terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os Filhos dos Três Deuses....




Segundo vários pergaminhos e lendas bellantes, as crianças de segundos casamentos da Trindade Bellante - Tsesustan, Tezcatlipoca e Jetwas - são consideradas como as provocadoras de todo o Mal, os tentadores. Mas também são eles os heróis de muitas histórias e aventuras fantásticas.






O Castelo Negro estava recheado de pinturas nas paredes a referir a muitas dessas peripécias, as várias Guerras dos Dragões, dos treze filhos de Jetwas, metade dragões, metade humanos, dos dois filhos ilegítimos de Tezcatlipoca, de Lefnig - a Sombra, filha ilegítima de Tsesustan - e de Baladeva, o Poderoso Deus, filho de Tsesustan e de Swertyhina, que se conseguia transformar num cisne branco e esmagava demónios com as suas próprias mãos.



Eu nunca fui lá muito fã desses deuses. Primeiro, porque são histórias muito assustadoras, segundo porque o Pedro é sobrinho de Tezcatlipoca, e que eu saiba, ele nunca me disse que sabia voar ou levantar coisas que tinham cem vezes o seu peso! O Pedro é só um rapazinho que, no meio da Bellanária actual, vende doces e outros pastéis.



Mas é claro, as minhas colegas têm sempre de ficar caidinhas por homens fortalhaços, aqueles guerreiros que se pavoneiam pela Cidade dos Deuses a marcharem, de tronco nu, com os apretechos todos dos antigos "uniformes aztecas" do tempo em que a gente ainda falava Nahuatl. Eu estou a falar dos soldados da SPV, a Polícia de Vigilância da Serpente, aqueles bruxos horrorosos que se acham ser filhos dos Naga - os tal treze filhos de Jetwas, que produziram essa raça maldita e "suprema"!



É só haver uma marcha em Cyborg Town, que as minhas amigas começam a derreter todas. Já ouvi dizer que a farda faz o homem, que o poder é um potente afrodísiaco e tudo isso, mas aquilo é demais!



Enfim, eles que se entretenham com os tais carnavais, eu não sou dessas. Eu estou aqui para estudar magia, (ter de aturar mais uma vez algum professor) e, é claro, ver se o meu padrasto anda à coca.



Mas cá estou eu a divagar, divagar e divagar, quando vos devia contar o que é que aconteceu comigo no Castelo Negro,...ou se calhar não devo...Bom, se quiserem saber, eu não vos censuro.





Respirei bem-fundo, à medida que conseguia livrar do empecilho daquele feiticeiro novinho de túnica e branca, vi que o meu quarto estava decorado com várias histórias sobre os Filhos do Deus do Perto e do Longe [Tezcatlipoca] e uma delas passava-se naquilo que é agora o Districto mais a sudoeste da ilha principal Bellanária, a Zona Manuelina. Este districto chama-se assim porque foi consquitado pelos Portugueses em 1500, e logo foi recuperado pelos filhos de Tezcatlipoca em 1600. Cem anos de cultura portuguesa fizeram com que os portugueses tentassem fazer o mesmo que os Espanhóis fizeram aos Aztecas no actual México. Mas, desta vez, falharam. Acontece que as gentes daquelas pequenas costas bellantes eram muitissimo devotas à fé e ao Império Bellante, e assim, com ferro e fogo, conseguiram, com tudo o que tinham, expulsar os portugueses.



Em 20 de Setembro, comemora-se esta independência da província da Zona Manuelina, mas que ficará para sempre com este nome. É uma pena, porque o antigo nome também era muito bonito: Costa dos Montes de Bronze. Como se pode calcular - e aí, eu fiquei muito espantada ao ler aquilo tudo que estava escrito nas paredes bellantes, pois aquilo que vos estou a contar foi aquilo que li através dos códices pintados nas paredes daquele maravilhoso quarto - os bellantes daquela região tinham uma terra fértil em esmeralda, jade, bronze, obsidiana e cristal. Por isso mesmo, aquela terra atraía tanto a cobiça alheia. Os Portugueses diziam que era para espalhar a fé cristã, mas a verdade é que só queriam encher os bolsos e destruir a linda cultura bellante.



Dizia a lenda que o filho de Tezcatlipoca - já não me lembro do nome do filho - tinha, com a sua flauta de bronze, expulsado os portugueses várias vezes das terras da Costa dos Montes de Bronze.



Uma história muito épica, sim senhor. Parecia mais uma versão da época dos Descobrimentos da Batalha de Stalinegrado ou da Batalha de Little Big Horn: contra uma força desconhecida, os portugueses avançaram que nem vespas furiosas, desconhecendo as estratégias fabulosas do exército bellante. E não, não houveram nenhuns prisioneiros nem mortos por parte dos portugueses. A verdade é que os Bellantes tinham uma técnica: assustavam com as suas armas mágicas e os vários estratagemas que tinham aprendido dos japoneses e dos vikings. Contudo, nenhum deles queria matar um único português sequer. Segundo as pinturas que eu lia, muito perplexa com tudo aquilo, os portugueses "não tinham corações demasiado puros para serem sacrificados". Eles preferiam cortar as cabeças, para ver se os portugueses "tinham juízo suficiente no coração." Um acto de mera piedade, ou uma mera diversão pueril para os guerreiros bellantes, que, com os seus tambores, gargalhadas agudas e graves e cânticos espantosos e poéticos, conseguiam assustar o enorme exército Português.



Os portugueses, por seu lado, tentavam atirar o maior número possível de balas, mas era quase impossível acertar nos esquivos bellantes, que mais se pareciam com acrobatas do que guerreiros e que feriam, de um só salto, cavaleiros, um a um, numa questão de segundos. Penas voavam, cabeças eram atiradas para o chão. A frota portuguesa lá tentou ajudar, mas não valeu de nada. Umas quantas flechas explosivas neutralizaram por completo os sofisticadissimos canhões portugueses.



Em terra, um ambiente cinzento e desolado vivia-se nas tropas portuguesas, que, aterrorizadas de medo, decidiram fugir. E havia uma frase em português que dizia: "Fomos Expulsos pelo Diabo deste inferno, e Se Deus tivesse piedade de nós, Nunca teria permitido tantos Feridos!"



Fiquei parva perante esta narração sangrenta. Os bellantes não mataram ninguém, apenas deixaram os portugueses feridos, aí, sem mais nada, sem cura. Isto é pior que matar alguém. Mas não sei, julguem vocês. Talvez eles pensassem que os portugueses não mereciam ser escravizados, muito menos mortos.



A única coisa que fiquei admirada é como o Pedro pode ser sobrinho de um tio como aqueles. Não sei...sinceramente...não sei.



Fiquei tão emocionada que, depois de ler aquilo, voltei a deitar-me na cama. Segundo as testemunhas portuguesas, muitos soldados portugueses desapareceram. Na opinião dos bellantes, os portugueses tentaram deitar fogo aos templos, mas não conseguiram. E a verdade é que os templos ainda estão ali....!