domingo, 1 de novembro de 2009

Um Castelo Democrático (depois explico)

Subitamente, dei de caras com um homem baixo a tirar-me uma rápida fotografia, desculpando-se num Inglês com sotaque hindu que era apenas para a segurança do sítio. Depois, ao avançar cada vez mais na humidade de betão do solo instável da ponte, no primeiro quarto da ponte, deparei-me com mais um guarda, desta vestido com um uniforme da SPV (um, e, pelas insígnias no colarinho, devia ser um cabo. Falou comigo num Inglês meio arrevesado, pelo facto dele ser coreano e não perceber lá muito bem a língua.

Depois de examinar com o maior dos cuidados a minha tatuagem no braço dos Von Tifon e o meu Bilhete de Identidade à luz da lanterna, autorizou-me a passar pela porta dos piões bruxos, que fazia um incrível desvio à esquerda, onde repeti mais uma vez a mesma história e apresentei os papéis, desta vez, perante um jovem tenente ucraniano de luvas púrpura de veludo que parecia comandar os homens da guarda.

Só há uma forma de lidar eficazmente com estes homenzinhos arrogantes de uniforme que pensam terem sido presenteados com uma altura impressionante de dois metros, olhos flamejantes estranhos ou penetrantes e narizes afincados e finos e orelhas espetadas, e essa forma é mostrarmo-nos mais arrogantes e convencidas que eles.

Portanto, pensei no homem que tinha beijado nessa noite e encarei o tenente com um olhar frio e desdenhoso, capaz de esmagar um príncipe do mais puro-sangue.

- Sou a Menina Jessica Von Tifon, bruxa de primeira classe. – Vociferei. – Eu sei muito bem que você, um duende pequenito sem salário que chegue para alimentar a sua familiazinha miserável, tem de ter estes procedimentos. Mas não se preocupe, meu querido. Não vou ocupar nenhum piquito do seu tempo. O que eu queria de si era se o meu querido homenzinho sem valor nenhum para pagar o verniz que uso é que marque uma audiência com o meu Padrasto. Por favor, informe-o imediatamente da minha presença. Verá que ele me espera e que considerou necessário, a seus modos digamos entre nós os dois, fornecer-me a chave para entrar no castelo durante a realização das festividades do Dia da Magia Negra. – Entreguei-lhe a chave com um ar muito vaidoso, e vi como a arrogância do tenente rendia homenagem à minha. Estava a ser mesmo má.

Por alguns minutos, pensei que estava ser controlada ou pela malvada da minha mãe, ou pelo meu Padrasto, porque o vocabulário muito fino e o sarcasmo de inferioridade não faziam parte da minha conduta normal. Se calhar era uma combinação dos dois.

- Só mais uma coisinha: desejo salientar a delicadeza da minha tarefa, tenente. – Disse eu, baixando a voz. – É essencial que, nesta fase, apenas o meu Padrasto ou o seu assessor sejam informados da minha presença magnifíca, aqui, no Castelo Negro. É muito possível que espiões da Resistência dos Cyborgs Imundos se tenham já infiltrado nas instalações. Compreendeu, amor?

O tenente com luvas púrpura acenou brevemente com a cabeça e voltou a entrar no pequeno escritório de porteiro para fazer um telefonema, enquanto eu limava as unhas, sorrindo vaidosamente, com as luzes do pátio empedrado, aberto ao frio do céu nocturno. Deixa-me contar porque é que ele usava luvas, porque a maior parte dos feiticeiros malvados e das bruxas têm unhas tão compridas como alfinetes e orelhas arrebitadas, muito sensíveis e apuradas, como se fossem radares de qualquer coisa de bom, e não penses que é para as adorar, mas sim para as destruir!... Não há maior prazer para uma bruxa ou para um feiticeiro malvado que fazer murchar uma flor, ou que enganar uma pessoa, ou raptar as crianças.