quinta-feira, 25 de junho de 2009

uma noite em Losjafhden (última parte)


O estafado Tezcatlipoca abriu as portas de vidro super fortes e impenetráveis qual guerreiro acabado de chegar de uma longa e dura batalha, com um sorriso na cara, resignado e guardando de uma forma desleixada o seu guarda-chuva perto do espanta-espíritos. Pensava que os problemas tinham acabado. Como estava enganado!
Primeiro, reparou que as luzes estavam acesas e o balcão estava uma lixeira; segundo, de súbito, uma grande bola de pêlo castanha e branca saltou-lhe em cima qual torpedo laranja, com a cauda a abanar e a ladrar vigorosamente.
O pobre cyborg ficou com a cara toda molhada daquele líquido viscoso, e tentou limpar-se sem êxito, ao ver que o cão estava determinado em deixá-lo em pior estado do que tinha quando entrou em casa.
Levantou-se de rompante, e deu algumas festas ao fiel animal de grande porte, com um sorriso de quem perdoa facilmente.
- Pronto, Bravo! Eu também estou feliz por te ver. – Comentou entre dentes. – Sabes onde está o Pedro?
O cómico S. Bernardo começou a correr, balançando-se e subindo as escadas de forma bastante ridícula, sempre a babar-se.
Pedro contou-me nas aulas que Bravo chegara às suas vidas desde que o meu amigo especial tinha dezasseis anos, e nessa altura, o cãozinho era um fofo e não pesava quase nada, mas agora, parecia-se mais com um verdadeiro bucha anafado, e às vezes é um pouco brincalhão. «Qualquer dia, temos de comprar um elevador para a pobre criatura, caso contrário, ainda vai cair nas escadas!» Comenta com os olhos revirados e de forma sarcástica o tio do Pedro.
Adiante, ele seguiu com dificuldade o seu animal doméstico preferido, até ao quarto da porta verde-clara, donde saía música hard-rock a altos berros.
Muito alarmado e com os olhos arregalados que nem dois tomates podres, foi com as sobrancelhas muito carregadas e com um olhar austero que o tio do meu amigo entrou muito irritado no seu quarto, precipitando-se como um canhão para leitor de CD’s.
Para o cansado Tezcatlipoca, já bastava os Bruxos com a nossa «...idiota...» e «...maluca...» mania do Dia das Magias Negras, agora ter de aguentar com as manias madrugadoras do seu único sobrinho.
Olhando para o Pedro, o velho cyborg muito zangado, carregou violentamente no botão para desligar a “música infernal”.
Acabando de fazer isto, baixou-se para o rapaz moreno, alto e de olhos castanhos pequenos que não parava de tocar a guitarra vermelha-escura com grande êxtase e retirou-a de uma forma bruta.
- Por favor! – Exclamou ele em voz alta, mas logo mudou para um tom mais baixo para que não perturbasse a vizinhança. – Enquanto viveres nesta casa, homenzinho, o silêncio à madrugada é de ouro!
Obviamente que o jovem cyborg objectou a opinião do seu encarregado da educação, nós, adolescentes, costumamos ter um espírito livre, e não gostamos quando os “cotas” da nossa família venham “melgar” para o nosso local favorito, ou seja o nosso quarto, é por isso que Pedro também ficou um pouco aborrecido pelo tio vier irromper pelo seu local e ter desligado a música sem ter pedido autorização.
Ele bateu com a mão na perna direita metálica, fazendo uma cara de amuado.
- Oh, mano! – Disse chateado. – Só estava a curtir umas músicas, tio....Também já não se pode ter uns minutos de descanso, é?
Mas o stôr Tezcatlipoca não quis saber nem dos “mano” nem dos “curtir”, e apontou com rigidez para o beliche vermelho desportivo da Ferrari.
- P’ra cama, homenzinho! – Mandou friamente. – Imediatamente. E não te esqueças de lavar os dentes…Queres ficar sem dentes?
Ao pegar na sua escova e no pijama, o rapaz olhou o seu tio um pouco envergonhado.
- Tio, eu já não sou nenhum puto de nove anos! – Respondeu submisso.
Com as mãos nas ancas, Tezcatlipoca arranjou facilmente argumento para aquele comentário insolente e disse:
- Estás com muita sorte por eu não ter-te tirado a guitarra até teres dezoito anos, homenzinho, porque era isso mesmo que eu queria fazer, se não estivesse afogado com tanto trabalho pelas orelhas!
Acabando de vestir o pijama, o insubordinado rapaz, ainda comentou, meio, deprimido, sem saber o que fazer senão obedecer às ordens do seu tio:
- O Dark Sword nunca me teria levado para a cama. Até aposto que o Euncätzio é mais porreiro que o tio.
Mal disse isto, fechou a porta na cara de Tezcatlipoca com desprezo e deitou a língua de fora, sem nenhuma consideração pelo velho e experiente cyborg!
Porém, o tio não ficou zangado, pelo contrário, suspirou com grandes remorsos a pesar-lhe na cabeça, e, olhou lentamente uma última vez para o poster, abanando a cabeça desapontado, nesse momento, houve qualquer coisa no seu olho que soltou-se.
- Se é isso que pensas de mim, meu rapaz, então é porque não conheces de todo a tua família! – Indagou secamente.
Assim triste, foi para o seu quarto trabalhar, sem saber que o seu sobrinho não tinha nenhum afecto pelo pobre coitado.
Na trágica verdade, o Pedro tem andado tão estranho, tal como a maior parte das pessoas simpáticas que se encontram neste mar de corrupção. Estava preocupado comigo, e mesmo que estivesse a usar o anel, o dele continuava a brilhar numa cor completamente vermelha de sangue! Assustado com as histórias que eu lhe contara acerca do meu Padrasto e sobre as minhas intenções de ir visitá-lo ao Castelo Negro, de potenciais perigos.