sábado, 28 de julho de 2007

A Bruxa Moderna Atlante - Serpente de Fogo!


Mas como…? Eu partilhava e partilho a mesma opinião do meu primo, afinal, este assunto da guerra não nos vai levar a lado nenhum, e só trará mais infelicidades ao nosso lindo país.
Porém, que armas utlizaríamos para derrotar e desmascarar o autor que enfureceu os deuses e foi castigado para o mais escuro dos infernos? Segundo objectivo: descobrir quem é que começou a Guerra Civil. E imediatamente, caso contrário, não restará nada da maravilhosa Atlântida para salvar e recuperar.
Levantou-se animadadamente qual chefe disposto a fazer um projecto bem feito, mais bem-disposto, lembrando-se de nós e da sua outra missão diplomática urgente com a feiticeira branca, o primo, decidiu ir correr até à sua casa, para pelo menos salvar a situação política dos Bruxos com as Feiticeiras Brancas. Bravo, primo!
Assim é que é! Pensei eu ao vê-lo tão concentrado e preocupado por se ter esquecido dessa visita diária. Já era meio caminho andado, creio eu. Mas… Havia algo de muito fácil, sem dificuldades, não há vitória!
Mal ele sabia que uma mulher jovem, de estatura baixa e magra qual um pequeno palito, ancas largas que saltavam à vista de qualquer bruxo mulherengo, cabelo preto escorregadio e lustroso apanhado por uma trança enorme qual serpente venenosa, marcava no seu telemóvel para um número desconhecido, com maneira muito indiscretas.
Os seus olhos azuis claros enganadores e bonitos brilhavam de manhã com uma raiva enorme, pois porventura seria a sétima vez que ela marcava o número e se não desse sinal, a prostituta numa posição provocadora não teria outro remédio senão passar-se e dar cabo do seu brinquedo de terceira geração.
Batendo com o sapato de salto alto no granito gasto, os seus lábios pintados exageradamente de marrom fizeram um gemido de desespero.
- Atende, querido! – Suplicou ela num choro lamentável e patético. – Atende! Vá lá, bebé! Não me deixes sem saldo!
Talvez um bruxo amante daquela mulher de vinte anos, mas…Não sei!
Ela girava o seu anel de aço com uma pedra de jade incrustada na bonita peça de joalharia repetidas vezes, enquanto o fazia estava atenta ao que o meu primo estava a fazer, e ao fazê-lo, ficava mais fraca.
Quase de joelhos, cinco minutos depois, com os meus poderes de audição, consegui ouvir uma voz distorcida a indagar:
- Porquê tanto barulho, Princesa? Estava a dormir tranquilamente.
Porque razão estaria ele assim tão próximo da mulher.
Seja como for, ela apressada, vendo que o meu primo já ia a correr, respondeu:
- Bebé, temos de tomar medidas drásticas, o Von Tifon anda a pensar se consegue trazer a paz para este país, sabes o que significaria?
Subitamente, uma força semelhante à intensidade de mil raios de todas as mitologias atingiu-me a mim e à minha sombra com tanto poder concentrado nessa bola de fogo que caímos num arbusto perto da esquina onde a jovem mulher estava a conversar.
Devia ter sido aquele bruxo, (o meu padrasto tem muitas amantes, hem?), e somando as parcelas, fiquei com um terrível calafrio na espinha, não poderia ser o “querido” que eu conheço. Não, esse não.
Aterrorrizou-me toda a vida em Londres por causa das terríveis atrocidades que cometeu, mas não falemos disso.
- Silêncio! – Avisou. – Tenho a sensação que uma certa bruxa anda a seguir-me. Nestes jogos, é preciso a máxima cautela, minha senhora. Devo relembrá-la, Princesa, que em caso algum deve mencionar o meu nome, muito menos em diminuitivo.
Logo, mudou para um tom mais aberto e trocista:
- Carina; minha Princesa; tesoro; mon amour; baby, feines lieb: continua a usar o anel que lhe ofereci? Amanhã quero-o bem polido no seu dedo para levá-la a almoçar em minha casa.
A atrevida rapariga mudou de expressão ao som destas cruéis palavras, que lhe atravessaram o anelar esquerdo qual veneno espetado por uma terrível serpente, cujo estava posta a linda jóia, e este começou a faíscar, brilhando em tons de pequenas chamas prateadas, saídas do pequeno membro delicado, fazendo com que a mulher soltasse gritos de agonia, caíndo com os joelhos no chão a sangrar de energia mágica muito poderosa.
Desta vez , a voz do bruxo tomou um tom mais cínico, rindo-se:
- Lamento imenso o seu sofrimento, Princesa! Talvez três dias suavizassem mais o seu ardor e paixão que tem por mim. Então, no Dia da Magia Negra está bem para si? Não se esqueça de tentar seduzir o General von Tifon. Ele é um homem fraco de mente, tal como todos os outros, deixa-se levar pelas emoções e pelas suas visões paranóicas em vez de utilizar a razão e o racciocínio para resolver os seus problemas. Será fácil conquistar o coração mole do velho tolo! O pobre diabo está cada vez a ficar mais transtornado, anda solteiro há mais de cem anos, os seus órgãos sexuais provavelmente já devem estar a dar as últimas.
Aí é que a rapariga soltou uma gargalhada sádica, e ao arrumar com falsa delicadeza o seu baton marrom comprado especialmente em Nova Iorque na sua pirosa e desumana mala de pele de lince ibérico, concordou com o seu frio admirador:
- Estou chocada, chocadíssima das coisas que dizes acerca do nosso amado duque. Mas se assim o desejas, irei consolar o coitadinho. Xauzinho, amor!
Dizendo estas últimas duas palavras, ela beijou o telemóvel numa forma sensual e, abanando os seus exagerados seios, carregou com as longas unhas pintadas no botão vermelho para acabar a chamada. Infelizmente, o homem interrompeu-a (que poder de sedução e vocabulário sensual fantástico que o meu padrasto tem!):
- Calma, não vai certamente apressar as coisas, doce Princesa? Só
gostaria de lhe dizer que a amo como nunca amei uma mulher em toda a minha vida, minha querida. Vereemo-nos em breve, minha pombinha!
Aí, a conversa melada terminou, sem perceber lá muito o que se passava, fui levada subitamente para mais longe, onde é que não fazia a mínima ideia. Era interessante, a voz meiga, ondulada, fina e doce da mulher era idêntica à de Sara, porém esta tinha um toque de malicía e vaidade na pronúncia atlante. Quem seria aquela estranha, no entanto bizarra bruxa…?
Então era assim que se parecía uma bruxa adulta, nunca tinha visto uma em carne e osso, para além da Spectinha.
As bruxas não se parecem nada com o que se diz nos contos de fadas. E esta era tinha uma beleza rara: pálida como um inofensivo floco de neve, cabelos louros como a palha mal tratada – pintados é claro – abundantes a voar sobre uma calma brisa que trazia gentilmente consigo as folhas de Outono. Olhos azuis tão claros como duas raras safiras da mais longínqua montanha, as pequenas maçãs do rosto cobertas por um invulgar pó-de-arroz branco de cal com um pouco de rosa púdico. Lábios pequenos e carnudos num rosto triangular que comportava bem o lindo rosto da deusa da noite suave e de baixa estatura, vestida com um lindo vestido preto com um um perigoso decote decorado rendas vermelhas de seda, e asas de uma linda borboleta venenosa cresciam nas suas costas frágeis e nos ombros direito e esquerdo descobertos usava duas tatuagens com um pentágono no esquerdo e o símbolo do signo zodiacal Leão. No pescoço tinha um brilhante colar de grandes diamantes e rubis do tamanho de cerejas, mais para baixo, as suas mãos e braços delicados estavam “tapados” com luvas de brilhante cetim de cor-de-vinho. Por baixo do apertado vestido sem alças que ajustava perfeitamente às curvas da jovem mulher de vinte e oito anos, só se viam os sapatos de salto alto vermelho lustroso, e a cada passo que esta dava, exibia uma das suas pernas torneadas e finas como a de uma gazela.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

O Desespero de um Bruxo....

Voámos um pouco mais, até que chegámos a uma pequena praça onde estava escondido o meu primo, sozinho, suspirando de manhã solitário quanto uma minhoca presa a um anzol, e, triste pela amante o ter deixado. O meu primo é um daqueles homens muito especiais, que só se encontra uma vez na vida: um místico; um idealista; sempre no mundo dos mitos, e se há coisa em que ele fica mesmo triste é uma mulher enganadora.
Aí ele começa a ter um estado de depressão terrível que demora aproximadamente cinco dias, depois, grita com toda a gente, até se descobrir um bruxo romântico, sensível, um coraçãozinho de ouro tão terno e fofo como mais nenhum! Embora seja orgulhoso, arrogante, e simplesmente passional, ele nunca será complacente. Tentará sempre ter a coragem e a valentia do seu lado, mas algumas vezes, até o cavaleiro de armadura mais reluzente acaba por ficar indefeso e ter medo ou receio de alguém. Seria culpa dele que a pobrezinha tinha fugido a chorar completamente destroçada.
Bruto, devia ter mais maneiras e ter sangue frio em vez de disparar, cheio de ciúmes, para o cyborg guarda-costas com ares de galego da representante do intrépido e valente Povo Unido Cyborg Atlante, o partido comunista ilegal e uma das associações ligadas a activades muito perigosas com a Resistência.
Agora estes também tinham-lhe declarado guerra, a embaixadora escapando perante o alvoroço do troco de tiros e feitiçoa entre o guarda-costas e o primo, muito agitada quase sem folgo para gritar por ajuda enquanto um dos seus subordinados lhe puxava a cauda do vestido de gala.
Tinha feito uma enorme asneira, agora pagava as favas, o pobre velho de alma e fé fraca e só, sem nenhuma companhia, para lhe curar as feridas, uma pequena irmãzinha para lhe beijar um calo feito durante uma marcha, a sua tiazinha preferida, a linda Katrine, ou como ele preferia dizer “Catarrina”. Ele sempre pensa nela, a sua madrinha, onde quer que esteja, a nossa querida mamã nunca foi esquecida, e jamais o será!
Para ele era mais do que uma irmã, era o seu único amor e verdadeira amizade. E só de relembrar o terno e doce quadro duma rapariga de vinte e sete anos com calções verdes, a pôr os delicados pés num lípido riacho qual água vinda dos Céus que corria ao pé do Château von Tifon, enquanto ele deitado na relva fresca delicisiava-se com a visão da sua mãe a brincar com o jovem bebé Hans, e Águia Negra conversava animadamente com o venerável Duque von Tifon. Enquanto o seu melhor amigo Fritz tocava uma melodia calma no seu acordeão, Skánvasse comia pretzels sem que nenhum cyborg o perturbasse, sem que o rival do meu pai com os seus caprichos os torturassem.
Schanti, a nossa tia mais nova, com cinco anos carregava qual empregada concentradíssima no seu trabalho um boião de água para a sua mãe, a estafada Nefrufi, a duquesa morena atlante com nariz pequeno e lindo, apenas com um aspecto de uma mulher de cinquenta e nove quando tinha na realidade quarenta cinco mil anos!
A descer o riacho num pequeno barco a remos, havia um travesso rapaz ruivo de vinte e quatro anos, loucamente apaixonado pela rapariga independente mais velha do que ele, e porque não havia de estar? Os cabelos soltos pretos ondulavam à suave brisa de Verão juntamente com as madeixas vermelhas, os olhos grandes verdes quais olhos da mais selvagem e solitária pantera nas densas florestas do Amazonas, nariz franzino e um pouco achatado, no entanto tão belo quanto o bico da misteriosa coruja das torres, lábios cor-de-vinho tão apetitosos como pequenas framboesas frescas e prontas para colher.
Mas isso era agora vãs memórias, uma imagem do passado, do longínquo e ilusivo passado: duma antiga e mágica Atlântida, da sua amada Atlântida, da sua apaixonada e alegre Atlântida. Também relembrava da sorridente Alemanha, os seus dois países mais amigos e fantásticos. Agora tudo o que restava das suas lindas amigas era um pedaço de cascalho queimado do ressequido e podre banco do parque, e pó, pó vindo das corruptas fábricas de Cyborg Town! «Que terra mais amaldiçoada!» Pensou ele ao deixar caír desajeitadamente a areia por entre os seus dedos gordurosos. O meu primo fungou tristemente, e olhou com o seu olho esperançoso para os Céus deitando uma rara lágrima do seu olho saudável, pondo as suas mãos em forma de oração, fechando-as forsosamente, com uma expressão de longa depressão qual um vagabundo ou filho perdido numa tempestade de areia, á procura do seu pai. «Desculpe-me por todos os meus erros, Meu Pai. Diga-me: que deverei fazer, que horrores prenunciam as próximas desgraças que acontecerão a este pobre país? Sinto-me perdido numa terra perdida que já não é minha.» Ao acabar de rezar e meditar, derramou mais uma gota de água cristalina, sobre o seco e infértil chão.
Agora que os deuses tinham-nos castigado pela nossa ganância e egoísmo, teríamos de ser nós, os Bruxos e Cyborgs, aqueles que tinham começado todos estes problemas, teríamos que trabalhar em conjunto, acabar em primeiro lugar a Guerra Civil, deixar que a boa e sensata Princesa Sara tomasse o poder, para que todos nós vivêssemos em paz e harmonia, e evitar que este desastre repetisse…