terça-feira, 27 de março de 2007

O Primo Horus

Ora bem, nós estávamos à espera dum táxi que nos levasse à casa do tio, a Solaris estava a ouvir mp3, eu a ler um de mitologia, e a Tsuna a vomitar num saco de plástico por causa do voo.
Primeiro uma pequena coisa que tens de saber: eu estava muito triste, por causa de ter perdido o meu avô adoptivo, tinha sido vítima de um acidente no Egipto, e não tinham descoberto o corpo dele. Ele era arqueólogo, e durante a 2ª Grande Guerra Mundial tinha sido piloto, depois espião, e um dos melhores.
Então, ao me despedir dos amigos do museu onde ele trabalhava, também fiz uma oração e eu, à noite, no museu, disse numa voz média:
- Avô, onde quer que esteja, quero que saiba que foi como meu pai para mim, se o perdi, podia mandar alguém ao meu encontro para ser como meu pai e para me dar as coisas que o senhor nunca foi possível dar-me através do seu trabalho. Meu papá, quero dizer papá por uma vez…Quero sentir que está aqui, que não o inventei, eu sei que um dia voltarás para mim, me encherás de beijos, por favor ouve-me! OUVE-ME!
Eu coitada, estava tão triste, que nem reparei que alguém me abraçou, e que um homem muito estranho, me abraçava, dizendo em Alemão:
- Sente-se bem, menina?
- O meu avô morreu! – Respondi eu a chorar muito triste. – Não tenho família, não tenho papá, nem mamã! Não tenho família para chorar a morte do meu avô!
- Oh, pronto, pronto, pronto, pronto. – Disse o homem em Alemão a abraçar-me como se me conhecesse muito bem, como se fosse o meu pai! – Cheguei, amor, e nada nem ninguém nos vai separar, Princesinha!
- Muito obrigado, agradeceu-o muito por me consolar, é tão bom, senhor. – Respondi eu ainda com lágrimas. – Ninguém, nem o meu avô me compreendeu tão bem!
- Minha vida, aqui estou eu para enxugar essas lágrimas. Vá, menina, não chore.
Ao falar com o homem, descobri que ele era um grande amigo do meu avô, e que me queria ajudar, então quando falámos no café, ele me contou que o acidente tinha realmente sido uma «…catastrófica tragédia…», e que se eu quisesse, era só assinar no papel de adopção, mas eu recusei dizendo:
- Não, meu senhor, por mais simpático, bondoso e com bom coração que o senhor seja, não vou voltar as costas a uma promessa que fiz à minha família do lado da mãe. Descobri-a ontem e não vou faltar a essa promessa! Onde já se viu uma inglesa faltar ao combinado?!
- Eu compreendo a situação menina, mas, se não gostar da sua família, aqui tem o meu número de telefone, escritório e telemóvel. – Disse o homem dando o número de telefone dele no papel.
O número dele era um pouco estranho para ser inglês, então eu perguntei um pouco confusa e sem saber o que fazer no café:
- Olhe, senhor…Quem é você?
Mas antes mesmo de ver bem a cara dele, aquele homem desapareceu sem deixar rasto, então tentei ligar para o número de telefone que estava no cartão, mas nada…!
Muito estranho, mas voltemos à minha história…
A minha irmã é alta, loura com um cabelo aos caracóis solto – Como nós as duas restantes, só que eu sou ruiva e a Tsuna tem um longo e bonito cabelo negro alisado para a frente, e terminado em dois rabos-de-cavalo encaracolados, ela deve ser a única pequena de nós as três, apenas um metro e quarenta e cinco. Já agora, vou aproveitar para falar um pouco de mim: tal como a minha irmã do meio, eu sou alta, mas nada se compara àquela torre magricela da Califórnia de um metro e setenta e oito, e eu com dez centímetros de diferença a menos que ela. Mas eu sou muito mais bonita que ela, tenho lábios um pouco grossos, a comparar com os médios pequenos, não são nada, e depois aqueles seios de plástico comprados numa lojinha não convencem ninguém! O meu cabelo ruivo tem em cima alisado com gel, depois à medida que vai descendo, fica cada vez mais selvagem e encaracolado. A única coisa de que não gosto no meu corpo danone tão perfeito é o meu nariz pequeno demais, as minhas sobrancelhas finas ruivas!
Ela deitou a pastilha fora num ar convencido, como se fosse alguém importante.
- Eu não percebo porque é que vim a esta terrinha de ninguém. – Comentou a Sol com o mindinho esticado. Nem sequer eram cinco horas.
Abanei a cabeça em sinal de desprezo. Pelos vistos, que ricas irmãs que vou ter, uma chorona coitadinha e uma arrogante como sei lá o quê!
Sem olhar para ela, comentei:
- Ninguém te pediu para vires, Mc. Viper.
Então ela ficou com um ar de espantada e indignada.
- Ò mineral, eu só vim por causa da school, OK? – Retorquiu a Sol chateada. – Julguei que era uma transferência, não uma visita ao Jardim Zoológico.
Enquanto nós estávamos a discutir, apareceu um jovem de 20 anos SUPER lindo!
Musculado, pele morena, no entanto com um nariz pequeno e achatado, parecia o Orlando Bloom acabado de chegar das filmagens do Tróia, com um metro e setenta e sete, apertou-nos ambas as mãos, e deu-nos um beijo no rosto de cada uma. Que sorte que nós temos, que sorte!
Era o tal primo que nos tinha enviado uma carta a cada uma, e ela dizia:


Querida prima:
Sei que não me conheces, mas era só para dizer que passámos ANOS em busca de informações tuas, e ao final de uma década de buscas e fracassos, encontrámos a tua família adoptiva, eles não acreditaram quando fomos a tua casa dizer a nossa identidade (tu estavas a dormir nessa altura), mas tudo ficou resolvido quando mostrámos o símbolo de família (sabes essa tatuagem; não é por acaso que a tens, cada membro da família tem). Se aceitares vem ter ao aeroporto do Cairo. Cumprimentos, HÓRUS TIFON

E não era só o rapaz, era também o carrinho, dinheiro…Estou no paraíso, acorda-me, que devo estar no paraíso! Diz-me se isto não é o sonho de qualquer rapariga: dinheiro; rapazes musculados e super bons; família; amor; estou mesmo a sonhar! Vou atacar, vou atacar e é já aquele primo gatinho! Se os olhos matassem…E sabem que já reparei que na nossa família, os olhos não passam do tamanho médio, por exemplo, eu tenho olhos azuis-claros pequenos, um pouco assustadores e penetrantes, mas muito bonitos. A minha irmã mais nova tem olhos castanhos com a forma asiática típica de amêndoas, e a “convencida do meio” tem azuis médios.
Eu e as manas passámos dez minutos a contemplar aquele sonho lindo, ele olhava para nós a passar as mãos por baixo dos nossos olhos. Que querido! Preocupa-se connosco…Ai…
-Não leram a carta? Hello? Primas, nunca viram um jaguar? – Comentou ele a rir-se.
Eu logo tentei meter conversa com ele, sabes, para ligar mais os calos familiares, só isso, mais nada, eh, eh, eh…
Não podia perder tempo a ficar calada. Por isso acenei e dei-lhe a mão, sorrindo muito contente.
- Oh! Pois… vamos? – Disse eu agarradinha a ele.
Oh não! Aqueles olhinhos tão queridos! Fiquei com um sorriso malicioso durante a viagem toda na limusina, junto a ele.
Dentro do confortável e grande carro, havia espaço para nós todos, por isso, sentei-me logo perto dele, no sofá onde se podia ver a paisagem deserta e completamente destruída da Cidade Perdida, uma antiga região, completamente devastada pela guerra, mas não importava, desde que estivesse com aquele borracho, tudo poderia correr optimamente!
No meio da viagem, quando estávamos quase a seguir para o desvio que seguia até à nossa nova casinha, afastei-me mais dele, de modo que pudesse estar à-vontade comigo.
Não o queria assustar, nem fazê-lo fugir a sete pés dali, que é geralmente a reacção que alguns dos rapazes mais tímidos têm quando me vêem.
- Então, aonde é que trabalhas, e és mesmo o Horus, o deus egípcio governante do Egipto? – Perguntei-lhe com um sorriso normal e simpático. – Estou tão curiosa, e aposto que as minhas irmãs também.
O primo fez um sorriso forçado, estou a ver que é dos tímidos, ou dos comprometidos, não vai ser fácil, posso esquecer, se calhar assustou-se.
Depois, suspirou aliviado, soltando um “Fu!”, como se sentisse que o perigo já tinha passado, eu não mordo…Muito!
- Bom! – Exclamou ele a rir-se. – Já sei aonde é que foste buscar esses olhos assustadores e esses lábios grossos. Eu trabalho no Palácio das Reuniões, fica em Portugal, que não é muito longe da Estação Manuelina, outra região atlante, mas que por estes lados não é fácil de se chegar, tem-se de conduzir para aí uns trinta e cinco quilómetros para lá chegar e mesmo assim…
Carregou num botão, onde saiu uma garrafa de água, saciou a sede, e ligou o ar condicionado, é verdade, estes dias estão muito calor, mesmo em Agosto.
Respirou bem fundo, depois acrescentou:
- …Não se consegue conduzir com esta onda de calor! Estão vinte e sete graus à sombra, mas com o fresquinho do carro ainda vá. Graças a Deus que as férias começam em Junho, senão…E nesses dias prefiro ir ao Palácio das Reuniões de metro, e aconselho vocês a fazerem o mesmo nos dias de calor. O cabedal dos assentos e o plástico do carro aquece que é o Inferno aqui quando não ligamos o sistema anti-aquecimento. Uma vez fizemos um piquenique no Verão com toda a família, a vossa mãe, os primos todos, o vosso pai, o rival do pai. Toda a gente veio prevenida, excepto o vosso pad…
Nesse momento, Horus engasgou-se, cuspiu a água num recipiente adequado, e durante dez minutos cuspiu para lá. Parece que “pad” não era bem o que ele queria dizer, seja lá o que ele nos queria dizer. É um fala-barato, realmente. Não se consegue calar durante uns minutos. Deve estar na família, porque todas nós somos umas tagarelas.
Depois corrigiu-se ao limpar-se com um papel higiénico:
- …Excepto o rival do vosso pai. Deviam tê-lo visto a dizer «Oh Céus! Arde tanto, paixão da minha vida, Katrine, cuida de mim, por Amor de Deus!»
Desatou a rir às gargalhadas, enquanto nós não sabíamos nada do que ele estava a falar, escutámos as suas palavras, com um olhar vazio, quem era a Katrine…? E esse tal rival do nosso verdadeiro pai, devia ser mesmo mau, um vilão, para o Horus dramatizar tanto a situação.
E limpando as lágrimas da felicidade, já mais calmo, continuou a falar, com um sorriso de orelha a orelha:
- Claro que não disse isso numa forma assim tão trágica, mas podia-se ver que a sua cabeça de ovo estava a escaldar de tanto estar na praia, e nós a dizermos ao rival do vosso pai…
Eu, farta daquela situação, tentei conversar com o nosso querido priminho Horus, a ver se ele nos tentava responder correctamente, e pondo a mão sobre a sua perna, sorri.
- Primo, mas…Quem era o rival do nosso pai? – Perguntei desconfiada, carregando o sobrolho, a ver se ele não enrolava mais. – Por falar nisso, a nossa mãe e nosso pai, estão vivos?
O primo Horus, a ver que tinha de contar a verdade, de cabisbaixo, tirou a minha mão da sua perna um pouco chateado e mais sério.
- Sabem, primas. A vossa mãe morreu de doença, há muito, muito tempo. – Confessou ele, bebendo outra garrafa de água. – O vosso pai suicidou-se há uns meses, morto num acidente no Egipto. Infelizmente, o rival do vosso pai conseguiu o que queria, e obteve o amor e a aliança da vossa mãe.
Espantadas com a história, nós julgámos que as mortes do nosso pai e mãe tivessem a ver com o tal rival do Pai.
E à medida que abanava com o leque da Tsuna a cabeça, Horus bebeu mais um gole de água, só de contar a história, tinha ficado com mais suor. Que segredos obscuros guardava a nossa família.
Subitamente, o vento começara a soprar forte lá fora, e algo estranho estava a acontecer, há minutos o céu que estava limpo e bonito, agora cobria-se de ameaçadora nuvens que prenunciavam uma possível tempestade.
Ao vê-la, Horus começou a tremer, mas logo se recompôs, afinal era um homem ou um rato, e ele optou por um homem, continuando a história.
- A nossa família era muito unida e feliz, estava tudo combinado para o casamento entre a Tia Katrine (a vossa mãe) e o vosso pai. O vosso pai era bom, muito bonito, e o chefe da família o Águia Negra, logo concordou com o matrimónio. – Disse Horus com um sorriso, mas logo desapareceu. – Tudo era perfeito e bom nessa altura, a Atlântida era próspera e era governada pelo bom e sábio Deus Neptuno, um Nobre da mais alta elite atlante. Até aquele negro dia…
Curiosas com aquela história, ambas pregadas aos nossos assentos, aproximámos de Horus, para saber que raio tinha acontecido à Atlântida e à nossa família. Tal como a tempestade que se ouvia de longe os trovões, haveria uma razão para que os nossos pais tivessem morrido, não, por velhice é que não deve ter sido.
- Que dia?! – Perguntámos ao mesmo tempo em conjunto. – O que é que aconteceu com esse tal paraíso que tu falas, que raio de homem ou mulher pode ter feito tanto mal a…
Mal Horus ia responder, quando reparámos num castelo amarelo enorme datado do século XVI, fortificado com uma forte grade de três metros pintada a verde cinza (não a minha cor preferida, de passagem), cujos portões imponentes tinham nas maçanetas do tamanho de cabeças duas iniciais: V.T. Outra vez a inicial von Tifon?! A nossa família será assim tão importante…? Atrás do palácio era possível vislumbrar um pinhal escuro e apenas iluminado pelas luzes que entravam agora do Sol, que tinha afastado as nuvens da tempestade, embora um nevoeiro miudinho cobria inteiramente toda a extensão da propriedade. Que conspirações ambiciosas e sedentas de sangue estarão por detrás das suas grades…?

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola!
Continua a escrever
Está muito fixe
Beijinhos