sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Sonhos Estilizados e Formosos (Parte II)

Convencido que poderia confiar em mim, acalmou-se, respirou bem fundo, sentou-se resignado com o seu característico sorriso de volta para mim, agarrando a minha mão com os olhos brilhando de meiguice.
É um homem sincero, este Nälden! Não consegue esconder os seus verdadeiros sentimentos a ninguém, e se há coisa que detesta é a mentira, mas perdoa tão facilmente, que poderiam muito bem chamá-lo de anjo.
Com o seu ar jovial, começou a sua história num tom alegre:
- A menina imagine: estava eu a tocar maravilhosamente no meu piano, o lugar a floresta de cristal e flores tão formosas quanto os meus queridos flamingos, quando de repente, ela apareceu!
- Ela quem? – Interrompi num sorriso cúmplice.
Nälden sorriu encantado, e respondeu meio aluado e suspirando num tom apaixonado:
- Uma doce e frágil menina de cabelos pretos soltos, uma pequena jóiazinha, passeando livre, com uma voz tão bela quanto a dum rouxinol e olhos mais claros do que o mar límpido, rodeada por uma aura divina, tão terna e pura....! Qualquer homem ou criatura se enamoraria por ela. Porém....
De súbito, o sorriso desapareceu, e este retornou para o seu estado perturbador.
- Uma sombra ameaçava pôr um fim a esta alegria! – Exclamou sombrio. – No meu coração senti que um monstro irrompia, de olhos ardentes e penetrantes, alto como o mais altivo dos pinheiros da Floresta Negra e nariz de falcão com retumbante grilheta negra aproximou-se da pobre princesa, ansiando apanhá-la com as garras!
As suas mãos começaram a ficar trémulas, e a sua voz começou a ficar cada vez mais perturbada, e desta vez ficou mais pálido do que a cal:
- Foi aí que,soltei uma terrível gargalhada diabólica, gritando “Minha Princesinha, vem comigo! Minha Princesinha, vem comigo! Vem comigo para o meu castelo onde os nossos corpos se juntarão num só!
O seu rosto agora expressava pânico por todo o lado e agarrou-me a mão com uma força que até deixou marca.
- Imagine só! O monstro era um reflexo meu! Mas a linda fada desvaneceu-se como uma miragem nas brumas da lua ainda no céu, para nunca mais voltar...! – Exclamou a morrer de medo. – Que significa isto, menina? Estarei a perder o juízo?!
Cada palavra era dita com um terror e exagero tais, e os seus olhos ardiam de uma paixão louca que até pensei que ele teria mesmo perdido a cabeça de todo, mas não.
Havia uma força para além da aparente demência do rapaz muito alarmado, uma espécie de intuição em proteger a menina dos seus sonhos. Aquele sonho mau, aquele pesadelo seria um aviso de Deus para Nälden ou todos os de bom coração para defender com as suas vidas a Princesa Arco-íris...?
Sim, talvez, mas era melhor para ele não pensar mais naquilo. Valha-me Deus! Fantasmas, monstros malvados!? Era melhor esquecer aquelas histórias de almas penadas á procura de salvação dos justos.
Como ele muito bem disse, não há lugar aqui para fantasmas do passado. Essas lendas da Princesa Arco-íris; Assassino do Amor e fantasmas de meninas perdidas a seduzir homens incautos na floresta é tudo uma chachada!
Felizmente que eu sei como animar alguém que pensa em morte e reencarnação ou outros disparates inventados pelos Cyborgs ou por algum velho bruxo sinistro a meio da noite para meter medo.
Ajudei-o a levantar, e desatei a rir às gargalhadas, fingindo-me divertida e galhofando alegremente com a ingenuidade dele.
- Nälden! Acreditas mesmo nessas balelas contadas por velhos mas inspirados pelos hipócritas dos Bruxos Nazis há mais de cinquenta anos?! – Ri-me, dando um encontrão ao pobre alemão. – Já agora até poderiam haver mulheres com pescoços de girafa, não?
Dito isto, arrastei-o sem medo de nada, até ao corredor, pulando e dançando, cheia de vivacidade. Queria brincar com aquilo, por isso, tornei os meus olhos o mais aterradores e fixei-os para o assustadiço tenente.
- Vamos, o pequeno almoço já deve estar pronto. – Disse eu rapidamente. – Ou queres ficar aí a pensar em bruxos maléficos que devoram meninas incautas e em fantasmas que deambulam pela floresta ao meio da noite?
A minha brincadeira resultou, e ele, com um calafrio na espinha, engoliu em seco e apressou-se a acompanhar-me, cagarrando-me pelo braço direito.
- Nem pensar, menina! – Respondeu numa voz fininha.
Lá fomos nós os dois, esquecendo as aventuras da noite.........! Obviamente que, tal como qualquer dia, Sua Majestade, o Spiegel gostaria de dormir até tarde, mas esse sonho fantástico nunca poderá se realizar, pois são ordens do Excelentíssimo, Eminentíssimo, Tremendíssimo General Couto Wilhem Couto vo Tifon que o seu pobre animalzinho inale o perfume do raiar do dia. «....Coitadinho do pobre gatinho, ele nunca sai do Château, Frau Jessica....» Comenta Nälden com um sorriso amarelo ao dirigirmo-nos para o quarto do arrogante e presunçoso bicho. Quem me dera poder livrar daquele saco de pelo nojento e horroroso.