sexta-feira, 30 de março de 2007

O Tio Set e os nossos quartinhos

Quando acabámos a álgebra, um senhor muito simpático veio ter connosco e disse:
- O jantar está pronto.
- Obrigado, nós já vamos ter. – Disse a Solaris – Eu conheço muito bem esta forma de viver, sabiam?
- Sim. – Murmurei eu, que CONVENCIDA!
A sala de jantar era enorme, mais parecia o interior de uma catedral gótica
[1] do que o interior de uma casa.
Havia uma mesa vertical (afinal isto é uma refeição normal ou um copo-d’água
[2]?), um montão de hieróglifos e pinturas egípcias nas paredes (aquilo mais parecia um alfa pendular[3], pá!).
Enquanto estávamos a maravilhar aquelas obras de arte nas paredes, uma voz solene disse:
- Eh! VOCÊS AS TRÊS! SENTEM-SE!
-Quem é o senhor? - Perguntei eu descaradamente.
- A pergunta é: QUEM SÃO VOCÊS? Por favor, sentem-se ao meu lado. – Disse sabiamente a “tal”pessoa.
De repente, via-se muito bem o dono da voz solene (que é que queres? A culpa não foi minha por terem feito a sala de jantar comprida como uma salsicha!), no entanto, assustadora como uma manhã de Inverno.
Era tão estranho, parecia que tinha 60 anos, mas já devia ter uns 6000 anos! Tinha uma cabeça de chacal e tinha imensas rugas – o homem está preso por arames! UNS OLHOS DE SANGUE! - Ou o homem gosta de lentes de contacto coloridas, ou tem um SÉRIO problema de sangue na íris!
A minha irmã mais nova teve de vomitar para aí um milhão de vezes por causa dos estranhos “convidados” do tio Set.
A luz do salão de jantares era claro, e tudo parecia que Set era um pouco resmungão, com a aparência de um homem egípcio que não cortara a barba, e uns lábios secos.
Curiosa, tentei fazer-lhe algumas perguntas, como era a casa, como era a família.
- Então, você é chefe da família? – Perguntei ao beber a água do meu copo.
O tio exibiu os dentes estragados e amarelos na pequena boca, em algo que parecia escorbuto e, tirando o turbante, viu-se uma cabeça loura rapada, quase só com uns pontinhos brancos como prata.
Escovando a sua barba, tossiu repetidamente seguido de um som parecido com o arranhar de um vidro meio rouco.
- Era. – Respondeu ele semicerrando os olhos manchados de sangue por detrás dos óculos de bronze com armadura decorada com hieróglifos. – Antes de Águia Negra e a seguir do grande Conde von Tifon, sim, eu fui o terceiro chefe da família von Tifon.
Tsuna, respirando bem fundo e aproximando-se do velho tio, mas com grande dificuldade, e com uma bravura nada sua, deu um beijo ao rosto de Set e perante tal acto, ele respondeu com uma vénia profunda.
- No Japão, respeitamos os mais velhos e eles merecem uma grande aceitação e apreciação nossa. – Comentou ela com virtuosa compostura.
O velho tio, com lágrimas nos olhos e muito satisfeito, deu um abraço à sua sobrinha mais nova, muito feliz.
- Minha sábia e boa criança, nem o mais inteligente de todos os homens desta casa, com o dobro da tua idade, souberam escutar as preces de um velho senil como eu, mas tu…Cuida bem de ti, pois serás a mais bondosa e generosa mulher von Tifon que esta família alguma vez conheceu!
Realmente, Set é um homem muito sábio, e apesar de ser muito velho, disse coisas muito interessantes, cão me conhecer, contou que já tinha visto o meu espírito infiel e perverso e poderoso em muitos homens da família, principalmente quando o próprio era do dobro da minha idade, ou seja aos trinta anos, tinha uma voz de homem maravilhosa, no entanto era arrogante, bonito e julgava-se o dono de tudo, mas isso é habitual nos chefes de família von Tifon: pensam que têm toda a magia da Dimensão Mágica, e são bruxos. Disse que era aos quinze que a maldade e ambição se notava e se desenvolvia. Conhece tão bem a magia negra como a palma da sua mão, e intitulado em jovem (150 anos ou mais de cem é equivalente a trinta anos na vida dos mortais) Senhor da Força com um forte sentido de dever para com a família, tem umas mãos que conseguem ainda manejar e invocar os feitiços e encantamentos que exigem a mais rígida disciplina e fria concentração; esta eficiência em quase tudo o que faz também se aplica no amor e prazer. Contou-nos que num das suas invocações, perguntou ao homem mortal quando é que poderia aguentar com uma mulher numa só noite. O homem respondeu que ficaria logo duro, e Set respondeu-lhe enquanto que o seu pénis ficara mole por causa de uma só, já ele ainda estaria rígido para os seus milhares de noivas e concubinas. Eloquente, bem-educado, é daqueles homens que sabem do mundo e já o viram girar mais de setenta vezes sete milhões de vezes. Não admira, tem cinco mil anos e é tão experiente e simpático. Gostei imenso da sua companhia ao jantar. Já ia contar que talvez eu fosse o próximo chefe da família. A isto respondi-lhe que seria impossível, pois eu não era assim tão fria e má, nunca iria ser bruxa. Bom…Achas…? Sou assim tão…Sabes…Mazinha, maluca, malvada…?
Depois do jantar, fomos conhecer o palácio: tem 6 andares, a contar com o sótão, o rés-do-chão as masmorras, cada andar tem quatro quartos, três casas de banho, e um salão para fazermos o que quisermos. O primeiro andar é onde os empregados dormem; o segundo é de hóspedes, mas raramente é usado por causa do barulho que há com os demónios e fantasmas que lá vivem e nas masmorras, apenas três podem ser usadas; o terceiro é, obviamente, o nosso, e eu durmo no segundo quarto, enquanto que a Solaris dorme no terceiro e a Tsuna no primeiro. Finalmente o Tio Set dorme no quarto; enquanto o Horus dorme no quarto andar, mesmo em cima de nós e o resto dos quartos e andares…? Também não sei para que é que serve, o Horus disse-nos para jamais, jamais, dos jamais irmos para o quinto andar, e ele disse uma nova proibição especialmente para mim: nunca, mas mesmo nunca, olhar para a enorme moldura de um retracto de um homem qualquer juntamente com uma mulher, nem abrir a porta ou ligar a energia que a liga luz do “lado obscuro” do meu quarto.
Quando chegámos ao meu quarto, fiquei espantada por haver tanto pó do outro lado e no meu estar tudo limpo.
Horus suspirou e muito satisfeito por finalmente acabado a visita guiada.
- Aqui estamos. – Disse ele dando-me um saco com um pó esquisito. – Basta espalhar este pozinho para que tu consigas decorar o quarto à tua maneira. Pode parecer um bocado vazio e sem tons de cores nenhumas, mas entro de minutos, ficará impregnado do teu estilo. A mesma coisa para vocês as duas, Tsuna e Sol.
Tentei soprar o pó, pensando nas melhores coisas que gostaria de ter no meu quarto.
Resultou, poster de revistas preferidas, a minha cama puff cor-de-rosa super fixe já feita, e um tom muito animador de laranja cinza com umas cortinas azuis clarinhas de seda, sim, perfeito.
Sorrindo muito contente, e reparando que as minhas roupas preferidas já estavam no armário e as coisas de higiene na casa de banho mais próxima, deitei-me refastelada a rir-me, muito confortável com a nova vida.
- Mal estou na Dimensão Mágica há horas e já estou a começar a adorar este novo mundo! – Comentei muito bem-disposta.
Horus sentou-se ao pé de mim, contente por eu me sentir à-vontade em casa.
- Ainda bem, pois vais ter de esboçar um sorriso para o teu último grau na escola do Palácio das Reuniões. – Disse ele a ir andando. – Como hoje é o vosso primeiro dia, podem ir deitarem-se tarde para fazermos serão com as outras pessoas convidadas, mas amanhã vamos acordar cedo. Tenho a impressão que a tua magia está muito avançada, mesmo assim, irás à escola do PR como as outras. Vais divertir-te imenso. O Palácio das Reuniões é gargalhadas garantidas, e no Verão, sentir-te-ás outra.
Depois, encostou a porta à minha espera, deixando-me nos meus pensamentos. “Outra pessoa”…
Sim, sem dúvida, em Junho de 2006, sentir-me-ei outra pessoa, certamente uma bruxa, espero que não, eu só quero ser boa, e espero que esta guerra acabe, sim, no fundo, sou boa, e nada nem ninguém irá mudar isso! Ou vai…
[1] Estilo de arte proveniente do séc.XIV
[2] Refeição formal depois do casamento
[3] Tipo de comboio português

Nenhum comentário: