quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Poisonous earl grey



13 de Novembro, por volta das sete da tarde

                   Enquanto estava a tomar um Earl Grey mint and Lemon (podem tirar-me de Londres, mas não podem tirar o meu Earl Grey) reparei que o sacana do Dr. Fixtanea e o crápula do Finistergäse tinham entrado no café saloio do "Sencha ya Omakeda". 

O Finistergäse anda sempre de óculos escuros, com um chapéu bicudo à maneira dos antigos bruxos. O Fixtanea usa sempre um chapéu de feltro preto. O primeiro andava com um  casaco pendurado nos ombros, o outro andava com um elegante e moderno sobretudo preto, que chegava aos antigos e caros sapatos Italianos pretos. Com um cachecol ao pescoço, o velho doutor pediu um maço de cigarros mais caros que o dono do café tinha!

Finistergäse, um homem de quimono cinzento e um pouco coçado, adivinhei que fosse o convidado do homem sinistro aquem pertencia a limusina.  Falava no dialecto Alemão de Shunamari, como que a pedir desculpa por ser tão distraído. Aí, percebi que quem era o pobre coitado que precisara dos quinhentos marcos era ele, pois estava com um ar um tanto apreensivo nos lábios. Trazia quatro adagas Japonesas, semi-ocultas nas calças do quimono. 

O sádico e bêbado Finistergäse que eu vira no Dia da Magia Negra a gozar com a Imperatriz Serpente de Fogo, estava a tremer que nem uma folha diante do Fixtanea!  Consegui cheirar o hálito dele aa milhas, com o sabor desagradável a arroz queimado, fígado de qualquer coisa e cebola áspera. 

O Fixtanea pronunciou algo em Japonês a que eu não percebi muito bem. Com certeza que não era um elogio! Entre as poucas palavras, sibiladas numa voz grave e arrepiante, eu apanhei o nome da Tsuna, com o habitual sufixo carinhoso "chan".  Aqueles dois estavam a falar da minha irmã emprestada! 

Pousei discretamente os phones do walkman nos bolsos, para não dar muito nas vistas. Tinha o cabelo completamente molhado e encaracolado, emaranhado como uma bola de lã avermelhada. Se tivesse sorte, eles não reparariam em mim! 

A porcaria do tempo, com o morrinho que apanhara em Cyborg Town, transformara-se num aguaceiro dos Diabos quando eu tinha chegado ao ducado de Shunamari. Passara a correr pela velha aldeia Japonesa de Itshaki, alugara uma bicicleta, e precisamente quando estava quase a chegar à estação de metro de Omakeda (outra aldeia Japonesa no velho ducado do meu avô, que Deus o tenha, embora por esta altura acho que ele deve estar mais no Inferno do que no céu). 

Abrigada no café tipicamente Chinês, vi um relâmpago a rasgar os céus, atingindo cruelmente uma árvore, a pouco menos de dois mil pés de distância.  O trovão fez com que a sala velha tremesse, suportada por ferros, arcos de madeira cor de sangue e vigas de pedras cinzentas e nada agradáveis.  

Não me admirava nada que o café datasse do tempo em que o Daisuke ainda tinha cinco anos...! 

As janelas redondas, com cortinas de musgo, molhado e sombrio, os candeeiros de papel à maneira Chinesa, com carácteres em Bellante do Norte, a baloiçar no meio do tecto escuro e gelado...Aquilo mais parecia-se com um cenário de um filme "noir" dos anos 40 sobre Chinatown do que um café no meio da rústica estrada de Shunamari, cercada por um bosque um tanto intimidante...!     

Só quando Finistergäse pediu uma lata de cerveja em Inglês é que apercebi-me que estávamos no século vinte e um.  

- Que tempestade dos diabos! - Comentou o gerente, num sotaque Japonês, enquanto lavava os copos. - Até parece que os Oni andam à solta...Não é que eu acredite nessas velhas superstições, mas cá em Shunamari, até parece que a floresta pode pregar partidas aos incautos!   

Com um sorriso informal, dirigiu-se ao velho doutor.  

- E o que é que o senhor irá desejar? 

- Um café preto com canela se faça favor! - Ordenou insipidamente o Dr. Fixtanea, não parecendo mais o encantador cavalheiro de idade  que beijara as palmas das mãos da minha irmã. 

De repente, ao reconhecer o sotaque, o gerente começou a falar em Japonês, num tom muito educado e simpático. Fazia as coisas com a maior das naturalidades, como se estivesse concentradíssimo no trabalho.  

O Dr. Fixtanea parecia nem um tanto interessado na conversa um tanto "chacha" do gerente, que devia ter os seus quarenta, quarenta e tal anos. Soprava uma nuvem de fumo de vez em quando, como se a tentar ler no reflexo do espelho à noveau-art, os olhos dos clientes e o que é que eles diziam. 

Entretanto, o idiota cobarde do Finistergäse, falava fluentemente com um ar interessado em Japonês, continuava a suar rude, rouco e cínico. Subitamente, apercebi-me de um pormenor muito estranho ao observá-lo de esguelha: Finistergäse tinha dois cornos a sair do chapéu bicudo. Fixtanea tinha um olhar penetrante, quase demoníaco que fazia com que a maior parte  dos homens ali ficassem parados que nem estátuas! Outros cairam, mais duros que nem pedras...! Se calhar até já tinham esticado o pernil! 

Antes que pudesse notar, o gerente começava a abanar-se com a toalha, como se estivesse muito abafado. Tentei não engolir em seco. Ele parecia estar muito mais aterrorizado do que eu, com gotas quentes de suor a cair da testa morena. 

- Agora que me lembro... - Disse em Inglês, a arfar, enquanto o Dr. Fixtanea esboçava um sorriso maldoso. - O meu pai contava-me quando era pequeno, uma kaidan: um dia, na altura da guerra, ele viu um homem a sair de uma limusina preta, a fumar um cachimbo. Ele devia ter dezasseis, dezassete anos!  Mas ele sabia perfeitamente quem era aquele homem...! 

Antes que o coitado do gerente pudesse revelar quem tinha sido o feiticeiro demoníaco que o pai tinha visto, este primeiro começou a cuspir sangue. Era tão vermelho quanto as paredes do próprio café. Tão quente quanto o meu cabelo, que caía, arrepiado nos ombros.  

Os poucos homens que tinham sobrevivido ao feitiço dos olhos diabólicos de Fixtanea, e que tinham escapado ou resistido àquele letal nevoeiro azul-claro que pairava no café, pareciam um pouco ou tão arrepiantes quanto Finistergäse. 

Este último soltou uma risada maliciosa. Apunhalou o gerente com uma das adagas e clamou algo cruel e incompreensível na língua do Bellante do Norte. Tirou os óculos, e pude ver que ele não tinha olhos de todo!

Neste momento crucial, um tipo repara que tenho as calças um pouco descaídas e um pouco justas para que ele tivesse uma ideia de como eram as minhas traseiras.

- Que rabinho fofo, ruiva! - Assobia sonoramente num tom bêbado em Inglês.  

Antes que eu possa enfiar o resto do chá na braguilha do cara de cu, já o Dr. Fixtanea e o Finistergäse viram-se para mim, um com um olhar azul e cinzento, fantasmagórico, o outro com um sorriso demoníaco semelhante àquele que eu vira no Daisuke. Eu, a única mulher que não usa avental ou está morta de susto, a mulher que devia usar algo feminino do que calças à militar, botins pretos, um casaco de couro azul-escuro, e uma camisola de manga comprida, de algodão, quente, suficientemente justa para que as minhas mamas se notem, mesmo com a porcaria do soutien! 

Que é que queres? Quando uma pessoa está a ver que vai haver uma chuva das boas, só quer algo seco onde se aquecer até que o dito-cujo passe! Tiramos aquilo que nos calha na rifa e pronto! E logo saiu-me um café antiquado, infestado de bruxos demoníacos! Tudo isto, juntamente com os raptores da Tsuna! Ela tinha conseguido escapar e sobreviver no Halloween...mas então e eu?        




terça-feira, 20 de novembro de 2012

A língua dos Bruxos: Bellante do Norte

              
13 de Novembro, de 2004



 Falando em pessoas irritantes, a biblioteca não é exactamente o lugar perfeito para trabalhar. primeiro, as raparigas lá não param de falar, mesmo que seja um local de trabalho, segundo, não consigo perceber uma única palavra do que dizem. Ainda bem que tenho o Daisuke para me alegrar! Sabes o tipo do Café? Parece que ele é um dos meus primos do lado da minha bisavó. Ele é neto do meu tio-bisavô, que pelas poucas palavras que percebo do dialecto de Shunamari dele, ainda está vivo.  Para além de estarmos com os meus phones - para não ouvirmos as histéricas das raparigas das secundárias de Cyborg Town - a ouvir os Iron Maiden, ele ajuda-me a ter paciência com o computador.

O computador é uma lentidão, o que torna o trabalho ainda mais difícil. O meu professor de Bellante Arcaico do Norte mandou-me pesquisar "as semelhanças entre o Japonês Arcaico e o Bellante Arcaico do Norte" como trabalho de casa. Mas com esta lesma, vai ser mais fácil eu falar do sotaque arrevessado dele em Inglês do que de uma língua que só os velhotes de Shunamari e de Cyborg Town sabem falar. É mais por causa do Daisuke que estou a fazer isto. 

As raparigas não paravam de falar. Era como se não tivessem mais nada do que fazer a não ser rirem a bandeiras desbragadas!  A coca-cola caiu-me um pouco mal na garganta. Demasiado fria para o meu aparelho dos dentes. Era como se o tipo que arranjara a bebida tinha ido buscar um pouco de gelo da sarjeta lá na rua de Cyborg Town.

Enquanto o Daisuke explicava-me um pouco sobre o antigo dialecto de Osaka falado no século sexto, eu perguntei-me se ele era assim tão novo quanto eu pensava.

Ele suspirou, ao apontar para o indíce do livro. Falava sobre os últimos séculos antes do Tratado da Magia Universal, e como o Bellante do Norte fora influenciado com estrangeirismos Russos.

- Não sou assim tão velho quanto a maior parte dos Feiticeiros Demoníacos, só tenho  oitenta e cinco anos! - Exclamou ele, um pouco triste. 

- Não pareces assim tão velho! - Sorri num tom de brincadeira. Não acreditava que ele tivesse aquela idade.

- Não sabes? - Arregalou os olhos, um pouco surpreendido. - Os da tribo dos Youkai envelhecem muito mais tarde, ao ingerirem órgãos humanos.

Como é que eu podia saber...? Nunca soube qual era a diferença entre um feiticeiro humano, um feiticeiro demoníaco, um bruxo e um feiticeiro branco! Fiquei curiosa com essa palavra nova...De certeza que era um empréstimo do Japonês.

Ao pôr, estranhada, as mãos na mesa, eu arregalei muito os olhos:

- Ser-se bruxo e um feiticeiro demoníaco não é a mesma coisa?

Ele sorriu e consegui ver, no reflexo negro do chocolate quente, cercado de vapor quente e perfumado com canela, dois dentes caninos e grandes a crescerem dos lábios do meu louco primo. Com o cabelo rapado e pintado de roxo do lado direito e preto natural do esquerdo, os piercings nas orelhas pontiagudas, não me admirava nada que as raparigas lá da biblioteca perguntassem o que é que uma "maria-rapaz" como eu fazia com aquele pão delicioso.  

- É claro que não...! Pode-se ser ambos, mas não é a mesma coisa...! Eu, por exemplo, sou um Kolmanatry, um feiticeiro demoníaco e um cy-bata ao mesmo tempo. Sou um feiticeiro, de sangue de Youkais, artista (é isso o que significa a palavra Kolmanatry - "artista excêntrico").

- Isso percebo eu! - Ri-me, com uma ponta de troça na voz, com as unhas perfumadas com cerejas ainda na coca-cola. Aquelas palermas bem que queriam estar no meu lugar, a falar com o docinho do Daisuke. Tenho de admitir, ele sabe falar Inglês. O sotaque fica-lhe tão bem com o sorriso maroto demoníaco e os piercings na língua.  

Deu-me uma palmadinha nas calças militares.

- Vá lá, prima, não sejas marota!  - Riu-se, ao retornar ao Alemão, língua que se sente mais à vontade. Pigarriou. Acho que é um pouco difícil para ele fingir ser velho. O Daisuke é o que uma pessoa chama de "jovem por dentro". - Bom, Youkai não é exactamente demónio! Pode ser um sinónimo de "espírito sobrenatural", "fantasma", "aparição"...Basicamente é uma criatura que normalmente a razão humana não consegue explicar.  A palavra Kätrtzyaamnahuatli ("bruxo" no Bellante Padrão)  joga com a pronúncia do nome Di Euncätzio. Mas também não é "feiticeiro demoníaco".

Ao desenhar com um pedaço de chocolate seco, ele apontou-me os carácteres "formais" em Bellante do Norte para "bruxo", "youkai", "feiticeiro demoníaco".  Eram completamente diferentes dos dois ideogramas que se utiliza para dizer o nome "Di Euncätzio".

- Como vês, no Norte ainda é tabu escrever o nome Di Euncätzio. Quando procurares por obras do "Mestre Samiel", de Onisamatzeka, ou do "Mestre Saburou", tenta ver os pseudónimos deles. - Avisou, num tom demasiado sério para que eu risse da situação.

- Mas...por que é que é proíbido...? São só um monte de rabiscos velhos...! - Repliquei, um pouco admirada com o talento e cuidado com que ele escrevia com o chocolate.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, o meu primo pousou a mão nos meus lábios.

- Estou a usar o chocolate, porque é sagrado...Sabes o provérbio "falas no Diabo e ele aparece"? As palavras em Bellante Arcaico do Norte não eram só caracteres, como acontece com os Kanji ou os Hiragana em Japonês. Faziam parte da magia e dos feitiços dos Bruxos! - Exclamou, num murmurar, como se a mera enunciação da antiga língua dos Bruxos fosse algo perigoso!

Tão rápido quanto pusera as mãos nos meus lábios, ele retirou-as, num gesto delicado.  Suspirei, um pouco apanhada de surpresa. O Daisuke, ao contrário do que a Sara me contara sobre ele, cheirava bem.  Tinha acabado de trabalhar na "Senhora Diamante". Parecia que os anos do pós-guerra tinham-no amadurecido, ou pelo menos, segundo a minha mãe "aceitar aquilo que é nascer num pântano e tornar-se numa flor de lótus".

É que o Daisuke, pelos vistos, antes da Segunda Guerra, era muito infantil. Depois, foi forçado a fugir para Hong Kong. Uma vez que ninguém associava-o, nem com o avô Hyasuko Murakami (depois conto-te sobre o meu Tio-Bisavô) , nem com o Duque Von Tifon (sabe-se lá porquê),  ele começou a tocar músicas ocidentais como ganha-pão, em clubes-nocturnos. Pode-se dizer que o meu primo "comeu o pão que o Diabo amassou"...mas, como o meu primo é filho de um cyborg, não vou utilizar esta expressão. Como o pai do meu primo foi concebido já é outra história. E como nós os Ingleses já não acreditávamos muito em Bruxas - quanto mais em "ogres", que foi a tradução mais à "ocidental" que o Daisuke arranjou na altura para explicar o que lhe acontecera, sendo ele neto de um Oni - ele lá conseguia arranjar dinheiro para comprar arroz. De repente, conseguiu arranjar um contracto com uma misteriosa companhia discográfica Japonesa, que apostava no moderno "rock" ocidental, lá para os Anos 60, ele começou a vender discos na Bellanária do Sul (aquilo que não era ocupado pelos "Diabos Comunistas", como disse a minha mãe), em Osaca e inclusive (por esta eu fiquei boquiaberta) Tóquio!

Por isso, ao acabar o seu chocolate-quente (que, por esta altura já era um gelado de chocolate do que outra coisa), o Daisuke disse que preferia esta vida de artista do que dedicar-se à profissão de feiticeiro demoníaco, que, tal como eu vira, era muito perigosa hoje em dia.

- Então, isso quer dizer que a tua personna no palco e tu na vida real são completamente diferentes? - Perguntei, muito surpreendida. Ah, eu sei perfeitamente que os metaleiros e os rockeiros são muito diferentes na vida real.

- Sim...Eu vivo uma vida simples. Não gosto que as pessoas comparem o meu "eu" artístico com o meu "eu" pessoal. O vocalista dos Kilresy com a boina preta é diferente do Duque Von Tifon ou de Kensaku Murakami...é uma caricatura dos Bruxos! - Disse num tom muito sério. - Vamos lá ver o que mais interessa: os seis elementos Bellantes, podes enunciar as diferenças no Bellante Arcaico do Norte e o Japonês Antigo.

Estava a tentar perceber a diferença entre o carácter Japonês para "água" e o homólogo em Bellante do Norte, quando lembrei-me do anel que supostamente devia proteger-me da Magia Negra. Este anel tinha aquilo que em Bellante do Norte se poderia ler como "Terra, Água, Fogo, Ar e Luz, Victória!" Então era por isso que não tinha sortido efeito. Tezcatlipoca esquecera-se da Escuridão. Mas também havia outra coisa que tinha o símbolo da água, num carácter em Chinês: um pendente de jade em forma de um arco, que a Tsuna traz sempre agora ao pescoço.


Ao ler os meus pensamentos, o Daisuke suspirou.


- É normal...A maior parte das Fadas costumam usar esses talismãs simbólicos que representam a tribo (neste caso uma ondina) e a classe a que pertencem. - Subitamente, ele apercebeu-se de quem é que eu que eu estava a falar. Quase que cuspia o segundo chocolate quente! - Mas tu estás a dizer que a viste com um pendentes desses ao pescoço?!


- É esquisito, não é? A Tsuna, a protegida da minha mãe a usar um pendente usado por Fadas! - Disse eu, ainda muito surpreendida com tudo aquilo.


- Não é esquisito se fores filha de uma feiticeira humana como a Tsuna! - Comentou o Daisuke, com o sobrolho carregado, ao tentar anotar o carácter Chinês para "água" na agenda. - E eu que pensava que a arte de trabalhar metais para que se transformem em amuletos poderosos já tinha desaparecido! Quem quer que tenha oferecido esse pendente à Tsuna, sabia que a prima Katarina não é boa-rês!  A maior parte dos Bruxos demoníacos odeia os Feiticeiros Humanos por causa do que lhes fizeram nos últimos séculos...Talvez a prima Katarina tenha herdado esse ódio do Trisavô! Eu ainda nem era nascido quando a Magia foi proíbida no Japão...!


- Bom, esse pendente só apareceu depois do dia da Magia Negra, no correio. - Confessei, um pouco apreensiva com a minha "irmã emprestada".  - Depois da festa do Halloween, não a vi!


O Daisuke olhou um pouco para mim, depois fez uma cara de quem estava muito assustado, como se tivesse recordado de um velho pesadelo. E eu que julgava que a minha mãe era uma santa!  Não me admirava nada que ele estivesse preocupado: a minha mãe pelos quadros está sempre com um ar de....pronto de uma mulher fácil. O retracto do meu avô, porém, aparecia-me na memória como algo majestoso, orgulhoso...Nunca malvado!  Mas também sei tão pouco sobre a minha família...! Só estou cá há uns meses...Parece-me mal falar do Daisuke como "Tio".  Eu trato-o por "tu", e ele parece gostar de mim, embora sinta-se pouco à-vontade para falar da família.


Depois da explicação, ao pagar o dinheiro, tanto da minha coca-cola como das duas canecas de chocolate-quente, ele pousou o casaco de couro nos ombros, como se estivesse a sugerir que eu viesse com ele. Os olhos dele pareciam tão queridos ao olharem para mim...!


- Tens a certeza que não queres que te dê boleia...? Se alguém conseguiu manipular a Tsuna e quebrar o feitiço, tanto do teu anel como do pendente dela, então é porque é um bruxo muito poderoso!

Eu disse que não, que sabia defender-me sozinha...Mal sabia eu o que é que estava para me acontecer naquela tarde...!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Afrodísiaco da Terra feminina


Não chores, pequena flor,
Os teus lábios sabem a um jardim,
onde as rosas negras são mais apreciadas!
Sabedoria antes do amanhecer,
Folha assustada, manchada, estragada,
No meio do vendaval,
Fruto amargo do poder,
Haverá algo mais para além
Da certeza dourada,
Dessa tua vida arruinada...?

Estranha doença de bebida,
Fermentada do néctar do amor, 
Que sabor o teu peito teria,
Se eu lhe pusesse um pouco de sal, 
A que doce perfume sabe o teu pescoço,
Mais profundo do que um vale...?


Dor, paixão, tristeza, morte,
És tudo isso, donzela do meu torpor;
Faço do fruto verde o meu amuleto da sorte,
És rainha, anjo, deusa,
Bebida destilada em framboesa cruel, 
Enganador maracujá, mais doce que o mel,
Contigo, não sou assim tão forte,
É o néctar que faz parecer este animal de porte,
Um pequeno cordeirinho que não teme o fel,
Fel dessas pernas, quentes e douradas...!

És uma droga e um prazer,
Bebida que enche o meu corpo de saber...!


Afrodísiaco da Terra Feminina, por Erwin Di Gracxiushandrian, 1845, Edições Bellantes





terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um café Bellante, com certeza!

9-9-2004


Estava a passar pela biblioteca, lá de Cyborg Town (não suporto ter de andar a pé, dignar-me a aparecer em Verlorneres Stadt para misturar-me com o povinho das pastilhas elásticas e do walkman com a Britney Spears a altos-berros), quando reparei no café, lá perto da Praça de Nossa Senhora Swertyhina. Chama-se “Senhora Diamante”. Não sei qual é a dos proprietários de cafés e restaurantes neste país, que não têm gosto nenhum para os nomes, e preferem plagiar os que deram nomes às ruas (e esses, de certeza que estão bem morto).  Mais ridículo ainda é pensar que o café é um daqueles, muito elegantes, com pinturas de Art Novae e em que podemos pedir um copo de vodca por noventa e cinco Delphinae – que é o equivalente Bellante ao cêntimo Americano para os Dólares, embora os Fenixinianos valem muito menos que os Dólares. 

Enfim, eu, na minha terna inocência de rapariga adolescente Britânica, pensei que era um sítio agradável para anotar uns acordes que tinha aprendido há pouco na biblioteca de Cyborg Town. Qual é o meu espanto em ver – sim, desengane-se o que lê este diário – que a população que costuma frequentar este café, é na sua maioria, homens. A música é agradável – jazz, daquele antigo dos Anos 40 do século passado. O rapaz que está ao balcão é muito mais velho que eu. Mas isso não se interessa quando se tem uns olhinhos castanhos capaz de fazer derreter até manteiga. E ele bem que precisa, para fazer aquelas tostas mistas deliciosas. O rapazinho do balcão…esse? Não me liga. Os únicos que estão a olhar para mim são velhotes de quarenta a cinquenta anos. É aí que eu pergunto: “Que ilha é esta, onde há cafés com o nome de Senhora, mas os clientes têm mais um ar capaz de assustar até o mais louco dos inimigos do Batman?!”

 Ao menos o café estava bom. Tinha o mesmo tipo de cor que  o pitbull do musculado de t-shirt preta que vai sempre buscar a sua cerveja loura para a “Liebe Ani”, e parece que está sempre com o auricular na orelha. Tenho de confessar, tenho um fraquinho por cães que outras pessoas achariam ser feios. Por mim, os pitbulls são a raça mais fofa de todos os cães. Talvez seja por isso que digo sempre “Guten Morgen” ao “Tipo musculado de t-shirt preta” . Mas aqui, na “Senhora Diamante” não há pitbulls nem tipos musculados com sotaque Alemão. Aqui, tenho de fazer um esforço para perceber o rapaz. Apesar do aspecto trigueiro, o nariz grande e o sorriso perfeito, ele não percebe nada de Inglês, quanto mais de Alemão. Só fala Bellante do Norte e Japonês. Das duas, venha o Diabo e escolha, porque se ele disser: 
"Yaa, Fräulein Yessika...! A nextili ashga ka ,trsa la plyu lke tka pitz a waraka?"  
A única coisa que eu vou perceber é "Olá, Menina Jessica...!" 
Ao meio-dia, toca sempre naquela praça os carrilhões do Templo da Senhora Swertyhina. É uma mistura do mundo ocidental (os sinos lembram-me o Big Ben da Ol'London Town, como eu costumo dizer) e do mundo oriental, uma vez que a maior parte das pessoas tem a pele muito morena e há carácteres Bellantes e Japoneses por todo o lado. Perdoem-me o romantismo, mas é de facto um momento mágico, em que o tempo parece recuar à altura em que só havia carros eléctricos a passar nas ruas da Cy-bata Teito. A Praça da Senhora Swertyhina, juntamente com a Biblioteca do Norte e o Templo Menor de Prata Senhora Swertyhina, tem uns edifícios bem antigos. Parece que os Russos nunca bombardearam as zonas religiosas durante os finais da Ocupação Japonesa, por respeito. 
Não vou dizer que não tenho saudades do Big Ben, da Tower of London, dos pubs, do sotaque Cockney, dos scones...Mas adoro o chá que o rapaz Japonês da "Senhora Diamante" faz. Lá nos entendemos, entre uma mistura de Bellante padrão da minha parte e um pouco de Alemão arrevessado da parte dele.
Ora nesse primeiro dia, eu estava a ouvir no meu walkman os Judas Priest. Um homem de gabardina preta com dois olhos rasgados, um gigante de três metros, resmunga algo em Japonês, como se quisesse para eu desligar aquela porcaria. Que raio de música é que eu fora escolher: Breaking the Law.
O rapaz tenta conter uma risadinha trocista. Fico espantada por estar a sorrir, e ainda mais por parecer gostar da música.
Judasu Puriisaturu rocks! - Sussurra ao servir-me o café com os pastéis tipicamente Bellantes.

Caramba...! Ainda há alguém que conheça os Judas Priest, apesar de saber apenas algumas palavras em Inglês...? Pensei eu cá para os meus botões. É por estas e por outras que eu adoro Cyborg Town: uma pessoa conhece cada um, enquanto se é servido um pouco de chá num café que tem um ar gótico mas a maior parte das pessoas parece que saiu de um filme de samurais ou de um documentário sobre as civilizações pré-hispânicas. Pois é: é assim, um típico café Bellante. A maior parte das pessoas que a frequentam (pelo menos em Cyborg Town) são homens com má cara, um sítio que é uma miniatura das torres que fariam inveja ao Castelo do Drácula, e couro. Gabardinas de couro, sapatos pretos, chapéus super elegantes, quer de feltro, ou à maneira tradicional Bellante: bicudos. Uma banda de jazz a tocar na rádio e um chá de menta com um pauzinho de canela.


 

domingo, 22 de julho de 2012

Tal avô, tal neta?



Saudações da vossa Tifongirl.... Agora já sabem porque é que eu pus o nome tifon como pseudónimo, há cinco anos atrás, a Jessica foi a primeira Von Tifon, e eu identificava-me um pouco com ela na altura.  Nessa altura, eu gostava de fazer pinturas a aguarela, ouvia uma música muito heterogénea e tinha uma relação complicada de amor/ódio com os desenhos animados Japoneses (mais conhecidos por anime) , que ora eram passados às sete e meia da manhã, ora no horário infantil, às cinco da tarde. Tal como a maior parte das coisas que me metem medo, passei a interessar-me, e comecei a vê-los nas versões originais ora na internet ora nos canais em que os desenhos eram mais maduros. Mas a minha influência principal (ou inspiração, como quiserem) eram as sitcoms e filmes sobre a Segunda Guerra Mundial (não sobre a guerra do Pacifíco, que passei a interessar-me recentemente), mas sobre o lado alemão.  

Inspirada pela minha amiga Norueguesa Lisa , começei a desenhar uns esboços das personagens mais intrigantes das minhas histórias. Gosto muito não só da manga Japonesa mais para adultos, como também as obras fantásticas de Picasso e do grande Salvador Dalí. Em relação à escrita, a inspiração...é um segredo! He, he, he :P 

Aqui está um esboço que fiz recentemente sobre a Jessica  (uma parte da cara dela) e o contraste entre ela e o "bruxo demoníaco do cigarro"  http://princesshamanarta.blogspot.pt/2007_05_20_archive.html   "Digamos apenas que eu sou o porta-voz da desgraça, minha querida..." A citação que gostei mais naquele poste, há cinco anos atrás.

É impressão minha ou eles não são assim tão diferentes ? ;) 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Um café com canela às sete da manhã...

Diário da Jessica Von Tifon 


12 de Março de 2005



Ao ver que o dono não estava a olhar para nós, decidi contar ao velho Duque Von Tifon (por mais difícil que te custe a acreditar, prefiro tratar-lhe por “Sie”, ou por “Avô” do que pelo título dele, já o conheço quando ele estava disfarçado,  e faço uma leve – mesmo leve, porque nunca sabe com a minha família – ideia de como é que ele é, uns meses e a marca de nascença davam-me os palpites suficientes para perceber que podia tratá-lo familiarmente) porque é que estava sozinha, principalmente num feriado.

Entretanto, ele começou a fumar, ao ouvir, com a maior das paciências o que se tivera passado quando eu vi o Heydrich – numa visão – pela última vez. O meu avô não ficou nada surpreendido com os meus talentos para a magia.

«A princípio pensei que era um pesadelo mas não é possível: o senhor sabe tão bem como eu que eu adoro estudar Introdução a Matemática Aplicada à Magia Universal. Nunca iria adormecer na secretária! A Sara não parecia estar assim tão certa do que estava a fazer, mas o Pedro, ele queria mesmo beijá-la…Nesse momento, senti uma vontade enorme de matá-lo! Lá estava ele, a beijar outra mulher…E eu sem poder fazer nada! E eu que pensava que o Pedro era do tipo que só andava com uma miúda de cada vez. Depois disso, a pobre da Sara fugiu dele, com as lágrimas no rosto. Foi aí que o Heydrich encontrou-a…» As lágrimas cairam lentamente dos meus olhos. Parva, que figura ridícula que eu estava a fazer, no entanto, não conseguia evitar que as mãos tremessem. Quem me dera que pudesse deitar a porcaria da chávena do café para o chão. Ao menos teria algo com que descarregar…

Porém, o meu avô estava mais frio do que se não estivesse a chover. Eu sei perfeitamente que ele adora o mau-tempo. Acha romântica a trovoada, embora Março não seja lá muito a altura certa para aguaceiro. Nunca gostei de ver o fumo a enrolar-se por volta do corpo do Fixtanea (melhor do meu avô) até que só é possível ver-lhe os olhos, cinzentos e brilhantes. Faz com que eu fique com arrepios…!

Contei-lhe também o sítio, que era numa rua estreita e com umas flores amarelas…

- Em que rua de Cyborg Town? – Perguntou asperamente o meu avô, com os olhos menos suaves do que nos minutos anteriores.

- Não sei! – Encolhi uma vez mais os ombros, sem coragem de enfrentar o Avô nos olhos. Tinha de confessar: era o mesmo olhar que eu tinha visto no seu auto-retrato no Castelo Negro, naquele Dia da Magia Negra. – Devia ser antiga mas era muito larga, com uma placa a dizer qualquer coisa em Bellante Arcaico.

- A antiga Avenida dos Vitoriosos…Lembro-me que foi posta em ruínas em ‘78 para construírem uma auto-estrada lá. É antiga, mas não tanto como a velha Lisaiten. – Comentou a voz grave e rouca do meu avô, enquanto expelia mais um pouco de fumo para o ar, indiferente, nada admirado pelo meu olhar curioso. – Era o nome Japonês para Losjafhden.

Franzi o sobrolho muito desconfiada.

- Desculpe lá por estar a interromper, mas…Eu sou um bocado má em História Nacional…De que Avenida dos Vitoriosos é que o Avô está a falar…? – Comentei num tom confuso. – Se  bem me lembro das aulas ela foi restaurada em 1956 depois da guerra…E a estrada onde eu estava ficava do outro lado do rio…!

O meu avô lançou-me um olhar amargo ao deitar num gesto quase automático as cinzas do cigarro de hortelã-pimenta para o cinzeiro.

- Eu estou a falar de 1878, quando a tua mãe nem sequer era nascida, Jessica.  Nem tu, nem a Sara, reconheceriam o lugar. A Avenida dos Vitoriosos…um nome que foi manchado pela imitação barata e desprezível que os Russos fizeram deste lado do Bênção!

As palavras do meu avô sairam-me da boca, ao recordar-me de uma vez ler uma espécie de crónica que ele tinha feito sobre Cyborg Town e arredores:

- “Quando vi a destruição da velha Lisaiten, o lugar que o pobre Ishikawa Rokurou tinha ajudado a reconstruir através do valor da recompensa que o Imperador lhe ofereceu, senti-me impotente. Lá estavam eles a arruinar o verdadeiro espírito de Cyborg Town e eu sem poder fazer nada!” – Ao acabar a frase, eu fiquei um pouco arrepiada. – Avô…será que alguém manipulou o Pedro para que ele fizesse o que fez? Isso não significaria um duplo insulto a um descendente de um dos Guardiães?

Abateu-se um silêncio de cortar à faca na Doçaria Madrid. O dono não dizia palavra, muito menos eu. Uma mistura de sensações inundaram a minha mente: repulsa, medo, fascínio, admiração…atracção!  Ali estava um homem que tivera sido em tempos um guerreiro…e pela cara, reflectida nas paredes espelho do café, não parecia ter enferrujado. Era mais um tigre, enjaulado, só à espera do momento certo para atacar. Então fora essa a sensação que tivera percorrido o meu coração quando conheci-o.

Embora a música do disco de vinil de Marlene Dietrich estivesse a tocar como se o tempo não tivesse passado, eu sentia que o vibrador do meu telemóvel estava a fazer cócegas nas minhas pernas. Os carros, modernos e pintados com cores resplandecentes passavam na rua molhada e enublada com uma velocidade estonteante, como fantasmas. Só pedia aos Deuses que não fosse o Pedro!

O outrora e futuro Duque da Cidade Perdida (pelo andar que as coisas vão, tenho a ligeira sensação que o Wilhelm não vai ficar no seu trono de Duque durante muito tempo) acabou o cigarro. O seu olhar era ríspido enquanto se levantava da cadeira. As mãos compridas e enrugadas tinham deixado dois Fenixinianos pelos dois cafés. Porém, ao mesmo tempo, eu tinha a ligeira sensação que ele escondia algo mais dentro do sobretudo do que a carteira, algo longo e letal, embainhado num estojo de couro preto.

- Pensa o que quiseres, Jessica. No entanto, se eu vir esse metade humano a aproximar-se de ti mais uma vez que seja…  

O movimento foi tão rápido que eu quase tive de usar a cadeira para proteger o meu querido telemóvel! As aulas de karaté ainda estão um pouco vívidas na minha memória, e a adrenalina de combater com alguém mais forte do que eu fez com que gotas de suor frio caissem da minha testa, agora com o cabelo ruivo despenteado. Eu sei que o meu avô não me queria magoar…mas ele desfizera as duas moedas de cobre em quatro!

O dono do café arregalou os olhos, meio escondido atrás do balcão. Tão depressa como tinha aparecido,  a lâmina afiada do meu avô escondeu-se (como uma serpente) no sobretudo preto e resistente.

- Não se preocupe, meu bom homem. – Disse o meu avô num tom mais cortês. Atirou-lhe três notas de trinta Fenixninians até ao balcão. – Isto é o suficiente para cobrir os estragos?

- Chega e sobra, Vossa Senhoria, Sr. Von Tifon! – Gaguejou o dono, enquanto agarrava nos noventa Fenixninians como se fossem três botes salva-vidas.  

Eu revirei os olhos, ao ver naquele homem o mafioso Grão-Mestre da Irmandade do Tigre Azul, espelhado nos vidros turvos das janelas do café.   

Um café com canela às sete

Olá, daqui Jessica Von Tifon, a bruxa que vos contou as histórias da família mais louca do mundo - a seguir aos Addams, a sério, a minha família é um manicómio!

Quando penso que toda a gente vê-me como uma rapariga super simpática, amiga dos outros e com um humor muito refinado, ninguém diz: "Lá vem a neta do Duque Von Tifon..." ou "Olha, cuidado com a bruxa!" A minha família é que me conhece... É verdade é que sim, posso ser um pouco mázinha quando quero. Mas hei, a minha mãe era uma leoa com os homens, o meu avô era um pouco excêntrico (se bem que até acho que podia dar-me muito bem com ele)...Não me podem culpar por ser assim. Uma vez, um colega meu e a minha pessoa estávamos a conversar calmamente. Quando eu lhe digo que as raparigas Bellantes são simpáticas, ele diz-me assim, com toda a naturalidade do mundo, como se soubesse perfeitamente como é que são todas as mulheres bellantes, sejam elas humanas ou bruxas:

"Cá para mim as miúdas são todas umas piegas..."

Ai, valha-me santa pachorra, senão fosse a minha paciência de santa - que apesar de ser uma bruxa, ainda tenho uns nervos de aço, digo-te - eu juro que lhe dizia quem eram as piegas! Dava-lhe um murro no sítio que eu cá sei que ele perdia logo a vontade de repetir a graça. Porém, uma vez que os meus lindos olhos verdes (que nisso, são iguaizinhos aos do meu avô) não sabem mentir, o franganote lá disse, um pouco assustado:

- Sem ofensa, Jessica! Tu não és assim, tu até és muito fixe...

- Podias inventar uma desculpa qualquer para dizeres que estás com medo de mim, Thaiko! - Disse eu num tom desconfiado, muito mais amargo que o café que me fora servido. 

O Thaiko, que apesar de ser mais velho que eu, com um ar de quem preferia estar à chuva do que estar a ouvir os meus comentários sinceros, tentou desviar a conversa para algo menos embaraçoso:

-  Então...ouvi dizer que acabaste com o Pedro...porque é que fizeste isso? - Perguntou num tom um pouco curioso, como se tivesse pena do cyborg.

- Não foi por causa do Fixtanea ou do meu padrasto, se é isso que estás a pensar. - Bebi um pouco do café, pensativa. À noite, continuo a perguntar-me a mim mesma porque raio teria feito tal coisa, mas quando via o Pedro agarrado à Sara, muito apaixonado por ela, não conseguia ter pena dele. Dela, com certeza que tinha, aquela rapariga já nasceu ingénua! - Além disso, ele desiludiu-me e os tipos que desiludem-me não merecem o meu amor.

O café do coitado do Thaiko já estava frio de tanto ele mexer nervosamente com a colher.

 - Ah...então não te importas com o que possa acontecer com ele?

- Cá por mim ele até podia ser atropelado por um carro da SPV... - Comentei enquanto sorvia calmamente o café com canela.

Eu até podia dizer isso com a maior das indiferenças, mas no fundo, sabia que estava a chorar por dentro. Também aquele palerma não merece que eu esteja a deitar ranho por tudo o que é sítio. Estava um dia de chuva, húmido como eu sei lá o quê. Tal e qual como em Londres...Não sei porquê, mas sempre que estou triste, vem-me à memória os dias cinzentos em que estava sozinha em Londres.

 Numa das janelas enevoadas e turvas com a chuva gelada, vi dois olhos azuis a espreitar. O Thaiko tremeu ao ver o que eu vi, mas eu não tremi. Tinha saudades do meu avô - isto é, do meu pai - e realmente, agora que sei que o Fixtanea era realmente o meu avô (Adrian Demetrius Von Tifon) disfarçado, não consigo odiá-lo. Quando cheguei à Bellanária e ouvi falar sobre ele, não deixava de pensar: "Deve ter sido um homem incrivelmente poderoso!" Depois, tenho tantas perguntas para lhe fazer...

Estou a falar como se fosse a Sara não é? Mas isso de eu ser curiosa já é de família.
O meu avô caminhou calmamente no café um pouco...Como é que eu hei-de dizer isto de uma forma simpática? Ah sim, era um café um pouco rasca. Enfim, os amigos da Sara nunca podem ter bom gosto. O cáfé chamava-se Doçaria Madrid, e, exceptuando os bolos, o café vinha sempre queimado. Mas é um daqueles lugares em que uma pessoa vai e nem a chuva parece assim tão deprimente, com o ar velho e o cheiro a anúncios dos Anos 20 com Art Novae esparramados pela parede dourada.

Estava a usar uns sapatos italianos pretos, com um sobretudo preto, e um cachecol bem elegante. Definitivamente não estava com cara de quem estava contente por me encontrar num sítio daqueles. Ao fechar o guarda-chuva (para alívio do dono do café, que era mais supersticioso do que a nossa vizinha de Merlonogrado, uma velha mas tão velha que a canção Portuguesa "Era uma velha que morava numa ilha..." faz com que eu desate às gargalhadas sempre que a ouço) ele pediu o mesmo que eu: um café preto com canela. O dono lá acenou aos tremeliques que sim, Vossa Alteza, é para já! As pessoas com mais de setenta anos ainda se lembram do homem cuja voz na rádio lhes fazia um calafrio na espinha.  E pensar que o meu avô é muito mais velho que os humanos e consegue andar àquela chuva sem soltar um único espirro!

Sentou-se à minha frente, enquanto o Thaiko retirava-se discretamente com um ar de quem não queria ser olhado de lado pelos clientes. Eu tiro o casaco e quando toda a gente vê a marca do falcão dourado com os três fogos-fátuos no meu pulso direito, é como se caísse um silêncio de cortar à faca sempre que vou a algum sítio!

Até pareciam bóis a olharem para um palácio...

Lançei um olhar um pouco carrancudo para os outros clientes.

- Que foi? Nunca viram um homem a tomar café com a neta?! - Perguntei com um ar muito indignado.

E de imediato os outros clientes pararam de olhar e retomaram ao que estavam a fazer. Revirei os olhos, aborrecida com uma das mãos na colher, brincando um pouco com a ressonância da chávena de vidro. 

- Palermas... - Murmurei entre dentes.


O meu avô soltou uma fungadela divertida, enquanto agradecia com um acenar cortês pelo café à empregada Lituana.

- Lembras-me a tua mãe…

- Mas porque raio é que lhe lembro a maluca da minha mãe? – Perguntei, admirada com a pergunta.

Ao sorver um pouco do café com o mindinho esticado, ele esboçou um sorriso ao dizer em Alemão:

- Du kommst auf meine Mutter…Bist du jörzenig wegen dieses idiöten shy-bata?

Tendo a esquecer-me que o meu avô não sabe falar assim tão bem Inglês quanto o Alemão, o que por vezes é um bocado chato. Não consigo perceber metade do que ele diz em Alemão por causa do sotaque de Shunamari e quando fala, é quase num sussurro. A minha mãe também tem esse sotaque, mas o Inglês dela tem um sotaque Americano fluente.   

Conformada, encolhi os ombros.

- Se está a falar daquele palerma do Pedro, então não, não estou chateada! – Respondi num tom muito rude e zangado. – E se quer que lhe diga o senhor não tem nada que me seguir para onde quer que vá…

Ao pegar na minha mão ele começou a falar em Bellante do Norte:

- Estava preocupado contigo, saíres assim sozinha de madrugada! Pensei que tinhas perdoado aquilo.

Ri-me, como se não acreditasse no tom amável dele. E não acredito mesmo, eu sei perfeitamente que o meu avô esconde sempre qualquer coisa por detrás de uma voz viril, grave e autoritária que por vezes é sedutora.








segunda-feira, 26 de março de 2012

Primavera do Sul e Inverno Nortenho


Svetrlyu Krissmas kçe Panketrlabiellatualztli

Feliz Festival das Bandeiras e Boas Festas Nacionais!
Basicamente era o que estava escrito no dialecto Bellante Padrão, no dialecto Bellante do Norte, no dialecto Tienense (uma variedade do Japonês), em Inglês, em Russo, e em Alemão, numa tinta dourada num fundo azul-escuro, em três faixas que decoravam um portão de alabastro que costumava ser usado como um antigo torii , retirado de uma cidade antiga do Norte.
O Festival das Bandeiras é também uma maneira da minoria Cristã festejar o Natal no Império Bellante. No refinado e luxuoso salão barroco, com uma iluminação toda ela a óleo e a velas, o ambiente era deveras gótico. Uma música de fundo - esta tocada por músicos com amplificadores - era tipicamente Bellante, com uns instrumentos das mais variadas origens.
No meio de cada janela comprida e clássica, em forma de arco (quase a imitar as antigas janelas dos palácios dos sultões na Índia) havía uma estátua a representar uma das inúmeras Imperatrizes que a Bellanária teve, todas elas esculpidas como mulheres extremamente belas, tal como as estátuas Gregas de um templo. No entanto, os artistas tinham decidido por manter a beleza original de cada uma da nacionalidade e época da etnia reinante. Começava pela estátua de Melnjar I, e ía até Swerdinada Eudóxia Patrícia Di Neptunus, a mãe da Serpente de Fogo. Quase no fim, havía uma mulher com uma placa a dizer:

Nilampadma II Jagannhati, filha do Rei dos Dragões Jagannhata XXII com a Imperatriz Claudinitiana Xóchitl III. Mãe do Imperador Tsubasa Kleitsuitl. Nascida em 24 de Março de 1720 e morreu em 2 de Janeiro de 1769, cada com Ayumu Tokugawa.

Era a tetra-avó da Serpente de Fogo. Talvez seja por isso que ela tenha aquele longo cabelo negro. Portanto, pelo que eu percebi, era muito raro haver filhos na antiga Corte Imperial Bellante, e se os houvesse, o poder era automaticamente dado à filha mais velha. Para uma sociedade muito machista, isso é um bocado esquisito. Bom, se calhar os Bellantes tinham aprendido que só uma mulher conseguiria controlar a sede de sangue humano dos Deuses pelos seus antepassados meso-americanos. Pelo que sei sobre a longa Dinastia Di Neptunus - que, segundo dizem começou desde os princípios da fundação das Ilhas Bellantes - Swerdinada II Eudóxia Patrícia Di Neptunus tinha antepassados Nahualli, Gregos, dos Naga, Japoneses, Russos e até Alemães!
Os Bellantes - pelo menos a maioria - acredita no Shamanismo e no Espiritismo. Ou seja, nós acreditamos nos espíritos que vivem na Natureza e em fantasmas. Tanto nos palácios e templos do sul, como nos castelos do norte da Grande Ilha, é normal verem-se estátuas dos antepassados mais célebres...quer eles tenham sido bondosos ou crúeis para com a sua gente.
Quando reparei que haviam mais estátuas, desta vez, de homens, fiquei espantada. Os Imperadores eram mais altos - ou tinham sido esculpidos numa escala maior que o das Imperatrizes - que as suas respectivas esposas. Os rostos eram normalmente mais severos do que os das mulheres. Cada um usava uma lança ou uma espada à cintura, e com uma posição quase militarística, até parecía que estavam a proteger as Imperatrizes.
Como não podía deixar de ser, o salão tinha o brasão Imperial com o Dragão Japonês e o Jaguar Azteca em cada uma das longas cortinas vermelhas e azuis-esuras. Aposto que o dragão Japonês era dourado na cortina vermelha e o jaguar era prateado no fundo azul das outras cortinas. Se pensas que isto só apareceu a partir do reinado da Serpente de Fogo, enganas-te redondamente...os Bellantes sempre se orgulharam da sua aliança com os Japoneses, desde os princípios do século doze.
O Festival das Bandeiras é um pouco ambíguo: de uma forma, festeja a Independência Bellante, e ao mesmo tempo, há vários símbolos de outros países em cada uma das regiões e ilhas... No entanto, todos os Deuses, Feiticeiros Brancos, Fadas, e outras tantas personalidades importantes estavam presentes em Suryadevnahutbal.
O ambiente era festivo, e sobre a luz do luar e das velas, todos riam-se, todos dançavam, e todos cantavam ao ritmo da música alegre e patriótica no Bellante padrão da Cidade dos Deuses.

Aí vem o Avô Inverno, com o seu sotaque exótico,

Com as suas luvas de gelo, ele abre o pórtico
Para as flores de pessegueiro,
Para as camélias, vermelhas com o meu guerreiro...

Querida terra coberta do branco,

Como estás bela hoje no teu aveludado manto,
Oferecido pelo deus das nevadas,
És um país cheio de donzelas encantadas!

O senhor Inverno, como bom feiticeiro educado,

Avisa sempre o dia e a hora da sua chegada,
E a Bellanária recebe-o, qual dama amada,
Que estranho casal este, nunca se viu no mundo civilizado!

E ela suspira quando ele lhe diz:

Querida terra coberta do branco,

Como estás bela hoje no teu aveludado manto,
Oferecido pelo deus das nevadas,
És um país cheio de donzelas encantadas!

O Avô Inverno

Está a sempre a mudar de lugar
É um viajante eterno,
Que nunca nos deixa de espantar,
Com o seu vento que gela até o Inferno!

Mas é da Bellanária que ele gosta mais,

Menina jovem, ladina, nunca teve pais,
Ela gosta muito de brincar,
Querida criança decorada com fitas azuis a imitar o mar,
Se alguma vez ela pudesse amar...!

E o Senhor Inverno lhe diria:

Querida terra coberta de branco,

Como estás bela hoje no teu aveludado manto,
Oferecido pelo deus das nevadas,
És um país de donzelas encantadas!

Quando passeei, um pouco distraída em direcção ao fundo do salão, reparei que a voz com sotaque Russo era a de Nina Malaghetyeva, a nona filha de Kasimir Malaghetyev. O rufo dos tambores era contagiante, e em breve, tanto eu, como a Sara, a Nuo, a Tsuna, e a Sumitraijin estávamos a dançar ao ritmo da canção alegre! Os Deuses estavam a envergar - só eles é que eram permitidos usar aquelas cores vistosas no Festival das Bandeiras - túnicas cobertas de plumas coloridas, que iam desde o vermelho até à opala brilhante, o verde esmeralda, o azul-escuro e o prateado. A típica música Bellante, exótica, quente, tão picante quanto o molho de piri-piri tropical das Ilhas de Shunrasen que os seus habitantes põem nas tortilhas, era maravilhosa e milenar...!

Deve ser por isso que a Senhora Bilafassabnsair (ou a própria Bellanária) é representada como uma jovem exuberante de longos cabelos negros, com um toucado de penas de quétzal verdes e perfumados de várias flores, com um xaile cor-de-rosa a cobrir-lhe dois terços dos seios avantajados e uma saia comprida, justa e dourada (como símbolo das temperaturas quentes das ilhas do Sul). No Festival das Bandeiras, ela é acompanhada pelo "Avô Inverno", o "Senhor Inverno", ou simplesmente "deus das nevadas", um homem de aspecto Japonês (ou pelo menos que se assemelha a um homem estrangeiro, de meia-idade, alto, sisudo e pálido...mais concrectamente, a um bruxo). Algumas vezes é a própria figura do Mestre Rwebertan Samiel Di Euncätzio que personifica o Norte e o Inverno. Há quase dois mil anos, a figura mais parecida com a personificação do Inverno era o antigo Itztlacoliuhqui-Ixquimilli (Ponta Curva de Obsidiana - Olho de Adaga). Com a vinda do Assassino do Amor e do Ded Moroz , este deus acabou por ser esquecido e morrer. No entanto, o Senhor Inverno carrega sempre consigo uma espada curva de obsidiana e a maior parte dos avôs nesta época tentam pôr os olhos mais penetrantes e oblíquos para se assemelharem aos olhos " em forma de adaga" do antigo deus.

Pois é, o Festival das Bandeiras tem muito que se lhe diga... As três figuras centrais são o Senhor Inverno, a Bellanária e a Imperatriz ancestral Melnjar I.

A Sara tinha-me contado, antes de chegarmos ao Suryadevnahutbal, que normalmente no Festival das Bandeiras, a apresentadora está vestida como a Senhora Bilafassabnsair e o anfitrião ou estava a envergar as roupas do Assassino do Amor, ou disfarçado do Senhor Inverno. Bem, a Nina tem um cabelo muito comprido, mas é loura e é também um pouco alta demais para se fazer de Deusa com origens Aztecas. Quanto ao anfitrião, nem sinal dele...!



terça-feira, 20 de março de 2012

Interrogatório entre o pó-de-arroz

A Rainha das Fadas, com um elegante vestido, cruzou os braços, como se estivesse muito desconfiada de que algo de mal pudesse vir a acontecer à pequena Tsuna. Os olhos delapidados e suaves, mas austeros da Senhora Roshini dardejaram para a janela.




- É melhor fecharem aquela janela senão ainda vai acontecer uma desgraça! - Avisou a experiente fada de um metro e cinquenta de altura.




Eu estava completamente aparvalhada: a Tia Charlotte, a Tia Irene e algumas ondinas correram apressadas para a janela e fecharam-na com o trinco. Até parecía que estavam com medo que algum demónio tivesse possuído a minha irmã Tsuna! A Tia Charlotte estava mais branca do que um papel, a Tia Irene até fazía uma careta de quem tinha comido algo estragado, e a Sara, no seu cantinho, a tremer que nem varas verdes.




Um pouco nervosa, a minha tia Chinesa com um metro e setenta soltou um suspiro, muito aliviada. Estava com uma das mãos ainda na fechadura do trinco da grande janela, e a outra no braço da filha. O cenário era no mínimo ridículo. Quer dizer, eu sei que os bruxos costumam ser um pouco perversos, mas nós estávamos no terceiro andar. Duvido que conseguissem ver qualquer coisa de cá dentro.




Arqueei as sobrancelhas, espantada com o facto de que todas as fadas, raparigas humanas, e feiticeiras tinham ficado um pouco perturbadas com aquele episódio esquisitíssimo.




- Bem, se a Tia age assim por causa de um carro fora do prazo desconhecido, nem quero saber como é que é quando aparece o Lao lá em casa... - Comentei, ao tirar os sapatos de salto-alto, cansada. - Vou tomar um banho.

De repente reparei que a Rainha das Fadas, como se fosse uma senhora daquelas actrizes Chinesas que vemos nos filmes Bellantes - que, para tua informação, são a maior seca do mundo, sem contar com o facto de que eu só percebo metade do que eles dizem em Bellante do Norte - dos decadentes e poeirentos cinemas em Shunamari , estava a agarrar-me. Até parecía a que fazía de mãe da Elizabeth Montgomery no Bewitched . As únicas diferenças são: a Senhora Roshini não tem um ar nada excêntrico de mulher Americana e de bruxa muito menos! É só porque ela estava a olhar-me com uma cara de quem conseguía ler-me os pensamentos. Hey, não comeces a gozar, a dizer que eu sou cota e não sei que mais!
É só porque o meu avô - sabe-se lá como - tinha gravado os episódios todos a preto e branco da série original dos Anos 50 - e aos sábados, costumava arrastar-me só para eu vê-los com ele. Eu cá nunca achei lá muita piada a sitcoms Americanas. Não têm imaginação nenhuma e a política do "nonsense" na série estava com uns efeitos especiais tão foleiros que eu prefería mais ver uma repetição do 'Allo 'Allo do que ter de aturar aquele sotaquezinho à Americana. A única série que eu achava muita piada era o Twilight Zone . Algumas vezes até penso que vou acordar e o Rod Sterling vai aparecer e dizer com aquela voz sinistra: "Ela está presa no Twilight Zone..." Mas não, a única coisa que ouço é o toque " poison" do Alice Cooper no meu telemóvel como despertador.
A sério, porque, com tanta magia e tanto mistério e tanto militarismo, bem podiam fazer da minha na Bellanária uma daquelas séries foleiras que só dá à meia-noite, para os miúdos não verem, com bola vermelha e tudo.
É por estas e por outras que eu fico admirada: como é que alguém como a Sra. Irene Plah pode ter permitido que a minha mãe adoptasse a pobre coitada da Tsuna?! A Tsuna, ultimamente tem tido a mania de pôr no siemens dela o toque do D'artacão às sete da manhã. É irritante, para uma rapariga como eu que prefere os Black Sabbath ou os Iron Maiden como despertador...sinceramente, qualquer dia perco a cabeça e ainda arrombo a porta e grito a altos-pulmões: "Porque é que não desligas essa porcaria?! Estou a tentar dormir! " A Tsuna, música ocidental ela só gosta das Spice Girls (devíam chamar-se as Raparigas da Merda) e da Britney Spears ...com tanto mau-gosto, não sei aonde é que as orelhas da Tsunazinha vão parar.
Enfim...como eu estava a dizer, a Rainha das Fadas estava a prender o meu braço com uma das mãos, enquanto que olhava para mim como se eu fosse uma das dançarinas do "Survivor" da Beyoncé.
- Tu...tu és como uma irmã mais velha para a Tsuna...como é que tu deixaste que ela ficasse assim, nas garras de um louco qualquer?! - Ela exclamou muito irritada.
Tenho de confessar: fiquei muito admirada quando ela falou num Inglês fluentíssimo. Arqueei as sobrancelhas, com o orgulho ferido evidente nos meus olhos. Não, ela não podía estar a falar comigo! Eu sou a Miss Responsável, eu, que certifico-me sempre que o telemóvel da Menina Tsuna está sempre com a bateria cheia, eu que vejo se ela tem o lanche todo pronto para a escolinha dela!
- Peço imensas desculpas, minha senhora, mas eu não fiz absolutamente nada de mal para que a Menina Tsuna ficasse assim! Se ela dá conversa a estranhos, a culpa é dela, não minha... - Mordi os lábios, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, quase numa forma disfarçada de mostrar que estava envergonhada. Tinha metido a pata na poça!
A Tia Irene arregalou os olhos, ainda mais irritada do que a própria Senhora Roshini. Apontou com a unha envernizada para mim, como se fosse uma advogada de acusação, mas ao mesmo tempo, a tremer, como se estivesse na Oprah Show:
- A culpa é toda tua, minha menina! Por tua culpa, a minha filhinha está naquele estado...
- Mas que raio é que a minha filha te fez para ficares toda lixada, Irene?! - Exclamou a minha mãe, que até parecía uma mártir, com uma das mãos pintadas com verniz vermelho para o peito.
A Tia Irene esboçou um sorriso sarcástico, enquanto ainda abraçava a filha com um ar extremamente protector.
- Ah, pois claro, quando se trata de defenderes os teus interesses, lábia não te falta, não é Katharina?
- Vais bater, é Irene? Sim, porque nem que um raio me caísse em cima da minha cabecinha linda é que eu deixava que tocasses num único fio de cabelo da minha filha! - A minha mãe quase que arranhava as portas dos cubículos onde estavam os chuveiros.
- Não me provoques, Katharina! - Cuspiu a Tia Irene, que já estava a começar a ficar farta do tom falso que a irmã falava com ela.
De imediato, a Mãe, como é habitual nela (nisso ela e a Serpente de Fogo são iguaizinhas) ficou fora de si.
- Chinesa imunda! - A minha mãe estava toda vermelha, ao gritar em Japonês aquelas mesmíssimas palavras.
E, surpreendentemente, a Tia Irene ficou tão irritada que atirou-se à minha mãe como se fosse uma leoa furiosa a tentar proteger as crias.
- Eu vou-te arrancar essas verrugas todas à dentada! - Berrou a Tia Irene, já com o cabelo negro todo despenteado.
E eu ali, no meio daquela algazarra toda, um pouco embaraçada pelo facto de que as mulheres na minha família eram assim. Palavra que nunca me chateei assim tanto...Será que sou adoptada, como a Tsuna? Pensei, ao levantar um pouco os bordos da saia curta do meu vestido, enquanto olhava com um ar de quem não quer a coisa, para o meu pulso. Não, infelizmente, eu sou tão Von Tifon como a tia Charlotte e a Mãe. Ainda tinha aquela tatuagem no pulso.
Tentei fugir daquela confusão, e dei com a Tsuna, que estava a secar (ainda!) o cabelo lustroso e negro. A imagem reflectida daqueles olhinhos castanhos era tão triste como uma ovelha perdida.
Algumas vezes pergunto-me quem é que teve a ideia peregrina de lhe pôr um nome daqueles, tão infantil e amenininado.
Debruçei-me na borda da banca e lancei-lhe um sorriso:
- Tsuna...tu chamas-te mesmo assim?
Sem que eu desse por isso, ela já se estava a rir.
- Claro que não! Onde é que já se viu uma rapariga chamar-se assim? - Exclamou ela, com uma maturidade estranha para uma miúda de treze anos. - Não, o meu nome completo é Tsukiko Nuan Von Zaubermann...
Revirei os olhos, muito admirada. Nunca imaginara que a Tsuna também tivesse descendência Alemã, mas enfim, o mundo é mesmo pequeno...
- Para uma Chinesa, tens um nome muito multicultural...
- Por favor, Jessica, não digas à Mamã que eu disse-te isto... - Ela corou, muito envergonhada, num fiozinho de voz. - Ela não gosta lá muito que eu fale sobre o meu pai.
Agora estava curiosa...O que é que a Tia Irene (que não é realmente minha tia, mas bem que podía ser) andará a esconder que seja assim tão importante ao ponto de fazer com que a filha diga que o nome dela é Tsuna?! Bom, de qualquer maneira, já me habituei tantas vezes a chamar-lhe de Tsuna que não é agora que vou começar a tratar-lhe por Tsukiko Nuan Von Zaubermann. Contudo, já estava mais que pronta para ir para o salão de baile. Mas eu tenho um bicho-carpinteiro para o mexerico: chamem-me o que quiserem, por mim, acho que era mais preocupação do que meter o bedelho aonde não sou chamada.
Olhei-a conspicuamente.
- Estás com um ar de quem quer contar-me mais alguma coisa... Diz lá, eu não vou ficar passada dos carretos. - Disse, com um ar de quem era mesmo a irmã mais velha dela.
Cabisbaixa, a Tsuna soltou um suspiro, digno daquelas rapariguinhas que se vê nos mesmos filmes antigos Chineses, mas que são todas muito bonitas.
- Não gosto que a Mamã e que a tua Mãe andem a discutir...A culpa é minha por ter sido raptada e de mais ninguém. - Murmurou ela, com pena de si própria.
- Que dizes? A culpa é minha, Tsuna, que sou uma despassarada... - Tentei animá-la, mas nem com o meu riso forçado e embaraçoso ela sorriu. - O que é que se passa?
- Bom... lembras-te daquela noite em que eu só voltei de madrugada e a Imperatriz deu-me um sermão enorme? - Disse ela muito envergonhada.
Acenei com a cabeça, ansiosa por saber mais. Afinal de contas, tratava-se da segurança da minha irmãzinha, e eu também quería saber o que é que se tinha passado para ela voltar como se tivesse ido para sítios que meninas tão pequenas como ela não devem frequentar. Tinha sido há coisa de um mês, mesmo depois do Dia da Magia Negra, quando eu estava muito atarefada com os testes e sempre que chegava ao Château, punha-me a estudar que nem uma doida.
- Foi numa quinta-feira, não foi? - Fez uma leve pausa, ao encarar-me com um ar inocente.
- Sim, tu tens piscina às quintas. - Respondi pensativa, ao imaginar que tipo de coisas é que tinham acontecido à pobre da Tsuna.
- Eu ía telefonar-te, (tu sabes como aquilo é muito longe, fica perto da Vila Enublada) para chamares o Nälden para me dar boleia. A partir das sete e meia nunca há autocarros para a estação de metro, e lá estava eu, enregelada, perto da paragem de autocarro. Quando estava quase a abrir o guarda-chuva para ir para a estação a pé, uma limusina estacionou de repente.
- Que tipo de limusina? - Perguntei, um pouco admirada. Normalmente, os bruxos nunca vão à Vila Enublada. Aquilo fica no meio dos montes, num vale cheio de arvoredo e com um lago perto.
A Tsuna encolheu os ombros.
- Não conheço marcas de carros, nem coisas dessas. Mas era grande e cinzento, com um motorista à frente.
- Conseguiste ver a cara desse homem? - Falei, desta vez na minha língua materna. Estava um pouco cansada de falar no dialecto Bellante do Norte.
A minha irmãzinha abanou de imediato a cabeça.
- Não, estava muito escuro e ainda por cima com a chuva... Tu sabes que na Vila Enublada não há quase electricidade nenhuma. Eles vivem na idade da pedra! - Exclamou a Tsuna, e ao ouvir o que tinha dito, corou muito embaraçada e pôs a mão na boca. - Não devía ter dito isto. Enfim...
Soltei uma fungadela divertida. Parece que a Tsuna está a aprender comigo a ser mais sincera e a não esconder assim tanto os sentimentos dela. Com as mãos apoiadas no queixo e os cotovelos na banca, até parecía que estávamos a cochichar de "bonzões" daquelas revistas foleiras de adolescentes.
- Esse motorista...ele falou contigo?! - Exclamei, um pouco espantada. - Conseguiste ver pela voz se era novo ou velho?
- Não, havía outro homem no assento de trás, com uma boquilha preta a segurar um cigarro. O que estava sentado atrás tinha a janela aberta e chamou-me com uma voz grave, sabes, daquele tipo de voz que se esperaria de um bruxo Japonês. Fiquei muito arrepiada: ele tratou-me por "Tsuna-chan". De repente, reparei que estava a falar em Inglês com um sotaque Espanhol, e não em Bellante, Alemão ou Japonês. Era o Sr. Fixtanea...
Arregalei os olhos, desconfiada.
- Mas o que é que esse velho sacana quería de ti a essas horas?!
- Nada! Ele só pediu-me para que me aproximasse, e eu fiz isso. - Ela respondeu, ofendida, como se eu estivesse a duvidar da palavra dela. - Depois perguntou-me como é que eu estava, e se precisava de boleia...
Cruzei os braços, um pouco chateada. Mas ela não sabe que é perigoso aceitar boleias de tipos esquisitos, quanto mais um velho bruxo como o Fixtanea?! Lancei-lhe um olhar desaprovador:
- Tu não sabes marcar o número do Palácio das Reuniões no telemóvel? Se fosse a ti e visse esse maluco à noite, ainda por cima com chuva, chamava logo a polícia... - Comentei, num tom mais honesto.
- O Sr. Fixtanea não é nenhum Assassino do Amor, Jessica! - Ela respondeu. Contudo, recuperou de imediato a calma, ao corar, um pouco envergonhada. - Ou pelo menos eu pensava que ele não era... Eu estava sozinha, Jessica...
Enquanto se penteava, a minha irmãzinha olhou para mim, pouco à-vontade para falar daquele assunto e acrescentou:
- Fiquei tão contente com a notícia que aceitei com um sorriso na cara... Entrei no carro, ao pé do Sr. Fixtanea, que olhava para mim como se eu fosse neta dele ou qualquer coisa parecida. Era muito mais comfortável do que estar à chuva! Os assentos de couro vermelhos davam uma sensação quente. Cheirava muito a tabaco amargo e seco, e a única luz que havía era um candeeiro à moda antiga, verde-escuro. O motorista pousou o guarda-chuva nos assentos de frente e pôs uma manta nas minhas pernas, o que me soube muito bem depois de estar ao frio com uma ventania horrível. Com a luz, reparei que este tinha uns olhos negros, e o nariz era fino. Parecía ser do lado da família da Avó Murakami. "Com licença, menina". Disse ele em Japonês, num sotaque da Cidade Perdida. A seguir, voltou para os lugares da frente e fez as mudanças.
Soltei um suspiro, frustrada, ainda com os braços cruzados.
- É uma pena que não conheça ninguém da família do lado da Avó.... - Disse eu. Estava a começar a ficar pelos cabelos com tanto mistério! Percuti com os dedos no braço esquerdo. - E o que é que aconteceu depois disso?
Muito assustada, ela engoliu em seco e confessou, numa voz que traía o seu rosto que tentava a todo o custo não parecer nervosa:
- Não sei...
- Não sabes?! Mas se tu te lembras do que é que aconteceu antes do raio do homem acelerar para Shunamari?! - Exclamei, agora verdadeiramente preocupada.
Tsuna bocejou, um pouco cansada. Não era para menos, já eram dez e meia da noite. Nem sei porque é que a convidei para isto, além disso, ela não é praticamente do tipo de miúda que gosta de quebrar barreiras.
- Só me lembro que estava muito contente e a rir que nem uma perdida, depois, adormeci... Lembro-me também de uma música a altos-berros que quase arrebentava-me os tímpanos. Tipo daquelas que se ouve nas discotecas em Cyborg Town...?
Sem querer a minha Mãe olhou para ela, um pouco apreensiva. Porque é que ela tem sempre de se meter nas nossas conversas? A sério, a minha mãe, com aquele cabelo enorme, felpudo, louro e rebelde (o enorme e rebelde são um pouco das características que herdei daquela bruxa com a manía que é a Marylin Monroe) quase que estava fazer-me sufocar, atrás de mim, como se fosse da minha idade, ou um ano mais nova que eu!
- Se calhar é melhor ires embora, Tsunazinha, esta festa vai ser um pouco pesada...
A Serpente de Fogo, com um ar de quem quería fazer pouco da Tsuna, esboçou um sorriso sarcástico, ao olhar com os seus olhos de sereia fora de prazo:
- Não me digas, Katharina, querida...!
Cá para mim, ela até podía tropeçar nos sapatos de salto-alto cor de diamantes e o pézinho dela se transformar num lindo trambolho!
Mal tive tempo para ruminar sobre o que teria acontecido a Tsuna há um mês atrás, porque uma voz nos altifalantes (provavelmente uma mulher do Norte da Bellanária, com um sotaque Eslavo) anunciou:
- É favor as senhoras convidadas e meninas dirigirem-se ao salão onde o Baile de Gala de Natal terá lugar.
Lá, teríamos de esperar pelo misterioso anfitrião que tivera financiado o imenso e opulento baile de solstício de Inverno....

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Chorão dos Castigos

Poema dedicado à Princesa Anjali Sarvahdinada de Rwebertan Samiel Di Euncätzio. Esta trovi, traduzida do Bellante Arcaico só para vocês, é conhecida como "Chorão dos Castigos"...é um post-mortem, um poema que só foi encontrado e publicado depois da morte do temível Assassino do Amor. Traduzido primeiro do Chinês para o Japonês em 1323, e depois para o Bellante Arcaico do Norte (uma língua morta muito semelhante em fonética e em grafia ao Japonês da altura), o poema é um favorito dos feiticeiros quando cantam ou num tom triste, ou num tom mais alegre, o seu amor às mulheres.

Para compreendermos o poema na sua totalidade: na primeira quintilha (nunca quatro, porque na tradição oriental, quatro era um número de mau-agouro, demonstrando o carácter supersticioso de feiticeiro de Samiel, cinco, tal como o pentagrama) nessa altura, folhas secas - Outono - era um sinónimo para uma mulher de meia-idade, que é exactamente o que o Assassino do Amor se assemelhava quando atingira os mil anos de idade. É uma referência ao Taoísmo e ao princípio feminino e masculino (yin-yang) a influenciar as quatro estações e a passagem da estação - envelhecer.

Na segunda quintilha, desta vez, o Mestre Samiel faz referência ao calendário lunar Bellante. Após o décimo oitavo mês do calendário lunar Bellante, apagavam-se as grandes lareiras que aqueciam as cidades bellantes num período de abstinência conhecido como Nenontemi - cinco dias de azar. Uma ironia ao comparar o número do azar Japonês com o número do azar Bellante - cinco. Mas é também uma metáfora para dizer que o ódio de Samiel pelo Império Bellante pode ser apagado na escuridão dos cinco dias azarentos. Ele está à espera que a Princesa tenha coragem para vir despedir-se dele depois do último mês como ele está prestes a morrer.

A quarta quintilha é um refrão, como se Samiel estivesse à espera que outros pusessem em forma musical o seu poema. O chorão na mitologia Bellante é símbolo de amor proíbido, e Samiel diz que sente-se castigado pelo Amor mas que este tem um doce aroma de paixão - o fruto da paixão - e a sexo.

Na quinta quintilha, o sujeito poético perde todas as estribeiras - como o povo diz - e confessa o desejo que sente pela pessoa amada. Na Bellanária, há uma espécie única de trevos de cor preta e que se assemelham a cabelos anelados. Mas no último verso da quintilha, ele desculpa-se num tom formal a pedir humildemente qualquer coisa....talvez seja só um beijo como diz a terceira quintilha...Ou talvez seja mais alguma coisa, ou seja, o corpo nu da princesa, uma coisa absolutamente escandalosa em pleno século catorze, não só para os Bellantes, como para os Chineses e Japoneses! Não admira que na versão Chinesa traduzida para o público e na versão Japonesa, esteja apenas - "seda pura do teu vestido" (túnica oriental) em vez de "a seda pura do vosso natural vestido" (como a princesa veio ao mundo).

Na sexta quintilha, o Assassino do Amor fala em sangue impuro - sangue que pode não ser Bellante, ou pode não ser humano (um demónio). Ele confessa que nem com a magia dele ele poderá purificar-se. Isto é uma óbvia referência à tradição hindu dos Rhakasas - demónios com olhos vermelhos. Mas Samiel diz que esses olhos azuis (azuis é uma metáfora para mortos, melancólicos, tristes) choram por ela.
Ele sofre tanto que, ao continuar para a sétima quintilha, pensa enforcar-se com a sua própria dor.

A oitava quintilha é uma repetição da quarta... E assim termina o sofrimento de Samiel com o castigo eterno...


Oh, linda princesa,
Não vedes que as folhas deste velho rosto,
Estão a secar? Se ao menos eu pudesse cumprir
A promessa,
De nunca mais vos ferir...

Se eu morrer,
Se o meu ódio se extinguir,
Como a chama do último mês,
A desaparecer de vez,
Até mim podereis vós vir?

Um beijo,
É só isso que vos peço!
Perdoai este bruxo malfazejo,
Perdoai, senão nunca mais cesso,
De chamar pelo vosso doce nome!

Porque será,
Porque será que terei de estar sempre preso,
Ao macabro chorão com perfume a maracujá?
Porque será que sempre que vos vejo,
Penso que saí de mais uma patifaria ileso?


Nos meus braços quero prender-vos,
Quero sentir a seda pura do vosso natural vestido,
Não haverá um momento em que não deixe
De me perder nos amorosos e macios trevos,
Dos vossos cabelos, acetai, minha senhora, este humilde pedido!


Este sangue impuro,
Que corre apenas por vós,
Nem com Magia Proíbida eu curo,
Estes olhos azuis rasgados, gelados,
Não vedes que o sangue que deitam já forma nós?


Nós horríveis de dor,
Que me estrangulam, apenas por amor,
Se alguma vez um inocente homem matei,
Foi apenas porque vos amo tanto,
E saiba que por vos, tudo ao Império eu perdoarei!


Porque será,
Porque será que terei de estar para sempre preso,
Ao macabro chorão com perfume a maracujá,
Porque será que sempre que vos vejo,
Penso que saí de mais uma patifaria ileso?