segunda-feira, 23 de julho de 2007

O Desespero de um Bruxo....

Voámos um pouco mais, até que chegámos a uma pequena praça onde estava escondido o meu primo, sozinho, suspirando de manhã solitário quanto uma minhoca presa a um anzol, e, triste pela amante o ter deixado. O meu primo é um daqueles homens muito especiais, que só se encontra uma vez na vida: um místico; um idealista; sempre no mundo dos mitos, e se há coisa em que ele fica mesmo triste é uma mulher enganadora.
Aí ele começa a ter um estado de depressão terrível que demora aproximadamente cinco dias, depois, grita com toda a gente, até se descobrir um bruxo romântico, sensível, um coraçãozinho de ouro tão terno e fofo como mais nenhum! Embora seja orgulhoso, arrogante, e simplesmente passional, ele nunca será complacente. Tentará sempre ter a coragem e a valentia do seu lado, mas algumas vezes, até o cavaleiro de armadura mais reluzente acaba por ficar indefeso e ter medo ou receio de alguém. Seria culpa dele que a pobrezinha tinha fugido a chorar completamente destroçada.
Bruto, devia ter mais maneiras e ter sangue frio em vez de disparar, cheio de ciúmes, para o cyborg guarda-costas com ares de galego da representante do intrépido e valente Povo Unido Cyborg Atlante, o partido comunista ilegal e uma das associações ligadas a activades muito perigosas com a Resistência.
Agora estes também tinham-lhe declarado guerra, a embaixadora escapando perante o alvoroço do troco de tiros e feitiçoa entre o guarda-costas e o primo, muito agitada quase sem folgo para gritar por ajuda enquanto um dos seus subordinados lhe puxava a cauda do vestido de gala.
Tinha feito uma enorme asneira, agora pagava as favas, o pobre velho de alma e fé fraca e só, sem nenhuma companhia, para lhe curar as feridas, uma pequena irmãzinha para lhe beijar um calo feito durante uma marcha, a sua tiazinha preferida, a linda Katrine, ou como ele preferia dizer “Catarrina”. Ele sempre pensa nela, a sua madrinha, onde quer que esteja, a nossa querida mamã nunca foi esquecida, e jamais o será!
Para ele era mais do que uma irmã, era o seu único amor e verdadeira amizade. E só de relembrar o terno e doce quadro duma rapariga de vinte e sete anos com calções verdes, a pôr os delicados pés num lípido riacho qual água vinda dos Céus que corria ao pé do Château von Tifon, enquanto ele deitado na relva fresca delicisiava-se com a visão da sua mãe a brincar com o jovem bebé Hans, e Águia Negra conversava animadamente com o venerável Duque von Tifon. Enquanto o seu melhor amigo Fritz tocava uma melodia calma no seu acordeão, Skánvasse comia pretzels sem que nenhum cyborg o perturbasse, sem que o rival do meu pai com os seus caprichos os torturassem.
Schanti, a nossa tia mais nova, com cinco anos carregava qual empregada concentradíssima no seu trabalho um boião de água para a sua mãe, a estafada Nefrufi, a duquesa morena atlante com nariz pequeno e lindo, apenas com um aspecto de uma mulher de cinquenta e nove quando tinha na realidade quarenta cinco mil anos!
A descer o riacho num pequeno barco a remos, havia um travesso rapaz ruivo de vinte e quatro anos, loucamente apaixonado pela rapariga independente mais velha do que ele, e porque não havia de estar? Os cabelos soltos pretos ondulavam à suave brisa de Verão juntamente com as madeixas vermelhas, os olhos grandes verdes quais olhos da mais selvagem e solitária pantera nas densas florestas do Amazonas, nariz franzino e um pouco achatado, no entanto tão belo quanto o bico da misteriosa coruja das torres, lábios cor-de-vinho tão apetitosos como pequenas framboesas frescas e prontas para colher.
Mas isso era agora vãs memórias, uma imagem do passado, do longínquo e ilusivo passado: duma antiga e mágica Atlântida, da sua amada Atlântida, da sua apaixonada e alegre Atlântida. Também relembrava da sorridente Alemanha, os seus dois países mais amigos e fantásticos. Agora tudo o que restava das suas lindas amigas era um pedaço de cascalho queimado do ressequido e podre banco do parque, e pó, pó vindo das corruptas fábricas de Cyborg Town! «Que terra mais amaldiçoada!» Pensou ele ao deixar caír desajeitadamente a areia por entre os seus dedos gordurosos. O meu primo fungou tristemente, e olhou com o seu olho esperançoso para os Céus deitando uma rara lágrima do seu olho saudável, pondo as suas mãos em forma de oração, fechando-as forsosamente, com uma expressão de longa depressão qual um vagabundo ou filho perdido numa tempestade de areia, á procura do seu pai. «Desculpe-me por todos os meus erros, Meu Pai. Diga-me: que deverei fazer, que horrores prenunciam as próximas desgraças que acontecerão a este pobre país? Sinto-me perdido numa terra perdida que já não é minha.» Ao acabar de rezar e meditar, derramou mais uma gota de água cristalina, sobre o seco e infértil chão.
Agora que os deuses tinham-nos castigado pela nossa ganância e egoísmo, teríamos de ser nós, os Bruxos e Cyborgs, aqueles que tinham começado todos estes problemas, teríamos que trabalhar em conjunto, acabar em primeiro lugar a Guerra Civil, deixar que a boa e sensata Princesa Sara tomasse o poder, para que todos nós vivêssemos em paz e harmonia, e evitar que este desastre repetisse…

3 comentários:

Arthurius Maximus disse...

Uma das melhores coisas de se passar por aqui, é sempre dar "de cara" com textos bem escritos e sempre criativos. Nada como um bruxo numa guerra civil. Aguardemos, então, o desfecho ou a continuação dessa saga.

Lidiana disse...

Cara, quer dizer, garota, você joga RpG?!

adorei seu blog!!!

*.*

Unknown disse...

As descrições ficaram magníficas, principalmente a do estado de espírito do primo. Me identifiquei um pouco com ele...

Excelente texto, você está escrevendo cada vez melhor!