domingo, 5 de outubro de 2008

"um mistério indecifráfel...Quem matou a minha mãe?"


Não fazia sentido: primeiro, a Serpente de Fogo comprara “O Cavalheiro”; segundo aquele bruxo alemão viera ter comigo; terceiro, seis bruxos que eu nem as minhas amigas sequer conhecíamos convidavam-nos para um baile, para logo se esfumarem que nem fumo; agora aquela malvada rainha queria que eu libertasse o meu padrasto do Limbo dos Espelhos…?! Essa conspiração cheirava mais mal do que os cozinhados do Samurai Dourado, ou eu não me chame Jessica Magnetite Von Tifon.
Mas, e se ela quisesse mesmo ajudar-me, pelo olhar piedoso e inocente, com a sua voz meiga e boa, era quase impossível recusar.
- Eis uma das muitas chaves do Castelo Negro. O Herr Finistergäse pagou mil marcos por ela há trinta anos. – Disse ela, respondendo as minhas dúvidas. – Com esta beleza poderás libertar o teu padrasto do castigo eterno. Mas as portas da liberdade e da magia no Castelo Negro têm um elevado preço.
A minha resposta automática em relação à menção do meu padrasto na conversa foi ir directamente para a saída, com um olhar de desprezo e nojo contra a mulher de magias negras proibidas. Ela sabia a minha fraqueza, mas como raio teria descoberto…? Talvez esse Finistergäse lhe tivesse dito. Mesmo assim, era preciso jogar pelo seguro em vez de confiar numa víbora falsa e, com as mãos retorcidas num gesto de recusa à tentação, tentei ir-me embora.
- Não acredito em ti, velha bruxa! – Insultei friamente. – Além disso, porque raio eu gostaria de libertar o meu padrasto?
A mulher balançou lentamente qual exímia encantadora de crianças a pequena chave num fio de ouro da espessura dum fio de cabelo, e sorriu duma forma sedutora, entregando gentilmente a chave na palma da minha mão, e com o seu “dedo mágico”, encantando o fio, tornando-o numa serpente que se enrolava na ponta dos meus dedos.
- Pensa bem, querida: ter um padrasto talvez não seja assim tão mau. – Disse ela num tom agradável ao olhar fixamente para o pequeno réptil prateado que segurava na chave com a boca. – Se bem conheço o teu padrasto (e conheço-o) ele foi injustiçado. Havia um canal mal ligado, um fungo no labirinto da sua cabeça que não funcionava bem.
Dizendo isto, fez um sinal desenhado com chamas de fogo com os seus longos dedos degenerados pelo tempo e exposta às magias de Tsesustan.
Sorrindo, no entanto a tremer, suando por todo o corpo, mostrando o quanto receosa ela estava acerca deste feitiço, acrescentou com um tom fino e irritante:
- Por mais que nós, bruxas, queiramos, minha querida…Um quadrado não pode ser um círculo.
Que estaria ela a dizer…?! Não estava a dizer coisa com coisa. De certeza que estava medo daquele “amante misterioso”. A sério, nunca a tinha visto com tanto medo, e normalmente, o motivo da sua histericamente é pura excentricidade, mas aquilo era um medo de morte! Já tinha ouvido dizer que a esquizofrenia e as drogas tinham muitas vezes príncipio dos Anos 30 levado a Serpente de Fogo à loucura e à morte, numa dança de vários corruptos e perigosos entre ela e oficiais nazis; escândalos de triângulos no começo da Guerra Civil (1936-????...+∞) nas mais poderosas esferas da Resistência; catástrofes de atentados contra a sua vida, tanto do lado dos Bruxos como dos Cyborgs.
Mas o pior de todos estes crimes foi embarrilar os Nazis, não sei o que se passou, mas o que quer que ela tivesse feito, eles não gostaram da partida. É o seu maior pesadelo, e todos aqueles que habitam na Atlântida, quer sejam deuses ou demónios, conhecem o único ponto fraco da diabólica e valente mulher, que apesar de ter só um metro e cinquenta e cinco – uma estatura considerada minúscula para alguns oficiais da SPV que têm dois ou três metros de altura, o que é simplesmente uma mulher assim tão pequena meter medo a homens tão musculados que até parecem gorilas com cérebros do tamanho de amendoins – mete respeito e medo a todos.
A razão para a sua psicótica doença mental foi ter testemunhado um homicídio de natureza tão horrível e desumana aos dezoito anos de idade (ela nasceu em 1911).
Toda a gente o diz, e toda a gente sabe cá na Atlântida que os parafusos da bela e estranha mulher de noventa e quatro anos estão a cair de ano para ano.
Qualquer dia…Adeusinho razão! Fiuuuuuu…! Estás a perceber o que eu quero dizer, que qualquer dia ela fica com os miolos tostados. Ainda ontem estava a perguntar porque raio a Serpente de Fogo é assim ao jantar. E todos me responderam que ela tinha visto alguém assassinar a minha mãe. O problema é que parecia que sempre que lhe perguntam quem era o louco que nos fizera o favorzinho de ficar sem Katharina, ela desculpa-se com uma história qualquer que o maldito tinha-a ameaçado que se algum dia ela tentasse pôr as coisas a vir ao de cima, este voltaria para fazer a sua vida negra até a enlouquecer, e conduzi-la a um estado de demência incurável! Eis o pior medo da mulher mais valente de toda a Atlântida: de ficar mais louca que é!