sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Sonho, o Amor de uma Heroína (Parte I)


Entretanto, no calmo Palácio das Reuniões, reinava um silêncio divino apenas perturbado pelo som de uma harpa, a Sereia da Meia Noite assegurava-se com o seu mágico instrumento que todos, quer alunos, políticos, e professores, tivessem um sono descansado. Por cima do disco lunar prateado, no topo do largo edifício de três andares, estava empoleirada uma linda criatura com cauda de peixe verde-clara que brilhava juntamente com a lua clara e de aspecto relaxante. O seu cabelo louro solto esvoaçava e despenteava-se com facilidade, mas com a ajuda de um gentil e pequeno espírito do ar, um minúsculo serezinho de cinco centímetros de altura este logo se tornava brilhante e atraente. Aí, com os seus dedos delicados, dedilhava suavemente as cordas, esboçando um sorriso, demonstrando que ali apenas reinava o equilíbrio e a paz interior. Aquilo é um lugar de Magia Branca. Ódio, guerra e vingança são palavras que não se ouvem frequentemente por aquelas parades sagradas que cujos fortes alicerces tinham sido fundados há mais de trinta e cinco mil anos.
Todo o lindo palácio em forma de círculo, formado por cristais raros encontrados nas zonas mais remotas da Atlântida já estava a dormir desde as nove e meia, e nenhum dos seus melhores alunos tinha ido para a “bárbara celebração do Mal”, como lhe chamara o grande patrono do Palácio das Reuniões, o famoso e sábio homem que governa neste castelo dourado, se atrevera a ir para a festa.
Havia, porém uma menina que passava a noite a surfar na net através do seu computador, acomodada num amplo quarto, iluminado com a fraca luz de uma pequena lâmpada. O seu cabelo preto abundante e despenteado atrapalhava a sua missão de encontrar alguma coisa de útil na Internet. Enquanto isso, tentava manter-se acordada ao beber qual alma penada sem qualquer vida bebendo uma garrafa de Coca-Cola.
Os seus olhos azuis cansados mostravam muito bem quem era: quem mais senão a querida e distraída Sara a procurar o seu verdadeiro amor.
Pobrezinha, tinha descobrido que aquele bruxo mais jovem do grupo de rufias gigantes não tinha ido à festa e fora-se embora mais cedo.
Aquela pequena princesa dá dó. Com a minha visão, consegui ver mais ou menos o que estava ela a fazer.
Não haveria ninguém suficiente bom ou gentil para ela…? É óbvio, num país infestado de malvados, não é de se admirar, mas a coitadinha já sofrera demasiado. já estava habituado a tudo aquilo.
As lágrimas passavam-lhe futilmente pela cara, e, limpando-as inocentemente qual pomba branca sincera e tímida; escondeu a cabeça sobre o cabelo preto lindo, pois não queria que mais ninguém a visse, a ela e à sua desgraça.
Será que nunca mais ia ter um homem certo, um príncipe encantado…?!
Ela é boa demais para uma terra amaldiçoada e má como esta, não há nenhum homem que se possa comparar com ela. Nenhum, e era isso mesmo o que ela sentia.
Por vezes, até penso se ela não é um anjo que perdeu as asas ao caír por força do Diabo, invejoso da beleza pura da princesa da luz.
Seria aquela uma filha de Deus, vinda do Céu, para melhorar aquela terra.
Olha que não estou a cometer blasfémia, e a todos ela dá pena, se calhar só a Serpente de Fogo, o Tsesustan e o meu Padrasto não têm pena dela. Só de pensar que aquela frágil flor-de-estufa está sozinha e perdida no mundo. Perdoa-me a expressão, mas é isso mesmo que ela é!
Ao leres este livro, reparaste logo que Sara é uma das personagens mais sentimentais da minha história real, e é verdade, o problema é que há poucas pessoas hoje em dia que ligam ao interior, mas sim ao exterior. É por isso que muitas vezes, ela é julgada pelo seu exterior, e não pelo interior. Arranja sarilhos só por ser bonita e muitas das fadas que ainda existem também apanham por isso. Ela estava farta de ser tratada como uma obra-prima falsa, uma pintura fantástica perdida de um antigo mestre larápio e aldrabão que todos os homens quisessem posssuir. Para ela, já bastava aquele sofrimento por que estava a passar, e passou durante longos minutos a compor músicas extremamente belas para os Deuses.

Ela é uma Fada da Luz, uma Kinnary, uma fada com asas de cisne e pernas tão bonitas e frágeis quanto as de uma corça jovem e pequenita, cuja principal função é servir os Deuses. Elas e os Kinnara - os fadas masculinos - são os principais criados e servos dos Deuses e eram muito influentes em tempos idos, aquando a Serpente de Fogo ainda não estava no poder. Agora, por causa da sua beleza, as Kinnary e os Kinnara (tal como as outras espécies de Fadas) foram forçados a exilarem-se das cidades ou de outros locais mais populosos, para evitarem serem capturados pela SPV, a polícia secreta da Serpente de Fogo. Sabes como aquela víbora é quando outra mulher ainda mais bonita "ofusca a sua beleza". Fica logo invejosa. Mas a Sara também não gosta nada de viver fugida dos capangas daquela bruxa. O pior é que ela não pode fazer nada.
Actualmente, com um pouco de paz e de alegria espiritual, a antiga "amiga" dos Von Tifon e embaixadora diplomática dos Deuses no estrangeiro, apesar de já ter 82 anos, continuava tão bonita como se tivesse vinte aninhos. É uma fada pobre - com a maior parte dos seus bens, tanto monetários como títulos honrosos, foram consficados no "9 de Julho de 1978", quando as Fadas passaram a ser consideradas "impuras" e indignas de viver nos "mesmos espaços" que os superiores "bruxos e feiticeiros". No entanto (embora ela nunca quisesse e já tentara fugir dali para viver com o seu próprio esforço como cantora de cabaret ou de algum club duvidoso em Cyborg Town), o Palácio das Reuniões concedeu-lhe refúgio, comida e dormida, por ser, ainda considerada, por muitos deuses incorruptíveis, uma «...uma heroína que sempre fez o seu melhor pelo seu país...» Sim, ela enfrentou muitas vezes os Nazis, e teve de enfrentar, sozinha, algumas batalhas, completamente sozinha, mesmo depois da guerra...!