domingo, 22 de junho de 2008

A Festa do "General B" (Parte IV)

Voltando ao Presente, mal a música parou, o General B tirou sofisticadamente a sua máscara negra enquanto as câmaras e toda a gente olhava para outro lado, e acenou com um sorriso para que eu tirasse a minha.
Eu tirei as minhas pinturas todas, incluindo o batom, e, ao olhar para ele, reparei que estava tudo escuro e não consegui ver o seu rosto, que desilusão!
Só os seus olhos azuis-claros e penetrante brilhavam para mim naquele escuro ardente.
- Não faz mal, minha querida. – Disse o feiticeiro enigmaticamente. – Eu também fiquei com os nervos em franja quando descobri toda a verdade...
Empurrei a pessoa com grande bravura, a pensar se aquilo não era outra máscara.
Naqueles dias, eu mal sabia no terrível pesadelo que me viria a meter...! Era ingénua e jovem, achava que tudo podia se resolver com um estalar de dedos.
- Porque é que o senhor se faz passar por algo que não é? Diga-me lá! – Perguntei num tom desafio. – Eu tinha o pressentimento que só uma pessoa tão malvada e desumana poderia se esconder por detrás do brilho colorido da corrupção que há em toda a Cyborg Town, mas nunca pensei que essa pessoa fosse tão...Humana.
Ele sorriu misteriosamente e fumou mais um pouco da hortelã-pimenta, atirando o fumo azul para mim.
- Talvez a menina esteja enganada. – Insinuo o homem desconhecido. – Você própria o disse: comigo, as coisas nunca são o que parecem....
Aquele mortal desagradável agarrou em mim e tentou aproximar os meus lábios dos dele.
- De qualquer maneira, terá de me beijar, quer queira, quer não. – Comentou num tom divertido. – É que, de uma forma ou de outra, irá descobrir o que eu sou na realidade, mas não hoje.
- Sabe qual é a coisa que eu mais detesto do que pessoas falsas e arrogantes? – Perguntei irritada. – Detesto mistérios em suspenso, fazem-me vir ao de cima a fera que há em mim.
Já ia acrescentar mais algumas coisas, quando, subitamente, as luzes voltaram e toda a gente começou a abrir as garrafas de champanhe, todos felizes, por aquela parte importante da noite se ter cumprido, e mal me virei para o anfitrião, dei-me comigo própria fora do palco improvisado.
Todos – excepto o General B – tinham tirado as máscaras, e, logo todos desataram às gargalhadas, olhando para mim como se eu fosse a palhacinha de serviço.
Tenho de te dizer que a reputação dos Bruxos não é a melhor, somos tomados como hipócritas; ricos; perigosos; perversos; loucos; diabólicos; …Tudo o que tenha a ver com o Demo! Isso é só um rumor espalhado pela própria louca que há neste país. Aquela desvairada da Serpente de Fogo que deveria ir para um hospício, no entanto, tenho pena da pobre mulher. Afinal, que raio de bruxo lhe estará a fazer tanto mal…? Com certeza não será o meu primo. Ele seria incapaz de cometer tal barbaridade. À medida que cantava a sua melodia fervorosa com uma frenética quase prodigiosa e infernal, o seu corpo deixava-se ser dominado pelos avanços do meu primo, beijando-a, só para a ter como forma de distracção sem pudor algum do que estavam a fazer, porém, a sinceridade e ingenuidade com que os seus olhos o olhavam, era amor verdadeiro, e, em toda a sua embriaguez, chorava por estar a mentir ao seu amor. Ela sabia que o amava, e o dramático da situação é que parecia que outro homem tinha-a acorrentado a outras correntes. Eu sabia disso, porque via-se logo que ela mentia tão mal… Ela só se enchia de haxixe e ópio misturados, o ar de embriagada, enquanto embalada na música sonhando com loucuras de juventude, loucuras de amor, trocava de acompanhante de dança da mesma rapidez que acabava cada cigarro. O remix do Michael Jackson com Jamiroquai e Justin Timberlake até nem estava mal. A festa estava mesmo animada, todos os bruxos e bruxas andavam meio malucos com o álcool, o cheiro a hortelã-pimenta, que a Serpente de Fogo não parava constantemente de fumar. Bebiam, beijavam-se com os copos nas mãos, juntando os lábios numa intensidade que nem te conto, abraçados uns aos outros, e batendo palmas, executavam a dança típica atlante, de mãos dadas, com as taças de champanhe nas cabeças de homens, essas malucas, que estavam quase para desmaiar, com os beijos e atitudes desavergonhadas dos seus maridos mais velhos, sorrindo muito divertidos, numa colecção de expressões cúmplices e de camaradagem entre os homens e risadas típicas de bruxas da parte das mulheres, batendo os saltos altos o mais alto que pudessem, dançando cada vez mais rápido, e com os seus echarpes de seda, fazendo movimentos alusivos para os homens, que batiam palmas sentados nos inúmeros sofás que haviam na sala enorme ao ritmo da melodia exótica, cada um com o mesmo olhar amendoado e aparvalhado, apontando as suas mãos a suar de tanto calor e tentação provocados pelas ligeiras e magras mulheres com curvas, balançando como serpentes loucas, com os olhos postos nas suas concubinas preferidas, deixando-se serem molhados pelo champanhe dourado, vermelho, e verde-escuro, abrindo as bocas quais piranhas impacientes para obterem a sua carne desejada, banhada em sangue, ou seja, em álcool. Apesar disso tudo, não consegui encontrar um par perfeito para mim, e não dancei a noite toda como tinha imaginado, com o tal oficial tenebroso e sinistro vestido de preto, com risco ao lado e cabelo cheio de brilhantina, não, não aconteceu isso. Mas se foi uma festa engraçada, foi sim senhor, pois a Tsuna e a Sara dançaram a noite toda, e se elas ficaram felizes, eu também ficaria feliz por elas. Confesso que abanei o capacete, com o Pedro, ai…Que cyborg tão pateta e engraçado, ele é um dançarino excelente, cheio de genica para dar e vender, na pista de dança principalmente! Sim senhor, que maravilhosa noite de gala foi aquela, muito maluca, mas mesmo assim, uma noite de gala, que durou desde a seis até às dez da noite, a provar a gastronomia atlante nada apetitosa, a dançar, foi giro. Bom, … encontrei alguém. Um bruxo reparou que eu estava sozinha, sem nenhum par, e foi-se logo atirar. Andou cautelosamente até ao sofá onde eu estava sentada – o mais cauteloso que se pode estar quando se bebeu dois litros de álcool e se inalou três maços de hortelã-pimenta num só dia!
Com o copo de champanhe na mão direita e agarrando a minha mão esquerda de uma forma apressada no meio da música a altos berros, desta vez uma de metal (ouve um ano em que era doida por essa porcaria), queimando-me com o fogo azul-escuro da cigarrilha na esquerda, e sussurrou no meu ouvido:
- Querida, não quer comer nem dançar? O ambiente está tão…quentinho.
Olhei-o de frente, e levantei-me para vê-lo bem, o seu aspecto era sinistro: alto, de um metro e setenta e oito, com as botas de cabedal a ressoarem desajeitadamente no salão, com a mesma gabardina preta, desta vez de pele de urso espesso e fofo para proteger do frio terrível de Novembro, logo vi que aquele bruxo inquietante e convencido tinha de estar por aqui. O mesmo bruxo que tinha ficado uma noite como nosso hóspede e informador do meu Padrasto. Não sei o nome dele, mas pelos vistos, este também estava a usar uma máscara, mas esta era de bronze.
- Se quer mesmo ficar com um bronze elegante e atraente, pode ir para o microondas, não fará mal nenhum a tostar os poucos miolos que ainda tem. – Comentei entre dentes num tom sarcástico.
Afinal, que bruxo que se preze não vai a uma festa do Dia da Magia Negra…? Que eu saiba nenhum. Mesmo antes de o ter visto já tinha cheirado a sua inquietante presença, e a marca inconfundível do seu cigarro de hortelã-pimenta, que, por acaso não é o Encanto, mas sim uma marca barata qualquer que leva mais pimenta do que hortelã. Os seus lábios estavam manchados com uma tinta vermelha misturado com um líquido prateado qualquer, para mim parecia energia mágica de uma vítima qualquer, provavelmente de uma fada, e sem a luva direita via-se uma pálida e magra mão esquelética a sair da gabar dine. Ao retirar a sua luva negra da minha mão delicada, vi que tinha deixado uma marca com números atlantes e dizia as horas em contagem decrescente para a meia-noite marcavam três horas em fogo-fátuo. Coincidência ou maldição…? Eu apostava na maldição. Aquilo não cheirava nada bem, tal como a cigarrilha do “bruxo sorridente” com aqueles lábios secos e pequenos a segurarem no pau negro de madeira apontado aos meus seios (De novo).
- Vá lá, não me faça uma desfeita destas, Menina Jessica! – Disse agarrando-me na mão e empurrando-me para a pista de dança num tom suplicante. – Gostava tanto que dançasse para mim…
Que queria ele…? Será que não tinha percebido que eu não queria nada com ele…?! Os homens são tão estúpidos!
Ai valha-me Deus! Detesto homens melgas. Detesto, portanto era melhor ele pôr-se na alheta, senão ia levar umas poucas e boas que jamais esqueceria! Isso posso garantir-te.
Ao começar a primeira melodia uma escandalosa música árabe, onde todas as mulheres tinham de sucumbir à sedução pura e erótica dos homens, ele pegou nos meus braços, e, com uma força espantosa, descalçou a outra luva com um sorriso perverso, atirou-a para uma gueixa, uma bruxa japonesa assustadora que, mal acreditando na sua sorte, lançou um beijo de agradecimento para o admirador. As suas mãos que davam a pensar se eram os restos de um exosesqueleto de uma aranha mostravam o quão velho era, se calhar tinha assistido á extinção dos dinossauros, então, após os primeiros dois minutos da longa canção. Sem pudor algum, ainda com os meus braços apanhados sobre os dele, começou o que parecia ser uma valsa super bizarra, enquanto eu punha a minha cabeça sobre o ombro másculo.
Agora conseguia sentir o cheiro de hortelã-pimenta do seu cigarro, e os seus pequenos olhos enganadores azuis claros brilhavam de satisfação. Certamente que era um espião ou um servo daquele bruxo do meu padrasto.
- O que o seu padrasto não dava para estar no meu lugar. – Comentou ele ao agarrar com as mãos electrizadas (resultados de uma tortura no Limbo dos Espelhos, se calhar) a minha cintura. – Mas agora não pode escapar. Dentro de duas horas e cinquenta e cinco minutos, já estará com as estridentes grilhetas dos espíritos das trevas.
Ao ver os seus dentes pequenos e semelhantes a uma serrilha, apercebi-me que estava a dançar com um louco.
Eu reparei na forma como em vez da sua sombra, um homem de cabeça oval de uniforme militar e com nariz curvo aprovava a nossa dança. O meu padrasto, a Serpente de Fogo e aquele bruxo conspiravam contra mim. O olhar infernal dos seus olhos azuis olhava para mim sem que houvesse outra mulher interessado nele.
Estava a começar a ficar um bocadinho farta das irremediáveis tentativas do maldito bruxo com os seus avanços. Lancei-lhe um olhar de desconfiada, e soltei-me daquelas manápulas horrorosas. Mas não posso mentir que a música estava a começar a ficar mesmo, mesmo suave…Aquela era a altura certa para ele me pregar um beijo, porque devia estar tão embriagada do cheiro calmante de rosas, das bebidas e incenso que nem sequer distinguia um sapo de um pavão, se é que me entendes. Isto se ele tivesse coragem, mas eu nem sequer deixava-o aproximar-se da minha cara.
- O senhor é desprezível! – Disse num tom incriminatório. – Eu quero lá saber do seu patrão, deste ambiente tão escaldante, e da forma como me ia beijar, portanto: chauzinho!