quarta-feira, 10 de março de 2010

Um Bruxo do Norte (Parte 2)


Mas não era aqui que eu ia encontrar-me com o meu Padrasto, explicou-me o tenente, disse-me para que fizesse o favor de abrir a porta à minha frente, e, em contraste, a câmara de espera e de chegada ao castelo tinha um aspecto simples e humilde.

- Sirva-se duma bebida. Bom apetite – Disse o tenente, com um ar mais gentil que eu pudesse encontrar no mundo, abrindo o armário de mogno castanho. – Se necessitar de mais alguma coisa, toque a campainha.


Com um dedo, apontou para outra porta à direita.


- Quando lhe chamarem, avance por ali, menina. Uma muito boa noite. – Bateu novamente os calcanhares e desapareceu pela escada abaixo.


Não resisti a servir-me duma Frambinam, que engoli dum só trago, recostada no confortável sofá. Estava cansada depois de tanta agitação, e, o sabor a framboesa destilada com álcool fez-me muito bem…! O calor da bebida na minha garganta fez o efeito desejado, acalmando-me lentamente. Prefiro o álcool a anti depressivos, mais lentos do que sei lá o quê. Deitada no sofá com outra bebida na mão, fechei rigidamente os olhos. Ainda conseguia ver a expressão de desespero louco nos olhos azuis do fantasma da minha mãe quando a primeira chama lhe consumiu os pés, esboçando um sorriso sinistro nos lábios vermelhos.


Ao contrário do que muitos pensam, o Frambinam – aquela bebida destilada a partir do suco gelado da framboesa colhida nos princípios de Fevereiro que é tão apreciada pelos Tienenses e pelos bellantes – não foi inventada pelos bruxos chineses. Embora talvez já se tenha dito muita coisa sobre o Frambinam, até os Nazis, no tempo da ocupação, o aproveitaram para fazer propaganda. A primeira publicidade sobre uma bebida tão famosa como o Frambinam, foi a partir de um dos títulos do Senhor Çorunas, o “Bebedor Nocturno”. é para nós o que


Dei mais um gole no Frambinam. Tinham passado dez minutos desde que estava ali, e sentei-me a cabecear.


De repente, acordei. Não conseguia dormir por causa dos fantasmas do passado dos Von Tifon, por isso, não hesitei quando uma voz tenebrosa e robótica chamou pelo meu nome para avançar em direcção à porta.



À medida que avançava para a câmara, mais eu me apercebia que estava a entrar no mais profundo dos núcleos do Mundo dos Bruxos. Mal podia acreditar no que via, era sete vezes maior que o átrio anterior. As altas paredes de cinco a seis metros de alto pareciam crescer cada vez douradas como o trigo que rompe da terra e imponentes como os maiores edifícios de Cyborg Town. Fiquei de queixo caído e olhos a brilhar, quem é que poderia viver em algo tão monumental e luxuoso? As coloridas tapeçarias que eu pisava eram feitas da lã de melhor qualidade que se encontra aqui na Dimensão Mágica, e as poucas cadeiras e móveis eram da melhor madeira de carvalho e alabastro que se...Bom, já percebeste a ideia! Diante de mim, erguia-se uma longa e comprida escalonada de mármore polido cinzento, com belas ninfas de pedra do tamanho de um metro de altura a segurar em pesadas ânforas ricamente decoradas com jóias e pedras preciosas donde brotavam lindas rosas brancas. A beleza do interior daquela divisão é demasiado fantástica para ser contada: no redondo átrio, o branco e o preto jogavam entre si um elegante tom clássico, que não deixava de ser assustador e deslumbrante ao mesmo tempo. A enorme divisão de trinta metros de altura era suportada por colunas brancas de ordem dórica, que no cimo, por sua vez, em cada um dos cinco lados, existia um anjo esculpido lindamente em jade de noventa quilos. Mas, ao contrário de terem expressões gentis e afáveis, tal como as cariátides, estes tinham rostos de homens, armados com espadas, e vestidos com túnicas, escondendo indiscretamente os seus músculos minuciosamente trabalhados, com asas majestosas. Eram rostos de guerreiros, dos tempos do Assassino do Amor. Guerreiros de olhos gélidos e rasgados!


Como é que um só homem poderia se orientar dentro daquelas paredes com sete andares...?! Respirava-se um doce aroma a hortelã-pimenta, eu tinha a sensação que aquele palácio também tinha o cheiro da morte por todo o lado!


O desespero de várias fadas quando um homem alto entrava adentro por aquelas portas de carvalho e as fechava abruptamente, a rir-se cruelmente. O fedor do passado não podia ser apagado. Eu sentia que, durante várias gerações e gerações, o Castelo Negro tinha sido utilizado para prisão, mas não para Bruxos, mas sim para Fadas! Isso dava-me arrepios! Podia imaginar o fantasma do Assassino do Amor a levar pobres inocentes para cima naquelas escadas. Até à chegada do penúltimo Rei dos Bruxos, esta casa era conhecida como o pior sítio para uma fada viver. Só esperava que Kzenah Malagheti fosse mais complacente e bom do que o Mestre Samiel. Obviamente que teria servas, lacaios e criados para obedecerem a todas as suas ordens, mas o Rei dos Bruxos deveria sentir-se muito sozinho nos seus momentos de maior privacidade. Sentei-me, muito cansada num dos sofás com colchoeiro púrpura, e afundei-me nos seus confortos, então, deixei-me adormecer por aquela harmonia tão relaxante e sensual. No topo da escalonada, reparei que várias mulheres olhavam para mim com olhares curiosos. Cada uma das formosas ninfas de bosques longínquos e de savanas quentes tinha no pulso direito um fiozinho de ouro apertado sobre a sobre a carne escorregadia. Conseguia ouvir os seus cânticos entoados em vozes melodiosas, entravam na minha cabeça tão facilmente como se fizessem parte do próprio ar que respirava, repleto de aromas a canela, mel e hortelã-pimenta. Eram as várias noivas e filhas do Rei dos Bruxos, que entravam juntamente com as concubinas demónios dele. Só criaturas como elas é que estão a pé a esta hora.