanto ria-se muito alto, com um geito partircular, como se estivesse a balir como uma cabra! Não sei se hoje isso é sinal do Diabo, mas tanto como não sei se o Goldtheeth tem uma língua de cobra, mas uma coisa tenho a certeza, todos os que arrastaram a Atlântida para a guerra em que está vêm todos do Inferno!
Todos eles! Mas, “quando os Bruxos nos fazem a vida negra, vêm os Cyborgs para limpar de uma vez a treta!” É um ditado popular atlante, e isso significa que não podemos sempre deixar-nos abater pelas pessoas más, e olhar para as coisas boas que as pessoas boas têm. E mais tarde ou mais cedo, irás encontrar o fim do arco-íris, e amarás verdadeiramente, pelo menos é que o Dark Sword diz. Tem muita razão, e sabes que mais, as bruxas deviam ouvir mais estes sábios e divertidos amigos, pois são eles que condimentam o lado doce e divertido da vida, dando vida aos bombons e sobremesas, os bolos , enquanto os Bruxos põem a pimenta, o caril, o vinho do Porto e o champanhe na mesa, nós, Bruxas, preparamos o prato da carne, eh, eh, eh…Os Nobres e as Fadas limam os peixes; os Demónios adoram pôr uma azeitona ou outra na salada; os Deuses fazem a sopa, e os Feiticeiros Brancos preparam as entradas. E aqui está a maravilhosa ceia de classes da Dimensão Mágica. Está giro não está esta metáfora da sociedade atlante? Fui eu que a inventei.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Um bom exemplo de um bruxo quase no nível de Assassino do Amor!

Olá! Tiveste saudades minhas?

Estou tão ocupada com os exames que nem tenho tempo de te escrever. Mesmo primeiro de estudar e de me arranjar e de maquilhar...Preparar as anotações....Bom, uma vida de jovem bruxa é assim....Eh, eh, eh...!
Não consegui adivinhar o que o sonho significava, pois este tinha sido interrompido pelo chiar de uma limusina a travar, derrapando sobre a gravilha do cimento novo, acabado de secar há dois dias atrás e parar junto aos grandiosos portões de bronze do Château von Tifon. Buzinou seis vezes, passados dois minutos buzinou mais 3 vezes, e após o mesmo período de pausa, repetiu o mesmo gesto mais uma vez só, uma espécie de código indecifrável. Parecia uma mensagem em morse, e levantando-me, reparei que à excepção do quarto da Tsuna e da Sol, toda a casa tinha acendido automaticamente as luzes e arranjado as decorações para hóspedes e convidados, tudo num brinquinho: em sítios onde havia pó há meia-hora – a duração do meu sono – havia verniz reluzente e lustroso, o chão de mármore tinha sido substituído por soalho de madeira verde-escura e carpetes escarlate e vermelhas apelativas com a frase “Seja Bem-vindo ao humilde Château von Tifon!” Havia correrria por todos os corredores para ver quem seria o primeiro a chegar lá em baixo no átrio para receber o ilustre hóspede, principalmente o General von Tifon e Nälden, que desciam à pressa os corrimões, falando um com o outro meio nervosos, mas com um sorriso de orgulho nos seus rostos. Decidi segui-los, abrindo a minha porta e vi também as minhas irmãs, já sabendo do que tratava, rindo-se baixinho, um pouco histéricas do que se iria passar.
Porque estariam tão felizes…? É este o resultado de chegar tarde, nunca se sabe o que se poderá esperar do resto da noite, isso é coisa garantida aqui em casa. Já saberia que tipo de homem buzinava a altas horas da noite para ser recebido pela nossa família, já o iria saber…
Bocejando continuamente, desci melancólicamente as escadas, espantada com o reboliço que havia só por causa de uma Rolls Royce preta comprida como sei lá o quê tinha parado junto ao nosso Château. Que mistério haveria por detrás daquele carro tão negro…? Pensando nisso, apertei o nó do meu roupão chinês, e, ao guiar-me pelas luzes ainda foscas do corrimão por causa de estar habituada á escuridão durante algum tempo, julguei se a minha vida não fosse mesmo assim, aliás, se a vida de todos os atlantes, quer bruxos ou cyborgs, fosse assim: andar na escuridão, com luzes foscas cómicas a guiar-nos num corrimão estreito numa escada em caracol, até encontrarmos o nosso outro eu, um gémeo diferente, uma alma que se parece connosco…Uma…Uma…Um gémeo diferente mas com uma alma siamesa!
E como nós, bruxos e cyborgs conseguimos isso…? Guerras. Exactamente, guerras.
As guerras têm desenvolvido as nossas tecnologias, cultura, turismo, economia, comunicações, etc… E, como estas guerras começaram, deves estar a perguntar. Vou-te responder: não sei. Mas, há uma coisa que sei acerca de visitas a meio da noite. Pode ser o Assassino do Amor. Cá entre nós, von Tifon, não me preocupamos lá muito com ele.
É ele que sabe qual será o melhor bruxo para nós, as mulheres e senhoras da família, o nosso marido, afinal, é ou não é ele o pai e Rei de todos os bruxos e bruxas? É por isso, que decidi não descer mais as escadas, mas mal tinha parado de descer as escadas, vi que estava no átrio. No fundo, estava um senhor, com um chapéu preto de feltro para não se ver a cara sedenta de energia mágica de mulheres, botas pretas de cabedal que ressoavam no solo de madeira, e uma capa muito grossa preta lustrosa de couro sinistra, alto, para aí com um metro e setenta oito, a falar animadamente com o Tio Set e com o Primo Coutinho, já vestidos adequadamente para a honrosa ocasião. Não é todos os dias que recebemos a feliz e maravilhosa visita de um mestre da magia negra antiga proíbida.
Consegui apanhar um murmúrio, mal me viram, logo se calaram, e, ao se virar para mim, consegui ter uma perspectiva arrepiante muito perto dos seus olhos frios. Logo vi que não era o Assassino do Amor, apesar do bruxo ter aquelas vestimentas tão arrepiantes e esquisitas, o ar que respirava ainda se podia dizer que era um bruxo normal., Dizem que é costume os bruxos terem olhos azuis muito assustadores, porém, eu tinha a ligeira impressão que aqueles olhos não seriam lá muito vulgares entre a nossa classe.
Estremeci um pouco ao ver que ele me beijava a mão cavalheiramente, retirando docemente os seus lábios das costas do meu palmo delicado.
- Encantado, Menina Jessica. – Comentou ele sorrindo para mim, suspirando provocadoramente e fitando-me com um ar galanteador. – A sua energia é tão forte, um pobre e velho coração como o meu já não aguenta tamanha beleza. Felicitarei de imediato o sortudo que tiver o privilégio de a ter como só dele!
O meu primo rapidamente conduziu o nosso convidado até a Solaris e a Tsuna, que logo fizeram uma vénia profunda com as saias, e, estenderam as mãos direitas solenemente, com um olhar inocente, pensando se o estranho não lhes daria também um beijo nas mãos, e assim fez. Ajoelhando-se ao depositar os joelhos no chão da carpete, pondo as mãos direitas de ambas junto do seu rosto duro, e esmagando os seus lábios primeiro na mais nova das irmãs, depois na do meio, levantou-se rapidamente, e esfregou as mãos cobertas por luvas escuras de contente, sorrindo para o primo. Não há nada mais perigoso que um homem charmoso com cem anos acima, com um discurso tão doce como gomas de um quiosque e lábios mais suaves e escorregadios quanto açúcar de cana com chupa-chupa de framboesa, já me estou a derreter!
- Que pérolas mais adoráveis. – Comentou ele. – Hão-de ser abençoadas com três anjos da guarda perfeitos e jovens. Agora, será que podíamos discutir acerca da ovelha negra…
Ao entender do que o misterioso bruxo falava, os outros dois apontaram os seus indicadores para as portas da biblioteca, que se abriram pela magia do primo e do tio, e, andando para a divisão erudita do Château, olhando os três ternamente e com uma expressão de preocupação nos rostos bondosos, e, ao se despedir, reparei que o bruxo lançou-me um beijo cortês como se dissesse “Lamento imenso a sua perda, Jessica.”
Quem quer que fosse aquele homem, era muito bom e gentil da parte dele ter pena de nós, e os seus olhos…Parecíam-se tanto com o de um pai, será que ele também teria sido um pai quando era novo…?
Estou com tantas saudades da mamã e do papá...