domingo, 4 de outubro de 2009

O Vale da Morte - o exílio da Europa...

Desculpem lá por me ter atrasado a enviar as cartas à Tifongirl. Esta democracia já não é o que era dantes. Eu sei, ela é a minha enviada nas histórias que eu escrevo, mas também, podia não ser assim tão respondona!

Enfim. Tive de assinar uma autorização - ou confirmação, ou lá o que aquilo é - a jurar pelos meus poderes de bruxa que jamais difamaria o nome de Sua Majestade, o Rei "Kzenah" (diminuitivo do dialecto eslavo bellante para Kasimir) Ivanovitch Malaghetyiev - é um nome muito estranho, eu sei! Mesmo assim, temos de respeitá-lo, porque, com o Rei dos Bruxos, ninguém brinca em serviço! É que eu não devia ter utilizado a forma familiar abellantizada de "Kzenah Malagheti", e, pelos vistos, isso enfureceu muito Sua Excelência. O que eu devia ter utilizado era "O Nosso Pai, o nosso Camarada, o Senhor Kasimir Ivanovitch Malaghetyiev". Sabia lá eu isso. Graças a Deus, Sua Majestade é um porreiraço, e raramente se zanga!

Portanto, tal como toda a gente esperava - e peço, uma vez mais, muitas desculpas por ter demorado em questões secundárias sobre a parte secundária da minha história - aqui vai a continuação da tão esperada aventura da Jessica Von Tifon no Castelo Negro:

Lembrei-me das palavras encorajadoras da Serpente de Fogo nos seus delírios enquanto fumava haxixe «...Enquanto mulher, e enquanto bruxa, a valentia nunca me falhou, muito menos a minha beleza, portanto, ao entrares na antiga morada do nosso querido e amado Rei dos Bruxos, lembra-te das tuas qualidades e feitiços mais poderosos e repete para ti mesma esta frase “os meus peitos nunca vacilam perante nenhum perigo!”....»
Afinal eram patéticas, essas palavras, mesmo assim, era preciso tentar qualquer coisa naquela altura. Respirei bem fundo, levantei-me de imediato e avancei em passadas rápidas e nervosas qual leoa determinada em direcção ao lago.
Mal eu sabia o que me iria impedir! Subitamente, uma figura tétrica e branca surgiu no meio do lago, pairando fantasmagoricamente sobre as águas, enchendo-o de sangue, e a mim, enchendo-me de satânico horror, deixando-me de joelhos, murmurando “Deus nos livre!”
Cabelos flamejantes desgrenhados a voar contra o vento e olhos azuis quais dois fogos-fátuos, envolta em roupas brancas rasgadas, a sangrar na garganta com uma marca de uns lábios pecadores, com cornos pretos a se erguer da cabeça pálida como a cal, tal seria a fantasma da violada e pobre da minha mãe Katharine Von Tifon...?!
Todos os meus cabelos ficaram em pé mal viram aquela visão terrível, a sua voz tenebrosa, porém, lindíssima de se ouvir, murmurou com carinho:
- Minha querida filha, volta para trás, por amor de tudo o que amas nessa tua despreocupada vida, volta para trás...! Ou será tarde demais....tarde demais...
A minha boca conseguiu apenas pronunciar com dificuldade, da quão aterrorizada estava com aquele infernal acontecimento:
- Tarde demais para quê ?
Porém, logo a imagem se desvaneceu com um fumo cinzento e espesso qual uma canja de galinha de cinco litros, seguida por um ribombar de um trovão assustador e uma gargalhada de um homem familiar.
Os meus olhos arregalaram-se e as minhas pernas apressaram-se a dirigir-se para a saída daquele sítio horrível e melancólico. Pensei se não podia utilizar a minha vassoura, ou talvez a minha fiel sombra, mas isso seria em vão: a sombra não teria qualquer poder num lugar onde nem sequer há luz sobrenatural, e a vassoura estava inutilizada devido ao gelo que faz no Vale da Cabeça da Morte. Agora, só as minhas pernas me valeriam para sair imediatamente dali. Infelizmente, no sítio onde a trilha para a saída do vale e dos Alpes das Sereias estava estranhamente bloqueada por pinheiros altos e abundantes. Donde eles teriam saído? Pus a mão forçosamente na cara, nada contente por aquele “acidente”. Ora que essa! Porque razão as coisas têm de ser tão complicadas de se fazer?