segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Lua dos Meus Sonhos (Capítulo 2)





- Sabes alguma coisa acerca da morte de Auroalina?



- Lamento, meu amigo, não há nada a fazer…Nem a própria Serpente de Fogo conhece a verdadeira natureza do assassino! ’



Diálogo entre dois feiticeiros brancos apanhado pelos ventos das sílfides.





Tinha passado um mês desde o incidente no Cavalheiro, e absolutamente ninguém, em toda a Bellanária conhecida, sabia alguma coisa da pobre sereia.



As únicas pistas eram aquele bilhete ameaçador e a posição da dita vítima.



Para não falar de que esta tinha sido esfaqueada duma maneira bastante subtil, no meio duma multidão de quase cinquenta pessoas. O homicida deveria ter tido um grande engenho para dirigir-se sorrateiramente em direcção à sereia, precisamente no momento áureo da canção, sem que ninguém notasse a presença dele, e, num minuto, executar a funesta acção.



Auroalina, uma sereia de trezentos anos, quase no fim da sua vida como fada, já tinha percorrido a nado os sete mares, era venerada por toda a classe de Fadas como uma senhora de Bem e realmente sábia. A sua trágica morte causara um grande distúrbio na floresta. Todas as ninfas da água sabiam que ela desejaria morrer como uma verdadeira sereia o faria, desaparecendo pacificamente numa inofensiva bolha de espuma.



O implacável assassino tirara-lhe esse privilégio, e, morrer deitada, como uma humana, era considerado para a classe das Fadas a derradeira desonra!





Mal souberam do assassinato, os Deuses ficaram igualmente aterrados, afinal, a sereia sempre defendera que, sem a diplomacia destes, a Dimensão Mágica seria um lugar terrível para se viver. Em todas as ocasiões, boas ou más, estes tinham ditado o destino e a felicidade de todos aqueles que os rodeavam, com as Fadas incluídas. Eles recriavam periodicamente o Universo e lutavam contra as forças demoníacas que ameaçavam a ordem do mundo, e era por isso que, na Bellanária, o Cristianismo jamais seria implantado, uma vez que a religião politeísta atlante estava enraizada desde os inícios dos tempos! Os Deuses eram, em princípio, trinta e três, mas eles eram tão misteriosos que podemos contar até trinta e três mil e trezentos e trinta e três! Um dos números sagrados atlantes é o 3, uma vez que este personifica a unidade tríade Tralwet; esta tripla divindade engloba três espíritos, cada um com a aparência dum ser divino: Jetwas, Tsesustan e Melnjar, todos eles irmãos um dos outros. Jetwas criou a Bellanária, Melnjar preservava-a, e Tsesustan pode destruí-la ao chamar uma das suas diabólicas Gulqytuhrtar, ou Aparições. Tsesustan salvou, no entanto, uma vez a Bellanária de uma catástrofe: quando o Bênção caiu do céu, Tsesustan amorteceu a sua queda, amparando-o com a sua cabeça. Melnjar simboliza o equilíbrio, o príncipio do Bem e o Mal, a Luz e a Escuridão, o deus Wul do Sol e a deusa Mun da Lua unidos. Jetwas é a pureza, o divino, a sabedoria eterna, o Bem encarnado, enquanto que Tsesustan é a destruição, a vingança, o Mal em pessoa! Dizia-se que a Rainha era a deusa Melnjar, que se tinha vindo a casar com o Semideus Neptuno, furiosa com a infidelidade do esposo e, incitada pela tentação do irmão do meio, Tsesustan, mandou decepar as cabeças das sete esposas antigas do rei, forçando-o a servi-las ao copo-de-água como aperitivos, mas toda a gente sabia muito bem que, por muito imortal que a deusa fosse, a sua representação carnal não poderia durar mais que cinco mil anos! Assim, ela, nunca seria responsável pela morte de Auroalina, pois a sua saúde, nesses tempos, estava muito débil.