terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Norte moderno dos Bruxos

Lembro-me perfeitamente de quando conheci a mãe da Tsuna, a Sra. Irene Plah. Estava a terminar de se arranjar, muito graciosa e com um sorriso nos lábios pintados de batom vermelho. «Mais outra...» Suspirei um pouco aborrecida. Mas seria que não haviam pessoas mais interessantes para se conhecer naquela festa? De cabelos negros e compridos, olhos escuros e vigilantes, a Sra. Plah vinha com um vestido de quem ia a um enterro, todo ele preto e muito elegante sem decote. No entanto, tenho de admitir que o cinto brilhante e a saia lhe davam um ar mais alegre. Chegava-lhe até aos joelhos, mas era uma coisa muito engraçada. Ela é o tipo de pessoa que tem bom-gosto e que anda sempre ou de mau-humor, ou com um pequeno sorriso snobe e confiante! É tão diferente de Tsuna!

- Tu deves ser a Jessica, com certeza. - Disse a senhora de grandes lábios vermelhos, cabelo preto todo ele muito bem arranjado, num tom muito aliviado. Parecia quase saída de um filme de Hollywood, ou da noite dos Óscares. Devia estar cansada da viagem que fizera de Macau até cá. Usava nas orelhas dois brincos prateados em forma de dragões. Tinha um cigarro segurado nas mãos enluvadas, e o ar que dava era que era uma mulher extremamente severa, mas ao mesmo tempo, sedutora.

Às vezes pergunto-me porque é que as feiticeiras são assim tão bonitas? Se calhar é para fazer inveja às comuns humanas mortais.

- Sou. - Respondi. E que outra coisa poderia eu dizer?

- Eu sou a mãe da Tsuna. - Disse a senhora de voz decidida, mas serena.

Tínhamos encontrado no corredor por mera coincidência. Fiquei sem saber o que responder (se é que aquilo requeria resposta) e a situação teria sido no mínimo ridícula, ela a olhar para cima, eu a olhar para baixo, especadas ambas à entrada do vestuário das senhoras - senão fosse a Katharina (sim! A minha mãe a ajudar-me! Cena improvável não achas?) vir em meu auxílio e já com o habitual sermão acerca dos bruxos aproveitadores a disparar da sua boca que nem um homem-canhão do Circo Moscovo de lá de Cyborg Town. Quando viu que, em vez dos malfeitores com que ela sonha a toda a hora e a todo o momento, era a sua amiga de infância que estava à porta, caiu-lhe nos braços que foi cena comovente de se ver!

- Irene! One-san! És mesmo tu, querida?! - Exclamou a minha mãe muito emocionada, que já não via a irmã mais velha há anos!

- Não estás a ver que sou? - Dizia a outra, a quem a viagem parecia ter azedado as ternuras. Embora toda a gente estranhe sempre estas demonstrações de afecto da minha mãe numa sociedade na maior parte das vezes muito recatada.

Mesmo assim, a minha mãe quase se desfazia em lágrimas, de tão contente que estava por ver a "irmã mais velha".

- Eu nem estou a acreditar que és tu, palavra de honra! - Repetia a minha mãe no meio dos abraços, quase sufocando a minha "tia emprestada" com o seu enorme cabelo louro encaracolado. - Porque é que não vens ter connosco para conhecer Sua Majestade? A Charlotte vai ficar tão feliz por te ver! Ai, que emoção!

Mesmo assim, Irene Miyu Plah não estava para brincadeiras, enquanto apagava o cigarro com um ar amargo.

- Então é bom que vás acreditando mesmo, porque o que tenho para dizer é muito sério.

Eu bem dizia que a viagem lhe tinha azedado as ternuras, mas a minha mãe quando começa a recordar-se da infância fica mais cegueta do que o Primo Hans sem óculos e só lhe dá para beijinhos, festas e meiguices sem ter fim, que é que se há-de fazer. Além do mais era uma cena patética (e pateta também, valha a verdade): as duas ali à entrada do vestuário das senhoras, nem para dentro, nem para fora, uma com um vestido elegantíssimo e luvas nas mãos, a outra com uma toalha no corpo e na cabeça.

- Ó Charlotte! - Gritou a minha mãe na sua voz irritante em Alemão. - Anda ver quem é que está aqui!

E lá veio a minha tia pendurar-se também na velha irmã:

- Olha a Miyu-chan! Que surpresa! - Ela exclamou no seu sotaque de Cidade Perdida em Alemão. Como irmã mais nova, a Charlotte tinha o direito de tratar a Irene pelo seu segundo nome Japonês.

Mas a "Miyu-chan" não parecia nos seus melhores dias. Eu cá estava mesmo à espera de a ouvir dizer como aquela mulher de uma novela Sul-coreana que eu vi na televisão: «Pouca conversa, que eu estou bera!» Claro que eu já devia saber que essas palavras não constam do vocabulário fino da Miyu-chan, por muito azeda que estivesse.

- Posso entrar, ao menos? - Disse ela em Japonês.

- Ó mana! Mas que cabeça a minha. - Desculpava-se a minha mãe a esforçar-se no seu melhor Japonês, limpando a máscara verde que tinha da cara com a toalha, muitíssimo embaraçada. Estava um pouco nervosa por estar numa situação daquelas, e com razão! A minha mãe estava com muita sorte por ainda não ter passado ali nenhum bruxo ou outro homem! Mudou para um Alemão da Cidade Perdida, que a minha mãe para outras línguas é um pouco tosca. E não admira nada! - É da surpresa de te ver aqui! Entra, mana, entra para o vestuário! Olha que disparate estarmos aqui à porta! Entra, entra, querida!

Apressei-me de imediato com o meu vestido até ao vestíbulo, enquanto carregava aquela malinha ridícula que a minha mãe me tinha dado.

- Ó tias! Mãe! - Falei em voz alta em Inglês, enquanto tentava correr com aqueles sapatos de salto-alto estúpidos. - Esperem por mim...

Ao abrir as portas, descobri que tinha um grande olho-negro por causa da palerma da Sara. «Ora bolas!» Pensei ao olhar-me ao espelho. «Agora os rapazes vão pensar que sou uma puta de um mafioso qualquer...»

É, acho que a maior parte dos aprendizes de bruxo achariam isso tentador: tentar provar o fruto proibido. Ai, ai, Bellanária, sempre cobiçada, sempre cheia de gananciosos e de bruxos malvados!

A maior parte dos rapazes Bellantes adoram a imagem de maus da fita que alguns antigos senhores da Magia Negra tinham. Músicos de metal, mafiosos dos Anos 20 e 30, motoqueiros, rappers, guerreiros antigos da segunda Grande Guerra, os Bruxos de há mais de mil anos atrás - todos esses fazem parte dos ídolos dos rapazes adolescentes bellantes. Acham que é esse o segredo para atrair raparigas: casacos de pele caríssimos, olhares intimidantes e um monte de massa! Porém, as coisas nem sempre correm como eles esperam, e alguns - como o Igor Andrysiak - acabam como guardas do Castelo Negro, sentinelas dos faróis das costas bellantes, ou outra coisa ainda mais idiota.

Agora, com apenas a ameaça dos Cyborgs da Resistência - a antiga polícia secreta que foi desmantelada nos tempos depois da Segunda Grande Guerra - não é de admirar que os rapazes da S.P.V. (a actual polícia secreta - Sagrada Polícia de Vigilância ) sejam todos uns pelintras!

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