domingo, 18 de abril de 2010

Um castelo transformado num cemitério de concentração! (Parte I)



De manhã, encontrei-me deitada numa grande cama de seda branca, vestida com roupas de noite azuis-claras, e reparei nas duas janelas grandes do tamanho duma locomotiva que espelhavam o Sol a brilhar resplandecente por entre as montanhas dos Alpes das Sereias! Deus do Céu! Não tinha sido um sonho!


Ainda estava naquele palácio de ilusões, porém, uma sensação de nostalgia invadia o meu forte espírito. Ainda me lembrava tão bem daquele sentimento tão bonito que tivera na noite passada ao adormecer naquele sofá tão adequado à minha exaustão; daquelas duas figuras de pedra divinais que seguravam em ânforas com rosas; daquele tecto de ouro, que até parecia ser feito de mel; daquele estranho nevoeiro por entre o mármore cinzento e as tapeçarias cheias de cores vivas... e daquele canto tão misterioso e doce que me fez um sono incrível! Deviam ter sido os fantasmas das ninfas que tinham sido mortas…!


Lembrava-me de tudo isso, mas o mais bizarro é que não sentia vontade me ir embora, aquele sítio era espantoso, era como naquelas histórias do Assassino do Amor!


O típico vilão atlante paternal e protector…Porque é que sentia pena dos Bruxos que viviam aqui, afastados do mundo. Estaria a ficar com medo……?


Era como se aquele fosse o refúgio perfeito para o meu Padrasto ou para qualquer bruxo!


Logo que saí da cama, como já esperassem a minha chegada, chegou pelas únicas e grandes portas do salão um homem gentil com uma túnica branca e com uma posição rectilínea e solene. Ou aquilo era o Inferno, ou o Paraíso! Os seus olhos verdes fixaram os meus e sorriu com um ar simpático. Depois duma noite tão turbulenta, era mesmo de alguém como ele que eu precisava. Alguém para me dar explicações!


Retribui-lhe o favor com um sorriso mesquinho e olhei-o com desprezo, pondo as mãos nas ancas sensuais.


Estava mesmo chateada, e se alguém me pudesse dizer o que vinha a ser aquilo, esse alguém era aquele totó com cara de santinho.


- Desculpe, mas isto aqui não costumava ser uma prisão obscura e fria? – Perguntei-lhe num tom sarcástico. – Ou será que estou num retiro para homossexuais pedrados?


O rapaz de vinte anos anuiu a cabeça, ainda sorrindo como se fosse um anjo, penteando o seu cabelo louro.


- Sim, senhora duquesa. – Disse na sua voz clara e jovem com um sotaque vienense, estava mais claro que água que em tempos ele também fora um bruxo. Outro fantasma. Desta vez um renovado soldado alemão. Era menos assustador. – Tem razão, era uma prisão escura e sem alegria! Até que, há trezentos anos, ele apareceu!


Eu, a perder as estribeiras, quase que tinha vontade de rasgar a minha camisa de noite branca qual louca prostituta, mas não fiz isso, para bem da sanidade daquele palerma.


Às vezes, o mau feitio e o sarcasmo da família sobem-me à cabeça e aí é que eu começo a ser mesmo víbora. Sabes que eu era loura encaracolada, mas para esconder isso, pintei o cabelo de ruivo, até já experimentei pintá-lo de preto, mas prefiro o ruivo. É muito mais selvagem, senão os colegas, para além de me chamarem víbora malvada, ainda me chamariam de “cabra loura”! Mas quando me irrito, ainda se vê, aquilo a que o primo tão fanaticamente chama de “aspecto ariano” na minha cara, e naquele momento, o aspecto ariano estava a sobressair-se e muito.


Soltei um risinho escarninho, e olhei de alto a baixo para o tal idiota de branco com desprezo, qual grande actriz de Hollywood.


Em algumas alturas, penso se não serei cruel demais para aqueles que estão abaixo de mais....Não! Eh, eh, eh!


Apontei-lhe para o tronco musculado com a minha unha longa de bruxa e ri-me mesmo à bruxa, o que o fez tremer um pouco.


- Oiça lá, meu grande querido: chame imediatamente o Rei dos Bruxos e previna-o que eu estou aqui. – Ameacei, agarrando firmemente no colarinho dele. – Com sino; campainha; telefone; trombone; trompeta; a gritar; ....Não me interessa como o vai fazer! Mas faça-o, e DEPRESSA!


O pobre do rapaz magricela engoliu em seco e não teve outro remédio senão desatar a correr pela saída todo a tremer e cumprir estreitamente as minhas ordens.