segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Aguaceiro por perto, Desgraça é certo!




Tifongirl: Ah...não devia ter posto aqueles postes sobre o pai da Jessica...agora já não sei se poderei postar isto, que apesar de tudo, é melhor do que as coisas que ando a escrever. Quer dizer, isto tem para aí quatro anos! Mas agora, com a Katharina viva e o pai da Jessica revelado, tenho de acelerar para 2005. Ai, ai...talvez seja melhor assim...ou talvez não. Querem que a Jessica passe um ano sem saber quem é o padrasto dela? Já nem sei fazer títulos de jeito... Ah...para Abril queria ter um par de vilões como ilustrações: o mais dramático, o Padrasto da Jessica, e a mãe dela, Katharina! XD A mais cómica de todas as personagens femininas.

Como disse a LaNorthWay lanorthway.deviantart.com no seu lindo desenho da Katharina (a personagem é minha, mas a arte é dela: "A Beleza vem em diferentes formas...tal como o Mal!" Não se deixem enganar pela aparência boazinha da Mãe da Jessica, ela consegue dizer palavrões tão bem quanto um homem que acaba de se magoar com um martelo.

O Padrasto da Jessica deve ser - a seguir ao Assassino do Amor - uma das personagens mais sinistras que eu criei. Ao contrário da Katharina, ele sabe muito bem como seduzir o sexo oposto. Ah...A Katharina é um sex symbol, mas não é nada comparada com ele! A própria Katharina está sempre babada atrás dele...o que é uma das principais piadas que se repetem na história.

Diário da Jessica:


Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2004


Vai chegar uma pessoa muito importante ao Château. Não sei quem é nem o que faz, apenas sei que é um velho feiticeiro preso do Castelo Negro, o sítio aonde estão encarcerados todos os Demónios e Bruxos mais perigosos da Bellanária. Ele não saiu daquela prisão há mais de cinquenta anos!


Qualquer dia, isto ainda se torna num exílio de velhos criminosos políticos! Foi o que a Serpente de Fogo disse, ontem à noite, quando ouviu a minha mãe a saltar aos pulos com a notícia. Isto cheira-me a esturro: normalmente, quando Sua Senhoria, a Frau Katharina tem novidades sobre o Castelo Negro, ela quase fica gaga.


A minha "Mamã" sempre teve um horror aos fantamas que eu te digo! Já é um milagre ela estar vivinha da silva.


- E eu insisto para que ele venha para cá recuperar daquele terrível choque! - Para a minha mãe, uma pessoa que venha do Castelo Negro é como se tivesse ido a África fazer um serviço voluntário para ajudar as vítimas da malária, ou coisa parecida! - Afinal de contas, ele faz parte da família...


«Oh, poupem-me!» Era o que a cara do meu Primo Coutinho queria dizer quando ouviu aquela conversa sobre o tal feiticeiro de renome internacional que vinha cá, passar algumas noites, para "restabelecer-se na sociedade civilizada", como diz a Madame Serpente de Fogo. E ele bem que tinha um pouco de razão. Afinal de contas, os Senhores da Magia Negra, como eles são tratados lá no Castelo Negro, têm quartos dignos de reis!


Mas a minha mãe, que acha-se sempre a Madre Teresa de Calcutá reencarnada, está sempre disposta a salvar as vítimas daqueles malditos "demónios comunistas". Sim, porque, segundo a mente esclarecida de Sua Excelência, qualquer pessoa que venha do Castelo Negro (ou que trabalhe lá como guarda ou empregado) tem logo de ter o martelo e a...bem..a tu sabes, estampada na testa!


Estava-se mesmo a ver que a cara da minha mãe tinha segundas intenções. Ainda tentei falar com o Pedro acerca disso, mas era demasiado tarde ontem à noite.


Não me leves a mal por estar a escrever cartas tão longas. Acontece tanta coisa por aqui...! Mas, vamos ao que interessa:


Portanto, hoje de manhã lá estava eu a acordar, a escrever um poema para o meu querido Pedro (acho que ele merece o mundo só de ser tão querido e inocente e fofo e...Oh, tu já sabes quando como é que é quando uma mulher está apaixonada!)


Depois de tomar banho, fiquei a ouvir umas músicas românticas, e, ao lembrar-me dos beijos doces, carinhosos e inocentes do Pedro, fiquei completamente nas nuvens, com a toalha a cobrir-me o peito.


Mas, ao contrário dos outros dias - os outros dias em que eu tínha-me sentido melhor, naqueles dias em que os meus lábios e pensamentos eram só para o ingénuo e meigo rapaz de olhos mais quentes e mansos do que um cachorrinho pequenino e queriducho - aquele era um dia negro. Eu tinha a certeza disso.


Nunca gostei da ideia de ter de aturar os bruxos do Norte, esses convencidos alemães de mais um metro e noventa de altura e com a mania que podem tudo! E agora, vem mais um para completar a já casa de loucos que é o Château von Tifon.


Só a ideia da suposta pessoa ser o meu Padrasto, a pena que eu utilizo para escrever no meu diário explodiu...foi-se, avariou-se! Quando o cilindro que guardava a tinta-da-china partiu-se na mesa, este fez com que o contéudo liquído no seu interior se espalhasse pelo meu quarto, manchando por completo a fotografia do meu querido avô!


A minha mãe vai matar-me! Pensei ao ver que o espelho de obsidiana que o Senhor Tezcatlipoca oferecera à Família Von Tifon depois de 1955, se tinha partido no processo. Vocês nem imaginam as terríveis consequências que uma explosão de tinta da china pode ter num quarto todo ele pintado a vermelho e a dourado. Se a minha mãe visse aquela pintura expressionista estampada nas paredes do seu querido quarto, ainda lhe dava um chilique. Aquilo mais parecia a bandeira comunista do que outra coisa.


E eu sei muito bem como é que é a minha mãe quando fica irritada! Para ela, era um mau-presságio, sem dúvida.


Obviamente, limpei todas as paredes antes que alguém se lembrasse de me chamar para o pequeno-almoço e visse aquela "rica prenda"!


Triste, eu olhei para a fotografia toda suja do meu avô, cujo coração só deve restar provavelmente um monte de pó...Pó velho e abandonado! Suspirei resignada ao pegar num pano para limpar as manchas de tinta da china que havia na fotografia.


Ao ver o sorriso intacto do meu avô, sorri também.


- É, tem razão, avô. Ninguém, nem mesmo o malvado do meu Padrasto poderá quebrar a corrente de amor à qual estou ligada a si. - Comentei para comigo mesma, ao derramar umas lágrimas de nostalgia. - Tenho tantas saudades tuas, Papá!


Subitamente, pensei o quão bom ele tinha sido para mim enquanto ainda estava vivo. Embora tivesse mentido para mim sobre as minhas origens, foi para o meu próprio bem. Encostei docemente o rosto à fotografia, como se estivesse a abraçar o meu avô - quer dizer, o meu pai.


- Que dizes, Papá Thommy? - Perguntei em êxtase, absorta nas ilusões provocadas pelas saudades que sentia pelos bons velhos tempos em que ainda era uma criança: inocente, carinhosa, sem qualquer preocupação na vida a não ser o meu querido Avô! - Eu posso ser namorada do Pedro?!E aquela velha víbora da Olga nunca mais vai pôr-lhe as garras em cima?


Sabes, quando estou a pensar no meu pai, geralmente ando na lua, e imagino coisas que só vi no cinema, como uma linda reconciliação entre o meu pai e a minha mãe, ou eu a viver com o Pedro!


A minha família diz, que nessas alturas, eu fico "maluca, sem eira nem beira, a andar de gatas como uma palerminha qualquer".

Que queres que eu faça? Eu, sozinha e abandonada naquela madrugada cinzenta de nevoeiro, não tinha mais que fazer senão pensar no meu bom e velho avô.

- Oh, meu querido e doce pai! - Disse eu, abraçada à fotografia, chorando de alegria. - Adoro-te. Nunca cederei aos desejos do homem que me quer separar da tua memória.

Acabando de dizer estas palavras de sincera ternura, eu ouvi ao longe um atroador trovão. Começou a chover a potes. As portas de vidro que davam para o outro lado do quarto abriram-se de rompante com um estranho vento gélido.
As rajadas de vento, mais perigosas que o frio da Antártida, fecharam de imediato as portas para os corredores.

Eu, arrepiada das pernas à cabeça, virei-me para a assustadora divisão e olhei directamente para o escuro quarto com uma cama verde-escura de casal com cortinas de cetim azul-escuro. Havia, porém, uma expressão corajosa nos meus olhos.

- Quem está aí? - Perguntei num tom valente. - Mostre a cara, assassino, meu padrasto! Onde é que o senhor está?

Mas ninguém respondeu. Apenas surgiu um calmo e inquietante silêncio, enquanto o vento amainou para uma força suave e carinhosa. Foi aí que escutei o som de um violino a tocar uma sonata de embalar. Toques prodigiosos e delicados de cordas de um violino invisivel. Nada mais. Apenas uma corrente de ar, ou obra de um bruxo demoníaco?

Cinco minutos depois, a música parou. Dirigi a minha atenção para o meu reflexo das janelas abertas, e, por uns segundos, vislumbrei dois olhos azuis, obliquos, a olharem para mim, no meio da penumbra da madrugada! Assustei-me um pouco, mas ao piscar os olhos, reparei que aqueles dois olhos azuis já não estavam mais ali. Respirei bem fundo.

Acredita, nunca estive tão assustada como naquela manhã, a tremer nervosamente, naquele ambiente pesado e austero!