quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Excerto de... Possível conto


Gosto muito desta histórias - meio ficcional, meio auto-biográfico - que escrevo há anos sobre Erwin Di Gracxiushandrian. Dá-me mais força e depois ainda é curto para um dos meus livros ainda por publicar - exactamente 54 páginas.




Quando a rapariga chegou ao meu escritório, em casa, nem pude acreditar que fosse tão nova. Estava a ficar sem inspiração. São muitas vezes, influências do sul. Não que eu seja do sul. A minha família sempre foi uma que tinha relações mais com o centro da Bellanária. Mas há sempre aquela impressãozinha que eu deixo em qualquer mulher.

Tentai compreender, sensíveis leitoras bellantes: eu não sou nenhum Assassino do Amor. No entanto, as minhas próprias empregadas insistem em ignorar-me. Não estou aqui para julgar ninguém: apenas sou um mero observador dos comportamentos sociais e humanos.

Eu sou um homem de uma mulher só…! Se ao menos me compreendêsseis aquilo que bate no meu coração! Que vergonha. Já vou fazer o meu segundo centenário e quarenta anos para a próxima Primavera [1] e ainda nem sequer sou viúvo! Seja qual for a razão de estar tão alterado e, assim alterar as minhas histórias, eu sinto-o na minha própria forma de ver a vida. As mulheres, mais do que ninguém, dão por isso; vêem-no no meu olhar e põem-se a andar. Se calhar, por causa disso, quando olhei para ela, não vi uma rapariga, vi uma boa oportunidade para procriar!

Contudo, fingi uma gentil simpatia. Ela tinha-se sentado, de maneira obediente, quase sem pestanejar, no sofá que eu tinha indicado. Não queria ser rude para com ela, e, durante uns momentos, examinei-a com todo um rigor científico e lógico. Tenho sempre um sorriso sobressalente, quando sou abordado pelos camponeses e pela gentalha. A minha presença é inquietante, e sei muito bem quando a usar, no momento certo, na altura certa. Alguns dizem que sou parecido com Sharzhatzl-Ólin, ou com o Assassino do Amor.

Sempre tive um sorriso carnívoro e sarcástico, isso é verdade. Olhar directo e que consegue perfurar uma pobre alminha de mulher numa questão de minutos de conversa, e, claro, sempre gostei muito do álcool. Uso-o não só pelo prazer, mas também pela inspiração. O Rei dos Bruxos fica sempre espantado como eu aguento DEZ garrafas de vodka preto com limão sem ficar embriagado ou bêbado. É como digo. Nisso, tenho um estômago e fígado de ferro! Posso ter o aspecto e cara de um homem humano de quarenta e tal anos, mas as minhas conversas revelam que tenho um espírito de um rapaz de vinte e tal anos. Sou o primeiro a sugerir ao grupo de Magia Negra – Sua Majestade, o nosso caro Rei dos Bruxos; o velhote do Duque Rüdiger; o Abir-Klazhasmar e o grande Tipal Netzche, um feiticeiro maia muito experiente – para irmos a Cyborg Town ver “uns sítios”. Depois, claro, a minha incrível, maravilhosa, forma como seduzo as senhoras nota-se a léguas!

Sou praticamente aquele que quebra o gelo. Hoje é um daqueles dias em que estou a sofrer da minha habitual síndrome de demência insurreccional contra as severas regras bellantes de comportamento em sociedade! É aí que passo de “génio das histórias bellantes” para “maníaco que adora fazer troça do conceito do Bem e do Mal”!


[1] Erwin Di Gracxiuschandrian escreveu este pequeno conto em 1860 e publicou-o um mês antes de se saber que as tropas do Exército Japonês tinham de deixar o Norte da Bellanária. Era um pequena maneira de mostrar aos Murakami e à maior parte dos feiticeiros Japoneses que ele estava do lado deles – um pouco mentira porque Erwin Di Gracxiushandrian era um adepto da união multi-cultural entre as várias famílias de nobres e feiticeiros.