quarta-feira, 1 de julho de 2009

Uma da manhã – Hora das Bruxas, Bruxos e Demónios

«...Coisas estranhas acontecem no reino mais escuro das cinco classes definidas por Sua Alteza, a Rainha de Fogo...!»

Citação do Capitão-Mor Eddward Goldtheeth

Nem a Lua nem as estrelas habitavam o Vale da Cabeça da Morte, apenas existia o céu negro envolto em relâmpagos que rasgavam de vez em quando a abóbada celeste e cá em baixo no topo de uma pedra podia-se vislumbrar os picos cobertos de neve dos Alpes das Sereias que ficavam exactamente a três mil metros de altitude.
O musgo fosforescente e as luzes trémulas dos pirilampos – exceptuando os trovões, ressoando ao longe – eram as únicas fontes de luz por aqueles lados, e por mais bizarro que parecesse, não se avistava árvore alguma nem a único raio de cinquenta km.
Arbustos rasteiros e silvas ameaçadoras qual grupo de venenosos escorpiões a rodear o lago era a única flora que existia naquele lugar tão sinistro e funesto. No topo de um grande rochedo em forma triangular, circundado pelo lago de trinta metros diâmetro, conseguia-se ver-se uma inscrição antiga, originária da civilização da , pelo menos de há dez mil anos atrás, uma suástica com lados em espiral, com uma frase em atlante-arcaico que dizia:
"....Àquele que bater no meu palácio, desejo felicidades e boa sorte, pois será com dificuldade que regressará com vida. Os vivos e os que não forem criminosos jamais deverão trespassar esta porta, portanto, respirai bem fundo, nobre e valente feiticeiro, estais prestes a entrar no Reino dos Demónios...!"
Aquelas palavras soaram constantemente nos meus assustados ouvidos até que compreendi por fim que aquela viagem não seria tomada de ânimo leve. Porém como já disse inúmeras vezes, a coragem é coisa que não me falta. Lembrei-me do significado da palavra suástica em sânscrito “felicidade”. Ou talvez “Mal Eterno”?
Bom, estava sozinha e a inventar trocadilhos?! Seria a atmosfera tão triste e fria daquele sítio que me despertava o meu cruel sentido de humor....?
Ri-me dos meus próprios pensamentos, pondo o vestido vermelho que Serpente de Fogo me dera especialmente para aquela ocasião, e respirei bem fundo – o mais fundo que é possível a dois mil metros acima do nível do mar – e esboçando um sorriso que não passou acima de cinco segundos pelos lábios pintados de prata que brilhavam naquela escuridão. Em tempos idos, aquela rocha no meio da água fora o primeiro degrau na entrada para o magnífico e luxuoso castelo do Rei dos Bruxos, o primeiro e verdadeiro Assassino do Amor, Rwebertan Samiel Di Euncätzio. Mas agora, este castelo dum número de quartos infinitos é usado como prisão eterna para todos aqueles que desrespeitassem as leis da magia, e é definido com terror no coração como a ilha da Fronteira, a morada de todos os demónios e criaturas diabólicas que, outrora, há milhares de anos, governavam a terra.
Nos anos do venerável Kzenah Malagheti, este lugar tem sempre sido usado como sua morada, e espanto-me porque este castelo tem uma arquitectura e aspecto muito semelhante com a do famoso e grandioso Castelo de Praga. Obviamente, há mais de cinco mil anos que fora demolido por Neptuno, e o próprio Assassino do Amor fora sepultado naquele grande lago. Acredita-se que é para lá que os bruxos malvados são levados quase no fim da sua vida ou quando estão quase a ser mortos por alguém. Já tinha estado em pensões e castelos escoceses menos deprimentes que aquilo. O Pedro já ouviu falar do próprio tio que o Castelo Negro é aonde mil pobres almas de Fadas foram chacinadas, e aonde os demónios preferem atormentar os mortais. Os habitantes da vila próxima de Losjafhden dizem que ainda se conseguem ouvir os passos melancólicos e sinistros do espectro do Assassino do Amor a subir as escadas do terrivel esconderijo! Superstições parvas, é claro...Que eu saiba, nunca acreditei em fantasmas....Quer dizer, não gosto deles!...
Lá estava eu, sentada naquela pedra, naquela insignificante pedra, observando a paisagem morta e seca, e, por uns meros minutos, pensei em desistir e voltar pelo caminho que aquela bruxa me tinha indicado. Engoli em seco, e senti que a minha língua bifurcada estava ressequida, precisava imediatamente de água com outro elemento. Definitivamente isto é um vale muito acolhedor e agradável, isto é para um nazi implacável, ou para o próprio Rei dos Bruxos, é claro. Não me admirava nada de ainda ver o Conde Drácula, ou talvez mesmo o Frankenstein lá nesse tal castelo.
Sabia que deveria manter a calma, senão, não chegaria a lado nenhum, e aquela demanda seria em vão. Não! Sete meses a ser atormentada em sonhos por um cruel padrasto não tinham sido inúteis. O dever e o meu coração diziam que devia encontrá-lo, onde quer que ele estivesse.
Iria avançar, fosse qual fosse o preço de ver o meu padrasto...! Sou uma mulher ou uma galinha? Pois, era uma bruxa, mas mesmo assim, tinha valentia.