Capítulo 1 Domingo de 15 de Novembro do ano 1936
Querido Xaver…
Hoje é o grande dia, hoje vou, de manhãzinha, até à tarde, passear com o encantador e sedutor Heydrich, o Gruppenführer ou General das SS que a Sara tanto me falou pelo telefone. Estava eu a arranjar-me, quando alguém tocou à campainha das portas das traseiras do palácio. Soube logo que era a minha amiga Sara, não havia mais ninguém que conhecesse essa passagem secreta a não ser eu, ela e o Irmãozinho. Mal eu acabei de lavar a cabeça, fui logo atendê-la numa das muitas e inúmeras salas de estar que há espalhados pela minha casa e conversei um pouco com ela.
Estava um bocado quente para meados de Novembro, o sol entrava pela adornada com anjos, mobília de alabastro e mogno castanho-claro o qual eu gosto imenso de polir eu própria pelos cantos da casa, tocando delicadamente sobre elas, e criando um ambiente agradável e puro sobre a pequena, privada, sala de estar, iluminada com uma cor clara de azul fushcia o qual eu gosto imenso igualmente.
Sentadas sobre um dos sofás de pele de magusto falso, eu e a minha amiga estávamos entretidas a tomar o pequeno-almoço: flocos de trigo mergulhados com mel e leite, combinados com bolachas de gengibre e acompanhados por bolinhos de folhados de soja com morango, e um sumo natural de maracujá como bebida. Tostas mistas e ovos mexidos com canela e cuscuz com vegetais. Cá, na Bellanária, tal como todos os outros países, o pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia, por isso, geralmente, comemos mais do que no próprio almoço. É uma tradição mais das cidades que do campo, que preferem o jantar e o almoço como refeições indispensáveis.
Ao nosso lado, estava o Rafael, olhando por nós, contente, mas também um pouco nervoso, suspirando de cada vez que comíamos mais um pouco. Ao pé de nós estava o Irmãozinho, que se tinha juntado para beber um café – para ele, a bebida mais indispensável do dia, isto é um hábito particularmente latino e português. Ele também estava um pouco nervoso.
Já bastava ter de ouvir o Rafael a rosnar de profundo ódio e desprezo de vez em quando, como se quase presenciasse o próprio carro de Heydrich a ir pelas ruas da Cidade dos Deuses, desde o hotel em que está hospedado em Cyborg Town, até ao nosso palácio.
O velho homem de trinta e oito anos parou, um pouco, e suspirou, convencido que ia ter um daqueles dias mesmo atarefados.
- Tenho mesmo de ir para a Catedral dos Sete Feitiços trabalhar, a ver se encontro alguma coisa acerca daquele assunto que Sua Alteza sabe. – Ao se retirar, deu um estranho beijo no meu rosto, o que me fez corar, um pouco. – Não se esqueça que tem de vir comigo à noite para irmos examinar a nossa querida Miss Felicity.
- Adeus, Sr. Irmãozinho. – Despediu-se a ingénua e inocente rapariga de dezoito anos, dando-lhe um beijo no rosto.
- Boa sorte com o seu futuro pretendente, Princesa! – Disse, sarcasticamente, enquanto tinha o cigarro na boca e o acendia à pressa.
Dito isto, fechou abruptamente as portas, com o casaco metade por vestir…. ‘
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