quarta-feira, 23 de julho de 2008

Beijinhos e Muitas Poções (o fim da festa)


E, já começavam a despedir-se da “prezada senhora e brilhante dama que teve uma ideia tão excelente como essa”. Os homens, um de cada vez, a vestirem-se, dando um beijo na mão da anfitriã quase meio tonta com aquele entretenimento todo. Olhando-a de baixo com uma expressão de ambição e ardor de um desejo secreto de fazer sexo com a Serpente de Fogo, abrindo as portas para as damas da alta sociedade passarem primeiro, dando palmadinhas nas costas uns dos outros, os senhores coronéis, os senhores engenheiros, os senhores doutores, os senhores advogados, dizem os habituais «…Então encontrarem-nos em minha casa para a tal desforra, e Vossas Mercês não irão faltar à promessa, não é, meus caros?...» E lá respondem os outros senhores coronéis, os senhores engenheiros, os senhores doutores, os senhores advogados, sorrindo como se fossem camaradas de liceu, com um brilho hipócrita e cínico nos rostos falsos, embora já tenham acima de cem anos, com as mãos atrás das costas «Com certeza meu caro! É para isso que servem os amigos, não é verdade?» Ora esta! Querem enganar quem, aquelas cenas eram cómicas, era como ver na televisão um daqueles encontros internacionais com líderes políticos, apertando as mãos, todos gentis e amáveis. Depois nas costas, gritam como sei lá o quê! Que estupidez, mas o pior de tudo ainda estava para vir…
As mulheres, com os seios quase à mostra, abanando enquanto mexericavam como vizinhas das janelas, fartas de ver os bruxos a fazerem olhares ameninados, levando para todo o lado os seus casacos de pele caríssimos, a tresandar de perfumes Channel Nº5, correndo à pressa, com os bicos dos saltos altos partidos, agarrando com uma mão os sapatos e outra no braço dos maridos com um cigarro na boca, dizendo «…o seu chefe de cozinha tem de me enviar por e-mail essa fantástica receita daquele estufado de demónio com aguardente, minha querida. Assim o meu homem talvez me ligasse mais, se é que me está a perceber, Vossa Divina Senhoria conhece os Bruxos como ninguém! Os homens são mesmo assim, todos iguais, principalmente com mais de cento e setenta anos! A partir dos trinta anos, não prestam para nada, só festas, amantes, energia roubada de jovens adolescentes, e a propósito, Vossa Alteza: onde é que encontrou esse vestido, foi na Cidade dos Deuses?» E Sua Majestade responde com uma pontinha de sarcasmo misturada com o bafo doce do haxixe, agarrando-se a um poste, desatando às gargalhadas, que é afinal o seu namorado, o meu querido Primo Von Tifon. «Lamento, mas já não há para o seu tamanho tão grande, compreende, minha querida?» Víboras masculinas e femininos, era o resumo possível da descrição dos convidados para a gala da noite n’O Anel da Serpente. Que bando de convencidos e vaidosas com uma arrogância e malvadeza tão estúpida. No entanto, mantive a minha dignidade, e não disse nada, ficando no meu canto.