terça-feira, 19 de abril de 2011

O Pior Pesadelo Torna-se Realidade


"O segredo que o teu pai carregava era de estado, e ninguém – excepto os demónios – sabia que ele era um bruxo extremamente poderoso, um senhor das trevas, aquilo a que o Vaticano chamaria de um servo do Diabo. Toda a gente pensava que ele era um humano prodigioso, que raramente saía de dia, e com umas armas que atingiam sempre o alvo. Eu conhecia-o como o Faquir de Praga, e ele conhecia-me como Reichsprotektor Heydrich. Nenhum de nós tinha visto a verdadeira aparência por detrás dos nomes, por detrás dos rumores.

Ou como eu costumo dizer: nenhum de nós conseguia tirar a máscara um do outro. O teu pai era sem dúvida alguma, o maior e mais poderoso inimigo que eu já alguma vez conheci em toda a minha vida!

Durante a guerra, eu tinha pensado que ele era um humano, tal como eu. Ele não se vangloriava das suas vitórias, como o Conde Dark Sword ou os amigos da Sara. Na verdade, era um sujeito mais ardiloso e mais astuto do que qualquer outro feiticeiro.

Quando um dos meus informadores conseguia apanhá-lo (através dos relatórios, feitos, obviamente, à pressa) já ele os tinha eliminado, rápida e silenciosamente.

Tenho de confessar que o teu pai foi o único que eu não consegui apanhar, e isso, frustrou-me ainda mais quando a Princesa fugiu. Por outro lado, ensinou-me que em Praga, a Resistência contava com a magia, e desta vez, era magia que eu desconhecia, da qual eu nunca tinha ouvido falar.

Himmler nunca foi informado disto – e nem precisava. Afinal, este era um adversário à minha altura!"

A descrição da maneira como o meu pai actuava em espião encaixa perfeitamente com aquilo que eu ouvi da boca do meu próprio “avô”. E é verdade. O meu pai era um mestre na arte de mentir, seduzir, e…matar!

Por outras palavras, “…era um assassino! E todos os homens e mulheres numa guerra o podem ser, Jessica.”

Engulo em seco ao pôr estes pontos finais e estas citações. Até parece que o meu padrasto me está a controlar para dizer coisas dessas.

Tenho de descobrir mais sobre a família do meu pai. Heydrich apenas me tinha falado sobre o inesperado pedido em casamento e sobre a forma como o meu pai tinha entrado, de uma forma quase insolente, pelas portas do palácio von Tifon.

É fácil para ele dizer isso. Ele…mas não vamos tomar conclusões precipitadas. A Tsuna continua a observar-me a escrever. Só espero que não conte nada. Ainda bem que ela só sabe falar, ler e escrever Bellante, e não Inglês. À excepção do Bellante, ela sabe o Alemão, o Português, e…O Mandarim.

É por isso que guardo, muito cuidadosamente, o meu diário. Se alguém neste palácio ousar tocar no meu diário… Adeus dedinhos!

Respiro bem fundo, ao olhar de relance para o mostrador. Já é meia-noite. Eu ainda queria saber mais sobre como raio a minha mãe tinha descoberto que estava grávida. Mas parece que o meu padrasto se tinha ficado pelas partes mais “chocantes”.

Que conveniente.

Pelos olhinhos de cachorro da minha irmãzinha, ela quer que eu lhe conte uma história. Que infantilidade. Eu não sei contar histórias sobre dragões que salvam o Império do Meio, ou sobre macaquinhos com forças extraordinárias.

A luz do outro lado do quarto abre-se: é o meu padrasto, que, com o seu elegante roupão verde-escuro e o seu cabelo louro desgrenhado, acabado de tomar banho, parece convencido que sabe contar histórias de fadas.

Parece definitivamente outra pessoa! Com ele, vem os meus primos mais novos, os filhos da minha tia Charlotte.

O Fran (diminutivo para Francisco) e a Chan (Elisabete), os dois pequenos gémeos, saltitam, um pouco excitados.

Eu sou demasiado velha para coisas como estas. Mas enfim. Lá me sento com eles e, de uma forma simpática, ouço aquilo que o “Carrasco”…perdão, que o meu padrasto tem para contar para nós os quatro.

E esta comodidade quase familiar, esta “pasmaceira” faz-me pensar nos dias em que o meu pai (provavelmente quando eu era mais nova que a Tsuna ou quando tinha a idade da Chan e do Fran) me contava umas lindas histórias sobre príncipes e princesas.

Mas nessas histórias, os príncipes não eram monstros ou sapos. Não havia bruxas nem demónios japoneses. Havia mas é os bailes com as suas valsas, a sua música clássica, os seus candelabros, e as princesas com os seus magníficos vestidos todos cor-de-rosa de gala. Sim, porque o meu pai achava que os príncipes tinham que ser belos, corajosos e muito românticos.

Caramba como isso era enjoativo! Pelos vistos, a Tsuna e a Chan gostam de ouvir mentiras. Mas quem não gosta?

Ah, sim, pois claro, o patinho feio da Jessica von Tifon, a maria-rapaz da Jessica que usa umas botas e calças à militar desde os treze anos. A Jessica von Tifon que nunca se comoveu ou achou graça a um filme da Disney.

A Jessica von Tifon que está irremediavelmente apaixonada por um rapaz mais novo, mais pobre e mais bondoso do que ela! A Jessica von Tifon, que é descendente de bruxos malvados!

Vou fazer orelhas moucas aquele estúpido, é isso.