sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Sonho, o Amor de uma Heroína (parte II)


Uma vela faz


Um trio em fogo,


Apenas estou,


Aqui, só...




Sem qualquer


Companhia,


Nada resta,


Estou perdida,


Em cinzas,


o meu corpo,


Se desfaz...



Um sonho...


Algo vaga entre


As ondas espumosas


Que queimam o coração...


Enquanto penso,


Uma garrida explosão


Surge no horizonte,


Antigi a Iluminação,


Através da minha alma,


Paguei o preço


Para a salvação...!



"Purificação no Purgatório" de Yui Murakami Von Tifon de 1946 (a minha bisavó que casou com o pai do pai da minha mãe; nascida na ilha de Hokkaido, em 1584, casou-se, feliz, muito nova, com dezasseis anos, com o Duque Michael-Jörg Christoph Von Tifon de vinte e três anos, duque da cidade perdida, "um homem encantador e um guerreiro honrado", nas palavras da própria Senhora Murakami ), dedicada ao primeiro aniversário do desastre de Hiroshima e Nagasaki. Na época da guerra, a "Princesa Sara" adoptou muitos nomes. Talvez este poema, encontrado na secretária da pequena fada Sara e todo empoeirado, fosse uma forma de Sara honrar a alma de uma pessoa que lhe era muito querida. Felizmente, Murakami Yui Von Tifon morreu anos antes da guerra, no Inverno de 1937, justamente no dia do Ano Novo ocidental. Uma mulher honesta e muito patriótica (em relação ao país a acolheu nos braços, há trezentos anos atrás, ou seja, o Império das Ilhas Bellantes) sempre teve remorsos de que, um dia, viessem a manchar o nome da sua família e acusá-la de traidora. Mas nunca os Bellantes tiveram razões para a incriminar. Era uma das bruxas mais poderosas e austeras de toda a Bellanária, no entanto, educava os camponeses e todas as crianças com um carinho e amor maternal impressionantes. O Rei dos Bruxos russo, o Kzenah Ivanovitch Malagheti descreveu-a no funeral da senhora, como uma «...das mulheres mais deslumbrantes e maravilhosas que eu alguma vez conheci...tinha sempre um estilo muito próprio, original, combinando o estilo exótico e tradicional japonês do quimono com muitas roupas, desenhadas por ela mesma...gostava de ser aquilo que ela aparentava para os outros; uma mulher poderosa, severa, fria, distante, sonhadora....Mas calma, serena, simpática e muito, mas muito bonita, ao mesmo tempo...Senhora Murakami, deusa em ser humano com poderes mágicos encarnada, estareis para sempre nos corações do povo bellante ...!»




De entre todas as bruxas, a Murakami Yui Von Tifon ganhou o respeito e o amor dos bellantes, fosse de que classe fosse. A princípio, foi muito doloroso. Os bellantes puros, aqueles que tinham gerações e gerações de familía no século dezasseis, aceitaram muito bem a vinda de uma mulher japonesa para a comunidade bruxos nobres da Bellanária. Mas, estamos a esquecer, que, para ser aceite, era preciso enfrentar a Comunidade dos Bruxos da Bellanária. A maior parte desses bruxos eram europeus, e não viam com bons olhos a pequena "Yuichen", uma rapariguinha fraca e indefesa, timida, e sonhadora, a juntar-se no enleio das túnicas ritual com o grande Duque. Era simplesmente impossivel. Por isso, durante um século, "Die Samuraistochter" (a filha do samurai, um título desonroso que a lembrava do terrivel passado no Japão, a razão pela qual fora forçada a fugir do país; o pai, um samurai possuido por um maldoso demónio, desonrara a família e a colocara a filha numa situação dificil e complicada) sofreu várias conspirações maquiavélicos, intrigas e até atentados contra a sua pessoa. No entanto, conseguira tudo sozinha, inspirando misericórdia e compaixão nos corações do povo bellante, que via nesta pequena aprendiza de bruxa uma heroína, ao enfrentar a classe mais malvada de todas: os próprios Bruxos.


Ao "pagar o preço" pela salvação e pelo amor de Michael-Jörg, que, apesar de nunca estar sempre ao seu lado, ela conquistou todas as classes, mudando definitivamente, para uma dama misteriosa, severa, impiedosa, cruel, mas sedutora. No seu centésimo décimo sexto aniversário, recebeu o título honroso de "Shrilan". Shrilan, em Bellante Arcaico, significa, "Senhora Minha", um título que era só, até então, aplicado às deusas. Dois anos depois, conseguiu, por fim, ter a honra de "copular" e dormir na mesma cama que o seu senhor, um acto que ela descreveu no seu diário como "a mais recompensadora de todas as experiências e desafios que tive desde que Aqui cheguei..."


Passadas algumas décadas, a Senhora Murakami teve algumas contracções, e uma luta final começou a desenrolar-se, um desafio épico, que toda a mulher tem de enfrentar - a primeira gravidez! Desta vez, Sua Excelência, o Duque Michael-Jörg Christoph demonstrou-se disponível para ajudar a sua mulher. E, apesar de tentar fazer os possiveis para que a senhora ficasse confortável durante os nove meses, a luta não era com ele. Para Murakami, aquele não foi um parto feliz... «...Sinto que vou morrer...parece que estou a lutar contra mil demónios e espiritos maléficos ao mesmo tempo...Se for um rapaz, hei-de o chamar Oni Ma Flevshgan (Filho demoníaco saído do Inferno) Estou aqui a dizer palavras de rir, para me animar...A gargalhada e o sorriso são o melhor remédio para afastar o mau agoiro...Ou pelo menos foi o que a minha mãe e as minhas tias tinham dito há séculos atrás...»


Para o seu desagrado e desgosto, foi o pai Michael-Jörg que lhe deu o nome de Friedrich Adrian (uma combinação das linguas germânicas com o Latim, que ficou assim o menino com o nome benévolo de "Governante Pacifico de Hadria"). Engraçada ironia do destino como o querido "Governante Pacifico" ficou conhecido como um dos duques e bruxos mais loucos e malvados de toda a Dinastia von Tifon. Friedrich Adrian (o meu avô), Karl Adolf (valente guerreiro com coração de lobo, ou seja, o meu tio-avô, oficial das SS, que depois da guerra nunca mais se soube dele), Maximilian Onophrius, Lucília Jasmim, Lorelei Elsa, e Cäcilie Michiko foram as crianças da Senhora Murakami. A "Gloriosa Geração de Cerejinha", como a Senhora Murakami gostava de chamar. Infelizmente, foi do Duque Friedrich Adrian e da sua esposa, Sra. Dona Duquesa Abir, a filha do antigo rei persa, que saíram Charlotte (a minha tia), Katharina (a minha mãe), e, por fim o filho mais velho e varão, o Duque Ludwig Von Tifon, um aventureiro por natureza, que deixou dois filhos (Hans, e Willhem Couto, mais conhecido como "Primo Coutinho") e uma esposa para a dinastia Dinastia Von Tifon... De uma forma ou de outra, a Senhora Murakami sempre permanecerá para sempre como uma das personalidades mais misteriosas, ásperas, amargas e sensuais das Ilhas Imperiais da Bellanária!...