quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O Jovem Amor Atlante

Mas o que interessava é que o Nälden já tinha perdido a timidez, com um sorriso carismático, voando suavemente no seu tridente negro, e o ambiente romântico era favorecido por uma linda serenata com um acordeão e um violino, uma serenata à atlante, a típica música de amor que todo o feiticeiro atlante dedica pelo menos uma vez na vida à sua amada. O amante atlante é em duas palavras aquele tipo de homem misterioso e encantador, o cavalheiro gentil que nos socorre em qualquer sarilho; mas que não é nada frio, ao contrário do inglês. Carinhoso, é a sua verdadeira alcunha. Acho que nesses dias de Outono, nem quentes, nem frios, em que as as lindas folhas caem qual leves penas nos passeios da Floresta de Cristal é que se consegue ouvir as ternas declarações de amor dos simpáticos namorados atlantes às suas amadas através da eterna voz do inocente "Sami" nas trovi tocadas pelos violinos, pequenas harpas atlantes e pelos acordeões. As trovi é um tipo de baladas tipicamente "made in Atlantis", onde o cómico intrepecta um papel indispensável. O próprio Assassino do Amor componha e dava as letras para todas as bandas sonoras das diversões de Cyborg Town. Estas baladas e serenatas têm a características de serem feitas no período em que o coração do primeiro Rei dos Bruxos ainda não estar... digamos enferrujado. Têm mais de vinte mil anos e ainda são cantadas por vários artistas de rua cyborgs, e que sabem muito bem quem compôs estas canções.
Não é irónico que canções que no Reino de Terror do Assassino do Amor tenham sido consideradas aristocrácticas e privilégio da classe dos Bruxos possam agora ser tocadas e cantadas pela plebe dos Cyborgs? Isto faz-me esquecer os meus problemas, principalmente a mais famosa de todas as trovi, dedicada a um muito dos nomes atlantes característicos - Katherine, que em atlante arcaico significa "Papoila de Verão ":

Papoila de Verão,
Da primeira vez que te vislumbrei,
Turvou-se-me a visão;
Será culpa de quem?
Faltou-me a audição!
Adivinha minha querida,
Não havia naquela noite comigo, alguém?
Dessa primeira vez,
Dessa maravilhosa vez, eu nunca esquecerei!

Da primeira vez que te dei a mão,
Senti-me enamorado;
Senti-me relaxado;
Senti-me extasiado;
Senti-me desnorteado;
Senti-me embriagado,
No doce perfume do teu amor...!

Ò papoila de Verão,
És cada noite o objecto do meu ardor,
Por quanto tempo mais terei de suportar esta dor?!
Linda papoila de Verão,
Bate cada vez mais forte o meu coração!

Termina esta enfermidade com a tua poção,
Uma vez tomada, jamais se poderá deixar,
Esse encantador vício,
Dos teus lábios provar...Linda papoila de Verão!


Ao encontrar a Sara, a palidez habitual de bruxo do Nälden mudou para uma certa felicidade e corou um pouco, fazendo que atrás das costas estivesse na sua mão um ramo de flores.
Sorriu muito contente e, flutuando no seu tridente, saiu confiante, balançando-se ao voar, e apresentou-se, fazendo um voo rasante apressado perto das árvores e desajeitado, qual insecto atraído pela bela luz do luar na fonte perto de nossa casa. Apenas a aterragem forçada perto duns arbustos correu um pouco mal, consequentemente, este caiu de cabeça certeira na lama, com o chapéu bicudo castanho de couro todo enlameado e cheio de folhas de todas as cores, mais parecía um espantalho magricela deixado na floresta.
Uns passinhos delicados de cristal familiares aproximaram-se da ordinária poça, e, numa questão de minutos, a linda princesa chegou ao sítio onde estava o bruxo todo sujo e distraído.
O jovem homem de vinte e cinco anos engoliu em seco, de cabisbaixo, como se tivesse perdido uma batalha. Que diria uma donzela tão fina e bonita quando o visse daquela forma tão desleixada...?
Contrariamente ao que ele pensava, o rosto formoso da menina esboçou um sorriso maravilhoso e tão precioso quanto um tesouro no fundo do mar; seguido de um risinho agudo tão lindo quanto um chilrear duma rola. Ele tinha-a feito rir.
Encolhi os ombros, soltando um risinho menos bonito que o da “Princesa Sara”, piscando o olho, satisfeita com os esforços infrutíferos do Nälden, a tentar ser um esplêndido e garboso bruxo da elite. Bom, ainda era um começo, mas ele já a conhecía de alguns anos. O problema é que não se viam há mais de dois anos, segundo o próprio tenente me tinha contado. O pobre rapaz alemão tem um pequeno fraquinho pela princesa, só não sabe expressá-lo.