domingo, 11 de maio de 2008

A Casa e os Champôs (3ª e últma parte)


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Senão fosse a rádio que se limitava a dar uma estação que pertencia a uns bruxos alemães e a portugueses, aquelas duas horas no cabeleireiro seriam muito enfadonhas. A rádio que estávamos a ouvir era chamada de “Lira Negra – tudo na magia”, sintonizada em fa 77, frequências atlantes. O apresentador também não era lá grande coisa, mas as músicas eram mais ou menos, pelo menos não era uma rádio que fazia propaganda ao regime da SPV. Essas é que são mesmo foleiras. A certa altura, até parece que explodem de emoção e em lágrimas de felicidade só por causa dum estúpido feriado nacional tão importante como o Dia das Bruxas na Atlântida. Nessas alturas, perguntamo-nos a nós próprios o que é que um dia de todos os santos é tão importante e eu, como me sinto generosa, vou-vos falar desta data tão importante, anunciada por todas as rádio e canais de televisão atlantes, que, alguns, são, decerto, comprados pelo governo, ou seja, pela nossa querida polícia secreta, a SPV.
O Dia das Magias Negras, ou o Dia das Bruxas, ou o Halloween é um evento de cariz tradicional e cultural, que ocorre nos países
anglo-saxónicos, com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações pagãs dos antigos povos celtas. O Festival de Samheim celta, celebrado entre os dias 30 de Outubro e 2 de Novembro com origens celtas, foi popularizado entre os finais do século 70 d.C., devido à ocorrência de vários imigrantes celtas nessa altura virem para viver para a Atlântida, coincidindo com o Ulmana atlante, a data do primeiro de Novembro, o dia cujo a lenda mítica do Assassino do Amor e o seu verdadeiro dono da alcunha – Rwebertan Samiel Di Euncätzio – chacinou 666 feiticeiros e fadas, era considerado um dia de luto e tristeza para toda a ilha…Com a chegada dos novos povos em 72, Neptuno declarou os dias 30, 31 de Outubro e 1 e 2 de Novembro dias sagrados, por causa das novas revelações descobertas nas memórias de Samiel. A partir do século doze, essas datas foram previamente proibidas de se celebrar devido à pressão da Igreja mundana, o que fez um corte profundo entre a Dimensão Mágica e o Mundo dos Mortais….Contudo, a magia conseguiu sempre encantar, para sempre, pelo menos, a pena dos poetas, dos escritores, dos músicos humanos, das crianças. O que será tão assustador para uma criança do que uma bruxa ou um dragão?... Eh, eh, eh…!
…Houve, igualmente, sempre, na maior parte das lendas, romances e contos mundanos, um anti-herói ou um vilão semelhante ao Assassino do Amor, como o escritor e aventureiro português Fernão Mendes Pinto, o amante italiano Casanova, o historiador renascentista Nicolau Maquiavel, o Duque César Bórgia, o Príncipe Vlad III, o Impalador…Estás espantado? É bom que estejas, porque a maior parte destes homens, cuja língua materna era o…Latim, foram acusados secretamente de bruxaria e falsificação de documentos que comprovavam e alegavam a existência dum mundo paralelo ao da Terra, em cujo centro se destacava uma ilha ou continente perdido, com o nome da Atlântida…Isto que não saísse do Consílio de Trento, pensaram logo os católicos. Infelizmente, os Feiticeiros, as Fadas e os Humanos sempre estiveram, duma forma ou de outra, interligados, e, vai daí, que, um dia, antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, Heinrich Himmler convence-se que existem mesmo deuses, feiticeiros, fadas, gigantes e outras criaturas fantásticas que tais!... Ora aí temos, meu caro! A verdade das verdadinhas é que, ao proibirem o festival de quatro dias se realizar, os antepassados católicos humanos enfureceram Tsesustan, e este permitiu que certas coisas ou desgraças acontecessem. Bom, a partir dos Anos 50 do século vinte, o Dia das Bruxas foi suavizado, porém, nos anos 80, voltou em força, e ficou conhecido na ilha como o famoso Dia das Magias Negras, onde todas as criaturas mágicas celebram o facto de, graças ao Assassino do Amor há mais de milénios atrás, poderem, uma vez por ano, soltarem o seu lado obscuro. Claro que para nós, Bruxos, é motivo de uma alegria constante.
Subitamente, uma humilde fada entrou pela sala, acompanhada por um belo e mal vestido cyborg, ambos de sorrisos bondosos e confiantes.
Era o Pedro e a Sara, que já tinham sido avisados pelo Nälden para irmos até ao apartamento deste último para eu e a Sara irmos mudarmos de roupa.
Ia ser uma noite mágica, se eu e o senhor Pedro Dardo não faríamos aquilo, então, talvez fosse uma relação demasiado precipitada, mas, eu tinha a sensação que iria ter o que queria, mais cedo do que esperava.
Já preparada e pronta, com uma carteirinha ao tiracolo dos meus ombros, o cyborg recebeu-me na Estação Manuelina, passando lentamente o seu braço sob as minhas costas até chegar à cintura e dar-me um beijo molhado no rosto.
- Tu estás uma bonitona, Jessica! – Comentou ele, completamente suado na testa e encantado com o meu aspecto.
Retribui-lhe, agradecida, aquele beijo com um leve roçar suave nos seus lábios, e, durante aqueles três segundos, senti-me a mulher mais feliz do mundo!
- Muito obrigada, Pedrocas. – Disse num tom amoroso e sarcástico.
A Sara, atrás de mim, com um vestido azul-escuro de noite que lhe chegava até ao peito e que terminava numa formosa e adorável saia azul-claro de seda com pérolas minúsculas incrustadas no vestido quais estrelas cintilantes, e um penteado com o cabelo prendido atrás por um gancho de diamantes e banhado de prata, complementava o seu formoso rosto pálido, que agora brilhava com a purpurina e maquilhagem especial que as aias da Rainha das Fadas lhe tinham enfeitado e ajudado a fazer, estava divinal.
Todos os homens olhavam para nós as duas com olhares gulosos e galanteadores.
Não era para menos, eu estava, a meu ver, deslumbrante. Tem calma, não percas o apetite por causa da minha miserável pessoa, está bem?