quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"Ancient Conspiracy on the Dancefloor !



O meu Padrasto, é tudo culpa dele, e ainda bem que consegui afastar-me daquela louca. Eu tentei um largo sorriso, e, indo em direcção à saída, a rir-me, disse:
- A senhora é que está com pele de galinha, não eu. Como queira.
A bruxa, fazendo uma cena com os olhos lacrimantes e juntando as mãos como se fosse conduzir-me para uma oração, olhando para o céu de uma forma piedosa (só faltava a auréola para se fingir de santa), agarrou na minha perna direita.
Que é que ela queria…? Até parecia o fim do mundo, eu só ia deixá-la por uma hora, que mal tem nisso.
Mas como na verdade a Madame é uma toxicodepente cobarde como sei lá o quê e só se sente protegida com um par de gorilas sem cérebro, burros que nem uma porta e que têm ambos a altura do Monte Evereste, lá estava eu a arrastá-la pelo chão até que chegámos à saída.
- Docinha, meu bem, não te esqueças de estar aqui à meia-noite e ponto, é uma promessa, bebé! – Implorou ela. – Mas lembra-te, lembra-te! Serás maldita se aos teus princípios de boazinha inglesa voltares, e o teu amor aqui mesmo encontrará o seu fim! Para sempre, para todo o sempre, serás do Tsesustan, e ele te dará, a ti e ao teu amado cyborg, a terrível condenação ele fará com que vocês partilhem, a tua eterna maldição! Chauzinho!
Revirei os olhos, um pouco irritada com aquela cena digna de uma comédia, e, abrindo forçosamente a porta com o peso da estúpida mulher em baixo, e suspirei em sinal de reprovação de tal peça.
- Eu sei! – Comentei sarcasticamente. – De nada, a senhora também é uma santa que ninguém poderá imaginar! Agora faça o lindo favor de largar a minha perna que só tenho duas. Até já, Chauzinho!
Acenando com a mão, fingindo que estava contente, lancei um último olhar ternurento e de amizade para com a minha nova amiga, acalmando-a. Mas…Sabia, não, pressentia que onde quer que estivesse, o meu padrasto estaria muito satisfeito por ver eu sucumbir por fim ao sentimento humano e cair na tentação; pois a sombra de um homem alto sinistro parecia estar a rir às gargalhadas, mas estranhamente não se ouvia nem um único som da sua boca…Que cambada de malucos. Eu sempre disse que a cidade não era boa para a saúde das pessoas, mas francamente. Até parece que os Bruxos citadinos não se habituaram à ideia que o isolamento é a melhor forma de aumentarmos os nossos poderes. É esquisito, sempre que penso no meu avô, lembro-me sempre de Deus, mas não é de admirar, sabia sempre o que eu queria, conhecia-me tão bem que até acho que quando era pequena, acreditava que ele era o meu anjo-da-guarda. Jamais se zangava, e a sua voz tão clara e sincera emitia um calor paternal tão amoroso…
Obviamente, quando eu fazia algo mesmo mau, ele castigava-me justamente, nunca me bateu, bastava uma semana sem televisão ou ficar sem sobremesa para eu compreender, depois, ele dava-me um beijo na cara e dizia-me na sua maneira tão bondosa «Eu não me quero zangar contigo, Jessica, mas algumas vezes é preciso.»
Ao caminhar num passo acelerado para o metro na pequena paragem na praça principal, tentei não dar nas vistas para não ser apanhada desprevenida por algum demónio ou fantasma. Respirei bem fundo e entrei no transporte público sem uma única gota de medo, mas quando me sentei confortavelmente na cadeira, pensei se seria boa ideia dormir com a Serpente de Fogo.
O meu sentido de dever falava mais alto que o meu amor e curiosidade pelo padrasto que apodrecia no Castelo Negro.
Seria boa ideia libertá-lo…? Ou era apenas uma loucura pueril criada pela minha mente jovem e ingénua, incapaz de compreender a grande e sombria conspiração que se passava na Bellanária…?
E quantas mais dúvidas a minha cabeça armazenava, mais tentada eu me sentia em fazer tão inocente crime. O meu avô decerto não aprovaria, muito menos a minha actual família, mas era a única maneira de saber quem era esse obscuro homem, esse tal padrasto que me torturava a mente. Ele (O meu Padrasto) chegara à minha vida de surpresa, e, sem qualquer aviso, me enchera mistérios e enigmas por resolver.
Chegara a hora do meu destino seguinte ser revelado. Iria para o caminho do Bem ou do Mal…? Escutaria as sensatas palavras do meu Avô ou iluminaria o caminho escuro para ver o rosto do meu Padrasto…?
Pondo a minha cabeça sobre as minhas mãos, deitei umas tantas lágrimas, guardando-as na minha mão, perguntei em voz alta:
- Porque espero? Que irei fazer?
Uma voz fria ecoou de súbito nos meus ouvidos:
- A decisão é sua, Menina Jessica. Se assim o desejar, eu mando abrandar a máquina caso queira telefonar ao Herr Duque Von Tifon para o prevenir. Que direcção do caminho deseja tomar? Diga-me só o caminho e deixe o resto comigo. Guiarei a sua vida, jovem Fräulein!
Virei-me assustada para a frente e vi um pequeno bruxo a conduzir o metro, com o rosto cobrido pelo chapéu, e de certa forma, eu sabia que ele estava a sorrir para mim, à espera da minha difícil escolha.
Olhei pela janela de vidro, e reparei que havia algures lá fora no caminho escuro iluminado apenas por algumas lâmpadas que deixavam a desejar, pondo uma simbólica bifurcação: a seta da esquerda era para um atalho para voltar para trás, o da direita ia direitinho para a Cidade Perdida, para a minha casinha e cama quentinha.
Se fosse para a esquerda, estaria a abrir as portas da liberdade ao Diabo na forma humana…? Mas se fosse para a direita, jamais descobriria a verdadeira natureza de todos os segredos que antes me tinham sido escondidos e negados…..!
Então, numa tentativa desesperada, fiz opção: levantando-me, com um ar jovial no olhar, ordenei ao condutor:
- Para a Cidade Perdida, mas pode ter a certeza, caro senhor, que eu não vou desistir de saber quem realmente eu sou!
O misterioso condutor de baixa estatura acenou com a cabeça:
- É valente, mas isso não chega para enfrentar o seu padrasto, minha querida. Coragem não provada, não basta para vencer o passado. E, infelizmente para si, doçura, o tempo é a única coisa que não se pode parar, mas sabe que a vontade do Mestre ultrapassa tudo….
Num tom de terror, com um olhar penetrante que arrepiaria até o mais poderoso e bravo de todos os Cyborgs, coberto por uma capa preta, acrescentou:
- Sua Excelência, o meu amo, ele consegue tudo, ele triunfa sempre…! Sabia que na vida real, o Mal ganha sempre no fim!
Ao dizer estas palavras, começou a repeti-las, fingindo bater num bombo, e na verdade, o metro começava a ganhar velocidade cada vez que ele repetia a oração “O Mal ganha sempre no fim!”, de uma forma simplesmente infernal e diabólica.
As minhas pernas tremiam como varas verdes numa implacável tempestade e já andávamos a trezentos km’s por hora, sem ele conduzir o “metro fantasma”! Parecia um autêntico pesadelo, só que desta vez era real. Terrivelmente real! Só me apetecia gritar, mas em vez disso, apertei fortemente contra o meu peito a pequena chave, tentando manter-me calma.
Desconfiada da forma sinistra como aquele homem falava, forcei-o a virar-se para mim, e vi em vez de um bruxo, um perfeito boneco feito de cera à escala real, deitando a língua de fora para mim, com sete velas a flutuar assustadoramente sobre a sua cabeça, cada uma delas pregada com treze agulhas formando um místico símbolo: um losango negro, com um florete, um k e uma rosa a atravessar o losango; o símbolo do Mal Supremo!
Aí é que não aguentei mesmo, aquilo estava a ficar igualzinho a um filme de terror.
Explodi, e, com a mostarda a subir ao nariz, dei um grito de horror à medida que tudo ia ficar escuro….