domingo, 18 de maio de 2008

A Avenida dos Loucos


A avenida principal da Atlântida é uma rua lindíssima, com cerca de três quilómetros de comprimento e quinhentos metros de largura, a Gerrnral Pratizx, que é assim o nome oficial desta, é cercada por vários edifícios barrocos e do século dezassete, com as suas fachadas clássicas a destacarem-se entre as luzes da noite, colocadas especialmente ao canto esquerdo e direito do pequeno jardim rectangular vertical, que separa quase naturalmente a avenida, a brilhar docemente, quais inocentes estrelinhas. Nos passeios compridos da avenida, vendiam-se várias coisas deliciosas e outras guloseimas, pelo que, em todo o lado, conseguia-se cheirar o aroma a canela e a mel derretido, combinado com mostarda e outras especiarias picantes, que eram manufacturadas ali mesmo, na rua.O barulho das gentes a andar dum lado para o outro era confundida pelo tinir lindo dos acordeões que embelezavam a entrada do crepúsculo, com o Sol a desaparecer por entre as montanhas. O Kolmanatry, o típico e galante bruxo atlante, de roupas garridas, com um longo casaco de pele de urso vermelho-púrpura de dois metros, com uma gola circular elegante duma pele de tigre branco e prateado dos Alpes das Sereias, com um chbicudo verde-montanha com cinco penas de pavão como adorno, botas de cano alto vermelhas de cabedal, e olhos verdes sedutores, é o que entoa belas serenatas ao som duma lirnat, uma pequena harpa de origens remotas, com um som divinal, e normalmente, é aquele que anuncia a festa e a loucura da noite.Na sua forma gentil, ele tentava oferecer aos amantes – que, por vezes, passavam perto da esquina – um ambiente exclusivamente seu.
A impressão que aquilo dava não era praticamente assim tão positiva, os meus colegas da minha classe, os Bruxos poderiam achar divertido, eu achava doentio...!
Havia algo de errado com aquelas luzes, música e parada toda! Demónios e fadas cumprimentavam-se com sorrisos de igualdade e fraternidade. As mulheres-demónios de cabeças que se podiam esticar como se fossem pastilha-elástica elogiavam os fantasmas; os Cyborgs e bruxos contavam piadas uns aos outros à medida que se embriagavam em cerveja e vinho qual adolescentes acabados de chegar a uma praxe.
As bruxas europeias estavam a segredar falsas promessas de amor nos ouvidos de magos africanos e sul-americanos. As inibidas deusas hindus ficavam completamente fascinadas com as declarações dos demónios dos USA e os bruxos russos compravam coisas magnificas às sereias mediterrânicas....Imagina uma série de pessoas a falarem todas as línguas que existem no mundo, agora multiplica essas pessoas por dois biliões e acrescenta uma série de poderes extraordinários e sobrenaturais, assim, terás uma clara ideia do que era essa torre de babel com cinquenta km’s quadrados em festa completa.
Por todos os lados, ouviam-se gargalhadas de divertimento, canções completamente disparatadas e inventadas logo no momento misturadas com pregões dos vendedores de línguas de Euncätzio – um cachorro bifurcado em brasa polvilhado com sementes de mostarda, banhado em molho de cacau com café, uma verdadeira especialidade desta noite que eu realmente adorei!
Um amontoado de gente apinhava-se em ambas as margens da avenida, aquele mar de multidão esperava alguém importante, e havia um constante murmurinho por parte dos espectadores.
Pelo que parecia, ia haver uma parada qualquer. Os barulhos das caixas de rufo, dos trombones, dos bombos e dos gritos de saudação já se escutavam ao longe.
O compasso binário a que a música tomava agora um certo nível sensível para os ouvidos, e eu, afastei-me da calçada de sangue.
Entre os espectadores, estava eu e a família Von Tifon. Era um dia de festa para todo o país, todas as classes ali presentes estavam em grande expectativa para ver o novo sucessor do Rei dos Bruxos.
Rapidamente, vários saltimbancos de várias nacionalidades – na sua maior parte demónios com uma fealdade, ou cómica ou horrífica – vieram a cabecear a parada enorme que se fazia naquela enorme praça.
Anunciavam a chegada da Primeira-dama dos Demónios: a Gueixa Lacrimosa, a mulher-demónio mais corrupta e malévola de toda a Atlântida, que, apesar de não ser permitida a sua entrada no Anel da Serpente, vai entreter as gentes que não têm convite para a gala enquanto apresenta na praça a festa.
Enquanto a maior parte dos da sua classe estão a morrer, a Senhora da Droga – é o seu apelido nas ruas de Cyborg Town – ganha montes de dinheiro com os seus negócios com grupos terroristas. Até dizem que tem vários acordos com a SPV e os Bruxos.
Mas, como a Gueixa é uma mulher que joga com um pau de dois bicos, alguns dos atentados de forma guerrilheira por parte dos Cyborgs têm a sua assinatura.
Norte coreano de gema, gosta de se dar com tudo o que tenha a ver com dinheiro e poder, desde que tenha lucro; quer seja fascista, comunista, cyborg, democrático, de bruxo... Ela tem uma mania de se envolver em tudo, quer seja um simples jogo de cartas, ou um evento de importância mundial.
Raramente se dá com mulheres, por isso, sempre que está com alguém, vem sempre acompanhada de uns gorilas vermelhos e demoníacos. E, pelos vistos, esta festa não ia ser excepção.
Ao longe, podia-se ver o seu pescoço de mais de dez metros a esticar como uma pastilha elástica amarela de uma espessura de cinco centímetros.
Estava a envergar um elegante quimono azul-cobalto com lantejoulas de madrepérola, que tinha um decote bem moderno de rosa-choque sem mangas onde se vislumbrava o seu peito vistoso. Os olhos pretos rasgados inspiravam alguma desconfiança e as longas pestanas pintadas a preto olhavam para os seus admiradores masculinos, cujos tomates se endureciam enquanto viam aquela visão escorregadia de um metro e quarenta e cinco a passear pelas ruas com os seus chinelos feitos de madeira de bambu. Pequenina, mas poderosa.
Todos se encantaram quando aqueles lábiozinhos maliciosos se abriram pela primeira vez a toda a gente:
- Bem-vindo à Cyborg Town, adorado e folgazão povo atlante. Mais uma vez, vos convidamos a assistir à melhor festa do Dia da Magia Negra alguma vez conhecida em toda a Dimensão Mágica. Cyborg Town é como a Veneza da Magia Negra: todos estão para se divertir e para celebrar o grande círculo entre Bem & Mal, assim, eu convido-vos a participarem nesta loucura da noite!
Com esta frase, girou o mais depressa possível a sua cabeça suspensa no ar ao compasso das caixas de rufo e dos bombos. Maravilhados com o cortejo de estranhas criaturas vindas de todos os cantos da Ásia Sudeste e Nordeste: China, Japão, Índia, Coreia, Mongólia, Indonésia, Vietname...Enfim, o louco caleidoscópio de mitologias e lendas terroríficas era simplesmente infinito. Sobre o turbilhão de sons bizarros e cantorias quase ofegantes das vozes das mulheres, podia-se pensar que todas assombrações possíveis e impossíveis da Ásia se encontravam ali.
E era a Gueixa Lacrimosa que seguia em frente daquele cortejo colorido, à medida que se despedia de todos com a sua cabeça suspensa no ar, o seu pescoço de girafa e o resto do seu corpo minúsculo.
De seguida, vieram os Magos, mais solenes e menos divertidos. Diante deles, vinha o Rei dos Magos, que logo lhe reconheci como sendo o homem que eu tinha visto há uns dias atrás na Floresta de Cristal. Vinham com um ar de desconfiados, com os seus pés descalços como instrumentos e as suas vozes gregorianas como acompanhamento. A maior parte deles não se distinguia de que etnia ou nacionalidade eram, mas pareciam vir de todas as partes
do mundo. Os espectadores ficaram um tanto ou meio desiludido pelo saudoso e honrado Rei dos Magos não pronunciar palavra durante a sua parada, nem mesmo nos cânticos tristes dos seus súbditos. Depois vieram a comitiva com a Rainha das Fadas, que, num tom trocista, e entrando no espírito do feriado nacional, começaram a cantar uma melodia meio a gozar com os Bruxos, hóspedes da festa:


Com a Rainha das Fadas que entra,
Chegamos, eis-nos aqui...
Toca, trovão estridente,
Ta ra ta ta, ta ra ta ta;
Marchamos de cabeça erguida
Como soldaditos,
Marcando, sempre nos enganamos
um...dois...marcando o passo.
Os ombros para trás
O peito para fora,
Os braços desta maneira,
Caindo ao longo do corpo;
Com a Rainha das Bruxas que entra,
Chegámos nós, eis-nos aqui!
Ressoa, relâmpago hilariante.
Ta ra ta ta, ta ra ta ta!



Dentre essas ninfas de água, dríades, salamandras, e outras donzelas que mais, destacavam-se as damas de companhia da Rainha das Fadas, as Fadas da Sorte.
E nessas, havia uma que cantava com mais beleza e afinação do que qualquer uma das outras. Era Sara, num vestido branco, mais prateado do que o brilho do luar, e num instante, conseguia ver a luz das suas asinhas a cintilar no meio da noite.
A Rainha das Fadas estava na cauda da parada, como guardas costas tinha três lobos brancos a protegê-la. Era uma mulher loura com cabelo solto de olhos pretos e frios, como todas as suas pupilas, também envergava um vestido vermelho, constituído de cristais de neve, esfarrapado, montada numa foice, com um sorriso voluptuoso.
Tal como A Gueixa Lacrimosa, fez algumas loucuras. Tinha um aspecto muito ridículo e as suas asas eram semelhantes com a dum vampiro. Dum metro e oitenta e dois, era alguém com quem ter respeito. Embora tivesse o aspecto duma mulher humana de quarenta anos, não havia nem um único resquício de velhice.
Pensei que, se fosse do lado dos Bons, a Rainha Juliana tivesse um aspecto simpático e agradável, mas toda aquela imagem quase impossível de trespassar com a mais poderosa das magias parecia não a Rainha das Fadas, mas sim a insensível Rainha das Neves. No entanto, no rosto brilhava um sorriso digno de qualquer efígie de Nossa Senhora do culto “mariano”.
Depois das Fadas, vieram os orgulhosos Cyborgs que começaram a contar uma história qual amantes eles eram enquanto as bruxas e as demais mulheres ficavam admiradas com as proezas malabaristas e elásticas dos corajosos guerreiros.
Pois...E os Bruxos a espumarem de ciúmes com o charme que aqueles homens atléticos metade máquinas, metade humanos conseguiam encantar as suas senhoras.
Como todas as outras classes, cabeceava um dos mais famosos da espécie: o poderoso e convencido Conde James Dark Sword, de nariz empinado e muito confiante.